sábado, 26 de dezembro de 2015

Depois da bonança, vem a tempestade

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Há quem julgue que, nesta nossa vida, os tempos de paz e alegria são para sempre... na verdade, a calmaria é um sinal da aproximação de tempos difíceis. Assim é no mundo exterior, assim é no interior de cada um.

Há quem não se preocupe com as tempestades, julgando que são pessimistas os que se preparam, e tentam cuidar de tudo o que lhes é possível, para que diante das tragédias possam fazem mais do que ficar parados a ver...

Só quem resiste às tempestades tem valor. Os fracos deixam-se ir... como os destroços.

Já todos caímos e nos levantámos... fomos frágeis e heróis, no entanto, poucos são os que cumprem o dever de não esquecer as suas forças e vitórias perante as adversidades passadas.

Mais vale ser bom do que ser grande. Em tudo e em cada coisa.

As bonanças não duram... e depois de uma tempestade, outra tempestade virá. E se parece que nunca há paz no nosso interior, é essencial que consigamos garantir que o nosso coração é forte e se mantém lá no alto, acima das nuvens. Porque amar e ser bom não é ter o céu no coração, antes sim, ter o coração no céu... apesar de tudo o que se passa aqui.

José Luís Nunes Martins

quinta-feira, 24 de dezembro de 2015

domingo, 20 de dezembro de 2015

Para além do Pai Natal, reaprendamos a arte do dom

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Quando as crianças se dão conta - e dão-se conta muito depressa - que o Pai Natal não existe, falam disso entre elas, mas diante dos adultos fingem que não o sabem ainda durante algum tempo, porque percebem que isso lhes dá prazer. O Pai Natal é uma crença extremamente efémera que se torna numa representação cultural ou familiar tácita, apenas isso. Não admira que muitos se interroguem sobre a razão da persistência da sua figura quando, grandes ou pequenos, muito poucos acreditam verdadeiramente nela. O Pai Natal seria então uma imposição meramente comercial, um ícone vazio, um símbolo gasto e esgotado que não tem nada mais a dizer? Provavelmente sim, se pensarmos na banalização massiva que assistimos ano após ano.

Em todo o caso, vale a pena sondar esta estranheza que faz com que os pais continuem a atribuir a uma outra entidade - uma entidade gráfica e pitoresca como o Pai Natal - os dons que eles mesmos compram para os próprios filhos. Seria lógico pensar que faria mais sentido que o presente fosse ligado ao seu rosto, um tosto bem conhecido, que transmite confiança e afeto, um rosto que reforça o contexto habitual da criança. O dom é, em vez disso, atribuído a uma entidade anónima, desconhecida, que aparece anualmente e de modo fugaz, sem uma relação personalizada com aqueles que oferecem os dons. Mas é precisamente este fato que nos induz a refletir sobre aquilo que se ativa no ato de dar e de receber. Que significa dar? Quem é o agente do dom? De quem recebemos aquilo que nos é dado? É aqui que se decide o sentido submerso do Pai Natal.

Sublinhemos, antes de mais, que o Pai Natal não deixa de ser um pai. O, melhor, o pai de um pai, um avô, se tivermos em consideração a sua idade, a sua barba branca, o seu humor tilintante e redondo, a sua bondade um pouco extravagante. Trata-se, no fundo, de um predecessor, de alguém que não representa apenas o instante atual mas quanto nos é transmitido de geração em geração, aquilo que os nossos pais nos dão porque o receberam antes dos seus pais e assim por diante.

O Pai Natal alarga os restritos metros quadrados da família contemporânea e estende os laços, testemunhando também tudo aquilo que se recebe dos outros, e não só dos pais, não só daqueles que constituem o quadro normal da vida. Deste modo, ele une cada criança a todas as crianças do mundo na expectativa e no entusiasmo pelo dom, sem o qual a vida nada seria. O dom, não o esqueçamos, é muito diferente do circuito frio, tão sonâmbulo e voraz, da troca e do comércio, mesmo se hoje parece totalmente sequestrado por essas lógicas.

O que é que de mais precioso podemos dar aos outros que a nossa atenção criativa, o nosso cuidado, o nosso tempo, a nossa fidelidade ao que cada um, em cada instante, é? O dom gera dom, mas não no sentido da gramática mercantil que procura o proveito próprio mais do que a experiência autêntica da oferta de um presente.

O citadíssimo "do ut des" (dou-te para que me dês) é um mote que trai a beleza do dom, o qual pode ser unicamente uma expressão de amor sem cálculo nem medida. Por isso é urgente resistir à pressão comercial que enche o saco do Pai Natal de coisas, coisas e mais coisas, que têm o único efeito de neutralizar a relação, de perpetuar de modo camuflado a indiferença e a distância, em vez de construir uma presença calorosa, disponível, confiante na nossa humanidade diante da humanidade dos outros.

Por isso, quando nós, adultos, nos sentamos junto às crianças, mesmo àquelas que ainda não sabem escrever, para as ajudar a redigir a sua cartinha ao Pai Natal, é importante que tenhamos bem claro dentro de nós a oportunidade e o sentido que naquele momento estão em jogo. Precisamos de reaprender a arte do dom.

José Tolentino Mendonça 
In "Avvenire" 

sábado, 12 de dezembro de 2015

Não é dar o momento, é dar o futuro

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Nunca chegamos a conhecer alguém de forma plena. Nem a nós mesmos. Cada um de nós é um ser profundo cuja essência está em constante mutação, nem sempre se aperfeiçoa, por vezes se deteriora. O amor é sempre uma decisão de fé, porque mesmo que soubéssemos quem é a pessoa agora, é impossível saber quem será depois. Alguns mudam pouco, outros mudam tudo.

A vida é cheia de paradoxos. Se por um lado não devemos colocar o nosso contentamento naquilo que passa, temos também a obrigação de estimar de forma especial aquilo que de bom é possível perdermos a qualquer instante.

Viver bem implica ter a luz de saber querer o melhor, a cada momento.

O amor é uma seta enviada, pela vontade mais funda, com toda a força que pode ter… segue livre… para atingir a solidão do outro, ferindo-a de forma definitiva. Nunca mais será refém da tristeza do abandono. Outras dores lhe chegarão, outros espinhos se lhe hão de cravar na carne… mas solidão, não… quem tem o dom de amar nunca mais estará só.

Porque te amo, entrego-te não só este momento, mas todo o meu futuro. O que sou e o que serei, aceitando-te como és e como serás...

O amor marca-nos no mais fundo de nós. Aperfeiçoa-nos. Para sempre…

José Luís Nunes Martins
12 de dezembro de 2015
Ilustração de Carlos Ribeiro

quinta-feira, 10 de dezembro de 2015

Está na hora de voltar para casa!



A maior rede de supermercados da Alemanha, a Edeka, lançou o seu primeiro anúncio para a quadra festiva do Natal.

O anúncio de Natal da maior rede de supermercados alemã está a emocionar o Mundo. O vídeo, que já se tornou viral, conta a história de um idoso que passa o Natal sozinho.

O idoso chega a casa do supermercado e ouve as mensagens dos filhos a dizer que não podem ir passar o Natal com ele, prometendo que o fazem no próximo ano. Contudo, passam três anos e ele continua sozinho na noite de Natal. Então decide enviar uma carta a dizer que morreu.

A ação passa depois para os filhos e netos que recebem mensagens e cartas com a notícia de que o pai morreu. Regressam então a casa, de luto, mas quando entram, encontram a mesa posta para todos e o pai na cozinha. "De que outra forma conseguiria que estivéssemos juntos?", pergunta.

As lágrimas transformam-se em risos à medida que a família se reúne para o jantar.

"É tempo de voltar a casa", diz o slogan do anúncio.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

O rosto da misericórdia



O jovem Stanislas fura a barreira e avança, veloz, na sua cadeira de rodas, em direcção ao papamóvel. Francisco debruça-se e fala alguns minutos com o rapaz que perdeu as pernas num violento ataque que matou a sua família. A sua história perde-se na infinidade de outras tantas feridas, lutos e horrores que afligem a República Centro Africana.

Quando o papamóvel entrou no estádio de Bangui, na passada segunda feira, sob fortes medidas de segurança, a multidão dos fiéis aclamou Francisco, de forma ensurdecedora. E, enquanto o povo aplaudia nas bancadas, bem distantes da esburacada pista de tartan por onde o Papa ia passar, sob o olhar atento de uma fila quase compacta de capacetes azuis, eis que o jovem Stanislas fura a barreira e avança, veloz, na sua cadeira de rodas, em direcção ao papamóvel.

Francisco debruça-se e fala alguns minutos com o rapaz que perdeu as pernas num violento ataque que matou a sua família. A sua história perde-se na infinidade de outras tantas feridas, lutos e horrores que afligem a República Centro Africana. Talvez por isso - por todos desejarem aquele mesmo encontro pessoal - os aplausos soaram mais forte quando o Papa se debruçou sobre o jovem. Ninguém sabe do que falaram. Mas o que toda a gente viu foi um Stanislas esfuziante, rodopiando na pista fazendo vários “peões” e “cavalinhos” e esbracejando, enquanto conduzia a sua cadeira de rodas para fora do recinto.

“Deus é mais forte do que tudo. Esta convicção dá ao crente serenidade, coragem e a força de perseverar no bem diante das piores adversidades”, disse o Papa, na véspera, quando abriu a Porta Santa na catedral e proclamou Bangui “a capital espiritual do mundo”. Ou seja, o apelo ao valor do perdão e da misericórdia foi proclamado no país que mais deles precisa e numa das maiores periferias do mundo: a capital da República Centro Africana.

Na bula “O rosto Misericórdia”, dirigida aos fiéis do mundo inteiro, Francisco deseja “que o Jubileu seja uma experiência viva da proximidade do Pai, como se quiséssemos sentir pessoalmente a sua ternura, para que a fé de cada crente se revigore e assim o testemunho se torne cada vez mais eficaz”.
A experiência viva desta proximidade e ternura teve-a Stanislas e tantos milhares de africanos que, apesar dos sofrimentos e misérias - ou talvez por isso - não esqueceram o essencial e mereceram a preferência do Papa.

Nós, os mais distraídos do “primeiro mundo”, ainda estamos a tempo.

Aura Miguel
RR04 Dez, 2015

terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Toda sois formosa, ó Maria!



Maria, Mãe Imaculada, Rogai por Nós!
"Elevemos nossas preces à Imaculada, Santa Mãe de Deus e nossa Mãe!
Virgem Santa e Imaculada,
que sois a honra do nosso povo
e a guardiã solícita da nossa cidade,
a Vós nos dirigimos com amorosa confidência.

Toda sois Formosa, ó Maria!
Em Vós não há pecado.
Suscitai em todos nós um renovado desejo de santidade:
na nossa palavra, refulja o esplendor da verdade, nas nossas obras, ressoe o cântico da caridade,
no nosso corpo e no nosso coração, habitem pureza e castidade,
na nossa vida, se torne presente toda a beleza do Evangelho.

Toda sois Formosa, ó Maria!
em Vós Se fez carne a Palavra de Deus.
Ajudai-nos a permanecer numa escuta atenta da voz do Senhor:
o grito dos pobres nunca nos deixe indiferentes, o sofrimento dos doentes e de quem passa necessidade não nos encontre distraídos,
a solidão dos idosos e a fragilidade das crianças nos comovam,
cada vida humana sempre seja, por todos nós, amada e venerada.

Toda sois Formosa, ó Maria!
Em Vós, está a alegria plena da vida beatífica com Deus.
Fazei que não percamos o significado do nosso caminho terreno:
a luz terna da fé ilumine os nossos dias, a força consoladora da esperança oriente os nossos passos,
o calor contagiante do amor anime o nosso coração, os olhos de todos nós se mantenham bem fixos em Deus, onde está a verdadeira alegria.

Toda sois Formosa, ó Maria!
Ouvi a nossa oração, atendei a nossa súplica: esteja em nós a beleza do amor misericordioso de Deus em Jesus, seja esta beleza divina a salvar-nos a nós, à nossa cidade, ao mundo inteiro.Amém."

Papa Francisco
*Ato de Veneração à Imaculada Conceição (8 de dezembro de 2013) 

segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

Despedida



“Se por um instante Deus se esquecesse que sou uma marioneta de trapo e me oferecesse mais um pouco de vida, não diria tudo o que penso, mas pensaria tudo o que digo.
Daria valor às coisas não pelo que valem, mas pelo que significam.
Dormiria pouco, sonharia mais.
Entendo que por cada minuto que fechamos os olhos, perdemos 60 segundos de luz.
Andaria quando os outros páram, acordaria quando os outros dormem.
Ouviria quando os outros falam e como desfrutaria de um bom gelado de chocolate…
Se Deus me oferecesse um pouco de vida, vestir-me-ia de forma simples, deixando a descoberto não apenas o meu corpo, mas também a minha alma.
Meu Deus, se eu tivesse um coração, escreveria meu ódio sobre gelo e esperava que nascesse o sol.
Pintaria com um sonho de Van Gogh as estrelas de um poema de Benedetti, e uma canção de Serrat seria a serenata que oferecia à Lua.
Regaria as rosas com minhas lágrimas para sentir a dor dos seus espinhos e o beijo encarnado das suas pétalas…
Meu Deus, se eu tivesse um pouco mais de vida, não deixaria passar um só dia sem dizer às pessoas de quem gosto que gosto delas.
Convenceria cada mulher ou homem que é o meu favorito e viveria apaixonado pelo Amor.
Aos Homens, provar-lhes-ia como estão equivocados ao pensar que deixam de se apaixonar quando envelhecem, sem saberem que envelhecem quando deixam de se apaixonar.
A uma criança dar-lhe-ia asas, mas teria de aprender a voar sozinha.
Aos velhos, ensinar-lhes-ia que a morte não chega com a velhice, mas sim com o esquecimento.
Tantas coisas aprendi com vocês, homens…
Aprendi que todo o mundo quer viver em cima de uma montanha, sem saber que a verdadeira felicidade está na forma de subir a encosta.
Aprendi que quando um recém-nascido aperta com sua pequena mão, pela 1ª vez, o dedo de seu pai, o tem agarrado para sempre.
Aprendi que um Homem só tem direito a olhar outro de cima para baixo quando vai ajudá-lo a levantar-se.
São tantas as coisas que pude aprender com vocês, mas não me hão-de servir realmente de muito, porque quando me guardarem dentro dessa maleta, infelizmente estarei a morrer…”

Gabriel Garcia Marquez

domingo, 6 de dezembro de 2015

Tesouros de amor




“Eu alcancei o pináculo do sucesso no mundo dos negócios.

Nos olhos dos outros, minha vida é uma personificação do sucesso.
Porém, além do trabalho, tenho pouca alegria. No final, a riqueza é apenas um fato da vida que eu estou acostumado.

Neste momento, deitado na cama, doente e lembrando toda a minha vida, eu percebo que todos os reconhecimentos e a riqueza que tive muito orgulho em ter empalideceu e tornou-se insignificantes diante da morte iminente.

Na escuridão, eu olho para as luzes verdes da vida apoiando máquinas e ouço os sons de zumbidos mecânicos. Posso sentir o sopro de Deus da morte se aproximando...

Agora eu sei, quando nós acumulamos riqueza suficiente para nossa vida, devemos buscar outras questões que não estão relacionados com a riqueza... Deve ser algo que é mais importante:

Talvez relacionamentos, talvez a arte, talvez um sonho de juventude...
Prosseguir sem parar em busca de riqueza apenas transformará uma pessoa em um ser torcido igual a mim.

Deus nos deu os sentidos para sentirmos o amor nos corações de todos, não as ilusões provocadas pela riqueza.

A riqueza que eu ganhei na minha vida, não posso trazer comigo. O que posso levar são só as recordações precipitadas pelo amor. Essas são as verdadeiras riquezas que irão segui-lo, acompanhá-lo, dando-lhe força e luz para continuar.

O amor pode viajar mil milhas. A vida não tem limites. Vá para onde você quer ir. Chegue a altura que você deseja alcançar. Tudo está no seu coração e em suas mãos.

Qual é a cama mais cara do mundo? -"A cama de um doente"...

Você pode empregar alguém para dirigir o carro para você, fazer dinheiro para você, mas você não pode ter alguém para suportar a doença para você.

Coisas materiais perdidas podem ser encontradas. Mas há uma coisa que nunca pode ser encontrada quando é perdida – " A Vida".

Quando uma pessoa vai para a sala de cirurgia, ela percebe que existe um livro que ele ainda tem que terminar de ler -"O Livro da Vida Saudável".

Qualquer que seja o estágio da vida estamos no agora. Com o tempo, vamos enfrentar o dia em que a cortina cai.

Tesouros de amor para sua família, amor para seu esposo, para seus amigos...

Tratem-se bem. Respeite e ame os outros.”


Últimas palavras de Steve Jobs

sábado, 5 de dezembro de 2015

O estreito caminho do bem


A nossa salvação depende do equilíbrio entre o trabalho e o descanso. As guerras desta vida pressupõem que cada um de nós, a cada batalha, saiba encontrar tempo para repousar, para cuidar do seu interior.

Há quem julgue que a felicidade será uma espécie de paz absoluta onde nada acontece e tudo nos é dado. Não é assim. Não há paz sem luta. Mais do que um estado que se alcança, a felicidade está na força que resulta da fé com que se luta pelo bem do outro… um caminho muito estreito que se deve sonhar, construir e percorrer…

Somos imperfeitos. Mas as nossas falhas só nos tornam maus quando caímos e não nos voltamos a erguer.

Vence duas vezes quem triunfa sobre o mal que há em si. 

Aperfeiçoar o nosso interior é essencial. Ninguém deve deixar os seus sentimentos e pensamentos andarem à solta, sem princípios nem orientação, impondo, a cada momento, ordens sem ordem. Devemos ser senhores de nós mesmos e não escravos dos nossos impulsos. Eis porque arrepender-se é mais importante do que lavar a cara.

Amar é ser, em silêncio, forte e bom. Mesmo quando isso nos faz sofrer. O resto… bem, o resto são egoísmos disfarçados e cheios de desculpas.

José Luís Nunes Martins

5 de dezembro de 2015

Ilustração de Carlos Ribeiro

domingo, 29 de novembro de 2015

Mãos ungidas



Senhor,
“Dá-nos mãos ungidas que nos guiem.
Entrega-nos, Pai, quem nos conduza,
até sermos todos em Ti!
D’entre nós que somos Teus,
vem chamar quem nos ensine
a escutar o laço aberto
do silêncio que nos dizes.
Quem escute que pedimos
a doçura dos Teus olhos
e nos traga em suas mãos
a manhã da Tua luz.
Vem chamar quem pacifique
nossas mãos e que recrie
o passar igual dos dias
no Teu rosto sempre novo.
Vem chamar os que se entregam
e desfazem no Teu lume,
ateando em nossas vidas
o tamanho do Teu nome.
Torna largo o seu abraço.
Fá-los signos d’alegria.
E do colo onde recolhes
um a um nossos caminhos
vela todos os seus passos,
D’eles que velam nossos dias.
E condu-los, pois conduzem
nossos sonhos para Ti.

Fr. Daniel Augusto, O.S.B.

terça-feira, 24 de novembro de 2015

Sofrer mas não sucumbir



«À noite, quando o dia cai atrás de nós, costumo caminhar ao longo do arame farpado, e do meu coração levanta-se sempre uma voz que diz: "A vida é uma coisa esplêndida e grande. A cada novo crime ou horror, devemos opor um novo pequeno suplemento de amor e de bondade, conquistados em nós mesmos. Podemos sofrer mas não devemos sucumbir» (Etty Hillesum).

Comove-me imaginar a cena de uma jovem mulher que num campo de concentração nazi anda à noite ao longo do arame farpado da reclusão e, diante do horror que a rodeia, consegue pronunciar estas palavras de vida e de esperança.

Este escrito foi recolhido no "Diário 1941-1943", tendo a data de 3 de julho de 1943. Poucos meses depois, a 30 de novembro, esta extraordinária mulher judaica, dotada de uma inteligência e de uma têmpera humana e mística única, será eliminada em Auschwitz, onde toda a sua família já tinha sido morta.

«Podemos sofrer mas não devemos sucumbir.» Estas palavras deveriam ser como um moto no dia sombrio da provação. A vida é sempre uma realidade grandiosa que pode conter também a dor mais atroz.

A nossa capacidade de amor é tal que pode opor-se à onda crescente do mal e do ódio. A nossa alma tem em si uma energia que lhe permite lutar e reagir a cada tempestade e deixar uma semente de luz no terreno árido e pedregoso da história.

Deveríamos recolher mais vezes o apelo de Etty, sobretudo quando ao primeiro obstáculo deixamos cair os braços e à primeira provação escolhemos o caminho mais fácil do sucumbir ou da fuga. Não é uma questão de audácia ou de heroísmo; é apenas uma escolha de dignidade e de esperança.

Como advertia já no séc. XVI Baldesar Castiglione, no seu "Livro del cortegiano" (1528), «é muitas vezes nas pequenas coisas, mais do que nas grandes, que se conhecem os corajosos».

P. (Card.) Gianfranco Ravasi 
Trad.: Rui Jorge Martins 

segunda-feira, 23 de novembro de 2015

O ódio




«Poucas pessoas conseguem ser felizes sem odiar alguma outra pessoa, nação ou credo» (Bertrand Russell). «Quando odiamos alguém, odiamos na sua imagem alguma coisa que está dentro de nós» (Herman Hesse).

O ódio é uma cadeia que esmaga desde sempre a humanidade, sufocando-lhe o sopro vital mais profundo. A primeira e amarga constatação é atribuída a um filósofo anticonformista que em 1950 obteve o prémio Nobel da Literatura, Bertrand Russell (1872-1970).

Apesar de algum excesso na formulação («poucas pessoas» é um exagero), é todavia verdade que para alguns o ódio é quase um alimento indispensável, sem o qual não conseguiriam viver.
E na verdade, é preciso reconhecer que, mesmo em pessoas caracterizadas pela mansidão, está presente às vezes uma ponta de ódio, acompanhada por um frémito de prazer.

Chegados aqui, torna-se significativo o juízo contido na segunda frase, que extraio de um romance menor, "Demian" (1919), do celebrado (talvez demasiadamente) romancista alemão Hermann Hesse.
Odiar outro nasce muitas vezes do facto de descobrirmos nele qualquer coisa de detestável que não queremos reconhecer em nós mesmos. Mas há pior: por vezes o ódio em relação floresce de um ciúme secreto, o de se dar conta que o outro é melhor que nós.

A gerar o ódio não está, portanto, apenas o mal, mas paradoxalmente também o bem de outro, invejado e por nós não possuído.

Compreende-se então quanto é importante o apelo constante de Cristo a vencer esta obscura energia, substituindo-a pela força doce e delicada do amor, primeiro e único mandamento da moral evangélica.

P. (Card.) Gianfranco Ravasi

sábado, 21 de novembro de 2015

A morte não separa




Ninguém pode viver a minha vida por mim. Ninguém pode dar os meus passos, ver o que vejo, sentir as mesmas emoções ou pensar ideias iguais às minhas... ser é fazer a diferença.

A minha existência pode servir de modelo a outros, assim como posso tomar alguém como exemplo a seguir, mas não devemos deixar que o eu se perca, porque quando me confundir com outros perderei o meu maior valor: ser único. Amar não é anular ninguém, antes protegê-lo e promovê-lo, tal qual quer ser. O bem que é.

Não sou o que tenho, não sou o que faço. Sou apenas a marca que deixo... o que decido querer, a cada passo.

Quando nos morre alguém, perde-se a sua referência palpável. É o fim de todas as possibilidades da relação, nos termos em que a conhecemos. Mas, mais do que os seus sapatos – que outro qualquer pode usar – ficam os seus passos, ao lado de quem precisava da sua força, todos os que deu por amor... porque só o que é nobre fica. Tudo o mais é nada.

Porque o amor é a negação da morte, eis que se levanta a mais importante de todas as guerras, o visível contra o invisível, a dúvida contra a fé, o tempo contra a eternidade... cabe a cada um de nós escolher o que quer.

Quando alguém que me ama morre, fica. Contudo, depende de mim aceitar a sua presença no meu íntimo. Assumir a missão de ser um, pelos dois... mais livre do que nunca... mas é isso mesmo que quer quem nos ama de verdade: que sejamos independentes, autónomos e felizes!

Amar é estar sempre a sós com a pessoa que se ama, mesmo quando há uma enorme distância... no espaço e no tempo.

A morte não separa os que se amam, apenas aproxima e une, ainda mais, os que decidem continuar a amar-se.

José Luís Nunes Martins

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Agradecer pelas vocações




Senhor Nosso Deus,
Nós te queremos agradecer pelas vocações que concedes à Tua Igreja,
Pelos Servidores generosos da humanidade ferida,
Pelos Evangelizadores entusiasmados e corajosos,
Pelos Pastores que santificam o Teu povo com a palavra e os sacramentos da Tua Graça,
Pelos Consagrados que mostram a santidade do Teu Reino,
Pelas Famílias tocadas pela Tua beleza que vivem o modelo da Sagrada Família de Nazaré.

Que o Teu Espírito Santo
a todos continue a inspirar e orientar
nos caminhos do mundo
para que comuniquem a salvação de Cristo
a todas as pessoas da terra.

quarta-feira, 18 de novembro de 2015

Eles têm armas, nós temos flores!




Eles têm armas, nós temos flores!

Um rapaz pequeno entrevistado pelo Petit Journal de Canal + reage aos ataques terroristas na passada semana, em Paris.

sexta-feira, 13 de novembro de 2015

Nenhum de nós vai sair desta vida com vida



“Nenhum de nós vai sair desta vida com vida, por isso sejam cavalheiros, sejam grandes, sejam graciosos e sejam gratos pelas oportunidades que têm”, afirmou Jake Bailey, o jovem a quem, uma semana antes do final de ano escolar, foi diagnosticado um Linfoma de Burkit, um tipo de cancro de progressão muito rápida

Jake Bailey, um jovem de 18 anos, recebeu o diagnóstico de cancro uma semana antes de realizar o seu discurso na entrega de prémios, na cerimónia de final de ano na secundária Christchurch, uma escola católica só para rapazes na Nova Zelândia. O estudante descobriu que tinha um dos tipos mais agressivos de linfoma e que tinha poucas semanas de vida, se não iniciasse imediatamente o tratamento.

A doença não impediu Jake de abandonar a cama do hospital, vestir a farda e protagonizar o discurso para os colegas de turma e seus professores. Apesar das indicações médicas, a 4 de novembro, uma quarta-feira, o rapaz apareceu de surpresa na cerimónia de entrega de prémios da escola.

“Eu escrevi um discurso, e uma semana antes de proferir esse discurso, eles [os médicos] disseram-me: tu tens cancro”, declarou o jovem, citado por órgãos como a CNN e o Stuff.co.nz.

“Depois, eles [os médicos] disseram-me que esta noite não estaria aqui para proferir esse mesmo discurso”, continuou Jake, a quem foi diagnosticado Linfoma de Burkit, um tipo de cancro que apresenta um desenvolvimento muito rápido.

O estudante da Nova Zelândia emocionou e roubou sorrisos com o seu discurso, onde homenageou amigos e professores.

“Nenhum de nós vai sair desta vida com vida, por isso sejam cavalheiros, sejam grandes, sejam graciosos e sejam gratos pelas oportunidades que têm”, aconselhou.

“Desejo-vos o melhor ao longo da vossa jornada e obrigado por tudo”, disse Jake no final do discurso, que foi partilhado no YouTube após a cerimónia, gerando uma atenção global, com mais de 900 mil visualizações.

"Esqueçam ter sonhos de longo prazo. Sejamos apaixonadamente dedicados à busca de objetivos de curto prazo. Micro-ambiciosos. Trabalhem com orgulho sobre o que está à nossa frente. Nós não sabemos onde podemos acabar. Ou quando podemos acabar", disse ainda o jovem de 18 anos.

O discurso terminou num ambiente de muita emoção. "Não sei para onde isto vai para nenhum de nós - para vocês, para qualquer pessoa e de certeza não para mim. Mas desejo o melhor na vossa viagem, e obrigado por serem todos serem uma parte de mim."

in Expresso

quinta-feira, 12 de novembro de 2015

O Reino de Deus está no meio de vós


«O Reino de Deus está no meio de vós» (cf. Lc 17, 20-25) É especialmente o Evangelho que me ocupa durante as minhas orações; nele encontro tudo o que é necessário à minha pobre alma. Nele encontro sempre novas luzes, sentidos escondidos e misteriosos. […] Compreendo e sei por experiência que «o Reino de Deus está dentro de nós». Jesus não precisa de livros nem de doutrinas para instruir as almas; Ele, que é o Doutor dos doutores, que ensina sem ruído de palavras. Nunca O ouvi falar, mas sinto que Ele está em mim; em cada instante, Ele guia-me e inspira-me o que devo dizer ou fazer. Descubro, precisamente no momento em que delas necessito, luzes que nunca tinha visto; e não é especialmente durante as minhas orações que essas luzes me são dadas, é antes no meio das ocupações do meu dia.

(Santa Teresinha do Menino Jesus, 1873-1897, carmelita, doutora da Igreja, Manuscrito autobiográfico A, 83 v.)

sábado, 7 de novembro de 2015

A medida do amor



Amar alguém é fazer-se à medida de quem se ama. Não se podem amar duas pessoas diferentes da mesma forma. Porque, quando se ama alguém de verdade, o que se ama é o que nessa pessoa há de original.

Há quem julgue amar quando faz sempre a mesma coisa, mais preocupado consigo do que com o outro, repete sem cessar o que julga ser bom... assume que quem não gosta assim... não o merece... é apenas um egoísta disfarçado de romântico. O amor exige que nos esqueçamos de nós.

Amar passa por ter a coragem de dar força (mesmo quando a não temos) àquele a quem amamos, quando disso precisa. Noutra altura, quando a sua felicidade passar pelo oposto, ser capaz de partilhar com ele as nossas mais íntimas fragilidades... para que ele, com coragem, dê também sentido às suas forças. Não, não é uma troca, é apenas estar atento ao outro e preencher os seus vazios.

Quanto mais rasteiro for o sentimento, mais exigente. O amor, por ser a mais sublime fonte de todas as bondades, nada quer... senão a felicidade do outro.

A felicidade é algo demasiado importante e profundo para se conseguir sozinho. Nenhum abraço ou beijo pode ser bom se não houver um outro eu, diferente de mim. Um tu, cuja felicidade quero.

A beleza mais grandiosa de cada um estará na profunda originalidade dos detalhes em que é único. Aquilo que temos em comum uns com os outros é o fundo dos nossos corações... tudo o resto é uma construção inacabada em busca da minha felicidade no outro.




(muito obrigado mãe por me ter amado, estimulado e ajudado a ser diferente dos outros, e de, assim, tanto me ter ajudado a ser feliz... apesar de tudo!)

José Luís Nunes Martins
7 de novembro de 2015
Ilustração de Carlos Ribeiro

quarta-feira, 4 de novembro de 2015

Tudo fazer com amor



"Não faço nada de grande, para ser visto pelos outros.
Sei que o que conta é que tu, Senhor, bom observador,
estás a ver-me com todo o afecto e ternura.
Não é fazer grandes coisas,
mas tudo fazer com muito amor."

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Harmonia e comunhão


Que bom que é quando vemos os paroquianos a ver com os olhos de Deus. Já que não posso estar nas duas igrejas paroquiais ao memso tempo, que bem que sabe estarmos mais longe e ver que o Espírito Santo atua na vida das comunidades e dos irmãos. Não resisto em partilhar:

"Ontem notei que o padre que veio celebrar as eucarísticas à nossa paróquia estava encantado.
Resolvi fazer o exercício mental de ver a nossa igreja pelos olhos dele, e também eu fiquei encantada e orgulhosa.
A igreja estava cheia e tinha lugar sentados para todos, os bancos da frente estavam preenchidos pela catequese da adolescência, jovens bem comportados e atentos.
O coro magnífico, como sempre, e o salmo cantado pela Vera Fortuna foi um momento especial, de voz limpa, alegre e jovial, cantava que “esta é a geração dos que procuram o Senhor”.
A homilia desafiava-nos a ser santos, e o senhor padre falou numa linguagem cativante aos jovens e aos menos jovens, se por um lado catequizava, por outro falava com a jovialidade necessária à compreensão de todos na caminhada das bem-aventuranças. A assembleia esteve receptiva e acolhedora à palavra, de forma quase participativa embora não dissessem uma palavra.
No altar os 3 acólitos, trataram de toda a preparação para os ritos da comunhão. Não só vimos, como conseguimos sentir a experiência e a devoção no desempenho das suas funções.
Os nossos 6 ministros da comunhão assumem o compromisso de auxílio, na oração Eucarística, são igualmente um exemplo. Todos sabem o seu lugar, sem hesitações sem conversas, sabem exactamente quando e onde estar.
Tal como ontem ainda sinto que esta é a geração dos que procuram o Senhor, a certeza que a igreja somos nós e que somos uma igreja viva, não só ao domingo, mas todos os dias da semana.
Ok, ainda ficámos a falar dentro da igreja… mas também não pode ser tudo bom, tem que ficar alguma coisa para corrigir smile emoticon"
OBRIGADO, SENHOR, POR SERES O BOM PASTOR A CUIDAR DO TEU REBANHO

segunda-feira, 2 de novembro de 2015

Fiéis Defuntos



Senhor Jesus, aqui estou, no início deste dia dos Fiéis Defuntos. Recorda-Te, no teu amor, dos meus familiares, amigos e conhecidos que já partiram e vivem junto de Ti. Que o meu dia seja vivido na memória da bondade de tantas pessoas e dos desafios que me deixaram para viver uma vida melhor. Ofereço-Te o meu dia pela missão da Igreja e pelas intenções do Papa para este mês.
Glória ao Pai, e ao Filho e ao Espírito Santo. Como era no princípio, agora e sempre.

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sábado, 31 de outubro de 2015

Precisam-se admnistradores



Precisam-se "Administradores fiéis e prudentes”!
É convite a andarmos sempre atentos para não nos tornamos donos dos bens e imprudentes no seu uso ou seus maus administradores...
"Quem é o administrador fiel e prudente que o senhor estabelecerá à frente da sua casa, para dar devidamente a cada um a sua ração de trigo? Feliz o servo a quem o senhor, ao chegar, encontrar assim ocupado. Em verdade vos digo que o porá à frente de todos os seus bens"Jesus hoje

Ismael Teixeira

sexta-feira, 30 de outubro de 2015

Pão do coração



«Ofereço-vos este sorriso sem nada vos pedir em troca, só para o prazer, a alegria de estar convosco, de partilhar este instante de vida que nos é oferecido gratuitamente. Ofereço-vos este sorriso, sim, só para o prazer. Sabei que o sorriso é o pão do coração e que o mundo está faminto de sorriso e espera o vosso para melhor fazer bater o seu coração» (Anónimo).

«Quando estava na Bélgica e ia visitar uma catedral, encontrei este folheto no espaço onde habitualmente se colocam orações, pensamentos e reflexões espirituais.» Assim me escrevia uma irmã, enviando-me uma pequena folha amarelecida com um elogio do sorriso, escrito em francês.

Agrada-me aquela definição: «pão do coração». O que sustenta a nossa intimidade não é, com efeito, o alimento que tomamos ou a alegria confusa que nos envolve. É a serenidade, a doçura de se sentir amado, não esquecido e isolado. E o caminho para oferecer este dom de proximidade e afeto é o sorriso.

Basta só um instante para sorrir, e é como se a vida fosse atravessada por um raio de sol. Muitas vezes a nossa existência corre entre tensões e confrontos; o amuo é a atitude mais comum. Mesmo a anedota que diverte transformou-se em escárnio feroz e até em agressividade.

Há algum tempo, o filho de amigos meus embatucou na palavra "rapace", e perguntou-me o significado. Expliquei-lhe que é uma imagem extraída das aves de rapina e predadores, e que significa feroz, ameaçador, de rosto sombrio.

O rapaz concluiu: «Tal e qual como os grandes quando andam na rua». Sim, nós, adultos, já não conseguimos rir, mesmo que seja «só para o prazer» de viver.

P. (Card.) Gianfranco Ravasi 
Trad.: Rui Jorge Martins 

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

Deus chora!



Quando se aproximou, ao ver a cidade, Jesus chorou sobre ela e disse: «Se neste dia também tu tivesses conhecido o que te pode trazer a paz! Mas agora isto está oculto aos teus olhos. Virão dias para ti, em que os teus inimigos te hão-de cercar de trincheiras, te sitiarão e te apertarão de todos os lados; hão-de esmagar-te contra o solo, assim como aos teus filhos que estiverem dentro de ti, e não deixarão em ti pedra sobre pedra, por não teres reconhecido o tempo em que foste visitada.» (Lc 19, 41-44)

Neste choro de Jesus sobre Jerusalém,
naquelas lágrimas, está todo o amor de Deus.
Deus chora por mim quando eu me afasto;
Deus chora por cada um de nós;
Deus chora pelos malvados, que fazem tanto mal à humanidade...
Espera, não condena, chora.
Porquê?
Porque ama!

Papa Francisco

quarta-feira, 28 de outubro de 2015

Estou em construção



Se eu errei, se eu o magoei, se eu o julguei mal,
desculpe-me por todos esses transtornos…
Estou em construção!
Durante a nossa vida causamos transtornos
na vida de muitas pessoas porque somos imperfeitos.
Nas esquinas da vida, pronunciamos palavras inadequadas,
falamos sem necessidade, incomodamos.
Nas relações mais próximas, agredimos sem intenção ou intencionalmente.
Mas agredimos. Não respeitamos o tempo do outro, a história do outro.
Parece que o mundo gira em torno dos nossos desejos
e o outro é apenas um detalhe.
E, assim, vamos causando transtornos.
Esses tantos transtornos mostram que não estamos prontos, mas em construção.
Tijolo a tijolo, o templo da nossa história vai ganhando forma.
O outro também está em construção e também causa transtornos.
E, às vezes, um tijolo cai e magoa-nos.
Outras vezes, é a cal ou o cimento no rosto.
E quando não é um, é outro.
E com o tempo todos nós temos que nos limpar e cuidar das feridas,
assim como os outros que convivem connosco também têm de o fazer.
Os erros dos outros, os meus erros.
Os meus erros, os erros dos outros.
Esta é uma conclusão essencial:
todas as pessoas erram.
A partir desta conclusão, chegamos a uma necessidade humana e cristã:
o perdão.
Perdoar é cuidar das feridas.
É compreender que os transtornos são muitas vezes involuntários.
Que os erros dos outros são semelhantes aos meus erros
e que, como caminhantes de uma jornada, é preciso olhar adiante.
Se nos preocupamos com o que passou, com a poeira,
com o tijolo caído, o horizonte deixará de ser contemplado.
E será um desperdício.
O convite que faço é que experimente a beleza do perdão.
É um banho na alma!
Deixa-nos leves!
Se eu errei, se eu o magoei, se eu o julguei mal,
desculpe-me por todos esses transtornos…
Estou em construção!

Papa Francisco

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Na areia ou no coração?

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«Escrevi o teu nome na areia, mas a onda apagou-o. Gravei o teu nome numa árvore, mas a cortiça caiu. Esculpi o teu nome no mármore mas a pedra desfez-se. Tomado pelo desespero, escondi o teu nome no meu coração, e nele o tempo o conservou.»

Não sei quem escreveu estas palavras. Encontrei-as algumas vezes nos livrinhos que os noivos preparam para o seu matrimónio religioso, dando aos parentes e amigos a oportunidade de seguir a liturgia nupcial.

É verdade que as frases são algo enfáticas e sentimentalistas, mas o sentimento, em certos momentos, não estraga, sobretudo quando colhe um fundo de verdade humana e espiritual. O tema é simples e pode tocar quer o amor de casal quer todo o género de relação interpessoal e, em sentido mais lato, todo o compromisso de entrega ao próximo.

As profissões de amor exterior são significativas mas, como se sabe, os belos discursos deixam marcas frágeis, mesmo quando são frementes e incisivos. É a entrada no santuário da consciência, no profundo da vontade, na seriedade da vida que torna o amor sólido e constante.

As muitas palavras, a denguice, as expressões retóricas deixam o tempo que encontram, apesar de terem a sua função. O que conta e permanece é a escolha do coração, ou seja, da interioridade, que se consagra ao outro com verdade e intensidade.

Infelizmente, a educação para viver deste modo o amor é rara, acontecendo aquilo que, ceticamente, o príncipe Fabrizio, de "Il Gattopardo", de Tomasi di Lampedusa (1896-1957) observava: «Amor: fogo e chama por um ano e cinzas por trinta!».

Gianfranco Ravasi 

sábado, 24 de outubro de 2015

A liberdade do silêncio


Falamos de mais. Damos, tantas vezes, a nossa opinião mesmo quando ninguém a pediu, mesmo quando talvez ninguém se possa interessar por ela. Como se o silêncio fosse pior... na verdade, as nossas palavras prendem-nos. Por falarmos mais do que devemos, acabamos por nos tornarmos em quem não queríamos ser. Há quem pareça gostar tanto da sua voz que aproveita o tempo em que devia escutar os outros para pensar no que lhes dizer depois... não escutam. Falam apenas. De mais. Como pode saber falar, quem não sabe calar?

No silêncio há mais paz. Mais liberdade. Escutam-se melhor tudo o que está à nossa volta. O que dizem os outros e o que não dizem. Até se vê muito melhor.

A praça pública é ruidosa e indiferente. Curiosa, quer saber muito, mas tudo esquece e bem depressa.

Importa que sejamos capazes de guardar para nós e para quem nos pede as nossas palavras, até mesmo quando sejam as mais acertadas, devem apenas ser ditas se alguém as quiser escutar... caso contrário, o melhor será sempre o silêncio. Até porque ter razões não é ter razão.

O silêncio é o lugar do amor. A verdade não se diz, faz-se. Cumpre-se. Em gestos tão simples como escutar, sofrer, contemplar, perdoar e agradecer.

Afinal o ponto mais elevado da nossa existência está no mais profundo de nós. O silêncio é a luz para lá chegarmos.


quarta-feira, 21 de outubro de 2015

Deus sabe o que está a fazer



"Deus criou-me para Lhe prestar um serviço específico; Ele confiou-me uma obra que não confiou a outro. Tenho a minha missão que posso nunca conhecer nesta vida, mas saberei na próxima. De alguma forma sou necessário para os Seus propósitos, tão necessário no meu lugar como um Arcanjo no dele [...] tenho uma parte nesta grande obra.

Sou o elo de uma corrente, um vínculo de conexão entre pessoas. Ele não me criou para nada. Vou fazer o bem, vou fazer a Sua obra. Serei um anjo de paz, um pregador da verdade na minha própria casa, mesmo sem pretensão, se eu guardar os Seus mandamentos e O servir na minha vocação.

Por isso vou confiar n'Ele. Onde e como eu estiver, nunca poderei ser rejeitado. Se estou doente, a minha doença pode servi-Lo; na confusão, a minha confusão pode servi-Lo; se eu estou triste, a minha tristeza pode servi-Lo.

A minha doença, confusão ou tristeza podem ser causas necessárias para algum grande fim, que está muito além de nós. Ele não faz nada em vão; Ele pode prolongar a minha vida ou pode abreviá-la; Ele sabe o que está a fazer. Ele pode tirar-me amigos, pode enviar-me para o meio de estranhos, pode-me fazer sentir desolado, fazer o meu espírito submergir, esconder o futuro de mim, ainda assim Ele sabe o que está a fazer."

Cardeal Newman, 
in "Meditações e Devoções"

sábado, 17 de outubro de 2015

Semear na terra e no céu

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Somos apenas uma ínfima parte de tudo. Colhemos o que não semeámos e devemos semear o que não colheremos. A vida é assim mesmo. Imensa, mas intensa.

Quem se julga o centro e senhor de tudo não passa de um tonto sem noção do que é a existência. Não é meu o que me chega de forma gratuita, porque só é meu o que eu for capaz de dar. As riquezas que damos são as únicas que para sempre teremos.

Este nosso tempo é breve. Muito breve. É importante e inteligente que se faça o que se tem a fazer, sem muitas demoras. Se é para se fazer, então que se faça logo. Afinal, não nos demoraremos aqui muito tempo.

Partilhamos o mundo uns com os outros. A maior parte das belezas são fugazes. A única beleza que importa é a bondade de fazer as coisas sem se fazer notar, que não se pode esconder, mas que faz o trabalho devido de forma simples, determinada, por vezes com muitas dúvidas e incertezas, mas... fá-lo. Sem outro benefício senão o de saber que fez o que devia.

Se não sabemos quem plantou o que colhemos, que diferença fará desconhecermos quem colherá o que podemos semear?

Quem espalhou as estrelas não se terá preocupado com quem de tão sublime beleza iria ou não tirar proveito...

Devemos semear sem preocupação alguma a respeito de quem colherá os frutos da nossa bondade.

José Luís Nunes Martins
17 de outubro de 2015
Ilustração de Carlos Ribeiro (Inspirart)

quinta-feira, 15 de outubro de 2015

Ó alma minha!



«Ó alma minha!
considera o grande deleite e grande amor
que tem o Pai em conhecer a Seu Filho
e o Filho em conhecer a Seu Pai,
e o ardor com que o Espírito Santo se junta com Eles,
e como nenhuma das Três Pessoas se pode apartar
deste amor e conhecimento,
porque são uma mesma coisa.

Estas soberanas Pessoas conhecem-se,
estas amam-se
e umas com as outras deleitam-se.

Pois que necessidade há de meu amor?
para que o quereis, Deus meu,
ou que ganhais?

Oh! Bendito sejais Vós
Oh! Bendito sejais Vós, Deus meu,
para sempre!

Louvem-Vos todas as coisas, Senhor, sem fim
pois não o pode haver em Vós.»

Santa Teresa de Jesus | 1515 - 1582 
VII Exclamação

terça-feira, 13 de outubro de 2015

Se é só isso, conta comigo!



«A jovem com o lenço é a Beatriz Correia, por quem rezámos na colónia. Tem um linfoma. Tenho falado com ela e voltou o domingo passado à catequese. Depois de ela ter dito que sim que gostava de voltar, disse-lhe que este era o ano do Crisma. Ela perguntou-me: "e o que é preciso para eu receber o Crisma?" - Respondi-lhe: "seres assídua à Missa e à Catequese, mas sobretudo quereres apronfundar a tua amizade com Jesus." - Respondeu de imediato: "Se é só isso, conta comigo!"»

Catequista

segunda-feira, 12 de outubro de 2015

Aprender com a fragilidade



Podemos simplesmente passar a vida a fugir da fragilidade, a dos outros e a nossa, como se foge de alguém que nos prende só para nos fazer perder tempo ou desviar-nos do nosso destino. No fundo, consideramos a fragilidade uma presença ilegítima que não tem muito a dizer-nos; uma intrusa que é necessário desconsiderar tal o embaraço que provoca; uma experiência inconsistente, dilemática; um deserto que temos de atravessar sem fazer grandes perguntas; uma insegurança devoradora, um desconforto, um gosto inconfessável de fracasso que parece contaminar tudo; um estado emocional intermitente e precário, tão diferente da assertividade que disparamos com a certeza de nunca falhar o alvo; uma turbulência estranha que, como inexplicavelmente se abateu, também inexplicavelmente há de partir. Assim nos força a crer esta sociedade da eficácia que trata os “estados de alma” com a hostilidade devida aos “estados canalha”.

E, contudo, temos muito que aprender com a fragilidade. A fragilidade é parte integrante da vida, e não apenas como uma das suas formas ocasionais e possíveis. Ela deve ser reconhecida como sua estrutura fundadora. A fragilidade (ou vulnerabilidade, um dos seus sinónimos) é uma condição de partida, uma espécie de pacto de origem, se pensarmos no modo como fomos gerados e introduzidos na existência. Mas ela persiste, metamorfoseando-se ao mesmo tempo do que nós, acompanhando-nos. Há que compreendê-la não simplesmente como uma carência de base irremovível, uma incompletude que não nos larga até ao fim, uma dependência das múltiplas relações que nos tecem. A fragilidade permite-nos acolher a secreta e transparente melodia sem a qual não entenderíamos a vida na sua inteireza, permite-nos explorar o desenho delicadíssimo da sua paisagem interior, acariciar os seus fios ténues que, descobrimos depois, são longos e indivisíveis como fios de chuva. Quanta ciência exata existe naquele poema de Lao Tsé que diz: “quando os homens ingressam na vida são tenros e frágeis; quando morrem são hirtos e duros. Por isso os hirtos e duros são, desde o princípio, mensageiros da morte e os tenros e frágeis são os mais credíveis mensageiros da vida.”

A maturidade ajuda-nos a reconhecer a fragilidade como parábola. Há palavras fortes e palavras frágeis. As fortes servem-nos de leme, atiram-nos para diante, esclarecem, ordenam, organizam, confirmam. Precisamos delas, claro. As palavras frágeis, porém, não são o contrário das fortes. São palavras de outra natureza, representam signos de outra gramática. E percebemos que elas são frágeis porque são frágeis certos cursos de água que atravessam os bosques; certas sequências de uma canção que se recitam quase em murmúrio, não para apagar mas para intensificar o canto; certas etapas cambaleantes que servem ao bailarino ou ao viajante para um reencontro necessário com o próprio passo; certas hesitações sem as quais não faríamos a experiência da surpresa, do amor ou do espanto. Há emoções fortes e emoções frágeis. As emoções fortes tornam-se marcos da estrada que percorremos. Mas as emoções frágeis não são o seu inverso indiferente, mas o seu complemento. Da alegria que provamos podemos dizer: é uma estação breve. Da esperança podemos pensar: é uma sombra acesa que passa. Da mansidão, da ternura, da inocência, da gentileza, da amizade podemos temer: chegará o outono e também elas se irão desfazer. Que insensatez, porém. O que vemos todo o tempo é o sol fazer estremecer as folhas que nutre.

Agostinho Faria

sexta-feira, 9 de outubro de 2015

Sentir-te cheio de felicidade



«Oh! Se pudesses por um instante
sentir-te cheio de felicidade,
como eu me sinto!
Acredita que me pergunto a cada momento
se estou no céu,
pois vejo-me envolvida
por uma atmosfera divina,
de paz, de amor,
de luz e de alegria infinitas.»

Santa Teresa dos Andes | 1900 - 1920
Carta 96 (No Carmelo)

Senhor,
só Tu és capaz
de me encher de paz,
de amor
e de alegria infinitas.
Concede-me participar de alguma maneira
já nesta terra
da alegria que terei no Céu
e ser testemunho deste amor e alegria
para os meus irmãos.
Assim seja!

quarta-feira, 7 de outubro de 2015

Impulsividade


"Sou o que se chama de pessoa impulsiva. Como descrever? Acho que assim: vem-me uma idéia ou um sentimento e eu, em vez de refletir sobre o que me veio, ajo quase que imediatamente. O resultado tem sido meio a meio: às vezes acontece que agi sob uma intuição dessas que não falham, às vezes erro completamente, o que prova que não se tratava de intuição, mas de simples infantilidade.

Trata-se de saber se devo prosseguir nos meus impulsos. E até que ponto posso controlá-los. [...] Deverei continuar a acertar e a errar, aceitando os resultados resignadamente? Ou devo lutar e tornar-me uma pessoa mais adulta? E também tenho medo de tornar-me adulta demais: eu perderia um dos prazeres do que é um jogo infantil, do que tantas vezes é uma alegria pura. Vou pensar no assunto. E certamente o resultado ainda virá sob a forma de um impulso. Não sou maduro bastante ainda. Ou nunca serei."

Clarice Lispector

segunda-feira, 5 de outubro de 2015

Lizzie Velasquez é uma sobrevivente



Lizzie Velasquez é uma sobrevivente!

Quando era criança, recebeu o incômodo- e absurdo- título de "a pessoa mais feia do mundo". Ela é portadora de uma síndrome genética muito rara e que até hoje foi diagnosticada em apenas mais duas pessoas pelo globo.

Ao nascer, os médicos foram bem categóricos com os seus pais: ela não iria resistir por muitos meses. Estavam errados!

Hoje, Lizzie tem 26 anos e é um símbolo de inspiração para milhares de pessoas.

Aos 17 anos, Lizzie estava no computador de casa quando viu um vídeo na internet que se chamada "a mulher mais feia do mundo". Ao clicar, deparou-se com a sua história.

"Fiquei chocada" com o vídeo, revela Velasquez. "Mas foi quando comecei a ler os comentários que meu estômago realmente virou."

Realmente, os comentários eram grosseiros:

"Por que os pais ficaram com ela?!"
"Matem isso com fogo"
Ao longo dos anos, Lizzie juntou forças para combater todo o bullying, virou ativista pela causa, palestra em diversos países, produziu documentários e, mais importante, não se fez de vítima.

Nesse emocionante vídeo que tem rodado a internet, ela conta, de maneira inteligente e serena, como superou as adversidades e de onde tirou forças para levantar a cabeça e seguir em frente. Para ativar a legenda em português, não se esqueça de clicar no ícone "CC" presente na barra do play. Assista:

sexta-feira, 2 de outubro de 2015

Deus não precisa de defesa



Na minha última grande luta com Deus percebi de coração uma coisa: Deus não precisa de defesa. Ele precisa ser testemunhado. Já não vivemos em tempos de cristandade, onde acreditar em Deus era obrigatório. Obrigatório mesmo! Sinceramente, preocupa-me mais o desamor que a descrença. Evangelizar é anunciar alguém que ama para além de qualquer característica da pessoa amada. Esse anúncio faz-se em liberdade... e é em liberdade que se aceita e se cresce na relação.

Texto: Paulo Duarte, SJ
Foto: Brice Portolano

quinta-feira, 1 de outubro de 2015

Santa Teresa de Lisieux

«A caridade deu-me a chave da minha vocação.
Compreendi que se a Igreja tinha um corpo
composto de diversos membros,
o mais necessário, o mais nobre de todos não lhe faltava:
compreendi que a Igreja tinha um coração,
e que esse coração estava ardendo de amor.
Compreendi que só o Amor fazia agir os membros da Igreja;
que se o Amor se apagasse,
os apóstolos já não anunciariam o Evangelho,
os mártires recusar-se-iam a derramar o seu sangue...
Compreendi que o Amor encerra todas as Vocações,
que o Amor é tudo,
que abarca todos os tempos e todos os lugares...
numa palavra, que é Eterno!...
Então, num transporte de alegria delirante, exclamei:
“Ó Jesus, meu Amor! Encontrei finalmente a minha vocação:
a minha vocação é o Amor!...”»
Santa Teresa do Menino Jesus | 1873 - 1897
Manuscrito B. 3Vº (inspirado em 1 Cor 12-13)
Senhor,
Tu és Amor.
Concede-me a graça
de tudo fazer por amor
e amando.
Assim estarei sempre
fortemente unido a Ti.
Assim seja!

segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Todos



E às vezes julgamos que as crianças não entendem o ambiente onde vivem. A Tiana tem 6 anos, mora com a sua mãe solteira e da última vez que o pai a visitou, houve um conflito entre eles. Cansada, ela resolveu ter uma conversa séria com a mãe. Ora vejam...


Adorable girl tell her parents not to fight
‘Mom, are you ready to be his friend?’ Tiana starts.
Her mom answers 'yes'.
Tiana continues: Try not to be that high up [she gestures with her hands] to be friends, I want everything to be low. Just try your best.
'I don't want you and my dad to be replaced and meanies again. I want you and my dad to be placed and settled and be friends.
'I'm not trying to be mean. I just want everyone to be friends.
'And if I can be nice, I think all of us can be nice too.
'I'm not trying to be mean - I'm trying to do my best in my heart. Nothing else than that.
'I want my mom, my dad, everyone, to be friends. I want everyone to be smiling.
She later tells her mom: 'I think you can do it. I think you can settle your mean heights down to short heights ... I just want everything to be settled down, nothing else. For everything to be as good as possible. Nothing else.'
At the end of her lecture, her mom tells her, 'Thank you, Tiana,' and they have a hug and kiss.

Se...



E disse Deus:
Se ninguém te ama, a minha alegria é amar-te.
Se choras, Eu desejo consolar-te.
Se és fraco, Eu dar-te-ei a minha força e energia.
Se ninguém precisa de ti, Eu preciso.
Se te julgam inútil, Eu não posso prescindir de ti.
Se estás vazio, a minha plenitude te encherá.
Se tens medo, Eu levo-te aos ombros.
Se queres caminhar, Eu irei contigo.
Se me chamas, Eu venho ao teu encontro.
Se te perdes, Eu não descanso até te encontrar.
Se estás cansado, Eu sou o teu descanso.
Se pecas, Eu sou o teu perdão.
Se precisas de Mim, Eu digo-te: estou aqui dentro de ti.
Se andas nas trevas, Eu sou a luz para os teus passos.
Se tens fome, Eu sou para ti o pão da vida.
Se queres falar comigo, Eu escuto-te sempre.
Se estás preso, Eu vou libertar-te.
Se queres ver o meu rosto, olha para uma flor,
para uma fonte, para uma criança.
Se és marginalizado, Eu estou a teu lado.
Se se esquecem de ti, Eu nunca te esqueço.
Se nada tens, tens-me a Mim.
Se meditas no silêncio, a minha palavra habitará
no teu coração.

J. Fernandez Moratiel, O. P.

sábado, 26 de setembro de 2015

Quem sãos verdadeiros inimigos

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Os amigos combatem o pior de nós, os inimigos o melhor. Os amigos criticam quase sempre, os inimigos poucas vezes. Chegam até a aplaudir. Essa é a sua forma de chegar mais perto, de ganhar a confiança de um peito aberto. Anima-os o ódio, um desejo de destruição que arruína mais quem o tem do que aquele a quem é apontado.
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Os amigos corrigem-nos porque nos dão valor, do mesmo modo como reparamos um objeto importante, mas deitamos para o lixo um outro que julgamos não merecer a o esforço de tentarmos arranjá-lo. Os inimigos corrigem-nos porque não nos dão valor e querem dessa forma justificar o seu desprezo. Aos amigos dói-lhes corrigir, como aos pais castigar os filhos, enquanto os inimigos sentem um perverso prazer em castigar, porque julgam que assim fica legitimado o seu desamor...
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Há quem seja capaz de muito mal. As suas maiores armas são: a calma com que analisam os detalhes, a racionalidade com que dominam os instintos e a frieza com que aplicam os seus golpes. Sem piedade nem culpa. Apenas uma vontade infernal que cumprem. Sim, que os infernos não são senão partes destruídas do paraíso.
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O maior inimigo de qualquer um de nós é a má vontade. A vontade de não criar. O desejo do mal. A ideia de que tudo à nossa volta é adverso e hostil, contrário e aborrecido, indisposto e detestável. A maior parte dos que se fazem inimigos são pessoas que cobiçam, que se orgulham de algo que não tem grande valor, gente que tem medo. E eis que o ódio lhes dá uma ilusão de poder, valor e ousadia.
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Há pessoas que, não sendo capazes de analisar e avaliar os erros próprios, os danos e as faltas dos outros, tentam de forma desproporcional destruir tudo apenas porque se deram conta de um pequeno erro. Como se uma porta encravada justificasse a destruição de um palácio.
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A raiva estende os seus ramos nos espaços vazios, no aborrecimento das vidas que se contentam com pouco sentido. Ninguém nasceu para ser apenas normal. Cinzento. Alguns que assim se encontram dão-se conta de que há outros que têm nas suas vidas cores, alegrias e vida, muita vida... Por esta altura, uns assumem ousar seguir-lhes o exemplo; outros, pretendem ultrapassar a sua desgraça através da destruição dos dons de quem lhes torna evidente o seu fracasso. Um dos grandes sucessos dos inimigos é fazer-nos acreditar que dizem a verdade quando falam a nosso respeito.
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Os momentos mais decisivos dos nossos dias são aqueles em que, não tendo nada planeado e concreto para fazer, decidimos o que fazer ou... desfazer. Há quem prefira passar o tempo a destruir os castelos que outros erguem na areia da praia... em vez de sentirem o carinho do sol na pele, o aroma único que se liberta no quebrar das ondas, a alegria tão profunda, simples e infantil de agarrar a praia inteira numa mão cheia de areia... e ser feliz por poder construir castelos que, mesmo resistindo pouco tempo, são sempre sinal de uma vontade de construir um bem que dure.
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A traição resulta quase sempre da incapacidade de compreender o bem onde ele está. Julgando que o diferente é melhor, só porque é diferente. Mas faz-se pior quem assim se engana a si mesmo, nessa preguiça absoluta de sentir, pensar e ser melhor. Uma aparência de felicidade pode não ser mais que uma máscara que esconde uma grande podridão.
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O rancor muitas vezes aguarda durante anos até poder manifestar a sua sede de vingança, não por um mal que foi feito, mas por um bem que se detestou. Por isso, uma das maiores dores que sente alguém que é mau é ser perdoado do seu mal.
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O inimigo alberga um ódio que é uma esperança de vingança de um suposto mal exterior a si. Sente-se triste e acusa o outro disso. Uma espécie de vingança de medroso.
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Nenhum de nós tem forma de não ser alvo de ódio, pois tanto o bem como o mal que fazemos o podem despertar da mesma maneira.
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Há pessoas más cujo ódio nos louva. Somos diferentes delas, e ainda bem. Mas importa que nunca as levemos ao desespero… aceitando com paciência a sua existência.
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Os nossos maiores inimigos são os nossos erros, vícios e paixões. Devemos aprender com eles, agradecer-lhes os espinhos que cravam, pois reforçam a nossa capacidade de andarmos despertos e de nos aperfeiçoarmos.
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O número dos inimigos aumenta na proporção do nosso valor. Mas são esses mesmos adversários que impossibilitam que nos tornemos vítimas da nossa importância.
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Os amigos tendem a gostar muito do que nos custa a alcançar e a desvalorizar o que nos é fácil…. Já os inimigos preferem que nada façamos e odeiam o que fazemos de mais difícil e elevado. Uns querem o melhor de nós, outros, o pior.
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sábado, 19 de setembro de 2015

Até ao fim das tormentas



DEDICO ESTE TEXTO AO RICARDO JÚLIO PINHO,
QUE PARTIU ESTA MANHÃ PARA JUNTO DE DEUS

Hoje, como sempre, são necessários homens e mulheres capazes de lutar até ao fim pelo bem em que acreditam. O mundo está cheio de conselhos, teorias e promessas, mas quase vazio de obras de valor. Obras completas. Não primeiras pedras.
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A maldade nunca é falta de doutrina ou moral, pelo contrário, encontra sempre razões que apresenta como muito justas e boas. Muitos são os que desistem de se fazerem bons. Ora porque julgam já sê-lo, ora por se reconhecerem maus… e não estão para mais trabalhos. Outros ainda, desistem porque não são capazes de viver com a incompreensão de agir bem e, depois, serem acusados de o ter feito por outros motivos… a verdade é que é preciso mesmo estar disposto a sofrer bastante para ser nobre.

A vida é uma dura e intensa guerra. São muitas batalhas que envolvem inúmeros combates que têm de se travar com mil e um adversários… alguns mais brutos, outros mais subtis. Alguns vivem longe, outros habitam-nos dentro.

Por vezes, valorizam-se os que, apesar de terem ideias erradas, lutam por elas até ao fim… mas, na realidade o que lhes pode sobrar em coragem (que neste caso será uma grande teimosia) lhes faltará em discernimento (que neste caso será pouco mais do que senso comum).

Um coração nobre supõe não só uma inteligência para compreender o que deve fazer, mas também, e essencial, a capacidade de o concretizar até ao fim.

A obra só é perfeita se for até ao fim... e se o fim for bom.

Pode-se errar, parar e até descansar um pouco. Mas cuidando sempre de manter atentas as defesas, pois que é no cinzento dos dias com nuvens e frio que mais vezes a tentação de desistirmos do melhor de nós aparece disfarçada de sol radioso e amigo. Nunca é tempo de dormir de forma absoluta e tranquila. O ardor das feridas dos combates antigos deve mantermo-nos vivos e despertos às investidas do inimigo que a todo o momento podem surgir.

A mais importante coragem de um guerreiro não é a tenacidade com que ataca, mas a fortaleza com que resiste a tudo o que se lhe opõe, a tudo quanto o tenta afastar da construção do seu caminho, destino e missão. Só a inteireza combate a cobiça, o orgulho e o egoísmo.

Resistir, firmes, mas não inflexíveis, pois que as adversidades moldam os espíritos assim como as mãos amassam o pão… até ficarem maleáveis para que possam melhor construir o seu caminho, sem quebrar nem desistir. Porque o mal pode bater, mas não pode abater.

Na guerra da nossa vida, importa sempre continuar para diante, mas nunca por hábito; insistir, mas nunca por teima; persistir, mas nunca por apego... Perseverar, mas sempre pelo bem e até ao fim.

Uma pessoa valorosa nunca luta só. Tem consigo a herança que lhe deixaram os que lutaram antes de si com os mesmos inimigos; legado este que deve enriquecer com a sua vida, a fim de que deixe mais do que lhe foi entregue. Que dê mais do que recebeu.

Que o fogo que nos mantém vivos aqueça o nosso coração e nos ensine, sempre, a distinguir as luzes da verdade dos brilhos da falsidade.

Pode o mundo estalar e ruir, por todos os lados, que não poderá nunca manchar a nobreza de um homem bom. Cada um de nós luta contra adversidades durante toda a vida, e, no fim dela, ainda terá de lutar contra a morte... mas a verdade é que quem luta inteiro... vence!

Porque não se pode ser maior do que aquilo que é inteiro.

José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Deus que se fez Palavra



Às vezes pensamos que o que é Sublime
tem de ser Enigmático.
Quando queremos solenizar o profundo,
arranjamos maneira de o tornar incompreensível.
Sim, achamos que a incompreensão
é uma boa homenagem ao Mistério
e, então, deixamo-nos ficar assim,
consolados num não-querer-saber
ao qual chamamos, convictamente, "fé"!

Mas quando despertamos para a inquietação
latente nas palavras e nas fórmulas da nossa Fé,
quando nos deixamos cutucar
pelas insinuações novas que vêm de dentro das afirmações de sempre,
percebemos que vamos ser levados pela mão
por caminhos inesperados
a ver belezas, descobrir sabores, purificar imagens,
curar feridas, refazer esperanças, partilhar significados...

Todas as palavras que se aguentam
com o passar longo do tempo,
é porque têm as entranhas habitadas.
As palavras impregnadas na história
são palavras empenhadas de histórias.

Assim é com as tantas da nossa Escritura,
empenhadas da Inscritura sempre nova e surpreendente
do Deus que se fez Palavra para conversar conosco".

Pe. Rui Santiago, in Estou em Crer

sábado, 12 de setembro de 2015

A chama da vida e o fogo das paixões


Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixões tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertações, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixão é sofrimento, um furor que é o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilíbrios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudência de entregar tudo sem uma vontade própria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilíbrio momentâneo. Afinal, quem nunca ousa está perdido, para sempre.

Há boas paixões. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguém faz ideia da capacidade que cada um de nós tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixões comuns, há quem perca a cabeça, o coração e a alma. Uma paixão forte que se consente pode fazer com que a mais digna das pessoas se destrua... se consuma, não ficando senão as cinzas em que ardeu. É preciso que saibamos cuidar do que queremos ser, mais do que do prazer que julgamos merecer. O nosso caminho deve ser decidido por nós, não por um qualquer impulso estranho à nossa vontade. Ser feliz passa por ser firme face às tentações do fácil e do imediato.

A verdadeira chama, aquela que nos ilumina, aquece e orienta, não é a das paixões, é a chama da vida. A vida ela própria, assim, simples e pobre na aparência. Aquela vida que tem consciência de que é, em si mesma, um dom. Uma luz. Um presente do divino. Uma presença divina. Não se trata de uma alegria de cumprir fantasias, antes sim da virtude suprema de saber apreciar os momentos da vida sem necessidade de ser sob a séria ameaça de a perder. Este é o único fogo que não consome.

O frio que por vezes sentimos na alma não é sinal de estarmos no caminho errado, apenas de que é hora de por à prova a nossa determinação.

A paixão aumenta a sua força à medida que crescem os obstáculos que se lhe opõem. Combate-se com a luz da razão e o calor do coração. Sem excessos nem violências. Apenas firmeza, sofrimento e paz.

Posso sofrer, mas não quero desistir de mim mesmo… assim eu me saiba fazer maior do que as minhas dores. Mais forte do que as minhas paixões...

José Luís Nunes Martins

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ego



"A minha mão direita escreveu muitos poemas que eu compus, enquanto minha mão esquerda não escreveu nenhum poema. Mesmo assim, minha mão direita não pensa da mão esquerda: ‘Você não presta para nada!’.

Minha mão direita não tem nenhum complexo de superioridade, e por isso ela é muito feliz. E minha mão esquerda não tem nenhum complexo de inferioridade. Portanto, nas minhas duas mãos existe uma sabedoria, uma sabedoria chamada de ‘não-discriminação’.

Eu me lembro que um dia eu estava com um martelo batendo em um prego. Minha mão direita não estava muito firme e, ao invés de acertar o prego, acertou o dedão da mão esquerda. Imediatamente, a mão direita largou o martelo no chão e começou a cuidar do dedão da mão esquerda de uma forma muito terna e carinhosa, como se estivesse cuidando dela mesma.

E a mão direita não disse: ‘Você, mão esquerda, você está vendo que eu, a mão direita, estou cuidando bem de você agora, você deve se lembrar disso, e você deve me pagar por isso de volta de alguma forma no futuro.’ Não há este tipo de pensamento. E minha mão esquerda não diz assim: ‘Você, mão direita, você me machucou muito, me dê este martelo, eu quero vingança!’

Não há este tipo de pensamento, porque as duas mãos sabem que elas estão juntas, elas estão uma na outra.”

Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Nascemos e não mais morreremos




Morrer aos 28 anos? Que absurdo! Morrer aos 28 anos não faz sentido. Morrer quando se tem um bebé pequeno para criar ainda mais drama acrescenta. Quando se vem a saber que preferiu evitar tratamentos prejudiciais à vida do bebé durante a gestação e que isso lhe custou a vida, começa a perceber-se que não há apenas uma tragédia: há também escolha; uma escolha impressionante. Depois, recuando ainda mais para trás, vem-se a saber que já tivera um outro filho: nascera com malformações e vivera meia hora após o parto. Um pouco mais para trás e, de novo, uma filha existira antes dos outros: crescera com uma anencefalia e vivera apenas meia hora depois do parto. E assim se percebe nas entrelinhas que estes pais levaram três gravidezes até ao fim: por três vezes, e as três vezes em condições adversas.

Ou seja: toda a história é uma tragédia difícil de digerir, do princípio ao fim. A dor, a doença, a impotência, são todas promessa de um futuro truncado, arrancado, mutilado. E ninguém gosta de entrar nestas realidades. Mas, em todo este tempo, e apesar de todos os altos e baixos, Chiara e Enrico sentiram-se nas mãos de Deus e a viver tudo com uma paz de fundo que os deixava perplexos – a eles, a todos aqueles que os acompanhavam; e, agora, aos que os vão conhecendo. A verdade é que, contra todas as expectativas, desprende-se da história deste casal um perfume inconfundível a eternidade.

Foi esse contraste que me convenceu que algum dia teria de a conhecer melhor. Já em tempos a encontrara numa revista italiana; depois, em Lisboa, não perdi a oportunidade de ir à apresentação do livro “Nascemos e Jamais Morreremos”, onde se relata a história de Chiara: por coincidência, naquela noite, cheguei ao mesmo tempo que os principais protagonistas desta história e pude dar pessoalmente o ‘benvenuto’ ao Enrico (pai), ao Francesco (filho), ao Simone e à Cristiana (amigos do casal e redatores do livro). Durante a sessão sentiu-se mais uma vez a vibração daquele silêncio perfumado, misto de admiração e comoção - típico de ambientes cheios de Deus. E, mais uma vez, aquela tragédia se converteu em luz para todos os que ouviam o seu relato.

Finalmente peguei no livro e passei uma tarde inteira de mãos dadas com a Chiara. Naquele italiano musical, contou-me como foram aqueles anos de namoro; as peregrinações e a procura da vontade de Deus; a decisão de casar; a primeira gravidez, tão súbita e, depois, tão peculiar: meia hora de vida com frutos tão inesperados; a segunda gravidez e, de novo, a morte [aos nossos olhos] prematura; finalmente, o filho [aos nossos olhos] saudável e, em simultâneo, a surpresa do carcinoma nela própria, a exigir tratamento imediato. E a decisão natural de deixar a vida em gestação crescer e desenvolver-se em detrimento do combate ao ‘dragão’ do cancro - que sorrateiramente lhe ia invadindo o corpo. Curiosamente, grande parte destes acontecimentos, a passarem-se ao mesmo tempo em que eu vivia uns quarteirões ao lado, no centro de Roma.

A naturalidade com que me falava de Deus era a de quem já nesta terra vivia a vida eterna. Confirmou em mim a certeza de que a vida eterna não é algo que venha lá longe, a qual devamos esperar, mas algo que podemos viver já, aqui e agora. E, nesse sentido, é mais compreensível que as provas que a vida lhe trouxe as tomou não como castigo ou carga insuportável: tornaram-se a oportunidade de testemunhar, manifestar, evidenciar o maior tesouro que alguém pode ambicionar: a fé, a confiança inabalável, a intimidade com Deus.

A mim, fez-me perceber melhor como é possível viver em simultâneo dor e bênção, sofrimento e alegria - não como antítese uma da outra mas como síntese uma com a outra. Fez-me perceber melhor a Paixão de Cristo. Agradeço-lhe ter-me ajudado a entrar na Semana Santa com outra preparação - tempo a ser vivido com esse mesmo silêncio perfumado, misto de admiração e comoção, a que a história de Chiara inspira - e ter-me ajudado a preparar os inevitáveis tempos de 'Paixão' que a minha vida me há de trazer. Se tivesse de resumir a aprendizagem recebida com Chiara diria: "Não tenhas medo. A vida há de trazer dores e dificuldades mas nenhuma é superior a Deus. Prepara-te nEle, no Seu amor, e Ele tornar-te-á capaz de qualquer travessia".

Morreu no dia 13 Junho 2012, aos 28 anos. E, de facto, pode ter sido um absurdo - se quisermos ler a história apenas à luz da razão - à luz dos nossos planos, desejos e ambições ainda demasiado terra-a-terra. Mas quem disse que a vida se confina a isso? Quem disse que a morte biológica é o fim de tudo? A história de Chiara é uma prova viva de que quando se morre, não se morre: nasce-se de novo; desta vez para o Céu. Atrás de si, Chiara deixou um rasto de luz, daquela luz que não se vê com os olhos mas com o coração. E não será essa a melhor luz? 

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...