segunda-feira, 30 de junho de 2014

No trilho da paz



"De resto, irmãos, tudo o que é verdadeiro, tudo o que é nobre, tudo o que é justo, tudo o que é puro, tudo o que é amável, tudo o que é respeitável, tudo o que possa ser virtude e mereça louvor, tende isso em mente. E o que aprendestes e recebestes, ouvistes de mim e vistes em mim, ponde isso em prática. Então, o Deus da paz estará convosco." (Fil 4, 8-9)

"Se há recomendação em que valha sempre a pena apurar os ouvidos é aquela que nos sugira o trilho da paz. Acate-se todo o conselho que aponte para a verdade. Evite-se o que tresanda a engano e se percebe à distância que não passa de mera ilusão. Prefira-se o procedimento honesto ao desonroso. Nem se pestaneje diante de truques rasteiros, antes haja fibra para os desfazer com actos puros. Persiga-se a dignidade e fuja-se de práticas indecorosas. Opte-se pelas vias cristalinas deixando em detrimento dos trajectos enviesados. É impossível chegar ao topo da escadaria da santidade pisando degraus obscenos. Já a amabilidade sem cartas na manga não só é desejável como também altamente recomendável. Agrada a Deus quem substitui a cultura de ressentimento por um estilo de vida assente na bondade. Sim, exercite-se a mente em tudo o que seja de “boa fama, virtuoso e digno de louvor.” Ponha-se em prática o que já se sabe de ginjeira e a paz de Deus será experimentada."

Jónatas Figueiredo


sábado, 28 de junho de 2014

800 anos da língua portuguesa

Foto: 800 ANOS DA LÍNGUA PORTUGUESA

Apesar de ser rei e soberano absoluto, D. Afonso II, em 27 de Junho de 1214, escreveu um texto que não é um Decreto. Ele obviamente não disse: “Decreto hoje fazer esta língua. E fica feita.” Não, D. Afonso II escreveu apenas o seu testamento; limitou-se a usar uma língua que obviamente já existia e já era usada pelo seu povo, antes de ele a usar também. O simbolismo deste momento e desse marco é que é a primeira vez que isso foi feito. Nunca antes dele, um Rei, um Estado, um soberano usara a nossa língua, escrevera oficialmente a nossa língua.     

in O POVO

Apesar de ser rei e soberano absoluto, D. Afonso II, em 27 de Junho de 1214, escreveu um texto que não é um Decreto. Ele obviamente não disse: “Decreto hoje fazer esta língua. E fica feita.” Não, D. Afonso II escreveu apenas o seu testamento; limitou-se a usar uma língua que obviamente já existia e já era usada pelo seu povo, antes de ele a usar também. O simbolismo deste momento e desse marco é que é a primeira vez que isso foi feito. Nunca antes dele, um Rei, um Estado, um soberano usara a nossa língua, escrevera oficialmente a nossa língua.

in O POVO

sexta-feira, 27 de junho de 2014

Oração pelos sacerdotes



Ó meu Jesus, Vos peço por toda a Igreja,
concedei-lhe o amor e a luz do Vosso Espírito,
dai vigor às palavras dos sacerdotes,
de tal modo que os corações endurecidos
se enterneçam e retornem a Vós, Senhor.

Ó, Senhor, dai-nos santos sacerdotes;
Vós mesmo, conservai-os na santidade.

Ó Divino e Sumo Sacerdote,
que a potência da vossa misericórdia
os acompanhe em todos os lugares
e os defenda das insídias e dos laços do diabo,
pois ele tenta continuamente as almas dos sacerdotes.

Ó Senhor, que a potência da Vossa misericórdia
quebre e aniquile tudo aquilo
que possa obscurecer a santidade dos sacerdotes,
porque Vós podeis todas as coisas.

Meu Jesus amantíssimo,
Peço-Vos pelo trinfo da Vossa Igreja,
para que abençoeis o Santo Padre e todo o clero;
para obter a graça da conversão
dos pecadores obstinados no pecado;
por uma especial bênção e luz,

Peço-Vos, Jesus, pelos sacerdotes
com os quais me confessarei
durante toda a minha vida.

Santa Faustina Kowalska

Festa do Sagrado Coração de Jesus

Dia de oração pela santificação dos sacerdotes

quarta-feira, 25 de junho de 2014

A importância das aparências




A importância das aparências... fatiotas diferentes, reações diferentes!
É através de ações simples e heróicas que começamos a saborear o significado da palavra "humanidade".

segunda-feira, 23 de junho de 2014

Oração do Papa Francisco na ordenação sacerdotal



A oração que o Papa Francisco rezou antes da sua ordenação sacerdotal.

Recordemos esta poderosa oração que o Papa Francisco escreveu três dias antes de se tornar padre. Em 13 de dezembro de 1969, Jorge Mario Bergoglio, três dias antes de cumprir 33 anos de idade, foi ordenado sacerdote. Alguns dias antes, aquele jovem, que hoje é o Papa Francisco, emocionado e feliz, escreveu uma oração especial, que refletia o que ele estava sentindo e vivenciando naquele momento. A oração foi divulgada pelo jornal italiano Avvenire:

“Quero crer em Deus Pai,
que me ama como um filho,
e em Jesus, o Senhor,
que infundiu seu Espírito na minha vida,
para fazer-me sorrir e levar-me, assim,
ao Reino eterno de vida.
Creio na Igreja.
Creio que, na história, que foi tocada
pelo olhar de amor de Deus,
no dia da primavera, 21 de setembro,
Ele saiu ao meu encontro para
me convidar a segui-lo.
Creio na minha dor,
infecunda pelo egoísmo, no qual me refugio.
Creio na mesquinhez da minha alma,
que busca receber sem dar... sem dar.
Creio que os outros são bons e que
devo amá-los sem medo e sem traí-los jamais,
sem buscar uma segurança para mim.
Creio na vida religiosa.
Creio que quero amar muito.
Creio na morte cotidiana, ardente, da qual fujo,
mas que sorri para mim, convidando-me a aceitá-la.
Creio na paciência de Deus, acolhedora,
boa como uma noite de verão.
Creio que o meu pai está no céu, junto ao Senhor.
Creio que o Padre Duarte também está lá,
intercedendo pelo meu sacerdócio.
Creio em Maria, minha Mãe,
que me ama e nunca me deixará sozinho.
E espero a surpresa de cada dia,
em que se manifestará o amor, a força,
a traição e o pecado,
que me acompanharão até o encontro definitivo
com esse rosto maravilhoso
que não sei como é,        
do qual fujo continuamente,
mas que quero conhecer e amar.
Amen.”

sábado, 21 de junho de 2014

Tesouro escondido



Na rota do sofrimento, escutamos histórias de vida que nos fazem perceber que Deus não está fora da cidade. Uma idosa da idade de minha mãe conta a sua aventura e resume a sua vida numa simples frase:

- "Nunca tive nada por meu; tudo o que tive partilhei com filhos que adotei, com os pobres que sentava à nossa mesa". 

Noutro lugar, há uma filha que deixa o emprego, para cuidar da mãe, que não a conhece nem reconhece, por causa da doença de Alzheimer. E diz-me, resoluta: 

- "No larnão a ponho, nem pensar. Se não der para o bife no prato, dá para uma sopa na tigela". 

Noutro lugar, aprecio a coragem de um homem, a quem coseram a mão a sangue frio, e que se orgulha das "medalhas" que tem na mão. Mas há uma velhinha, que me faz soltar uma risada, que acordou a vizinhança. Já depois de alguns minutos, como se nos conhecêssemos há anos, ela debita esta sabedoria evangélica: 

- "Sabe, Sr. Padre, não me tenho confessado e sempre que vou à Igreja o Padre está apressado. Chega a hora da comunhão e eu digo a Nosso Senhor: «Óh Senhor, eu queria receber-Te, depois da confissão. Mas como o Padre não está e eu estou cheia de vontade, não Te importas e eu vou comungar?!».E - diz a velhinha com humor cristão - "e eu lá vou à comunhão convencida que Nosso Senhor vai cá na conversa fiada da velhota". 

Depois conta-me a sua história do seu amor a Cristo e eu sinto-me ainda mais pequeno do que ela. Quer-se confessar e eu lá me volto para ela e, com brilho nos olhos, depois da absolvição, no fim, diz isto que arrepia o mais incrédulo: 

- "Hoje o céu entrou pelas telhas da minha casa dentro. Obrigado, meu Jesus". 

E eu lá vou dizendo baixinho. 

- "Oh meu Deus, ó Padre Gonçalo, tinhas aqui um tesouro escondido no meio do betão e só hoje o descobriste. Talvez te tenhas de confessar pela demora".

Pe. Amaro Gonçalo

quinta-feira, 12 de junho de 2014

As lojas que vendem vento...

As lojas que vendem vento...

Que saudades!

É verdade!

Que saudades eu tenho do tempo em que lia Cervantes!

Que saudades do tempo em que a imaginação voava pelas lezírias de Castilla la Mancha, por onde a imaginação se perdia entre moinhos e gigantes à procura da Dulcineia de antanho.

Que saudades eu tenho do Quixote, e do vento e do sol e das planícies, do vento que enfunava as velas dos moinhos por onde girava o vento das quimeras e do sol que amadurecia o pão ganho com trabalho honesto!

Infelizmente, neste tempo em que as “manchas” não estão já só por Castela, do Quixote sonhador e generoso só sobrou o Sancho rústico, bronco, egoísta, calculista, carreirista... diplomado.

Que saudades de saber de onde soprava o vento!

Que raiva por perceber de onde sopram agora os novos ventos!

Num tempo em tudo se mercadeja, até e sobretudo a dignidade cada vez mais percebemos que até o vento se vende... isso mesmo, o vento que enfuna as velas dos moinhos... esse, também esse está à venda... e há lojas de vender vento!

Lojas “musicais”, com nomes ilustres e sonantes... Pobre Bach, pobre Mozart, pobre Beethoven, pobre Quixote, pobres nós... pobres de nós... só ficamos com o Sancho, mais a pança, que nunca está saciada...

Hoje, do meu mundo, sobra-me a minha cidade, sobra-me um espaço onde cada vez mais me perco no vozear estonteante de messias desejados, de virgens mais castas que a casta Susana, a gritar inocência, que se vão passeando pelas lojas, pelas tais lojas que vendem vento, com nomes sonantes e tudo!

Não, não fui eu, não fomos nós... foram eles... sempre eles, os outros, os sem nome, os inomináveis, eles sim... são os culpados... nós não, nunca!



Hoje, na minha cidade, sobra-me o fastio do centro comercial, atafulhado de miríades de cores e de provocações. Cheios! Cheios até mais não poder ser de lojas que vendem vento, como se não houvesse amanhã!

Os neons ofuscam a pouca visão que ainda me resta e que me vai permitindo vislumbrar as montras... das lojas que vendem vento.

São ventos outros os que vão soprando, pelos corredores do centro comercial da minha cidade, das promoções infinitas, dos desatinos consumados, do vozear alvoroçado das virgens, estouvadas, azougadas, apoucadas...

Pelos corredores, olhando as montras escondidas pelo brilho dos neons, vou tentando perceber qual é a loja que está no comando.

É, no centro comercial da cidade que me resta, resta-me ir percebendo qual é a loja de turno, assim mesmo, como nas farmácias... qual é a loja de turno que está a dar as ordens que hão de ser cumpridas no Centro Comercial, pelas outras lojas, à espera que chegue a sua vez, à espera que chegue o seu turno.

Por aqui, vou eu comprando a existência que me resta, vou eu sonhando, quixotescamente a esperança que me não morre, a esperança que me mora, que eu habito e que me habita.

Por aqui vou eu, vamos nós, nós que não somos os outros... porque somos simplesmente nós.

Vamos, Francisco, vamos à Jordânia, à Palestina, a Israel, vamos ao mundo, ainda que vamos sozinhos, deixa lá, vamos os dois!

Da última vez que lá estivemos, naqueles 3 dias fabulosos, nós por cá, fizemos os nossos alinhamentos noticiosos como tinham que ser feitos... eleições europeias, seleção de futebol, zanga das comadres e depois, ah sim... depois... vieste tu, Francisco! Depois vimos-te a fazer tudo o que tinha que ser feito, a dizer tudo o que tinha que ser dito... mas já estávamos lançados na discussão que importava... o gelo na perna do Ronaldo era muito mais importante...

Mas nós vamos, Francisco, lá estivemos no dia 8 de junho em Roma, com o Shimon Peres e o Mahmoud Abbas, lá rezámos pela paz.

As comadres ainda devem andar zangadas por essa altura, o gelo da perna do rapaz ainda não deve ter derretido, a Europa lá andará de armas e bagagens entre Bruxelas e Estrasburgo, mas nós vamos!



Fr. Fernando Ventura, ofm cap
© SNPC | 11.06.14

segunda-feira, 9 de junho de 2014

Chamados a dizer irmão

Foto

"Para chegar à paz, somos chamados a dizer uma palavra: «Irmão»" 
(Papa Francisco).

"Senhor Deus de Paz, escutai a nossa súplica!
Tentámos tantas vezes e durante tantos anos
resolver os nossos conflitos com as nossas forças
e também com as nossas armas;
tantos momentos de hostilidade e escuridão;
tanto sangue derramado;
tantas vidas despedaçadas;
tantas esperanças sepultadas...
Mas os nossos esforços foram em vão.
Agora, Senhor, ajudai-nos Vós!
Dai-nos Vós a paz, ensinai-nos Vós a paz,
guiai-nos Vós para a paz.
Abri os nossos olhos e os nossos corações
e dai-nos a coragem de dizer:
«nunca mais a guerra»;
«com a guerra, tudo fica destruído»!
Infundi em nós a coragem de realizar gestos concretos
para construir a paz.
Senhor, Deus de Abraão e dos Profetas,
Deus Amor que nos criastes
e chamais a viver como irmãos,
dai-nos a força para sermos cada dia artesãos da paz;
dai-nos a capacidade de olhar com benevolência
todos os irmãos que encontramos no nosso caminho. Tornai-nos disponíveis
para ouvir o grito dos nossos cidadãos
que nos pedem para transformar
as nossas armas em instrumentos de paz,
os nossos medos em confiança
e as nossas tensões em perdão.
Mantende acesa em nós a chama da esperança
para efectuar, com paciente perseverança,
opções de diálogo e reconciliação,
para que vença finalmente a paz.
E que do coração de todo o homem
sejam banidas estas palavras:
divisão, ódio, guerra!
Senhor, desarmai a língua e as mãos,
renovai os corações e as mentes,
para que a palavra que nos faz encontrar
seja sempre "irmão",
e o estilo da nossa vida se torne:
shalom, paz, salam!
Amen.»"

Papa Francisco

sábado, 7 de junho de 2014

Pedir ajuda ou ser ajuda?



A verdadeira riqueza não está no que se tem, por que isso se vai perder (mais tarde ou mais cedo), mas no que se é e que, por isso, se pode dar.

A felicidade é feita de alegrias e tristezas. É o que brota de um coração que, ao bater, transborda de amor. Julgar que uma vida boa corresponde a uma existência sem sofrimentos é não compreender a essência da vida, esquecendo-se de um dos seus pilares fundamentais. É verdade que ninguém deseja a dor... e, no entanto, sem sofrimentos, quem é que desejaria a felicidade? Quem é que estaria disposto a persegui-la, sofrendo também por (ainda) não ser feliz?

Amar é dar e aceitar o que o mundo e os outros puderem e quiserem dar... Poderá ser pouco... ou nada até... Em qualquer caso, é sempre melhor dar do que receber. Só é carenciado quem se faz dependente da generosidade alheia.

O contrário da felicidade é o medo. Um vazio que, em luta constante, nos destrói a partir de dentro, cavando em nós. Ser feliz passa por ir além do medo, preenchendo os vazios com as alegrias e tristezas, respondendo-lhe com a certeza da esperança. Temer, sofrer, mas sorrir. Uma harmonia de equilíbrios.

Um sorriso é a melhor forma de amparar as lágrimas.

Amar é uma imensa gratidão do coração. A vida é um dom. Um milagre. Amar será a resposta à graça original de podermos estar aqui, hoje mesmo, agora, assim... Uma bondade e generosidade imensas que devemos fazer chegar à vida dos outros. Sendo que a minha bondade não depende da pobreza dos outros, mas tão-só da minha verdadeira riqueza.

A verdadeira riqueza não está no que se tem, por que isso se vai perder (mais tarde ou mais cedo), mas no que se é e que, por isso, se pode dar.

Só quem escolhe ser bom se dá aos outros, porque reconhece em si um valor, uma luz única da qual os outros podem ser carentes. Mas a minha bondade só poderá realizar-se se eu assim escolher, se eu arriscar o fracasso de dar um passo adiante, apesar do medo... a responsabilidade de escolher quem é mais forte: a minha vontade de ser feliz ou o medo.

O desejo consome-nos. Ser feliz passa por ser capaz de dominar e diminuir os desejos.

Quando se deseja muito, ainda que a vida, o mundo e os outros, sejam generosos, tudo parece pouco. Pobres e desgraçados são aqueles que têm muito e isso não lhes chega, e ricos serão aqueles que lhes basta e sobra do pouco que têm...

É, pois, essencial compreender que a minha felicidade depende do que eu decidir desejar. Para os infelizes o valor está no que não têm...

Muito do que somos não é obra nossa. Mas o essencial é. Esta escolha fundamental entre valorizar ou desvalorizar o que se tem e o que se é... ser feliz é construir um caminho e percorrê-lo, não é um destino nem o destino, é uma escolha. Dura. Que se estende no tempo. Uma luta contra os dias de euforia e contra as noites de desespero. Aceitando, sempre e sem medo, que se pode perder o que de melhor hoje está aqui...

Ser feliz é ser capaz de criar e alimentar a alegria verdadeira que brota do próprio coração que ama. Uma gratidão pela existência. Um sorriso pela vida. Que serve aos outros, dando-lhes o amor e a alma que lhes pode estar a faltar...

A nossa existência é um sopro que nos chega do alto sem pedir nada em troca. Que importa pois que não compreendamos o sentido exato de tudo? Nada. Desde que saibamos reconhecer o valor absoluto da nossa própria vida, com cada uma das alegrias e tristezas... desde que lutemos por ser bons, felizes... por merecer estar aqui

José Luís Nunes Martins

sexta-feira, 6 de junho de 2014

Tenho tempo, Senhor



Saí, Senhor
Lá fora os homens saíram.
As bicicletas, os automóveis e os camiões corriam,
A rua corria, a cidade corria, todo o mundo corria.
Corriam todos, para não perder tempo:
Corriam em busca do tempo, para recuperar o tempo, para ganhar tempo.

Até logo, doutor, desculpe-me – não tenho tempo.
Passarei outra vez, não posso esperar mais – não tenho tempo.
Termino aqui esta carta – pois não tenho tempo.
Queria tanto ajudar-te – mas não tenho tempo.
Não posso aceitar, por falta de tempo.
Não posso reflectir, nem ler, ando assoberbado – não tenho tempo.
Gostaria de rezar – mas... não tenho tempo.

Compreendes, Senhor, eles não têm tempo.
A criança está a brincar, não tem tempo agora... mais tarde...
O estudante tem os seus deveres a fazer, não tem tempo... mais tarde...
O universitário tem as suas aulas e tanto,
tanto trabalho que não tem tempo... mais tarde...
O rapaz pratica desporto, não tem tempo... mais tarde...
O que casou, há pouco, tem a sua casa, deve organizá-la;
não tem tempo... mais tarde...

O pai de família tem os filhos, não tem tempo... mais tarde...
Os avós têm os netos, não têm tempo... mais tarde
Estão doentes. Precisam tratar-se...
não têm tempo... mais tarde...
Então à morte, não têm tempo... tarde de mais... já não têm tempo.
Assim correm todos os homens atrás do tempo, Senhor.
Passam correndo pela terra, apressados, atropelados,
sobrecarregados, enlouquecidos, assoberbados.

Nunca chegam, falta-lhes tempo,
apesar de todos os esforços, falta-lhes tempo,
Falta-lhes mesmo muito tempo.
Com certeza, Senhor, erraste os cálculos.

Há um engano geral:
Horas curtas demais, dias curtos demais, vidas curtas demais.
Tu que estás fora do tempo, Senhor,
sorris ao ver-nos assim brigar com ele, e sabes o que fazes.
Não te enganas quando distribuis o tempo aos homens,
A cada um dás o tempo de fazer o que queres que faça.
Mas é preciso não perder tempo, não esbanjar tempo,
não matar o tempo,
Pois o tempo é um presente que nos dás.
Presente perecível, um presente que não se conserva.

Tenho tempo, Senhor, tenho todo o meu tempo.
Todo o tempo que me dás, os anos da minha vida,
os dias dos meus anos, os minutos dos meus dias.
São todos meus,
Cabe-me preenchê-los tranquilamente, calmamente,
mas preenchê-los inteirinhos, até à borda,
Para os dar a Ti.

Que da água sem sabor, faças um vinho generoso,
como outrora em Canã, fizeste para as bodas humanas.
Neste dia eu não Te peço, Senhor,
o tempo de fazer isto e depois aquilo,
Peço-te a graça de fazer, conscientemente, no tempo que
me dás nestes dois dias que nos congregamos aqui,
o que queres que eu faça.

Michel Quoist

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Estarei sempre convosco!



«Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos» (Mt 28, 20).

O evangelista S. Mateus começa o Evangelho recordando que aquele Jesus, cuja história ele irá contar, é o “Deus connosco”, o “Emanuel” (cf. Mt 1, 23). E conclui o texto do seu Evangelho referindo as palavras de Jesus, quando Ele promete que ficará para sempre connosco, mesmo depois de ter voltado para o Céu. Até ao fim dos tempos, Ele será o “Deus connosco”.

Jesus dirigiu estas palavras aos seus discípulos, depois de lhes ter confiado a tarefa de levarem a Sua mensagem ao mundo inteiro. Ele bem sabia que os enviava como ovelhas para o meio dos lobos e que iriam sofrer contrariedades e perseguições (cf. Mt 10, 16-22). Por esse motivo, não queria deixá-los sozinhos em tal missão. Então, precisamente no momento em que se ia embora, promete ficar! Já não O poderiam ver com os olhos, não poderiam ouvir a Sua voz, nunca mais poderiam tocar-Lhe... Mas Ele estaria presente no meio deles, como antes, e ainda mais do que antes. De facto, se até ali a Sua presença se limitava só a um determinado lugar – Cafarnaum, o lago, o monte, Jerusalém –, daí em diante Ele iria estar onde estivessem os seus discípulos.

Jesus estava a pensar também em todos nós, que iríamos viver no meio da vida complicada de todos os dias. Sendo o Amor que se fez homem, deve ter pensado: «Gostaria de estar sempre com todos eles, gostaria de os ajudar nas suas preocupações, de os aconselhar, de ir com eles pelas ruas, entrar nas casas, reavivar, com a Minha presença, a alegria deles».

Foi por isso que quis ficar connosco e fazer com que sentíssemos a Sua proximidade, a Sua força, o Seu amor.

O Evangelho de S. Lucas conta que, depois de O terem visto subir ao Céu, os discípulos «voltaram para Jerusalém com grande alegria» (Lc 24, 52). Como é que isso era possível? É que tinham experimentado que as Suas palavras se realizavam.

Também nós ficaremos cheios de alegria se acreditarmos realmente na promessa de Jesus:

«Eu estarei sempre convosco até ao fim dos tempos».

Estas palavras – as últimas que Jesus dirigiu aos discípulos – assinalam o fim da sua vida terrena e, ao mesmo tempo, o início da vida da Igreja, na qual Ele está presente de muitas maneiras: na Eucaristia, na Sua Palavra, nos seus ministros (os bispos, os sacerdotes), nos pobres, nos pequenos, nos marginalizados…, em todos os próximos.

Mas nós gostamos de frisar aquela presença especial de Jesus, que – no Evangelho de S. Mateus – Ele mesmo nos indicou: «Onde estiverem dois ou três reunidos em meu nome, Eu estou no meio deles» (cf. Mt 18, 20). Desta maneira, Ele quer poder ficar em toda a parte.

Se vivermos aquilo que Ele nos recomenda – especialmente o Seu mandamento novo –, podemos experimentar esta Sua presença até fora das igrejas, no meio de toda a gente, nos lugares onde vivemos, em toda a parte.

Só nos é pedido o amor recíproco, de serviço, de compreensão, de participação nos sofrimentos, nas preocupações e nas alegrias dos nossos irmãos. Um amor que tudo cobre, que tudo perdoa, típico do cristianismo.

Vivamos assim, para que todos tenham a possibilidade de se encontrar com Ele já nesta Terra.

Chiara Lubich

quarta-feira, 4 de junho de 2014

25 anos depois de Tiananmen




Neste dia não posso deixar de homenagear, como dizia Popper, "the countless men and women of all creeds or nations or races who fell victim to the fascist and communist belief in Inexorable Laws of Historical Destiny". Hoje em particular, os jovens que, com uma coragem imensa, estiveram na Praça de Tiananmen há 25 anos. Não se sabe ao certo os mortos, estima-se desde 500 a milhares. O certo é que, nesse dia, o Exército Chinês abriu fogo perante civis desarmados. Há duas razões pelas quais esta data me afecta especialmente - não só porque a maioria dos mortos tinham a minha idade, mas porque também, já estive na Praça da 'Paz Celestial' (= Tiananmen) e foi uma sensação indescritível, de tentar perceber a dimensão do massacre que ali ocorrera, enquanto que a guia turística (membro do Partido claro) falava "ah e tal, houve aqui um punhado de troublemakers, nada mais". Naquele momento isso causou-me uma angústia profunda - pensar naquela gente, com a minha idade, e tendo as mesmas aspirações que eu, que foi massacrada sem misericórdia em nome de uma ideologia totalitária, e pelo seu 'Exército Popular de Libertação'.

in O POVO

terça-feira, 3 de junho de 2014

Primeira Comunhão



Na fidelidade de todos os anos, também hoje, a minha catequista, Isabel Parente, voltou a enviar-me uma mensagem a felicitar pelo aniversário da minha primeira Comunhão, a 3 de junho de 1979. Com uma catequista assim, eu só poderia ser feliz em Cristo!

"Abraço parabéns aniversário Primeira Comunhão. Que Jesus esteja sempre contigo. Aproveito para agradecer as tuas orações, as palavras amigas e a tua presença num momento tão difícil da minha vida. Obrigada. Um beijinho Isabel Parente".

Ao agradecer à minha catequista, agradeço a todos os catequistas pelo seu sim, dedicação e amor à Igreja!

Hoje, 35 anos após a minha Primeira Comunhão, prometo a minha oração por todos os catequistas!

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...