sábado, 31 de janeiro de 2015

Vencer a natureza



«Bem-aventurados aqueles
a quem Vós dais a graça
de vencer a natureza.
Bem-aventurados aqueles
a quem dais a força
de cumprir a Vossa vontade.
Como vejo ser tão grande
a necessidade de rezar
pelas almas agitadas pelas tempestades
desencadeadas pela natureza:
esta natureza capaz dos divertimentos mais vis,
e das maiores destruições.»

Beata Maria Josefina de Jesus Crucificado | 1894 - 1948 
Autobiografia, p.298 - 299

Senhor,
Tenho uma natureza, isto é,
tenho dentro de mim forças que conheço
e outras que me surpreendem tantas vezes.
Se me deixo levar pela natureza
vivo como uma cana agitada pelo vento.
Mas Tu, Senhor,
amainaste os ventos
e acalmaste a tempestade.
Por isso lanço-me nos Teus braços,
para que em cada momento
não seja atirado contra os rochedos
pelas ondas da minha natureza,
mas permaneça conTigo
que és o meu verdeiro rochedo,
Aquele que me torna capaz,
não de controlar os sentimentos
ou o que sinto ou não sinto,
mas me dá a força para transcender os sentimentos
de forma a fazer em tudo a Tua vontade.
Ajuda-me, Senhor a estar conTigo,
firme sobre o rochedo que és Tu
e que me tornas capaz
de fazer a Tua vontade de amor.

sexta-feira, 30 de janeiro de 2015

Procurai trazer uma imagem deste Senhor



«Procurai trazer uma imagem deste Senhor,
que seja a vosso gosto,
não para trazê-la no seio
e nunca olhar para ela;
mas para falar com Ele,
que Ele vos dirá o que haveis de Lhe dizer.
Se falais com outras pessoas,
porque vos hão-de faltar palavras
para falar com Ele?»

Santa Teresa de Jesus | 1515 – 1582 
Caminho 26,9

Senhor,
venho diante de Ti
para Te agradecer.
Agradeço-Te os momentos de luta
em que tive de escolher entre
dar testemunho de Ti
ou manter a minha imagem.
Agradeço-Te por pores à prova
a minha pouca fé e
no santuário da minha consciência
me perguntares se quero
dar testemunho de Ti ou de mim.
Agradeço-Te por me teres feito fiel
na Tua fidelidade
e forte na Tua fortaleza,
por me teres iluminado interiormente
e me teres ajudado a escolher a Tua vontade,
o Teu Amor, a Tua Verdade.
Agradeço-Te
porque a renuncia que fiz de mim
converteu-se na alegria da Tua Presença,
na unção do Teu Espírito sobre o meu ser,
e, na certeza que nada há fora de Ti, Senhor!

Senhor,
quero escolher sempre a melhor parte,
que és Tu,
mesmo que para isso tenha de morrer
a mim mesmo.

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

O Dom de Deixar Ir

O Dom de Deixar Ir

É preciso aprender a viver. A qualidade da nossa existência depende de um equilíbrio fundamental na nossa relação com o mundo: apego e desapego. Nesta vida, a ponderação, a proporção e a subtileza são sempre melhores que qualquer arrebatamento. Mas o essencial é aprender que a existência é feita de dádivas e perdas.

Eis porque quem reza deve pedir e agradecer: tudo é, na verdade, um dom. Tudo passa... importa pois prepararmo-nos para a perda, ainda que tantas vezes não seja senão temporária... Alegrias e dores. Só há felicidade num coração onde habita a sabedoria e paciência dos tempos e dos momentos, a paz de quem sabe que são muitos os porquês e para quês que ultrapassam a capacidade humana de compreender.

Na vida, tudo se recebe e tudo se perde.

Amar é um apego natural mas também obriga a que deixemos o outro ser quem é, abrindo mão e permitindo-lhe que parta, ou que fique, sem desejar outra coisa senão que seja radicalmente livre. Aprendendo que há muito mais valor no ato de quem decide ficar do que naquele de quem só está por não poder partir.

Nada verdadeiramente nos pertence. O sublime do amor está aí, na inteira liberdade que não pode ser condicionada por nenhuma outra força que não a vontade própria. Todo o amor é absolutamente livre. E assim é do primeiro ao último instante. Uma fidelidade que se esgotou no conforto de um hábito deixou de ser uma virtude admirável para ser um vício estranho ao amor. Amar pressupõe uma radical liberdade do espírito, da mente e do corpo, bem como uma via a direito entre a cabeça e o coração... numa vida decidida a fazer um caminho de compromisso com a liberdade de criação de si mesmo.

Vivemos porque Alguém nos ama e de nós abriu mão, dando-nos o melhor de Si: a liberdade para a criação, também de nós mesmos através dos nossos atos! Qualquer pai percebe que há um momento em que é tempo de ver o seu filho partir... e porque os arcos não seguem as flechas, fica... para que o filho possa melhor ser quem é.

Quase tudo neste mundo é impermanente. Nada nos pertence porque não somos daqui.

Quem não sabe viver, adia o instante e perde esse dom. Nesta vida, adiar é perder. Aqui e agora temos o dever de pedir e de agradecer, também o de abraçar e o de deixar ir... o de aprender a viver nesta tempestade de razões e emoções.

Dar é viver e reter é morrer. Mas nem todos são capazes de viver de forma plena, porque muitos são os que não compreendem que a vida se vive em marés de apego e desapego. Mantendo os braços bem abertos... para abraçar, mas também para deixar ir... como se o peito fosse uma janela... por onde importa que a luz, o ar e os outros encontrem caminho...

Viver é apenas amar muito.

Amar significa que a cada novo dia renovemos de forma consciente, o nosso caminho, o nosso ser. A beleza maior de um casamento é que ele se faz de dias e noites em que sucessivamente se elege a mesma pessoa.

Nascemos e morremos sós, por mais que duas pessoas se amem nunca deixam de ser duas vidas, duas vontades – num amor só. Mas como os pilares de um templo, nunca excessivamente próximo pois que é pelo espaço que houver entre eles que crescerá o amor que os une.

Ser é amar, numa entrega que implica abdicar de muito mais do que dos nossos bens. Significa acreditar na vida ao ponto de aceitar que sempre teremos o que precisamos. Numa lógica de dar e receber que nos ultrapassa a compreensão.

Entretanto, ajudará aprender a agarrar o essencial e a largar o resto...

José Luís Nunes Martins, in 'Amor, Silêncios e Tempestades'

terça-feira, 27 de janeiro de 2015

A despedida de Jesus



«Querida mãe: quando acordares já terei partido»: A despedida e o Batismo de Jesus

«Naqueles dias, Jesus veio de Nazaré da Galileia e foi batizado por João no rio Jordão» (Do Evangelho do Domingo do Batismo do Senhor, 11.1.2015) 

Que rápido passámos do nascimento de Jesus ao seu Batismo no Jordão! Passaram três semanas e o Menino nascido no pesebre de Belém aparece já como um homem feito, que decide sair da sua casa em Nazaré, deixando para trás a vida familiar, o ofício de artesão, as paisagens suaves da Galileia, para ir ao encontro do profeta João, que está a batizar do outro lado do rio Jordão, no sul do país.

Que arrebatamento ocorreu a Jesus para deixar a vida tranquila e embarcar numa aventura que em pouco tempo o levaria à cruz? Que sonhos levava este jovem no peito para tomar essa decisão? Não encontrei melhor explicação para estas perguntas senão numa carta escrita por um sacerdote espanhol, José Luís Cortés, que tenta recriar os sentimentos de Jesus naquele momento da sua vida. É uma carta dirigida à Virgem Maria, em que Ele explica o que move a deixar a casa.

«Querida mãe: quando acordares já terei partido. Quis poupar-te a despedidas. Já sofreste muito, e sofrerás ainda mais. Agora é noite, enquanto te escrevo. Quero dizer-te por que me vou, por que te deixo, por que não fico na oficina a fazer ombreiras para portas ou cadeiras o resto da minha vida.
Durante trinta anos observei as pessoas do nosso povo e tentei compreender para que viviam, por que se levantavam a cada manhã e com que esperança adormeciam todas as noites. O João, dos refrescos, e com ele metade de Nazaré, sonham em fazer-se ricos e acreditam de verdade que quanto mais coisas tiverem, mais completos vão ser. O chefe da cidade e os outros põem o sentido das suas vidas em conseguir mais poder, ser obedecidos por mais pessoas, ter capacidade para dispor do futuro dos outros homens. O rabino e as suas seguidoras já desistiram de tudo o que significa esforçar-se por crescer e desculpam-se fazendo-o passar por vontade de Deus. (…)

Às vezes, mãe, quando chegavam cartas e soava a trombeta na praça, quando as pessoas acorriam de todos os lados, eu fixava-me nesses rostos que esperavam ansiosamente, delirantemente, de qualquer lugar e de qualquer remetente, uma boa notícia; teriam dado a metade das suas vidas para que alguém lhes abrisse, de fora, uma fenda nos seus muros. Vinham-me ganas de me pôr no meio deles e gritar-lhes: "A boa nova já chegou! O Reino de Deus está dentro de vós! As melhores cartas vão chegar de dentro de vós! Porque repetem que estão coxos se Deus vos deu pernas de gazela?".

Sinto-me tomado pela plenitude da vida, mãe. E descubro-me aceso num fogo que me leva e me faz contar aos homens notícias simples e belas que ninguém diz (e se alguém chega a dizer, logo o censuram). E queria queimar o mundo com esta chama; que em todos os cantos houvesse vida, mas vida em abundância. Já sei que sou um carpinteiro sem licenciatura e que acabei de completar a idade para poder abrir os lábios em público. Não me importaria esperar mais, pensar mais, ser mais maduro, “fazer a minha síntese teológica”… (…)

Mas… há demasiada infelicidade, mãe. Demasiados cegos, demasiados pobres, demasiada gente para quem o mundo é a blasfémia de Deus. Não se pode crer em Deus num mundo onde os homens morrem e não são felizes… a menos que se esteja do lado daqueles que dão a vida para que tudo isso não aconteça; para que o mundo seja como Deus o pensou (…).»

Jesus seguiu o caminho que Deus lhe apontava; a sua vocação foi ser filho amado de Deus e irmão de todos os homens e mulheres que partilham a sua mesma vocação. Isso significa o Batismo de Jesus, e isso significa o nosso próprio Batismo.

P. Hermann Rodríguez Osorio, S.J. 
In "Periodista Digital" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 10.01.2015

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

A escolha


Pode parecer estranho dizer que a alegria é o resultado das nossas escolhas. Com frequência imaginamos que algumas pessoas têm mais sorte do que outras e que a sua alegria ou tristeza dependem das circunstâncias da sua vida – sobre a qual não têm controlo.

No entanto, temos uma hipótese de escolha, não tanto em relação às circunstâncias da nossa vida, quanto em relação à maneira como reagimos a essas circunstâncias. Duas pessoas podem ser vítimas do mesmo acidente. Para uma, ele torna-se motivo de ressentimento. Para outra, motivo de gratidão. As circunstâncias externas são as mesmas, mas a opção pela forma de reagir é completamente diferente. Algumas pessoas tornam-se ásperas à medida que envelhecem, outras envelhecem alegremente. Isso não significa que a vida daqueles que se tornam ásperos tenha sido mais dura do que a daqueles que se tornam alegres. Significa que foram feitas diferentes escolhas, escolhas interiores, escolhas do coração.

É importante darmo-nos conta de que em cada momento da nossa vida temos a oportunidade de escolher a alegria. A vida tem muitas facetas. Há sempre facetas tristes e alegres na realidade que vivemos. E, por isso, temos sempre a possibilidade de viver o momento presente, como causa de ressentimento ou como causa de alegria. É na escolha que reside a nossa verdadeira liberdade. E esta liberdade, em última análise, é a liberdade de amar.

É capaz de ser uma boa ideia perguntarmos a nós mesmos como é que desenvolvemos a nossa capacidade de optar pela alegria. Talvez possamos reservar alguns momentos no final do nosso dia, para ver como é que o passámos – seja o que for que tenha acontecido – e agradecer a oportunidade de o ter vivido. Se assim o fizermos, aumentaremos a capacidade do nosso coração para optar pela alegria. E, ao construirmos um coração mais alegre, tornar-nos-emos, sem nenhum esforço extraordinário, fonte de alegria para os outros. Assim como a tristeza origina tristeza, assim a alegria origina alegria.

Henry Nouwen, Aqui e Agora, Vida no Espírito, 1996

quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

Sem “deverias” nem “ses”


É difícil viver no presente. O passado e o futuro continuam a atormentar-nos. O passado com remorsos, o futuro com preocupações. Na nossa vida aconteceu tanta coisa que nos causa intranquilidade, desgosto, indignação, confusão ou, pelo menos, ambivalência. E todos estes sentimentos não raros, são coloridos com sentimentos de culpa. Culpa que se pode expressar assim: “Tu deverias ter feito mais do que fizeste; deverias ter dito mais do que disseste”. Estes “deverias” contribuem para nos sentirmos culpados em relação ao passado e impedem-nos de marcar presença neste momento.

Mas piores ainda que as culpas são as nossas preocupações. As nossas preocupações enchem-nos a vida de “O que será se”: “O que será se fico desempregado; o que será se o meu pai morrer; o que será se não tiver dinheiro suficiente; o que será se a economia enfraquece; o que será se estala uma guerra?”. Estes muitos “ses” podem ocupar a nossa mente de tal maneira que nos tornamos cegos para olhar para as flores do jardim e para contemplar as crianças sorridentes das estradas, ou surdos para escutar a voz agradecida dum amigo.

Os verdadeiros inimigos da nossa vida são os “deverias” e “ses”. São eles que nos puxam para um passado que não se pode modificar e para um futuro imprevisível. Mas a vida real tem lugar aqui e agora. Deus é um Deus do presente. Deus está presente neste momento, quer seja difícil ou fácil, quer alegre ou triste. Quando Jesus falou de Deus, falou sempre de Deus presente onde nós estamos e quando lá estamos. “Quem Me vê a Mim, vê a Deus. Quem Me ouve a Mim, ouve a Deus”. Deus não é alguém que foi ou que será, mas Aquele-que-é; e que é para mim no momento presente. Eis por que Jesus veio para tirar de nós o peso do passado. Ele quer que nós descubramos a Deus precisamente onde estamos, aqui e agora.

Henry Nouwen, Aqui e Agora, Vida no Espírito, 1996

sábado, 17 de janeiro de 2015

Quão grande é o meu Deus



Depois de um dia fantástico como o de ontem, rodeado das bênçãos de Deus e da amizade leal de tantos amigos, só apetece cantar e agradecer ao Senhor:

Quão grande é o meu Deus
Cantarei quão grande é o meu Deus
E todos hão de ver quão grande é o meu Deus
Com esplendor de um rei
Em majestade e luz
Faz a terra se alegrar, faz a terra se alegrar.
Ele e a própria luz
E as trevas vão fugir
Tremer com sua voz, tremer com sua voz.
Quão grande é o meu Deus
Cantarei quão grande é o meu Deus
E todos hão de ver quão grande é o meu Deus
Por gerações ele é
O tempo está em tuas mãos
O começo e o fim, o começo e o fim.
Três se formam em um
Filho, espírito e pai
Cordeiro e leão, cordeiro e leão.
Quão grande é o meu Deus (Eu cantarei)
Cantarei quão grande é o meu Deus
E todos hão de ver quão grande é o meu Deus
Sobre todo nome é o seu
Tu és digno do louvor, eu cantarei quão grande é o meu Deus.
É o meu Deus
Quão grande é o meu Deus (Eu cantarei)
Cantarei quão grande é o meu Deus (ele é grande)
E todos hão de ver quão grande é o meu Deus
Quão grande é o meu Deus
Cantarei quão grande é o meu Deus
E todos hão de ver quão grande é o meu Deus

sexta-feira, 16 de janeiro de 2015

Maravilhosamente me criastes



Eu Vos dou graças, Senhor, porque maravilhosamente me criastes.
Senhor, Vós conheceis o íntimo do meu ser:
Sabeis quando me sento e quando me levanto.
De longe penetrais o meu pensamento:
Vós me vedes quando caminho e quando descanso,
Vós observais todos os meus passos.
Vós formastes as entranhas do meu corpo
E me criastes no seio de minha mãe.
Eu Vos dou graças por me terdes feito tão maravilhosamente:
Admiráveis são as vossas obras.
Vós conhecíeis já a minha alma
E nada do meu ser Vos era oculto,
Quando secretamente era formado,
Modelado nas profundidades da terra.

SALMO 139, 

quinta-feira, 15 de janeiro de 2015

E se desaparecermos?





Uma vez enfrentada a pergunta, já de si difícil de formular em alta voz, e depois de refletir sobre ela com mais pessoas, o que vou escrever nada tem de teórico, e partilho-o por poder ser uma ajuda a quem está em situações semelhantes ou ainda mais graves.

Serve-me de ponto de partida uma cena bíblica: o rei Ezequias caiu doente; o profeta Isaías foi visitá-lo e disse-lhe, com toda a delicadeza pastoral: «Faz o testamento porque vai morrer». Então Ezequias voltou o rosto para a parede e começou a rezar e a chorar (Isaías 38, 1-8).

A posição do rosto contra a parede é eloquente e pode ser sinal de diferentes atitudes: a) negação do que se está a passar, causada pelo medo de enfrentar a situação; b) lançamento de uma estratégia atabalhoada de procura de vocações; c) importação de jovens do Sul para que cuidem de nós e sustentem as nossas instituições; d) falta de interesse e distanciamento dos assuntos da congregação com um amargo «salve-se quem puder».

Qual seria a reação sensata? Olhemo-nos ao espelho e perguntemo-nos se connosco acontece algo parecido. E, uma vez contemplada a situação com lucidez e sensatez, preparemo-nos para a visita da D. Nostalgia, D. Perdida e D. Desconsolo, que chegarão com a sua banda sonora de lamentos, ais e lágrimas. Deixemos passá-las, saudando-as educadamente e permitindo que se expressem com liberdade, mas não deixemos que prolonguem demasiadamente a visita.

Atenção, todavia, ao abrir a porta ao senhor Que-fizemos-mal e à D. Culpabilidade, casal altamente tóxico e muito perturbador, que não traz nada de novo e resiste a ir embora.

Concluído este confronto que cura, removam-se as etiquetas de drama ou de catástrofe: observem-se simplesmente os factos como uma consequência da contingência e finitude que nos são próprias, tanto no plano pessoal como institucional: só a Igreja tem a promessa de estabilidade. Por isso, se após determinado tempo uma das suas instituições deixa de existir, não é sinal de colapso dos alicerces do universo. Já foi um dom que durante vários anos um grupo de homens ou mulheres tenham vivido animados o seu carisma, trabalhando pelo Reino de Deus e servindo os outros o melhor que puderam.

O que se impõe é ser-se sóbrio para cuidar e gerir criativamente o presente, e sábio para enfrentar o futuro com ânimo, conjugando o prever e o confiar, o ser realista e sonhador, em versão adaptada das serpentes e pombas.

Mas a esta atitude só chegaremos se nos decidirmos "subir de nível", como fez Ezequias ao começar a rezar, e o que fez também a primeira comunidade cristã, quando, desvalida após a ascensão de Jesus, esperou na «sala de cima» (Atos 1, 13) pela chegada do Espírito Santo. É ele que torna possível que pensemos como Deus, e não de maneira humana (cf. Marcos 8, 33), fortalecendo em nós convicções a que nunca chegaríamos sozinhos: que não são mais evangélicos os tempos de crescer que os de diminuir; que os tempos de poda são difíceis mas podem ser fecundos; que nada do que se entregou se perde; que nem o prestígio nem o número são verdadeiros amigos, ao passo que o são a pobreza e a pequenez.

Estamos em boas mãos e podemos continuar a amar e a servir sem prazos nem cálculos, e isso nos basta para viver com alegria e agradecimento.

No final da narrativa bíblica, Isaías, por ordem do Senhor, voltou a visitar Ezequias, aplicou-lhe um emplastro de figos, e este curou-se e continuou a viver. As nossas histórias, quando Deus está por dentro delas, podem dar reviravoltas surpreendentes.



Dolores Aleixandre, RSCJ
In "Periodista Digital"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 14.01.2015

quarta-feira, 14 de janeiro de 2015

Jesus aproximou-Se dela e tomou-a pela mão




Mc 1, 29-31

Jesus saiu da sinagoga e foi, com Tiago e João, a casa de Simão e André. A sogra de Simão estava de cama com febre e logo Lhe falaram dela. Jesus aproximou-Se, tomou-a pela mão e levantou-a. A febre deixou-a e ela começou a servi-los.

Quem escutou com atenção o evangelho deste dia sabe por que razão o Senhor do céu entrou numa humilde casa daquela povoação; pois, uma vez que, pela sua bondade, veio socorrer todos os homens, não espanta que entre em qualquer casa.

«Tendo chegado a casa de Pedro, Jesus viu a sogra dele de cama, com febre» (Mt 8,14). Eis o motivo que conduziu Jesus a casa de Pedro: não foi o desejo de Se pôr à mesa, mas a debilidade daquela doente; não foi a necessidade de tomar uma refeição, mas a ocasião de realizar uma cura. Ele não veio tomar parte num banquete com homens, mas veio exercer o seu poder divino, porque não era vinho mas lágrimas o que se derramava em casa de Pedro. [...]

Cristo não entrou, pois, naquela casa para tomar alimento, mas para restaurar a vida. Deus não anda à procura dos bens humanos, anda à procura dos homens. Ele não deseja encontrar coisas terrenas, mas quer dar os bens celestes. Assim, Cristo não veio até nós à procura das coisas que nós possuímos, mas para nos levar consigo.

São Pedro Crisólogo (c. 406-450), bispo de Ravena, doutor da Igreja 
Sermão 18, 1-3; CCL 24,107-108 

terça-feira, 13 de janeiro de 2015

Se alguém te perguntasse «onde vives?»



Se alguém te perguntasse «onde vives?», «que há de interessante na tua vida?», como responderias?

O evangelista João interessou-se especialmente em indicar aos seus leitores como começou o pequeno grupo de seguidores de Jesus. O Batista fixa-se em Jesus, que passava nas proximidades, e diz aos discípulos que a acompanham: «Eis o Cordeiro de Deus».

Os discípulos, provavelmente, não entenderam grande coisa, mas começam a «seguir Jesus». Durante algum tempo caminham em silêncio. Não houve ainda um verdadeiro contacto com Ele. Seguem um desconhecido e não sabem exatamente porquê nem para quê.

Jesus rompe o silêncio com uma pergunta: que procurais? Que esperais de mim? Quereis orientar a vossa vida na direção do meu rumo? São dúvidas que é preciso esclarecer bem.

Os discípulos dizem-lhe: «Mestre, onde vives?». Qual é o segredo da tua vida? O que é viver, para ti? Aparentemente, não procuram conhecer novas doutrinas. Querem aprender de Jesus um modo diferente de viver. Querem viver como Ele.

Jesus responde-lhes diretamente: «Vinde e vereis». Fazei vós mesmos a experiência. Não procureis informação de fora. Vinde viver comigo e descobrireis como vivo, de onde oriento a minha vida, a quem me dedico, porque vivo assim.

Este é o passo decisivo que precisamos de dar hoje para inaugurar uma fase nova na história do cristianismo. Milhões de pessoas dizem-se cristãs mas não experimentaram um verdadeiro contacto com Jesus. Não sabem como viveu, ignoram o seu projeto. Dele não aprendem nada de especial.

Entretanto, nas nossas igrejas não temos capacidade de gerar novos crentes. A nossa palavra já não é atrativa nem credível. Aparentemente, o cristianismo, tal como nós o entendemos e vivemos, interessa cada vez menos.

Se alguém se aproximasse de nós e nos perguntasse «onde viveis?», «que há de interessante nas vossas vidas?», como responderíamos?

É urgente que os cristãos se reúnam em pequenos grupos para aprender a viver ao estilo de Jesus, escutando juntos o Evangelho. Ele é mais atrativo e credível que todos nós. Pode gerar novos seguidores, pois ensina a viver de maneira diferente e interessante.


José Antonio Pagola 
In "Periodista digital" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 12.01.2015

sábado, 10 de janeiro de 2015

Preguiça, a perdição de talentos e virtudes



Temos a obrigação de sermos diferentes, de nos aperfeiçoarmos, de lutarmos contra o que pretende anular-nos, a cada dia, a cada passo. O ser é uma luta contra o nada
A preguiça é um mal tremendo. Vai-se apoderando do tempo que é nosso e impede-nos de construirmos uma obra-prima: sermos quem somos. Cada um de nós tem a obrigação de se tornar no maior protagonista da sua vida, no herói, lutando e vencendo as monotonias da vulgaridade, todas as apatias de quem prefere ser escravo do mundo do que senhor de si mesmo.

A apatia seduz através de uma aparência de paz, apresenta-se como um mero descanso que criará melhores condições para o sucesso posterior. A preguiça aparece sempre mascarada de virtude. Mas é, na verdade, uma anulação, algo que destrói as paixões mais belas através de uma lenta conquista e eliminação dos esforços… e assim se vai perdendo tudo, mas muito devagar…

É sempre mais cómodo não fazer nada. Mas é, sempre, pior. A preguiça é uma não-vontade que petrifica, afunda e afoga (em água morna) todos quantos se entregam aos encantos do descuido e do desleixo.

Se há vários trabalhos, há várias preguiças. Muitos são os que se entregam a imensas tarefas quotidianas e exteriores, por forma a garantir que não têm tempo nem vontade de tratar das interiores. Mais do que contribuirmos para a construção do mundo em torno de nós, importa edificarmo-nos. Cuidar e tratar do que existe no fundo de nós, porque a nossa identidade não é estática nem definida, resulta das nossas decisões e ações. Exteriores e interiores.

Temos a obrigação de sermos diferentes, de nos aperfeiçoarmos, de lutarmos contra o que pretende anular-nos, a cada dia, a cada passo. O ser é uma luta contra o nada.

A raiz comum a todos os males é o egoísmo. Trata-se de um excesso de quem se centra em si mesmo e nada vê para além disso. Perde-se… quem se julga ganho. O mundo está cheio de belezas que escapam àqueles que apenas se admiram a si. Sem humildade não veem as suas falhas e, sem esforço, são levados pela gravidade universal para o ponto mais baixo da existência.

Os talentos perdem-se quando não lhes dedicamos o cuidado e o trabalho que exigem para se tornarem reais. Para se realizarem.

A preguiça pode disfarçar-se de paciência, prudência, moderação ou domínio de si… mas é sempre má. Sempre. Porque não tem nem a verdade nem a generosidade própria do bem. O bem age.

O perigo da facilidade é o da perda das melhores possibilidades. Quem conta os seus esforços, reduz os seus objetivos. Julgam-se sábios mas, na verdade, são apenas… cobardes. Muitos se escondem atrás do pretexto de dificuldades que não são nem metade do que julgam. Afinal, nunca é tão difícil quanto julga quem não quer fazer.

A vida deve ser vivida com profundidade. Sofrendo o que for preciso, para se fazer o melhor dos caminhos possíveis. Aquele que nos purifica e dá valor.

A maior de todas as virtudes é sermos capazes de não ceder aos maus hábitos, realizando todo o bem ao nosso alcance.

Não devemos descuidar-nos da obrigação de sermos mais e melhores. Não podemos permitir que um qualquer sono nos impeça de viver ao nível mais alto que podemos alcançar.

Todas as virtudes exigem atenção e trabalho. A diligência é a prontidão própria de quem ama, a persistência honesta que permite alcançar a excelência. Mas resulta da vontade, não é um dom. Aliás, nenhuma virtude é um dom, porque resulta sempre de escolhas que se fazem em ordem ao que se julga ser o bem. Assim, também nenhum vício é um defeito existente à partida. Deriva de uma escolha mais ou menos consciente do que se julga ser o bem, numa visão preguiçosa e distorcida da realidade e dos valores.

Poucos se dão conta do mal que é não fazer nada de bom.


José Luís Nunes Martins
http://www.ionline.pt/iopiniao/preguica-perdicao-talentos-virtudes/pag/-1

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

A "sagrada" família de Rembrandt

Imagem


É conhecida a expressão que define a Escritura como o «grande códice» da civilização ocidental, ou seja, o ponto de referência não só para a fé, mas também para a cultura de todos. Basta cruzar a entrada de uma pinacoteca ou estudar a literatura dos séculos passados para constatar que boa parte da arte e dos escritos é incompreensível sem a Bíblia.

Um dos muitíssimos temas sagrados representados é a cena familiar de Maria, José e do pequeno Jesus dispostos quase como que em pose, como acontece nos nossos dias nos instantâneos fotográficos das famílias. O mais comum destes quadros, que no passado marcou presença em muitas casas cristãs, é a Sagrada Família de Bartolomé E. Murillo (1617-1682), pintor espanhol de Sevilha, conservado no Museu do Prado, em Madrid.

Quanto a mim, gostaria de propor outra tela. Há alguns anos, ao visitar o Museu Hermitage de S. Petersburgo, fiquei durante longo tempo na sala onde estão colocadas várias obras de Rembrandt, grande pintor e gravador holandês do séc. XVII. Conquistou-me, com efeito, a sua extraordinária releitura da denominada “parábola do filho pródigo”, do Evangelho segundo Lucas (11, 11-32), centrada na figura do pai que acolhe a abraça o filho.

Naquela ocasião descobri uma curiosa e doce Sagrada Família que o artista terá pintado cerca do ano 1645. A representação respondia a um critério típico da arte cristã: “atualizar” o texto bíblico, incarnando-o na existência quotidiana. Neste caso, impressiona Maria, que, toda inclinada sobre o berço do seu pequenino, como uma mãe cuidadosa, ajeita uma pequena coberta sobre a parte superior, com a mão direita, enquanto que na esquerda segura uma Bíblia.

É significativa a atmosfera realista desta pequena cena, mesmo no menino Jesus que dorme placidamente e que Maria quer proteger da luz com o pano que estende. A ternura do conjunto revela um aspeto “atualizante”: Rembrandt tinha experimentado mais de uma vez na sua vida a perda de um filho recém-nascido. O quotidiano continua a manifestar-se com a figura de José, concentrado no seu trabalho de carpinteiro. E é precisamente no seu gesto – como no de Maria – que se entrevê a dimensão teológica que o pintor queria atribuir ao retrato.

José, com efeito, está a trabalhar um tronco, e a forma resultante, ainda ambígua, pode ser a de um jugo, que recorda a frase de Jesus: «O meu jugo é suave e o meu fardo é leve» (Mateus 11,30). Ou poderia tratar-se do poste evocativo da cruz, o último destino terreno daquele Menino.

O gesto da Mãe poderia aludir à cobertura de Cristo com a pedra tumular. Muitos ícones russos, efetivamente, a partir da Escola de Novgorod (séc. XV), representam a manjedoura em que é deposto o pequeno Jesus como um sepulcro. E os anjos em voo na tela de Rembrandt confirmam esta interseção, na família de Nazaré, entre divino e humano, entre história e eternidade.



Imagem
Sagrada Família | Rembrandt | Museu Hermitage, S. Petersburgo, Rússia | D.R.



Card. Gianfranco Ravasi 
Presidente do Pontifício Conselho da Cultura 
In "Famiglia Cristiana" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 6.1.2015

terça-feira, 6 de janeiro de 2015

«Basta! Senhor!


«Basta! Senhor! 
É demais para mim; 
dai, eu Vos suplico, 
essa espécie de favores e consolações 
aos pecadores que não Vos conhecem, 
afim de assim os atrair ao Vosso serviço. 
Que eu por mim tenho a felicidade 
de Vos conhecer pela fé 
e parece-me que isso me deveria bastar; 
mas porque nada devo recusar 
de mão tão rica e tão liberal como é a Vossa, 
aceito, meu Deus, os favores que me fazeis; 
seja-Vos grato, no entanto, 
que depois de os ter recebido, 
Vo-los torne a dar 
tais quais Vós mos destes, 
pois sabeis bem que não são os vossos dons que eu desejo, 
mas a Vós mesmo 
e que com nada menos me posso contentar.» 

Frei Lourenço da Ressurreição | 1614 – 1691
A prática da presença de Deus, III, 11

Senhor,
não são os Teus dons,
a Tua consolação sensível,
na oração ou na vida,
que são sinal da tua presença em mim.
É a graça de fazer em tudo a Tua vontade
o sinal mais evidente dessa Tua Presença amorosa em mim.

segunda-feira, 5 de janeiro de 2015

A coragem é a força do coração



São mais fortes do que os seus medos, apesar de tremerem. Na verdade, qualquer sacrifício é melhor que a vergonhosa cobardia de poder fazer o bem e... escolher fugir.
A coragem é um movimento do espírito pelo qual um coração grande se dá a conhecer. Não é uma força bruta da vontade, é uma decisão da consciência. É a capacidade de ser livre apesar do medo.

Só um bom coração reconhece o bem e tem de ser grande para lutar pelo melhor que há na vida.

O heroísmo dos grandes corações revela-se, não diante de enormes ameaças ou dos perigos mais assustadores, mas na vida comum de pessoas que nunca será reconhecida. Há muita gente que vive o seu amor ao bem de uma forma tão sublime quanto anónima. São os anjos que há na terra. Têm carne, ossos e problemas grandes e pequenos... tal como todos nós. Podemos ser nós!

Ter coragem dói. Os corações grandes têm muitas mágoas. Carregam as suas, aquelas de que ninguém suspeita, e as de outros... que não querem ou não podem levá-las sozinhos. Os corajosos encontram sempre forma de sofrer, mesmo quando estão bem. Sabem que não se pode ser feliz sozinho, nem, tão-pouco, com alguém a sofrer ali ao lado. São felizes, mas de uma forma muito estranha: é só lá muito no fundo.

A maior bravura destes corajosos é que dão mesmo o que não têm.

São mais fortes do que os seus medos, apesar de tremerem. Na verdade, qualquer sacrifício é melhor que a vergonhosa cobardia de poder fazer o bem e... escolher fugir.

Há gente que ousa o absoluto, apesar do absurdo. Pessoas com um coração tão grande que lá cabe a maior das esperanças, a de que, um dia, deixará de existir sofrimento e então poderemos todos ser felizes.

O coração corajoso que não tem medo do ridículo porque acredita mesmo que uma vida sem amor não tem valor.

É com fé no amor que se vence o medo paralisante, mas é com essa mesma fé que ficamos a saber que não podemos tudo e que sozinhos podemos ainda menos. A coragem é o ponto de equilíbrio entre os excessos do medo… e da confiança.

Por vezes, a coragem nasce do que resta da angústia e do desespero. Não há fundo de poço onde não haja um apelo à luz. Nas trevas vazias, a mais pequena das luzes ilumina muito. É uma estrela.

Os corações corajosos têm tristezas e trevas. São, aliás, os que mais as têm. Carregam-nas, mas encontram quase sempre uma forma de serem mais fortes do que elas. Quando caem e se perdem, é trágico, porque como são grandes e as mágoas que suportam são pesadas, caem ainda mais fundo e magoam-se muito. Mas, é uma questão de tempo até perceberem que não são da terra, mas do céu, e sem que se perceba como, levantam-se... e seguem o seu caminho.

A coragem implica uma solidão. Profunda. Não é uma loucura momentânea que torna valoroso um homem que não o é. A coragem é uma decisão dos que sabem o que estão a fazer e conhecem os riscos que correm. Eis a raiz do seu heroísmo: a lucidez do discernimento. A presença da razão em cada passo. Seria bem mais simples que entrássemos numa euforia de emoções e que só déssemos conta depois do fim... mas isso não é coragem!

Ninguém nasce corajoso. Aprende-se a ser forte. Aprende-se a viver a verdade. Aprende-se a amar.

Enfrenta-se mil futilidades, sorri-se apesar da perda e da doença, trabalha-se no que não se gosta, chora-se... mas vive-se, inteiro, uma vida inteira.

Falhas, fraquezas, trevas e tristezas... não são o que somos. São o que não somos... nem vamos ser, nunca! Assim saibamos ser a coragem que nos falta a nós e a que falta aos outros.

José Luís Nunes Martins
in http://www.ionline.pt/iopiniao/coragem-forca-coracao/pag/-1

sábado, 3 de janeiro de 2015

Tudo está consumado



"MEU SENHOR,
neste momento tão especial do ano
quero poder repetir as mesmas palavras 
que disseste nos últimos instantes da Tua vida:
"Tudo está consumado" (Jo 19, 30).
Queria poder dizer que este ano que hoje termina
foi completamente vivido para Ti, para Tua glória e ao Teu serviço...
Queria...
Peço-te perdão pelas vezes que não soube corresponder-Te
e ofereço-te esta oração de acção de graças
por tantos benefícios que, sem merecer, recebi.
Neste último dia do ano peço-te que me acompanhes,
Tu és a luz da minha vida.
Nunca te afastes de mim em cada dia
deste novo ano que se aproxima.
Quero abraçar este novo ano de 2015
como um barco que vem todos os dias
com a Tua bênção tomar conta de mim
e de todos os meus amigos e suas famílias.
Amen."

Pe. Ismael Teixeira

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Passagem de ano




Bom Deus, Tu não tens passagem de ano.
Eu tenho, mais um.
Mais um ano meu passa,
mais um passo dou para a Tua eternidade
onde não há passagem de anos.
Se o tempo que passa me assusta,
alegra-me pensar que um dia destes vou estar para sempre em Ti.
Passa o tempo...
mas como é neste tempo que vivo,
dou-te graças por ele.
Desde que montaste tenda no meu tempo,
no tempo da minha vida e da minha história,
tornaste-o santo.
Obrigado por teres santificado o meu pouco tempo.
Se não chegar ao fim deste novo ano,
neste tempo de relógio,
dá-me a alegria de poder dizer na eternidade, que és Tu:
"Este ano não tenho passagem de ano"!

quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Deus é um ninho onde encontramos abrigo e repouso

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Erguendo o olhar para o alto, descobriremos que Deus não impõe a sua presença, mas oferece-a como possibilidade de relação. Pertence a nós, aos nossos ouvidos, à nossa boca, ao nosso coração, dizer o sim que nos abre à sua presença.

Só então saberemos que o seu Reino não contempla cetros ou ordens, não possui exércitos e não declara guerras. A omnipotência que o sustenta é aquela fragilíssima do amor que acolhe.

Não será esta, talvez, a ausência que devasta o nosso tempo? Pensámos que se poderia viver bem sem o espírito de maternidade, esse espírito que aceita e acompanha, que protege e defende, que segue tudo o que é pequeno e incerto e faz os possíveis para que se torne grande e forte. Não será esta a missão de cada mãe: dar a vida e protegê-la, vigiar constantemente para que nada viole a sua sacralidade?

Deus, por isso, não é um rei mas um ninho. É nele que nos podemos refugiar quando estamos oprimidos, quando estamos exaustos, quando estamos em viagem há demasiado tempo e deixámos de saber onde repousar.

Só então, só no ninho, descobriremos que a sua forma não é um evanescente e impenetrável mistério, mas é o rosto do Outro que encontramos cada dia no nosso caminho.


Susanna Tamaro 
In "Avvenire" 
Trad. / edição: Rui Jorge Martins 
Publicado em 31.12.2014

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...