quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Adeus, Bento XVI



Bento XVI não publicará a encíclica sobre a fé – embora em fase avançada – que devia apresentar na primavera. Já não tem tempo. E nenhum sucessor é obrigado a retomar uma encíclica incompleta do próprio predecessor. Mas existe outra encíclica de Bento XVI, escondida no seu coração, uma encíclica não escrita. Ou melhor, escrita não pela sua pena mas pelo gesto do seu pontificado. Esta encíclica não é um texto, mas uma realidade: a humildade.
 
A 19 de abril de 2005 um homem que pertence à raça das águias intelectuais, temido pelos seus adversários, admirado pelos seus estudantes, respeitado por todos devido à acutilância das suas análises sobre a Igreja e o mundo, apresenta-se, recém-eleito Papa, como um cordeiro levado para o sacrifício. Utilizará até a terrível palavra «guilhotina» para descrever o sentimento que o invadiu no momento em que os seus irmãos cardeais, na Capela Sistina, ainda fechada para o mundo, se viraram para ele, eleito entre todos, para o aplaudir. Nas imagens da época, a sua figura curvada e o seu rosto surpreendido testemunham-no.

Depois teve que aprender o mister de Papa. Extirpou, como raízes arraigadas sob o húmus da terra, o eterno tímido, lúcido na mente mas desajeitado no corpo, para o projectar perante o mundo. Foi um choque para ambas as partes. Não conseguia assumir a desenvoltura do saudoso João Paulo II. O mundo compreendia mal aquele Papa sem efeito. Bento XVI nem teve os cem dias de "estado de graça" que se atribuem aos presidentes profanos. Teve, sem dúvida, a graça divina, fina mas pouco mundana. Contudo teve, ainda e sempre, a humildade de aprender sob os olhares de todos.

Foram sete anos terríveis de pontificado. Nunca um Papa teve, num certo sentido, tão pouco "sucesso". Passou de polémica em polémica: crise com o Islão depois do seu discurso de Ratisbona, onde evocou a violência religiosa; deformação das suas palavras sobre a Sida durante a primeira viagem à África, que suscitou um protesto mundial; vergonha sofrida pelo explodir da questão dos sacerdotes pedófilos, por ele enfrentada; o caso Williamson, onde o seu gesto de generosidade em relação aos quatro bispos ordenados por D. Lefebvre (o Papa revogou as excomunhões) se transformou numa reprovação mundial contra Bento XVI, porque não tinha sido informado sobre os discursos negacionistas da Shoah feitos por um deles; incompreensões e dificuldades de pôr em acção o seu desejo de transparência quanto às finanças do Vaticano; traição de uma parte do seu grupo mais próximo no caso Vatileaks, com o seu mordomo que subtraiu cartas confidenciais para as publicar...
Não teve nem sequer um ano de trégua. Nada lhe foi poupado. Às violentas provações físicas do pontificado de João Paulo II, ao atentado e ao mal de Parkinson, parecem corresponder as provações morais de rara violência desta litania de contradições sofrida por Bento XVI.

Ao renunciar, o Papa eclipsa-se. À própria imagem do seu pontificado. Mas só Deus conhece o poder e a fecundidade da humildade.
Jean-Marie Guénois
In Le Figaro Magazine, 15-16.2.2013
Transcrição: L'Osservatore Romano
© SNPC | 25.02.13

quarta-feira, 27 de fevereiro de 2013



 




Já no final da sua despedida pública da Igreja, o Papa, que resigna a partir de quinta-feira, dia 28, às 20h00 (19h00 em Lisboa), dirigiu-se em português aos fiéis lusófonos que se encontravam na Praça de São Pedro:

“No dia dezanove de Abril de dois mil e cinco, quando abracei o ministério petrino, disse ao Senhor: “É um peso grande que colocais aos meus ombros! Mas, se mo pedis, confiado na vossa palavra, lançarei as redes, seguro de que me guiareis”. E, nestes quase oito anos, sempre senti que, na barca, está o Senhor; e sempre soube que a barca da Igreja não é minha, não é nossa, mas do Senhor. Entretanto não é só a Deus que quero agradecer neste momento. Um Papa não está sozinho na condução da barca de Pedro, embora lhe caiba a primeira responsabilidade; e o Senhor colocou ao meu lado muitas pessoas que me ajudaram e sustentaram. Porém, sentindo que as minhas forças tinham diminuído, pedi a Deus com insistência que me iluminasse com a sua luz para tomar a decisão mais justa, não para o meu bem, mas para o bem da Igreja. Dei este passo com plena consciência da sua gravidade e inovação, mas com uma profunda serenidade de espírito.”

“Amados peregrinos de língua portuguesa, agradeço-vos o respeito e a compreensão com que acolhestes a minha decisão. Continuarei a acompanhar o caminho da Igreja, na oração e na reflexão, com a mesma dedicação ao Senhor e à sua Esposa que vivi até agora e quero viver sempre. Peço que vos recordeis de mim diante de Deus e sobretudo que rezeis pelos Cardeais chamados a escolher o novo Sucessor do Apóstolo Pedro. Confio-vos ao Senhor, e a todos concedo a Bênção Apostólica.”
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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Quadro de Gracz

Deixo, para meditação, este belíssimo quadro de um pintor polaco, convertido à fé cristã, Jerzy Duda Gracz.

Na 1ª estação da Via-Sacra, que ofereceu, como ex-voto ao Santuário de Jasna Gora, ele representou os cenários modernos do mundo onde o julgamento do justo é feito em nome de poderes, mediáticos ou jurídicos, de maiorias, eleitas ou populares. Os microfones são a voz de comando de um poder cego. Deixo a pintura para meditação. Não é difícil perceber-lhe a atualidade!

Amaro Gonçalo

domingo, 24 de fevereiro de 2013

Entrevista de Bono Vox



Entrevista de Bono Vox, dos U2, para o pastor Bill Hybels, líder evangelico. Bono dá uma lição do verdadeiro cristianismo prático. Fala sobre a graça de Deus, as atividades da ONG ONE para os mais desfavorecidos povos da Africa. Testemunha sobre a sua experiência como voluntário num orfanato etíope. Nesta entrevista, Bono convoca as igrejas para trabalhar em conjunto em prol da erradicação da fome.

MATEUS 9, 13:  "Ide, porém, e aprendei o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício. Porque eu não vim a chamar os justos, mas os pecadores, ao arrependimento."

MATEUS 12,7: "Mas, se vós soubésseis o que significa: Misericórdia quero, e não sacrifício, não condenaríeis os inocentes."

sexta-feira, 22 de fevereiro de 2013

Pálido ponto azul

 

"Olhem de novo para esse ponto. Isso é a nossa casa, isso somos nós. Nele, todos a quem ama, todos a quem conhece, qualquer um dos que escutamos falar, cada ser humano que existiu, viveu a sua vida aqui. O agregado da nossa alegria e nosso sofrimento, milhares de religiões autênticas, ideologias e doutrinas econômicas, cada caçador e colheitador, cada herói e covarde, cada criador e destruidor de civilização, cada rei e camponês, cada casal de namorados, cada mãe e pai, criança cheia de esperança, inventor e explorador, cada mestre de ética, cada político corrupto, cada superestrela, cada líder supremo, cada santo e pecador na história da nossa espécie viveu aí, num grão de pó suspenso num raio de sol.

A Terra é um cenário muito pequeno numa vasta arena cósmica. Pensai nos rios de sangue derramados por todos aqueles generais e imperadores, para que, na sua glória e triunfo, vieram eles ser amos momentâneos duma fração desse ponto. Pensai nas crueldades sem fim infligidas pelos moradores dum canto deste pixel aos quase indistinguíveis moradores dalgum outro canto, quão frequentes as suas incompreensões, quão ávidos de se matar uns aos outros, quão veementes os seus ódios.

As nossas exageradas atitudes, a nossa suposta auto-importância, a ilusão de termos qualquer posição de privilégio no Universo, são reptadas por este pontinho de luz frouxa. O nosso planeta é um grão solitário na grande e envolvente escuridão cósmica. Na nossa obscuridade, em toda esta vastidão, não há indícios de que vá chegar ajuda de algures para nos salvar de nós próprios.

A Terra é o único mundo conhecido, até hoje, que alberga a vida. Não há mais algum, pelo menos no próximo futuro, onde a nossa espécie puder emigrar. Visitar, pôde. Assentar-se, ainda não. Gostarmos ou não, por enquanto, a Terra é onde temos de ficar.

Tem-se falado da astronomia como uma experiência criadora de firmeza e humildade. Não há, talvez, melhor demonstração das tolas e vãs soberbas humanas do que esta distante imagem do nosso miúdo mundo. Para mim, acentua a nossa responsabilidade para nos portar mais amavelmente uns para com os outros, e para protegermos e acarinharmos o ponto azul pálido, o único lar que tenhamos conhecido."

Reflexões de Carl Sagan
Numa conferência em 11 de Maio de 1996, Sagan falou dos seus pensamentos sobre a histórica fotografia.

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

O entusiasmo na Heineken



QUEM DERA QUE NAS NOSSAS COMUNIDADES
SOUBESSEMOS CONTAGIAR A TODOS COM O NOSSO ENTUSIASMO!

A Heineken resolveu inovar no seu modelo de entrevistas de emprego, criando aquela que é muito provavelmente a melhor entrevista de emprego de sempre. Como sabemos, numa entrevista de emprego “normal” há um guião de perguntas que raramente surpreende, originando as mesmas respostas desinspiradas. Foi a pensar nisso que a Heineken arranjou uma forma de dar a volta ao guião para selecionar o colaborador ideal, num total de 1734 candidaturas. O resultado é BRUTAL! Assiste ao vídeo para saberes quem foi o selecionado.

quarta-feira, 20 de fevereiro de 2013

Não é da vontad de Deus



«Não é da vontade de Deus
que a alma se perturbe com coisa alguma
nem que sofra amarguras;
e, se as sofre com as contrariedades do mundo,
isso deve-se à sua pouca virtude,
porque a alma perfeita alegra-se
naquilo em que a imperfeita se atormenta.»

S. João da Cruz, Ditos de Luz e Amor, 56.

Senhor,
que bom é saber
que não é da Tua vontade que me perturbe,
nem sofra.
Não é da Tua vontade!
Só queres o meu bem e que olhe para Ti,
permanecendo unido a Ti
com uma fé forte e inabalável.
Sim, Senhor,
se tivesse uma fé assim
não sofreria por sofrer,
sofrendo duplamente.
Não posso deixar de sentir a dor,
mas saberia que tudo isso concorre para o meu bem,
quando o sofro em união conTigo.
Só no Céu conhecerei
o valor dos pequenos e grandes sofrimentos
aceites por amor e em união com o Amor
que és Tu!
Senhor, aumenta a minha fé!

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Mala vazia



Um homem morreu.
 Ao se dar conta, viu que Deus se aproximava e tinha uma maleta com Ele.
 E Deus disse:
 - Bem, filho, hora de irmos.

O homem assombrado perguntou:
 - Já? Tão rápido?
 Eu tinha muitos planos...

- Sinto muito, mas é o momento de sua partida.
 - O que tem na maleta?
 Perguntou o homem.

E Deus respondeu:
 - Os seus pertences!!!
 - Meus pertences?
 Minhas coisas, minha roupa, meu dinheiro?

Deus respondeu:
 - Esses nunca foram seus, eram da terra.

- Então são as minhas recordações?
 - Elas nunca foram suas, elas eram do tempo.

- Meus talentos?
 - Esses não pertenciam a você, eram das circunstâncias.

- Então são meus amigos, meus familiares?
 - Sinto muito, eles nunca pertenceram a você, eles eram do caminho.

- Minha mulher e meus filhos?
 - Eles nunca lhe pertenceram, eram de seu coração.

- É o meu corpo.
 - Nunca foi seu, ele era do pó.

- Então é a minha alma.
 - Não!
 Essa é minha.

Então, o homem cheio de medo, tomou a maleta de Deus e ao abri-la se deu conta de que estava vazia...
 Com uma lágrima de desamparo brotando em seus olhos, o homem disse:
 - Nunca tive nada?

- É assim, cada um dos momentos que você viveu foram seus.
 A vida é só um momento...Um momento só seu!
 Por isso, enquanto estiver no tempo, desfrute-o em sua totalidade.

Que nada do que você acredita que lhe pertence o detenha...

Viva o agora! Viva sua vida!

E não se esqueça de SER FELIZ, é o único que realmente vale a pena!
 As coisas materiais e todo o resto pelo que você luta fica aqui.

segunda-feira, 18 de fevereiro de 2013

Declaração de amor

 

Quem é que tem a sorte de ter um amor dele ou dela que ama ou que tem, seja amado ou amada? Tenho eu e conheço muitas pessoas que já têm ou que vão ter. Mas, tal como todos os outros apaixonados e todas as outras apaixonadas, desconfio, com calor na alma, que ninguém tem o amor que eu tenho pela Maria João, meu amor, minha mulher, minha salvação.

O amor sai caro - medo de perdê-la, medo do tempo a passar, medo do futuro - mas paga-se sem se dar por isso. Mentira. Dá-se por isso só nos intervalos de receber, receber, receber e dar, dar, dar.
Basta uma pequena zanga para parecer que todo aquele amor desmoronou: "Onde está esse teu apregoado amor por mim (de mãos nas ancas), agora que eu preciso dele?"

Quanto maior o amor, mais frágil parece. Quanto maior o amor, mais pequeno é o gesto que parece traí-lo. Mas com que alegria nos habituamos a viver nesse regime de tal terror!

Maria João, meu amor: o barulho que faz a felicidade é ouvires-me a perder tempo a resmungar e a pedir que tudo continue exactamente como está, para sempre. Que nada melhore. Que não tenhamos mais sorte do que já temos. Que nada mude nunca, a não ser quando mudamos juntos. E que fiquemos sempre não só com o que temos mas um com o outro.

É este o tempo que eu quero que dure, tu és o amor que eu tenho. Nunca te demores quando estás longe de mim, tem sempre cuidado, trata-te nas palminhas, que, cada vez que olho para ti, o meu coração cresce e eu amo-te cada vez mais.

Miguel Esteves Cardoso

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

O amor é tudo



Para hoje, dia de São Valentim
e para os outros dias em que ousamos ser vida,

umas palavras que abraço de tão certas também para mim:
 

"Ora se o amor é tudo, uma coisa é certa entre todas: não há melhor amor, mais doce e mais sublime, do que aquele que é construtivo, que edifica, que transforma, que nos eleva e, desse modo, nos permite o gozo da mais autêntica e inconfundível transcendência"

Padre João J. Vila-Chã

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

Crer na caridade suscita caridade


 
MENSAGEM DE SUA SANTIDADE BENTO XVI
PARA A QUARESMA DE 2013
Crer na caridade suscita caridade

«Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16)

Queridos irmãos e irmãs! A celebração da Quaresma, no contexto do Ano da fé, proporciona-nos uma preciosa ocasião para meditar sobre a relação entre fé e caridade: entre o crer em Deus, no Deus de Jesus Cristo, e o amor, que é fruto da ação do Espírito Santo e nos guia por um caminho de dedicação a Deus e aos outros.

1. A fé como resposta ao amor de Deus

Na minha primeira Encíclica, deixei já alguns elementos que permitem individuar a estreita ligação entre estas duas virtudes teologais: a fé e a caridade. Partindo duma afirmação fundamental do apóstolo João: «Nós conhecemos o amor que Deus nos tem, pois cremos nele» (1 Jo 4, 16), recordava que, «no início do ser cristão, não há uma decisão ética ou uma grande ideia, mas o encontro com um acontecimento, com uma Pessoa que dá à vida um novo horizonte e, desta forma, o rumo decisivo. (...) Dado que Deus foi o primeiro a amar-nos (cf. 1 Jo 4, 10), agora o amor já não é apenas um “mandamento”, mas é a resposta ao dom do amor com que Deus vem ao nosso encontro» (Deus caritas est, 1).

A fé constitui aquela adesão pessoal - que engloba todas as nossas faculdades - à revelação do amor gratuito e «apaixonado» que Deus tem por nós e que se manifesta plenamente em Jesus Cristo. O encontro com Deus Amor envolve não só o coração, mas também o intelecto: «O reconhecimento do Deus vivo é um caminho para o amor, e o sim da nossa vontade à d’Ele une intelecto, vontade e sentimento no ato globalizante do amor.

Mas isto é um processo que permanece continuamente a caminho: o amor nunca está "concluído" e completado» (ibid., 17). Daqui deriva, para todos os cristãos e em particular para os «agentes da caridade», a necessidade da fé, daquele «encontro com Deus em Cristo que suscite neles o amor e abra o seu íntimo ao outro, de tal modo que, para eles, o amor do próximo já não seja um mandamento por assim dizer imposto de fora, mas uma consequência resultante da sua fé que se torna operativa pelo amor» (ibid., 31).

O cristão é uma pessoa conquistada pelo amor de Cristo e, movido por este amor - «caritas Christi urget nos» (2 Cor 5, 14) - , está aberto de modo profundo e concreto ao amor do próximo (cf. ibid., 33). Esta atitude nasce, antes de tudo, da consciência de ser amados, perdoados e mesmo servidos pelo Senhor, que Se inclina para lavar os pés dos Apóstolos e Se oferece a Si mesmo na cruz para atrair a humanidade ao amor de Deus.

«A fé mostra-nos o Deus que entregou o seu Filho por nós e assim gera em nós a certeza vitoriosa de que isto é mesmo verdade: Deus é amor! (...) A fé, que toma consciência do amor de Deus revelado no coração trespassado de Jesus na cruz, suscita por sua vez o amor. Aquele amor divino é a luz – fundamentalmente, a única - que ilumina incessantemente um mundo às escuras e nos dá a coragem de viver e agir» (ibid., 39). Tudo isto nos faz compreender como o procedimento principal que distingue os cristãos é precisamente «o amor fundado sobre a fé e por ela plasmado» (ibid., 7).


2. A caridade como vida na fé

Toda a vida cristã consiste em responder ao amor de Deus. A primeira resposta é precisamente a fé como acolhimento, cheio de admiração e gratidão, de uma iniciativa divina inaudita que nos precede e solicita; e o «sim» da fé assinala o início de uma luminosa história de amizade com o Senhor, que enche e dá sentido pleno a toda a nossa vida. Mas Deus não se contenta com o nosso acolhimento do seu amor gratuito; não Se limita a amar-nos, mas quer atrair-nos a Si, transformar-nos de modo tão profundo que nos leve a dizer, como São Paulo: Já não sou eu que vivo, é Cristo que vive em mim (cf. Gl 2, 20).
Quando damos espaço ao amor de Deus, tornamo-nos semelhantes a Ele, participantes da sua própria caridade. Abrirmo-nos ao seu amor significa deixar que Ele viva em nós e nos leve a amar com Ele, n'Ele e como Ele; só então a nossa fé se torna verdadeiramente uma «fé que actua pelo amor» (Gl 5, 6) e Ele vem habitar em nós (cf. 1 Jo 4, 12).
A fé é conhecer a verdade e aderir a ela (cf. 1 Tm 2, 4); a caridade é «caminhar» na verdade (cf. Ef 4, 15). Pela fé, entra-se na amizade com o Senhor; pela caridade, vive-se e cultiva-se esta amizade (cf. Jo 15, 14-15). A fé faz-nos acolher o mandamento do nosso Mestre e Senhor; a caridade dá-nos a felicidade de pô-lo em prática (cf. Jo 13, 13-17). Na fé, somos gerados como filhos de Deus (cf. Jo 1, 12-13); a caridade faz-nos perseverar na filiação divina de modo concreto, produzindo o fruto do Espírito Santo (cf. Gl 5, 22). A fé faz-nos reconhecer os dons que o Deus bom e generoso nos confia; a caridade fá-los frutificar (cf. Mt 25, 14-30).


3. O entrelaçamento indissolúvel de fé e caridade

À luz de quanto foi dito, torna-se claro que nunca podemos separar e menos ainda contrapor fé e caridade. Estas duas virtudes teologais estão intimamente unidas, e seria errado ver entre elas um contraste ou uma «dialética». Na realidade, se, por um lado, é redutiva a posição de quem acentua de tal maneira o carácter prioritário e decisivo da fé que acaba por subestimar ou quase desprezar as obras concretas da caridade reduzindo-a a um genérico humanitarismo, por outro é igualmente redutivo defender uma exagerada supremacia da caridade e sua operatividade, pensando que as obras substituem a fé. Para uma vida espiritual sã, é necessário evitar tanto o fideísmo como o ativismo moralista.

A existência cristã consiste num contínuo subir ao monte do encontro com Deus e depois voltar a descer, trazendo o amor e a força que daí derivam, para servir os nossos irmãos e irmãs com o próprio amor de Deus. Na Sagrada Escritura, vemos como o zelo dos Apóstolos pelo anúncio do Evangelho, que suscita a fé, está estreitamente ligado com a amorosa solicitude pelo serviço dos pobres (cf. At 6, 1-4). Na Igreja, devem coexistir e integrar-se contemplação e ação, de certa forma simbolizadas nas figuras evangélicas das irmãs Maria e Marta (cf. Lc 10, 38-42). A prioridade cabe sempre à relação com Deus, e a verdadeira partilha evangélica deve radicar-se na fé (cf. Catequese na Audiência geral de 25 de Abril de 2012).

De facto, por vezes tende-se a circunscrever a palavra «caridade» à solidariedade ou à mera ajuda humanitária; é importante recordar, ao invés, que a maior obra de caridade é precisamente a evangelização, ou seja, o «serviço da Palavra». Não há ação mais benéfica e, por conseguinte, caritativa com o próximo do que repartir-lhe o pão da Palavra de Deus, fazê-lo participante da Boa Nova do Evangelho, introduzi-lo no relacionamento com Deus: a evangelização é a promoção mais alta e integral da pessoa humana.

Como escreveu o Servo de Deus Papa Paulo VI, na Encíclica Populorum progressio, o anúncio de Cristo é o primeiro e principal fator de desenvolvimento (cf. n. 16). A verdade primordial do amor de Deus por nós, vivida e anunciada, é que abre a nossa existência ao acolhimento deste amor e torna possível o desenvolvimento integral da humanidade e de cada homem (cf. Enc. Caritas in veritate, 8).
Essencialmente, tudo parte do Amor e tende para o Amor. O amor gratuito de Deus é-nos dado a conhecer por meio do anúncio do Evangelho. Se o acolhermos com fé, recebemos aquele primeiro e indispensável contacto com o divino que é capaz de nos fazer «enamorar do Amor», para depois habitar e crescer neste Amor e comunicá-lo com alegria aos outros.

A propósito da relação entre fé e obras de caridade, há um texto na Carta de São Paulo aos Efésios que a resume talvez do melhor modo: «É pela graça que estais salvos, por meio da fé. E isto não vem de vós; é dom de Deus; não vem das obras, para que ninguém se glorie. Porque nós fomos feitos por Ele, criados em Cristo Jesus, para vivermos na prática das boas ações que Deus de antemão preparou para nelas caminharmos» (2, 8-10).

Daqui se deduz que toda a iniciativa salvífica vem de Deus, da sua graça, do seu perdão acolhido na fé; mas tal iniciativa, longe de limitar a nossa liberdade e responsabilidade, torna-as mais autênticas e orienta-as para as obras da caridade. Estas não são fruto principalmente do esforço humano, de que vangloriar-se, mas nascem da própria fé, brotam da graça que Deus oferece em abundância. Uma fé sem obras é como uma árvore sem frutos: estas duas virtudes implicam-se mutuamente.

A Quaresma, com as indicações que dá tradicionalmente para a vida cristã, convida-nos precisamente a alimentar a fé com uma escuta mais atenta e prolongada da Palavra de Deus e a participação nos Sacramentos e, ao mesmo tempo, a crescer na caridade, no amor a Deus e ao próximo, nomeadamente através do jejum, da penitência e da esmola.


4. Prioridade da fé, primazia da caridade

Como todo o dom de Deus, a fé e a caridade remetem para a ação do mesmo e único Espírito Santo (cf. 1 Cor 13), aquele Espírito que em nós clama:«Abbá! – Pai!» (Gl 4, 6), e que nos faz dizer: «Jesus é Senhor!» (1 Cor 12, 3) e «Maranatha! – Vem, Senhor!» (1 Cor 16, 22; Ap 22, 20).

Enquanto dom e resposta, a fé faz-nos conhecer a verdade de Cristo como Amor encarnado e crucificado, adesão plena e perfeita à vontade do Pai e infinita misericórdia divina para com o próximo; a fé radica no coração e na mente a firme convicção de que precisamente este Amor é a única realidade vitoriosa sobre o mal e a morte.

A fé convida-nos a olhar o futuro com a virtude da esperança, na expectativa confiante de que a vitória do amor de Cristo chegue à sua plenitude.

Por sua vez, a caridade faz-nos entrar no amor de Deus manifestado em Cristo, faz-nos aderir de modo pessoal e existencial à doação total e sem reservas de Jesus ao Pai e aos irmãos. Infundindo em nós a caridade, o Espírito Santo torna-nos participantes da dedicação própria de Jesus: filial em relação a Deus e fraterna em relação a cada ser humano (cf. Rm 5, 5).

A relação entre estas duas virtudes é análoga à que existe entre dois sacramentos fundamentais da Igreja: o Batismo e a Eucaristia. O Batismo (sacramentum fidei) precede a Eucaristia (sacramentum caritatis), mas está orientado para ela, que constitui a plenitude do caminho cristão. De maneira análoga, a fé precede a caridade, mas só se revela genuína se for coroada por ela. Tudo inicia do acolhimento humilde da fé («saber-se amado por Deus»), mas deve chegar à verdade da caridade («saber amar a Deus e ao próximo»), que permanece para sempre, como coroamento de todas as virtudes (cf. 1 Cor 13, 13).

Caríssimos irmãos e irmãs, neste tempo de Quaresma, em que nos preparamos para celebrar o evento da Cruz e da Ressurreição, no qual o Amor de Deus redimiu o mundo e iluminou a história, desejo a todos vós que vivais este tempo precioso reavivando a fé em Jesus Cristo, para entrar no seu próprio circuito de amor ao Pai e a cada irmão e irmã que encontramos na nossa vida. Por isto elevo a minha oração a Deus, enquanto invoco sobre cada um e sobre cada comunidade a Bênção do Senhor!

Vaticano, 15 de Outubro de 2012

terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Caminho de voltar



Há sempre um sítio para fugir,
Se queres saber,
Um sítio onde podes descansar.

Há sempre alguém para te agarrar
E te esconder
Se vais cair
Eu vou te ver.
Antes da dança, antes da fuga, eu sei te ver
Antes do tempo te mudar eu vou saber
Antes da névoa te despir e te levar
Há um sítio onde o escuro não chegou
Por onde podes ir
Um rio para libertar.

Há sempre alguém para te salvar
Se queres saber
Se queres sentir outro lugar.

Há sempre alguém para te dizer
Se vais cair
Para te travar e adormecer
Antes do dia
Antes da luta
Eu sei te ver
Antes da noite te sarar eu vou saber
Antes da chuva te romper e te lavar
Há um sítio onde a estrada te deixou
Por onde tens que ir
Se te queres libertar.

E tudo o que for por bem,
Tudo o que der razão
Como ponte vai ligar.

Tudo te vai unir
Tudo se faz canção
No caminho de voltar
No caminho de voltar...

Há sempre paz noutro lugar
Entre nuvens
Um sítio onde podes perceber
Que há sempre alguém para te ver
Em segredo te descobrir
E renovar.

Tiago Bettencourt & Mantha

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Oração a Maria no Dia do Doente



“No Evangelho, sobressai a figura da Bem-aventurada Virgem Maria, que segue o sofrimento do Filho até ao sacrifício supremo no Gólgota. Ela não perde jamais a esperança na vitória de Deus sobre o mal, o sofrimento e a morte, e sabe acolher, com o mesmo abraço de fé e de amor, o Filho de Deus nascido na gruta de Belém e morto na cruz. A sua confiança firme no poder de Deus é iluminada pela Ressurreição de Cristo, que dá esperança a quem se encontra no sofrimento e renova a certeza da proximidade e consolação do Senhor” (Bento XVI, Mensagem para o Dia Mundial do Doente, 2013):


Ó Virgem Santa Maria,
Que acolheste o Menino Jesus, no presépio de Belém,
Que O acompanhaste na fuga para o Egito,
Que estiveste com Ele na solidão de Nazaré,
Que O visitaste quando anunciava a Boa Nova nas ruas de Jerusalém,
Que cruzaste por Ele na Via Dolorosa,
Que ficaste ao Seu lado, de pé, junto à Cruz:
Ensinai-me, Senhora,
A procurar os meus irmãos que sofrem,
A dar-lhes tempo com frequência e sem pressa,
A compreender a sua solidão,
A levar-lhes o conforto de uma palavra,
A estar com eles nos momentos mais difíceis,
A acolher os seus gritos,
A limpar as suas lágrimas,
A respeitar os seus silêncios,
A oferecer-lhes, quando o pedirem,
a presença de teu Filho
que quis fazer-se viático para os caminhos
do grande encontro.
Que eu saiba acompanhar,
Que eu saiba dar-me,
Que eu saiba amar sempre.

sábado, 9 de fevereiro de 2013

Cão vai à missa

Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu

As pessoas que frequentam a igreja de Santa Maria Assunta em San Donaci, Itália, receberam uma lição de amor e lealdade de um cão nos últimos dois meses. Ciccio, um pastor alemão de 12 anos, cuja dona faleceu há dois meses, visita diariamente a igreja que ela frequentava e onde seu funeral foi celebrado, esperando pacientemente que ela volte.

Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
 
Maria Margherita Lochi, 57 anos, adotou Ciccio um ano atrás depois que ele foi encontrado abandonado em um terreno baldio perto de sua casa. Ela era um amante dos animais e já havia adotado vários gatos e cães, mas sua ligação com Ciccio era especial. Aparentemente, ele sentia o mesmo, já que apesar da morte da dona há mais dois meses, o cão continua a voltar para o lugar que a viu pela última vez.
 
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu

 
Dona Maria ia todos os dias à missa na igreja local e o padre permitia a entrada de Ciccio que esperava pacientemente a seus pés. Ele também esteve lá com os entes queridos da Dona Maria em seu funeral. Mas agora Ciccio parece ter dificuldade para entender que ela não vai mais voltar e continua indo à missa todos os dias no mesmo horário, assim que ouve os sinos chamando os fiéis. Ciccio simplesmente se senta ao lado do altar, em silêncio, na esperança de ver Dona Maria chegar...
 
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
 
- "Ele está lá toda vez que eu celebro a missa e é muito bem comportado, não faz nenhum som, nenhum latido", diz o padre Donato Panna. "Ele vai a missa todos os dias, mesmo após o funeral da Dona Maria, ele espera pacientemente ao lado do altar e fica lá tranquilamente. Eu não tenho coração para expulsá-lo."
 
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
 
Todos em San Donaci ficaram tão impressionados com a fidelidade de Ciccio, que em conjunto decidiram adotá-lo e cuidar dele.
 
Cão vai à missa todos os dias esperando encontrar sua dona que morreu
 
Este tipo de fidelidade canina que faz o coração da gente doer, nunca deixam de me impressionar. como Capitán, que viveu no túmulo de seu dono por 6 anos, Leão, o cão que perdeu sua dona nos deslizamentos de terra no Rio, ou o cão russo que guardou o corpo de sua companheira por uma semana, depois que ela foi atingida por um carro. Histórias trágicas que fazem qualquer um amar ainda mais estas bolas de pelo que tanto amor nos dedicam.

sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

Oração de Ravensbruck



Senhor, não vos lembreis só
dos homens e mulheres de boa vontade,
mas também dos de má vontade.
Não vos lembreis só dos muitos sofrimentos que nos infligiram,
lembrai-vos dos frutos que alcançámos
graças a esses momentos de sofrimento:
a nossa camaradagem, a nossa lealdade,
a nossa humildade, a fortaleza,
a generosidade, a grandeza de coração que daí brotaram;
e quando eles vierem a julgamento,
que todos os frutos gerados em nós,
sejam o seu perdão.

Oração encontrada num fragmento de papel junto ao corpo de uma criança no campo de concentração de Ravensbruck, no final da II Guerra Mundial.

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Aprender a ceder

 Aprender a ceder - ilustração

Aos sonhos, como aos pesadelos, chega sempre a hora de acordar. É essencial compreender a realidade, viver de olhos abertos, acolher a simplicidade da vida antes de querer resolver a complexidade do mundo.

Cada um de nós tem o seu lugar no mundo, talvez a ninguém caiba o do centro. Nas nossas relações com o mundo, com os outros e connosco, é mais sábio aceitar do que impor, admirar do que exibir, amar do que procurar ser amado...

Viver é aprender a ceder. A libertarmo-nos de nós mesmos. Só o nosso espírito nos pode soltar porque só ele nos aprisiona. Ser autenticamente feliz depende de uma transformação na forma de olharmos o mundo, aceitando-o sem grandes condições e agindo sem precipitações. Cedendo. Cedendo, sempre. Pois que é melhor manter um amigo do que ficar com a razão, mas sozinho. Há que abrir espaços em nós para que a serenidade que assim se alcança convide a felicidade a fazer do nosso espírito morada sua.

A humildade e a simplicidade são formas de ser, não de parecer.

Um erro comum é querer ser tudo já. Nunca nada chega... e são tantas vezes as saudades a revelarem-nos o verdadeiro valor dos instantes vividos mas já passados. As pressas atropelam o tempo.
Importa não cair na tentação de querer ser senhor do próprio futuro... e aprender a confiar mais. Cedendo espaço à esperança.

Afinal, quantas vezes uma tragédia, decepção, desilusão ou uma simples despedida, ao invés de serem tristes fins revelam-se, depois, como os pontos de partida das nossas maiores aventuras?

Investigador
in i online

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...