terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Enfrentando o desafio



O ano de 2014 foi duro. Os conflitos novos e os duradouros, os desastres naturais e uma das piores epidemias dos últimos tempos levaram as pessoas ao seu limite. A Cruz Vermelha trabalha em 80 países, para prestar assistência e socorro. Este vídeo é uma amostra do trabalho que foi possível realizar com a ajuda dos amigos, parceiros e colaboradores da Cruz Vermelha.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Nós os dois


Desde que sei
Que sou como um fiozinho de erva
Que de manhã reverdece e à tarde seca,
Que aprendi a suportar o peso
Do milagre.
Hoje tudo é mais claro
Tudo é mais nítido.
Mas no tempo em que os pinheiros
Eram altos
E os meus olhos de um verde cristalino,
No tempo em que o tempo
Era incandescente
E fazia carrancas ao destino,
Aí, oh meu país inocente
E pequenino,
Era eu que era mais divino
Ou era Deus que era mais menino?

1. Sim. Enquanto tu descias a este chão de pó, e afanosamente o modelavas (Génesis 2,7), eu subia em sonhos a escada de Jacob (Génesis 28,12), e às escondidas, comia o teu céu de pão-de-ló. Deslumbramento teu no sótão deste chão, quando, no lusco-fusco da vidraça, descobriste o meu pião enrolado na baraça. Deslumbramento meu, quando, distraído, brincava no teu céu, e quase escorregava pelo firmamento.
2. Valeu-me então um anjo que estava de passagem, e me deu a mão. Percebi depois que regressava do jardim do éden (Génesis 2,8), de regar a tua plantação (Isaías 61,3). Contou-me tudo. Falou-me de Abraão, de um rio que abriste no deserto (Isaías 43,19), da avenida florida que atravessa o mar a céu aberto (Sabedoria 19,7), da estrada traçada no deserto onde habitualmente andas a pé (Isaías 35,8), e sobretudo das flores que fizeste florescer em Nazaré (de natsar, florescer).
3. Fomos depois os dois até Jerusalém, e vimos-te a escolher no ribeiro manso as pedras trabalhadas na torrente (1 Samuel 17,40). Olhavas para elas demoradamente em tuas mãos deitadas, e só depois as adornavas com tinta cor de rímel (Isaías 54,11), e as sentavas carinhosamente à tua mesa, em tua casa, onde ardia e não se consumia uma sarça acesa (Êxodo 3,2).
4. Juntaram-se, entretanto, a nós milhares de anjos deslumbrados. Pus-me todo atento e parabólico, e pude ver o vento que o seu bater de asas produzia, e vi ainda que é essa energia que alumia as casas, muito mais do que qualquer rede de alta tensão ou parque eólico. Foi então que o anjo que comigo viajava me indicou um caminho hiperbólico (1 Coríntios 12,31).
5. Entrei nesse caminho. Mas rapidamente vi que não ia sozinho. Ias tu, Senhor, comigo. Chamava-se amor esse caminho aberto no deserto (Atos 8,26). Confesso que nunca tinha estado tão perto da água viva e tão perdido no meio do sentido (Atos 8,36). Tão refém deste Deus nascido em Belém.

Mesa de palavras: NÓS OS DOIS
D. António Couto, Bispo de Lamego (25-12-2014)
[Imagem: Tela: Natività (1650), de Carlo Maratta Igreja São José dos Marceneiros, Roma]

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Adeste Fidelis

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihKb9nJpeMqotJtYo1i4whgoFMOa3KeGd3sPXSmBmpDD5H77Kwxb9Hh0bTAO8VAo4Zvm7RCd35kRIo29GlRJcYX2mrtYlBLmkto1tjewpJe3xKHAM3MOElerlbAfyul_avcp0Nw8CqOKA/s1600/Adeste_Fidelis.jpg

ADESTE FIDELIS
Hino Português tocado em todo o mundo no Natal.

"Adeste Fideles" é o título do chamado "Hino de Natal Português", escrito pelo Rei D. João IV de Portugal. Foram achados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no seu palácio de Vila Viçosa.

Muitos outros atribuem a autoria desse hino a John F. Wade, que não pode ter composto a obra, já que o seu manuscrito data de 1743. O mais provável é que Wade tenha traduzido o Hino Português, como era chamado em Londres na época e ficado com os louros.

D. João IV de Portugal, “O Rei Músico” nascido em 1604 foi um mecenas da música e das artes, assim como um sofisticado autor; foi também compositor e durante o seu reinado possuiu uma das maiores bibliotecas do mundo. A primeira parte da sua obra musical foi publicada em 1649.

Fundou uma escola de música em Vila Viçosa de onde saíam músicos para Espanha e Itália e foi aí, no seu palácio, que se acharam dois manuscritos desta obra. Esses escritos (1640) são anteriores à versão de 1760 feita por Wade.

De entre os seus escritos podemos encontrar “Defesa da Música Moderna (Lisboa, 1649) ano em que o Rei D. João IV lutou contra o Vaticano para conseguir a aprovação da música instrumental nas igrejas.


Clicar:
http://www.youtube.com/watch?v=u7JkQEiOVKI

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Para dizer junto à manjedoura



Que teus olhos, Menino, ensinem largueza
e altura aos meus olhos

Que teus olhos curem os meus
da fadiga e dos seus filtros

Que teus olhos desimpeçam a visão
fragmentária, parcial e indecisa

Que teus olhos devolvam aos meus olhos
o vento azul da viagem e a sua alegria
Devolvam o real como anel aberto
em vez dos círculos obsidiantes e fechados
Devolvam o aberto como imagem
e programa

Que teus olhos, Menino, ensinem aos meus
o seu natal

José Tolentino Mendonça

sábado, 20 de dezembro de 2014

Orgulho, o outro lado da ignorância



Os orgulhos feridos são perigosos. A pessoa torna-se quase insuportável, carrega em si mil ressentimentos, todos (d)escritos no livro dos ódios e dos rancores...
O orgulho, a vaidade e a soberba andam quase sempre juntos. São os superiores aliados da ignorância! O orgulhoso coloca-se a si mesmo acima da realidade. Mas, não só se julga superior aos outros como ainda deseja que eles partilhem dessa mesma opinião, ou seja, que todos pensem que ele é o melhor! Mais ainda, por se julgar o assim o suprassumo, considera poder tratar os outros como seus inferiores!

O orgulhoso é uma realidade fantasiada... de si mesmo! Não se conhece! É um ignorante de si próprio, o que é a pior ignorância.

O orgulho vê a humildade como uma humilhação.

A vaidade serve-se muitas vezes da caridade, da generosidade e da bondade. Estraga-as. Porque as faz esgotarem-se em si mesmas, na medida em que os destinatários das boas ações são meros meios e não fins. Não se procura o bem do outro, mas apenas a servir-se dele para conseguir algo para si mesmo. Egoísmo simples, com uma volta a mais. Mas, claro, os próprios, nunca se dão conta disto!

Na verdade, não há pessoas altivas e pessoas humildes. Todos somos arrogantes. Os humildes são os que sabem que o são e querem deixar de sê-lo, enquanto os arrogantes são os que acham que são humildes e por isso não nada fazem!!

Raiz de todos os vícios, o orgulho, é uma maldade tremenda na medida em que impede quem lhe dá vida de contemplar a beleza e a bondade do mundo e dos outros. O orgulhoso julga-se tão único quanto sublime... o mundo e os outros são-lhe indiferentes e, por isso, os despreza.

A vaidade enraíza-se na ideia de que a aparência é o mais importante. Deseja-se viver no pensamento dos outros, como uma entidade divina.

A fome de aplausos leva muita gente a esconder (até de si mesmo) a sua autenticidade, remetem a uma treva inquietante a verdade sobre si. Quando buscam o agrado a todo o custo, mentem até a si mesmos. Constroem torres altas, e lá vivem, no alto, acima de tudo, sozinhos com o seu egoísmo. Por vezes caem lá do topo... e magoam-se. Muito.

Cuidado. Os orgulhos feridos são perigosos. A pessoa torna-se quase insuportável, carrega em si mil ressentimentos, todos (d)escritos no livro dos ódios e dos rancores, e, às vezes, explode em manifestações da mais requintada e fria vingança. Enfim, a mais triste das amarguras.

A soberba é sempre triste e desassossegada, uma ansiedade em relação ao que os outros sentem, pensam e imaginam, o que dizem e o que podem dizer sobre nós…
Todos temos uma origem humilde e mais vale ser estimado por aquilo que se é, do que ser admirado pelo que se parece...

Há também a falsa humildade, que é a de quem se finge menos do que é para assim se desculpar para não cumprir o seu dever. A verdadeira humildade é audaciosa e não encolhida, é generosa e não cobarde. Os humildes não são os tímidos, mas os artífices das grandes obras, precisamente porque se sabem pouca coisa e, por isso, são capazes de aprender e de arriscar, sem receio da opinião alheia ou do fracasso.

Quem julga bastar-se a si mesmo não admira nem estima nada além disso, não julga sequer necessário criar ou permitir que nasça em si nada de novo e melhor.... afinal, considera-se mesmo perfeito!

É essencial estar atento ao que nos rodeia. O mundo é cheio de alegria, beleza e bondade! É preciso esvaziarmo-nos nós mesmos, darmos o que temos e somos, abrirmo-nos ao mundo, aos outros e ao que de melhor, assim, nasce em nós!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acolhimento amigável



"A alegria é um dom que me visita na surpresa do não anunciado. E nesse sentido tenho de viver em hospitalidade. O meu coração é uma soleira, uma porta entreaberta. A minha vida vive do acolhimento amigável. Temos de adquirir uma porosidade, deixarmo-nos tocar, deixarmo-nos ligar pelo fluxo reparador da vida.

Em vez de crescermos na severidade, na intransigência, na indiferença, no sarcasmo, na maledicência, no lamento, caminhemos suavemente no sentido contrário, cresçamos na simplicidade, na gratidão, no despojamento e na confiança".

José Tolentino Mendonça, in "Cultivar a alegria de cada dia"

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Aprender a ir mais longe



A Susana Réfega atualmente é paroquiana em São Julião da Barra e mãe de uma menina da catequese. Vale a pena ler!


Aprender a ir mais longe, a ser mais pessoa e a crescer na fé!

Foi no seio da sua família que Susana Réfega despertou para a fé, “de forma natural” pois a sua família era “comprometida com a Igreja, nomeadamente na vida paroquial na Paróquia de Nossa Senhora da Purificação, em Oeiras”.

Despertar para a fé no seio da família

A sua mãe sempre esteve muito envolvida nas atividades paroquiais e foi catequista e coordenadora da Catequese durante muitos anos. “Do meu pai recebi ao longo de toda a sua vida um testemunho de vida, muitas vezes silencioso e sem excessivas palavras, mas de simplicidade e coerência nas atitudes”, diz-nos. Também a sua irmã mais velha foi um exemplo “importante de como ser jovem e crescer na sociedade mantendo uma coerência de valores e escolhas”.

“Bebendo” de várias correntes e espiritualidades

Durante a sua infância, adolescência e juventude teve vários exemplos e espiritualidades a marcar o seu caminho, optando sempre por não se integrar em nenhum movimento ou grupo. “Assim, fui "bebendo" e sendo inspirada por várias correntes e espiritualidades”, conta. Em criança, recorda que os Missionários Combonianos a marcaram através dos seus testemunhos nas missas dominicais, principalmente pela sua “radicalidade, ousadia e paixão pela missão e por África”. Diz-nos que foram talvez os primeiros a despertar o seu “imaginário africano”. Já no liceu, partilha que “a beleza da liturgia e da oração de Taizé ensinaram uma outra forma de rezar, feita de poucas palavras”. Já na Universidade, dois “universos” cruzaram os seus dias e a marcaram: “Por um lado a espiritualidade inaciana, através do CUPAV, onde encontrei uma grande liberdade de pensamento e horizontes onde se cruzavam a fé, a ciência e a procura da justiça. Em simultâneo, através de um livro, conheci a vida de Charles Foucault e, mais tarde, vi esse sonho materializado ao conhecer as fraternidades das Irmãzinhas de Jesus onde encontrei uma alegria indizível e uma verdadeira pobreza.” Ao longo do seu percurso, afirma que sempre gostou de “cruzar diversos ambientes, contextos, pessoas e o meu grupo de amigos próximos sempre contou com ateus e agnósticos que me ensinaram a ir mais longe, a ser mais pessoa e (talvez sem o saberem) a crescer na fé”.

A missão desperta na sua vida

Partilha a sua primeira experiência de missão: “Diria que a minha primeira "experiência de missão" foi curiosamente fora da Igreja. Ainda no liceu integrei um grupo local da Amnistia Internacional e encontrei, na luta pelos Direitos Humanos, um terreno de missão que me ensinou a assumir responsabilidades (algumas bem áridas como escrever à mão cartas e cartas para decisores políticos espalhados pelo mundo!), a não esperar resultados imediatos, a compreender que cada pequeno gesto conta, mas também que a missão passa por compreender a(s) realidade(s) de forma mais profunda.” No Verão de 1992, após um ano de preparação com o GAS’África da Universidade Católica para partir para Luanda, o grupo teve de ficar em Portugal por questões de segurança. Passaram o verão no Bairro da Serafina, mas afirma que “a experiência não poderia ter sido mais marcante.” Os seus dias foram “assentes em fortes momentos de oração” e pôde descobrir uma realidade social que desconhecia e que considera “dura e heroica” As suas missões ao longo da vida tiveram sempre estas duas experiências como base. Em 1997 partiu para Benguela (Angola) com os Leigos para o Desenvolvimento. Deixou família e namorado (atualmente seu marido) e partiu “cheia de entusiasmo, pois tinha chegado enfim o momento esperado, sonhado, rezado ao longo de uma vida”. Esteve quase dois anos em missão, ainda num contexto de guerra civil em Angola, considera que descobriu a fé “daqueles que, tendo perdido tudo, mantinham a esperança e estranhamente a alegria. No encontro com o outro e com uma cultura, que desde o primeiro momento me apaixonou, descobri as minhas fragilidades, as minhas limitações mas também um verdadeiro sentido de missão na procura da justiça social.” Voltou à Europa e sentiu-se perdida, sem saber que direção tomar. Regressou à sua formação de origem (Medicina Veterinária) e já em Paris (onde se encontrou com o seu namorado), concluiu o doutoramento em parasitologia. No entanto, diz-nos com emoção que não conseguiu mais calar dentro de si “esta paixão pelo trabalho em prol do desenvolvimento nos países mais pobres e em particular em África.” Deixou a Veterinária e começou a trabalhar em organizações não governamentais internacionais e a acompanhar projetos em vários países africanos. “Primeiro, tendo como base Paris e, mais tarde, durante cinco anos em Londres, onde trabalhei na CAFOD (Caritas Inglaterra) e aprendi muito do que hoje sou profissionalmente”, diz-nos.

Sonho de uma vida entregue à missão

Ao terminar a nossa conversa conclui que “hoje, passados alguns anos, já casada e mãe de três filhos, enquanto Diretora da FEC, continuo a perseguir o sonho de uma vida entregue à missão, ao desenvolvimento e à justiça. Com uma fantástica equipa de mulheres e homens, comprometidos e profissionais, todos os dias, passo a passo, com projetos sérios e ambiciosos procuramos gerar mudança. A mudança que o Evangelho nos propõe e de que todos somos responsáveis”.

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação

sábado, 13 de dezembro de 2014

Cristiano Ronaldo, o melhor dentro e fora do campo



Cristiano Ronaldo volta a ser notícia em todo o mundo depois de mais um gesto incrível em Espanha.

O craque português escreveu cartas a três jovens espanhóis, que atravessam grandes dificuldades.

Um tem de ajudar a mãe numa cadeira de rodas, outro perdeu recentemente o pai, e o terceiro esteve às portas da morte devido a um erro médico.

Kátia Aveiro, irmã de Ronaldo, esteve no programa onde foram lidas as cartas de CR7.

O melhor do mundo dentro e fora do campo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O quarto Rei Mago



Como toda a gente sabe, os três reis magos ofereceram presentes ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Nossa Senhora e S. José agradeceram. Mas o Menino piscou os olhos com o brilho do ouro, começou a tossir com o cheiro do incenso; e não achou graça nenhuma à mirra. Os três reis, que se tinham ajoelhado, levantaram-se e foram-se embora pouco satisfeitos, porque o Menino os não tinha tratado com a consideração a que achavam que tinham direito.

Já eles iam longe, quando apareceu o quarto rei. Este rei vinha do Golfo Pérsico. No dia em que tinha visto a estrela que anunciava o nascimento do Messias, dispôs-se logo a partir. Foi à câmara subterrânea onde guardava os seus tesouros, abriu um cofre e retirou aquilo que tinha de mais valioso, três pérolas muito grandes e muito brancas. Mandou ajaezar o seu camelo mais forte e partiu na direcção da estrela.

Alguns dias depois, viu o presépio, mesmo por debaixo da estrela. O pior é que chegava atrasado, os reis seus colegas até já se tinham ido embora. E, pior ainda, já não tinha presentes…
Mesmo assim, abriu devagarinho a porta da cabana. Lá estavam, o Menino, sua Mãe e S.José. Começava a ficar escuro. S. José ajeitava a palha para se deitarem. O Menino Jesus estava ao colo de Maria, que o embalava, cantando em surdina uma canção.

O rei do Golfo Pérsico entrou a medo, e ajoelhou aos pés do Menino e de sua Mãe. Com ar envergonhado, começou a falar:

«Senhor, cheguei atrasado. Vejo que os meus colegas já Te prestaram as suas homenagens, já Te ofereceram os seus presentes, e já partiram.

Eu também Te trazia uma prenda: eram três pérolas muito grandes e muito bonitas, três pérolas verdadeiras, do mar do Golfo Pérsico.

Peço muita desculpa. Sabia que os outros reis vinham à minha frente, e tinha a certeza de que os ia apanhar. Mas entrei numa estalagem para jantar. Bebi um bocadinho de mais e apeteceu-me ficar lá nessa noite. Mas ao sair da sala de jantar, vi um velho estendido no chão ao pé da lareira e a tremer de febre. Ninguém sabia quem ele era, não tinha dinheiro e iam pô-lo na rua.

Senhor, era um velho muito velho, magro e macilento, com uma barba branca mal tratada. Fez-me lembrar o meu pai. Senhor, desculpa-me: peguei numa das três pérolas que eram para ti e dei-a ao dono da estalagem para que chamasse um médico, desse comida e alojamento ao velho, e o enterrasse de maneira digna se ele não resistisse à doença e morresse.No dia seguinte, retomei o caminho. Batia no meu camelo para ver se ele andava mais depressa e alcançava os meus amigos. Mas ao passar num desfiladeiro ouvi gritos. Eram salteadores que queriam fazer mal a uma rapariga. Eram muitos e eu não tinha possibilidade de os atacar e vencer. Gritei-lhes que lhes dava uma pérola muito grande se soltassem a rapariga. Quando viram a pérola, disseram logo que sim. Deixaram a rapariga , que fugiu a correr para os montes. E eu dei-lhes a pérola, que era para ti. Desculpa-me!

Já só tinha uma pérola, mas essa não a queria perder. Já passava do meio-dia, e eu obrigava o meu camelo a andar cada vez mais depressa. Passei então por uma aldeia. Estava cheia de soldados de Herodes, que procuravam os meninos de menos de dois anos e os matavam à espada. Já só restava um e iam deitá-lo a uma fogueira. A mãe da criança gritava e chorava, como se a estivessem a matar a ela. Senhor, desculpa-me, peguei na última pérola e dei-a aos soldados para que entregassem o miúdo à mãe. Eles aceitaram. A mulher nem me agradeceu. Pegou no filho, vivo, e fugiu a correr muito.

Senhor, já não tenho pérola nenhuma. Desculpa-me!»

O rei calou-se. Não se ouvia zumbir uma mosca. Prostrado no chão, ousou finalmente levantar a cabeça. S. José tinha acabado de ajeitar a palha e aproximava-se. Maria olhava fixamente para Jesus, ao seu colo. E o Menino, será que estava a dormir?

Não. O Menino Jesus não estava a dormir. Voltou a cabeça para o rei do Golfo Pérsico. Tinha um ar muito contente. Estendeu as mãozinhas para as mãos vazias do rei. E sorriu-lhe.

JOANNES JOERGENSEN, in Contes de Noël, Éd.du Seuil,1961. (Adaptação)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Andar contracorrente

[sem+título+-+Imaculada+Conceição+-+b.JPG]

Papa Francisco pede à Imaculada Conceição que a Igreja possa «andar contracorrente»

O papa Francisco rezou ontem diante da imagem da Imaculada Conceição localizada na Praça de Espanha, em Roma, pedindo-lhe que os cristãos se comportem «contracorrente» durante o tempo do Advento, que antecede o Natal. A tradição desta oração radica na definição do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, que se assinala a 8 de dezembro, formulação que foi definida em 1854 pelo beato papa Pio IX. Três anos depois, a 8 de setembro de 1857, o papa abençoou e inaugurou o monumento da Imaculada na Praça de Espanha. Mais tarde, o papa Pio XII começou a enviar flores para a imagem. Em 1958, S. João XXIII recolheu-se na Praça de Espanha e depôs aos pés do monumento um cesto de rosas brancas. A seguir o papa visitou a basílica de Santa Maria Maior. O costume prosseguiu com os papas beato Paulo VI, S. João Paulo II e Bento XVI.

Texto da oração de Francisco diante da imagem da Imaculada Conceição:

«Ó Maria, Mãe nossa, hoje o povo de Deus em festa venera-te, Imaculada, preservada desde sempre do contágio do pecado. Acolhe a homenagem que te ofereço em nome da Igreja que está em Roma e no mundo inteiro.

Saber que tu, que és nossa mãe, és totalmente livre do pecado dá-nos grande conforto. Saber que sobre ti o mal não tem poder enche-nos de esperança e de fortaleza na luta quotidiana que nós devemos realizar contra a ameaça do maligno.

Mas nesta luta não estamos nós, não somos órfãos, porque Jesus, antes de morrer na cruz, deu-nos a ti como mãe. Nós, por isso, ainda que sendo pecadores, somos teus filhos, filhos da Imaculada, chamados àquela santidade que em ti resplandece pela graça de Deus desde o início.

Animados por esta esperança, nós hoje invocamos a tua materna proteção por nós, pelas nossas famílias, por esta cidade, pelo mundo inteiro. O poder do amor de Deus, que te preservou do pecado original, por tua intercessão livre a humanidade de toda a escravidão espiritual e material, e faça vencer, nos corações e nos acontecimentos, o desígnio de salvação de Deus.

Faz com que também em nós, teus filhos, a graça prevaleça sobre o orgulho e possamos tornar-nos misericordiosos, como é misericordioso o nosso Pai celeste. Neste tempo que nos conduz à festa do Natal de Jesus, ensina-nos a andar contracorrente: a despojarmo-nos, a abraçarmo-nos, darmo-nos, a escutar, a fazer silêncio, a descentrarmo-nos de nós mesmos, para deixar espaço à beleza de Deus, fonte da verdadeira alegria.

Ó Maria nossa Imaculada, ora por nós!»




segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Aprendamos da Virgem Maria



"Aprendamos, da Virgem Maria, a ter mais coragem para seguir a Palavra de Deus". 

[Papa Francisco. Twitter. 08 de dezembro de 2014]

sábado, 6 de dezembro de 2014

Agradecer apenas



Senhor, hoje quero apenas agradecer-te por todas a bênçãos que derramas sobre mim, sem nenhum mérito meu, como a chuva que ao cair beija a terra e abençoa-a para que possa dar frutos.

Agradeço-te por quereres construir na minha fragilidade, transformando as minhas limitações em metas, pintando, com o sol, os estados cinzentos e chuvosos da minha alma em coloridos arco-íris, iluminando as minhas trevas com estrelas cintilantes e serenando os mares tempestuosos do meu ser com a tua brisa de esperança.

Agradeço-te por todas as pessoas que pões no meu caminho, sinais da tua presença nos meus dias, que sendo instrumentos do teu amor, me conduzem a ti.

Agradeço-te pelo muito ou pelo pouco que me dão, pelo muito ou pelo pouco que me ensinam e pelo muito ou pelo pouco que me amam.

Em cada uma delas está uma lição, um reflexo da tua bondade, uma centelha da tua luz, um eco da alegria da tua boa nova, um abraço da tua misericórdia, a chama do teu amor e um esboço da tua compaixão.

Com eles aprendi que só o amor faz renascer e que até um coração empedernido amolece perante a perseverança, a bondade, e a fidelidade do teu amor.

Renasce hoje, outra vez, em mim, Senhor, para que o amor que já não consigo conter no meu peito, transborde nas lágrimas que choro e na alegria que irradio ao contemplar as maravilhas da tua criação. Ilumina  o meu sorriso e salga as minhas palavras para que, também eu, possa tocar os corações daqueles que, como eu, em tempos, estão perdidos e não sabem onde encontrar-te.

Ensina-me a ser instrumento do teu amor para que nesta dádiva que é a amizade, também eu, saiba dar de graça aquilo que recebi de graça.

Raquel Dias
in iMissio

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Advento, tempo de espera


Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazareth principiou.

Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como "nascimento", "criança", "rebento".

Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá.

Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.

Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.

Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.

Advento, tempo de se perguntar: "há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?"

Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente.

Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.

Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus.



P. José Tolentino Mendonça

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O egoísmo é um medo de amar



Há quem chame amor ao impulso básico da paixão fulminante, que na atração física possessiva, quase incontrolável, procura satisfazer-se, consumir-se e saciar-se...

O amor pode chegar ao nosso coração vindo do céu... mas nunca serve para nós mesmos. Devemos fazê-lo chegar a quem dele precisa, amando com um único fim: a felicidade daquela pessoa concreta.
Há quem chame amor ao impulso básico da paixão fulminante, que na atração física possessiva, quase incontrolável, procura satisfazer-se, consumir-se e saciar-se...

Há também quem pense que o amor é uma alegria, que resulta da união de duas vontades que procuraram estar juntas e que partilham momentos, esperanças, dores e sonhos. Sendo que, aqui, segundo dizem, só há amor se os dois desejos se encontrarem em sintonia. O amor será então, para estas pessoas, algo que não existe completo em ninguém, que só existe quando dois anseios concorrem para o mesmo fim. Será pois algo que resulta de uma troca, de uma dupla entrega de um ao outro, sendo que quando uma das partes falha tudo perde o sentido e valor.

Mas talvez o verdadeiro amor seja algo diferente. Não visa satisfazer-se, nem procura qualquer retorno. É desinteressado, gratuito e dá-se sem condições. Só esta pureza é capaz de criar verdadeira felicidade a quem o recebe... e uma outra, talvez ainda mais profunda, a quem tem coragem de o escolher, viver e dar.

É preciso muita coragem para amar. Mas, depois, o amor vence sobre todos os medos!
Os egoístas têm medo de amar. Julgam que se bastam a si mesmos e que os outros são apenas seus instrumentos de prazer. Exigem tudo dos demais, abrem as suas portas apenas para receber. Mas nunca são felizes, porque ainda que lhes entreguem tudo, isso será sempre pouco... um breve sorriso de pequena satisfação e logo fazem uma exigência maior. Mas quem não é capaz de dar, também não consegue receber, desconhecem pois a felicidade de ser amados. Julgam que ser forte não é levantar o outro, mas derrubá-lo... nem sonham o que é o amor.

Os egoístas são cobardes. Usam as pessoas, fogem dos compromissos. Assusta-os o perigo de amar. O ridículo e o fracasso, suspeitam de mil males, sem nunca se darem conta que alguém assim é sempre vítima de si mesmo. Incapazes de compreender que só a vida que é vivida para os outros faz sentido. Que só pelo amor se chega à felicidade profunda e verdadeira, àquela que longe dos prazeres do momento, se ergue mais alta que o céu.

O egoísmo é uma espécie de paixão que se vai apoderando da pessoa. Desconfia-se de tudo. Teme-se o futuro. Chora-se até, pela frustração do mundo e dos outros não compreenderem a necessidade enorme que se sente de ser levado até à felicidade. Mas o egoísta não faz mais nada senão esperar que alguém generoso o venha servir.

Julgam que guardando o amor que há no seu coração para si mesmos, nada sofrem e tudo gozam. Quando, na verdade, assim vivem o maior dos sofrimentos: uma vida sem amor.

Nada vem ao acaso, nada existe sem causa. Se existe amor em nós, é para que amemos de verdade... para que a felicidade que despertarmos nos que amarmos, transborde e que, com ela, consigamos amar ainda mais.

Claro que ninguém é obrigado a fazer coisas impossíveis. Mas, na verdade, será que há coisas impossíveis? Quem ama, acredita!

Todos os dias morremos, nascemos e devemos amar.

O tempo da nossa vida é precioso, porque nada é mais veloz que os nossos anos. Depois da noite que a todos espera, nem as montanhas nem mar ficam... apenas o amor de que tivermos sido capazes.

José Luís Nunes Martins

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...