sábado, 31 de março de 2012

Deus está aqui

deus está aqui - coluna filosofias

Quase sempre se reza no vazio, onde sem luz e num silêncio próprio de um deserto, quase nada se vê, ou se deixa ouvir. Esta ausência de resposta acaba por alimentar muitas vezes o temor de que possamos estar, afinal, tremendamente sós.
Mas promover o bem de alguém não passa por estarmos onde essa pessoa nos veja, ou onde só nos consiga ouvir, e, muito menos ainda, que tenhamos de lhe falar constantemente.
A fé é a evidência do que não se vê, mas é também a desconfiança que faz tremer a terra que nos segura os pés. Nunca foi nem será uma apólice contra todas as dúvidas, desgostos e sofrimentos.
Com fé, e por breves momentos, podemos sentir como que uma brisa na face e aprender que existem forças que não se vêem. Afinal, o vento, tal como o amor, não se conhece senão pelo que faz. Nunca ninguém o viu, mas também nunca ninguém o pôs em causa.
Só se ama verdadeiramente em silêncio. Mesmo quem não se pode ver. Mesmo quem não se consegue ouvir. Ama-se com o que está aquém das palavras.
Deus não é o herói de nenhum conto de fadas. Está aqui, mesmo que ninguém o veja. Sempre por perto, mesmo de quem não acredita. No silêncio onde paira a certeza de que nos amará até ao fim, ou seja, para sempre.
Viveu, morreu e ressuscitou. Mas ressuscitar não é simplesmente voltar a este mundo, é viver para sempre num outro de que este faz parte.

Investigador

sexta-feira, 30 de março de 2012

Ainda não acabei



Alguém perguntou-me:
- "Que pensas fazer hoje?"
- "Ser feliz", respondi.
E de imediato a pessoa reagiu:
- "Mas isso foi o que fizeste ontem!"
- "Sim, mas ainda não acabei."
.

sábado, 24 de março de 2012

Crónica do desassossego

Desassossego

O homem é do tamanho do sofrimento que for capaz de suportar por amor. Quando assim é, a chama da esperança que ilumina os sonhos não pode ser apagada por inverno algum. Quanto maior o sofrimento, maior será o interior de quem o experimenta, mais espaço passando a haver para acolher a alegria pura dos dias que estão para vir.
A solidão da dor aperfeiçoa o indivíduo na medida em que lhe permite aprofundar-se a partir dessa ferida que à superfície o faz gritar.
O sofrimento robustece o esqueleto e mantém o espírito humano erguido. Por vezes, resulta das nossas escolhas, não necessariamente das más, pois, muitas vezes, é o caminho do bem que tem o preço mais elevado. Outras vezes, resulta de escolha alheia. Outras ainda, de escolhas nenhumas. Em qualquer dos casos é a prova da humildade.
As lágrimas da solidão, que sempre acompanham quem sofre, podem ser sinal de esperança. Como se um grito sofrido quisesse relembrar ao mundo que é possível ser-se melhor.
Por amor, não se sofre em vão. Se amar é dar-se, também pela dor aperfeiçoamos o que somos. As mágoas vão cavando cada vez mais fundo e engrandecendo um interior que a luz do amor encherá de graça. A dor é a tela onde o amor se pinta.
As dores parecem sempre eternas. O tempo magoa. Mas só as lágrimas de quem ama têm sentido, caindo sempre em busca das raízes da fé que dá a salvação.

Investigador
in http://www.ionline.pt/opiniao/cronica-desassossego

sexta-feira, 23 de março de 2012

Quaresma, tempo de alegria



A Quaresma chegou e com ela a graça especial da conversão e o regresso a Deus e ao seu plano de amor. Uma das grandes características deste tempo litúrgico é a alegria. Sim, é verdade. Longe de nós associarmos esse tempo à tristeza, ao remorso, à acusação.

Quaresma é tempo de conversão e, por isso mesmo, tempo de intensa alegria.

Alegria por mais uma oportunidade que Jesus e a sua Igreja nos concedem para mudarmos de vida.

Alegria por podermos viver unidos a Cristo por meio do jejum, da oração e pela caridade que nos une a Deus e ao próximo.

Alegria porque iniciamos nossa caminhada rumo a Páscoa do Salvador.

Alegria pela Palavra de Deus que na liturgia diária nos fará refletir e meditar sobre como vievemos o nosso Batismo e o compromisso com Cristo e a Igreja.

Alegria ao receber o sacramento da Reconciliação, onde temos a a paz e a alegria interior restauradas, porque fomos curados e redimidos no Sangue precioso de Cristo.

Que o Espírito Santo nos encha de alegria nesta Quaresma, dessa alegria que emana do encontro com Cristo morto e ressuscitado e da experiência do perdão e do amor de Deus na nossa vida, dessa alegria que traz ao nosso coração a esperança que nos faz perseverar até o fim.

«Tu, porém, quando jejuares, perfuma a cabeça e lava o rosto,
para que o teu jejum não seja conhecido dos homens,
mas apenas do teu Pai que está presente no oculto;
e o teu Pai, que vê no oculto, há-de recompensar-te.»
(Mt 6, 18)

quinta-feira, 22 de março de 2012

Só Tu tens palavras de vida eterna! (Jo 6, 68)



Filho / a,

"Conheço-te desde que nasceste: Já antes, quando estavas no seio da tua mãe! Tu, talvez não te tenhas dado conta, mas sempre estive contigo, nunca te abandonei! Como o poderia fazer, se tu és a minha melhor obra, a minha alegria e companhia, o meu filho, a minha filha, em quem se deleita o meu Espírito? Sim, sim, não posso deixar de pensar em ti, emociono-me, só de pronunciar o teu nome. Gostaria tanto que acreditasses no quanto te amo!

Enfim, se me conhecesses bem já saberias que o meu ser é amar e dar vida. Não sei fazer outra coisa; por exemplo, não sei odiar nem guardar rancor contra alguém. Como o sol dá luz e calor, eu dou vida e amor. É o que sei fazer. É o que sou e o que quero fazer. Sem nunca me cansar, porque Eu sou amor.
Antes de criar o mundo já sonhava contigo. Sabes que não há ninguém igual a ti, nunca houve, nem haverá? Não te quero perder porque és um exemplar único! Ninguém antes de ti olhou as coisas com os mesmos olhos que tu as vês. Ninguém me ajudará no que tu me podes ajudar e da maneira que tu o podes fazer. Ninguém me amará com o amor que coloquei no teu coração.
Quanto desejo que acredites em Mim! Que me dizes?

Sou Eu Aquele que sustém o teu alento para que respires. Não tenhas medo que Eu vou contigo.
Não sabes que alegria tive quando te ouvi pronunciar a primeira palavra! Pensei para comigo: já despertou a sua inteligência! Pensei feliz: poderá ajudar a cuidar a vida e melhorá-la. Infundirá ânimo num amigo. Colocará um tijolo. Cozinhará um petisco para os amigos. Criará um poema. Beijará com ternura um amor. Reparará um motor. Cuidará um jardim. Lançará trigo à terra. Espalhará alegria. Perdoará como Eu. Combaterá abusos. Acenderá nalguém a emoção do enamoramento. Cuidará um doente. Levantará um caído. Construirá a comunhão. Semeará gratidão. Sairá de si mesmo e organizar-se-á. Amar-me-á. Dará à luz novas ideias. Amará. Saberá pedir perdão.
Aprenderá de todos. Será humilde. Chorará por amor e por justiça. Cantará. Resistirá.

Já fizeste muito disso: não sabes quanto to agradeço! Não duvides das imensas alegrias que me dás!
Preciso da tua ajuda. Para o meu projecto necessito urgentemente de amigos, amantes, embaixadores, companheiros, apóstolos, filhos, trabalhadores. Necessito de gente que como Eu queira colaborar na criação da grande família humana. Uma família na qual ninguém domine a ninguém. Uma família que respeite e potencie o crescimento de todos. Una família na qual os pobres, os que estão tristes, os fracassados, os desprezados, os débeis se vejam valorizados e escutados, se vejam respeitados e assistidos.

Para construir a minha família preciso de irmãos.
Queres vir comigo? Posso contar contigo, amigo, amiga?
Deixar-te-ás acompanhar e guiar por mim dia a dia?
Olha para Jesus, e saberás descobrir os meus caminhos. Os teus melhores caminhos.
Aproxima-te de Jesus, e serás uma nova criatura.
Responde-me. Ainda que não me digas que sim a tudo, ou a nada, amar-te-ei de igual forma.

Um abraço imenso do teu Pai, amigo, mãe, servidor, admirador, irmão, de Deus que quer ser o teu Deus, do teu pobre que te chama, do teu menino, da tua rocha firme, do teu passado e do teu futuro, do teu Redentor, do teu acompanhante fiel. Um abraço transbordante de ternura, de respeito, de entrega sem reservas... e de emoção esperando a tua resposta."

Ordem dos Padres Carmelitas descalços em Portugal

quarta-feira, 21 de março de 2012

Quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz



Ao viajar pelo Oriente, mantive contatos com monges do Tibete, da Mongólia, do  Japão e da China. Eram homens serenos, comedidos, recolhidos e em paz nos seus mantos cor de açafrão.  Outro dia, eu observava o movimento do aeroporto de São Paulo: a sala de espera cheia de executivos com telefones celulares, preocupados, ansiosos, geralmente comendo mais do que deviam. Com certeza, já haviam tomado café da manhã em casa, mas como a companhia aérea oferecia um outro café, todos comiam vorazmente. Aquilo me fez refletir: 'Qual dos dois modelos produz felicidade?'

Encontrei Daniela, 10 anos, no elevador, às nove da manhã, e perguntei: 'Não foi à aula?' Ela respondeu: 'Não, tenho aula à tarde'. Comemorei: 'Que bom, então de manhã você pode brincar, dormir até mais tarde'.

'Não', retrucou ela, 'tenho tanta coisa de manhã...' 'Que tanta coisa?', perguntei. 'Aulas de inglês, de balé, de pintura, piscina', e começou a elencar seu programa de garota robotizada. Fiquei pensando: 'Que pena, a Daniela não disse: 'Tenho aula de meditação! Estamos construindo super-homens e super  mulheres, totalmente equipados, mas emocionalmente  infantilizados.

Uma progressista cidade do interior de São Paulo tinha, em 1960, seis livrarias e uma academia de ginástica; hoje, tem sessenta academias de ginástica e três livrarias! Não tenho nada contra malhar o corpo, mas me preocupo com a desproporção em relação à malhação do espírito. Acho ótimo, vamos todos morrer esbeltos: 'Como estava o defunto?'. 'Olha, uma maravilha, não tinha uma celulite!' Mas como fica a questão da subjetividade? Da espiritualidade? Da ociosidade amorosa?

Hoje, a palavra é virtualidade. Tudo é virtual. Trancado em seu quarto, em Brasília, um homem pode ter uma amiga íntima em Tóquio, sem nenhuma preocupação de conhecer o seu vizinho de prédio ou de quadra!

Tudo é virtual. Somos místicos virtuais, religiosos virtuais, cidadãos virtuais. E somos também eticamente virtuais...

A palavra hoje é 'entretenimento'; domingo, então, é o dia nacional da imbecilização coletiva. Imbecil o apresentador, imbecil quem vai lá e se  apresenta no palco, imbecil quem perde a tarde diante da tela. Como a publicidade não consegue vender felicidade, passa a ilusão de que felicidade é o resultado da soma de prazeres: 'Se tomar este refrigerante, vestir este  tênis,  usar esta camisa, comprar este carro,você chega lá!' O problema é  que, em geral, não se chega! Quem cede desenvolve de tal maneira o desejo, que acaba  precisando de um analista. Ou de remédios. Quem resiste, aumenta a neurose.

O grande desafio é começar a ver o quanto é bom ser livre de todo esse condicionamento globalizante, neoliberal, consumista. Assim, pode-se viver melhor. Aliás, para uma boa saúde mental  três requisitos são indispensáveis: amizades,  autoestima, ausência de estresse.

Há uma lógica religiosa no consumismo pós-moderno. Na Idade Média, as cidades adquiriam status construindo uma catedral; hoje, no Brasil, constrói-se um shopping-center. É curioso: a maioria dos shoppings-centers tem linhas arquitetônicas de catedrais estilizadas; neles não se pode ir de qualquer maneira, é preciso vestir roupa de  missa de domingo. E ali dentro sente-se uma sensação paradisíaca: não há mendigos, crianças de rua, sujeira pelas calçadas...

Entra-se naqueles claustros ao som do gregoriano pós-moderno, aquela musiquinha de esperar dentista. Observam-se os vários nichos, todas aquelas capelas com os veneráveis objetos de consumo, acolitados por belas sacerdotisas. Quem pode comprar à vista, sente-se no reino dos céus. Deve-se passar cheque pré-datado, pagar a crédito,  entrar no cheque especial, sente-se no purgatório. Mas se não pode comprar, certamente vai se sentir no inferno... Felizmente, terminam todos na eucaristia pós-moderna, irmanados na mesma mesa, com o mesmo suco e o mesmo  hambúrguer do Mc Donald.

Costumo advertir os balconistas que me cercam à porta das lojas: 'Estou apenas fazendo um passeio socrático.' Diante de seus olhares espantados, explico: 'Sócrates, filósofo grego, também gostava de descansar a cabeça percorrendo o centro comercial de Atenas. Quando vendedores como vocês o assediavam, ele respondia: "Estou apenas observando quanta coisa existe de que não preciso para ser feliz".

Frei Betto

segunda-feira, 19 de março de 2012

Pai de misericórdia



Eu sou teu filho, És meu Pai, misteriosa verdade
Nem mesmo um cabelo cai, se não for Tua vontade.
Cuidas de mim qual tesouro, sou mais que a ave, que o lírio.
É como se nesse mundo ninguém mais fosse Teu filho.

Para que me preocupar?
Tu te preocupas por mim.
O que comer? O que vestir? O Teu amor é assim.

Sei descobrir Teu sorriso cheio de pena e perdão,
Quando ouso olhar Teus olhos depois de cair ao chão.

E quanto mais sou pequeno, bem mais profundo é então.
O lugar que me ofereces, na casa do Teu perdão.
Tens por mim um tal amor, que as vezes eu imagino.
Tu não poderias ser, sem o meu ser pequenino.

Fonte de Misericórdia.
Ó Pai, Tu fonte bendita.
Não poderias ser fonte, sem minha sede infinita.
Precisamos um do outro.
Amor que amor atrai.
Eu de Ti para ser filho, Tu de mim pra seres Pai!

Pe. Antônio Maria

A vida é bela!

sábado, 17 de março de 2012

Lua - A beleza da criação


 

A Agência Espacial Norte-Americana (NASA) divulgou um vídeo onde mostra a evolução da lua ao longo de 4,5 mil milhões de anos.

As imagens, que dão conta de como a lua mudou para parecer o que é hoje, foram divulgadas no âmbito da celebração do milésimo dia do Lunar Reconnaissance Orbiter (LRO, Orbitador de Reconhecimento Lunar) da NASA.

«De ano para ano, a lua parece nunca mudar», afirma a agência espacial. «As crateras e outras formações [da lua] parecem ser permanentes, mas a lua nem sempre teve este aspecto».
«Graças ao LRO da NASA, hoje em dia temos um melhor entendimento da História da Lua», sublinha a NASA.

De acordo com o vídeo, as crateras explicam-se tendo em conta que o satélite natural da Terra foi atingido por vários asteróides de diferentes tamanhos.

Recorde-se que o LRO, que foi lançado para o Espaço em 2009, recolhe informações detalhadas sobre o ambiente lunar. A missão é parte de um projecto para expandir a presença humana no sistema solar, segundo o The Telegraph.

sexta-feira, 16 de março de 2012

O sonho de Caná


Foi quando finalmente acordei que me aconteceu este Sonho que me foi oferecido para te contar…
Senti-me em terra Palestina, nas pegadas do meu bem amado, sorvi o cheiro das amendoeiras e molhei os pés nas águas do Lago da Galileia. Fui levado lá por uma Promessa, pela palavra de um Anjo daqueles que nos saem ao encontro tantas vezes na vida… E esse Anjo, humaníssimo, tinha prometido que o meu Senhor havia de esperar-me na Galileia, que ele havia de nos preceder, a mim e aos meus irmãos, na Galileia… Olhou-me com olhos de homem e falou-me com palavras humanas: “Lá o vereis!”
E nunca pensei que “lá” fosse tão perto…
Saudou-me um jovem, leve, sereno, de olhos antigos… Chamou-me pelo nome, mas eu não tinha nome para lhe chamar. Perguntei-lho e ele sorriu apenas, dizendo que tinha por Nome um segredo trocado entre ele e o Pai num Abraço que eu ainda não seria capaz de decifrar…
Trazia ao ombro, para me oferecer, uma túnica longa e belíssima, tecida para a dança, tingida a cores de festa…
- “Chama-me como todos me conhecem – disse ele – aquele filho perdido que foi recuperado num abraço de Pai… Foi quando caí em mim que, finalmente, me levantei! Ergui-me na queda de mim mesmo, quando dei de caras com o mais íntimo de que era feito e fiquei exposto ao que tinha feito de mim… Mas foi outro olhar que me libertou… Um olhar de longe, apesar de estar tão próximo que vinha de dentro de mim, uns olhos de Pai que todos os dias assomavam à janela do meu coração à procura de uma nesga de regresso, de uma fresta por onde desse para me lançar a mão…
Ele via em mim, continuamente, não o que eu tinha para lhe mostrar mas o que ele tinha para me dar. Era cheio de Esperança o vislumbre dos seus olhos… Viu-me e recebeu-me tal como sou, sem uma palavra a mais, sem um gesto a menos…
Por pouco me passava a Vida ao lado… ou não fosse uma Graça o que me salvou…"
Peguei na túnica e guardei-a como sinal maior de Esperança e novo nascimento. Sabia que havia de chegar a altura de a vestir, mal ouvisse os primeiros acordes de Festa…
Levava a túnica sobre o ombro quando entrei num lugarejo de casas baixas. Ouvi de um lado da pequena praça um rumor de gente e vi-os chegar, juntos, transportando uma Mesa que colocaram no meio da rua sob a sombra de um carvalho. Sacudiram as mãos felizes e alguém me veio acolher entregando-me a toalha. Pousou-ma nas mãos e pediu-me, com doçura: “Põe-nos a Mesa, peregrino…”
Era grande a toalha, não me cabia, teve de ser estendida a muitas mãos, e todos se sentaram. Começaram a contar histórias das tantas vezes em que se tinham sentado assim à Mesa, ali mesmo, com o meu bem amado… Uns chamavam-no “Nazareno”, outros, “Senhor”; todos, “Amigo”.
“Sabes, peregrino – disse-me um deles – o nosso Povo espera a Salvação do Deus que nos senta à Sua Mesa para nos servir do Seu Banquete! O Nazareno estreou a Festa e disse que era para todos os povos e nações, tirou o véu que cobria a grande Mesa e fez festa connosco à volta das entradas. O Reino de Deus chegou, dizia… e começa à Mesa, a que Deus prepara para agradecermos pelos que amamos e para perdoarmos aos que ainda não fomos capazes.”
Enquanto eu via e ouvia estas coisas, senti-me conhecido e acolhido e pensei dentro de mim que ser salvo é ser amado desta maneira.
Pedi-lhes que me contassem mais histórias de Mesa com o meu Mestre, e eles contaram. Fizeram-me prometer que eu iria continuar a pôr a Mesa com os meus irmãos, que iria fazer isso com a memória deles, como o meu bem amado os tinha feito prometer uma vez, uma última vez, quando lhes pediu que fizessem isso com a memória dele.
E eu ainda perguntei: “Isso, o quê?!” E um disse, mais rápido que os outros: “Alargar a Mesa da Vida Partilhada e estender a muitas mãos um lugar de Esperança…”
Éramos muitos à Mesa, naquela hora em que eu juro que o tempo tinha parado, a Terra e o Sol estavam quietos a olhar para nós e a Criação inteira suspensa na visão do que acontecia por ali…
Alguém olhou por cima do meu ombro e saudou em voz alta: “Tiago! João! Sentem-se aqui!”
Ao meu lado disseram-me “São os filhos de Zebedeu… Andaram com o Senhor desde o princípio…”
E eu lembrei-me da história das redes largadas e dos “pescadores de pessoas”…
Quando se sentaram à Mesa, perceberam que eu estava. Saudaram-me… e, por causa de mim, começaram todos a fazer memória da lição das redes largadas para o desafio das redes alargadas… "É que – diziam eles – existem as redes que se têm nas mãos, e as redes que se formam com as mãos. As redes com que se ganha a vida, e as redes que se formam com a vida uns dos outros. Redes de peixes; redes de pessoas."
E eu, pela primeira vez, comecei a entender que pescar pessoas, na boca do meu bem amado, é um desafio à Comunhão, a construir uma rede de fraternidade em que as pessoas se sintam tocadas, acolhidas, perdoadas, agraciadas… Salvas!
Depois, fizeram memória das andanças com o Mestre: uma história cozida de perguntas, as mais essenciais, as que rasgam caminhos mais fundos dentro de nós… Onde moras? Quereis vir e ver? Quem sou eu para vós?
As crianças já não estavam à Mesa connosco, corriam à volta do tronco do carvalho, outras jogavam com uma espécie de peão, outras ainda faziam jogos andando de gatas entre os nossos pés debaixo da Mesa.
Nenhuma brincava sozinha.
À minha frente, um ancião que soprava as palavras pelo meio dos poucos dentes que ainda sobravam, disse-me com um sorriso luminoso: “O Nazareno dizia que o Reino de Deus é dos que são como elas… Ele tinha coisas…”
Já nos ríamos, enquanto os amigos do meu bem amado me contavam histórias engraçadas e me falavam do humor fino e espontâneo com que ele era capaz de olhar para as coisas, quando se aproximou e começou a servir-nos de uma água fresquíssima uma mulher muito bonita. O rosto dela era novo, a sua pele tinha um moreno diferente de todos os outros e o seu sotaque cantava de outra maneira as palavras… Percebi que era da Samaria e a visão do seu cântaro de barro fez-me viajar para tão longe dali, para a beira de um poço em que um diálogo enamorado havida de dar um sentido novo a todas as coisas… Ela fixou-me, serviu-me também, e pousou o cântaro junto a mim. Quase cantando, na beleza do seu sotaque e no desenho de uns lábios finíssimos, disse-me que era para mim. Um presente, aquele cântaro… E que um dia saberia que tinha chegado a hora de o deixar ficar para trás.
“Quando provares de uma Água Viva – disse-me ela – mais fresca e saborosa que a água de qualquer poço do mundo, perceberás que chegou a hora de abandonar o cântaro de todas as procuras e enamorares-te de tal maneira daquele que te der essa Água que ele será a direcção e o lugar de todas as procuras que ainda houver por fazer…
Quando eu me encontrei com o meu Amor – continuou a Samaritana – Pedro não viu com bons olhos aquela alegria e aquela intimidade que sacia todas as sedes… Veio a experimentá-lo também ele, mais tarde, quando muitos não encontraram no Mestre as respostas que queriam e o deixaram. Ficaram poucos discípulos nesse dia, e o Senhor virou-se para esses poucos e disse: “E vós, também quereis ir embora?!” Pedro, que também andava à cata em muitos poços diferentes e guardava o mapa de muitas esperanças diferentes, abandonou o cântaro nesse dia, quando lhe respondeu: “Para quem iremos, Senhor?! Só tu tens palavras de Vida”…
O silêncio tomou conta de mim, aquele silêncio quase poesia… E deixei-me ficar assim, recolhido na memória salvadora do meu Senhor, desejando amá-lo em cada procura, e ser-lhe fiel nos pormaiores do que é pequeno…
Levantou-se um vento manso que fazia dançar a toalha da Mesa e puxava para o bailado da Vida a túnica que no princípio desse dia me tinha sido oferecida… A Criação murmurava "Ruah… Ruah… Ruah…” E à mesa disseram um nome: “Cléofas! Cléofas, parte o pão…”
Não sabia que ele estava ali… Um daqueles dois companheiros que regressavam, pesados com o fardo da morte do meu bem amado, para Emaús… Cléofas era o nome de um deles, e estava ali.

Perguntei-lhe: “Amigo, porque ficou para sempre dito o teu nome, e não sabemos o nome do outro companheiro que descaminhava contigo para Emaús?!”
“Porque o outro és tu, peregrino – respondeu ele, fixando-me – o outro és tu e são todos os peregrinos da terra de quem o Senhor se faz companheiro de caminho! O Senhor é um andarilho, veste-se de vento e de forasteiro, abre-nos a vida e ilumina-nos o caminho com a luz das Inscrituras que a Palavra de Deus faz em nós…”

Cléofas disse tudo isto com um pão entre as mãos, cozido lá na aldeia. Partiu-o e passou-o para todos, como se naquele pão partido nos tornássemos um só corpo, e na hora em que ele partiu o pão e o deu, vi alguém levantar-se e começar a servir um vinho cheio de vida e vigor. Tinha estado ali o tempo todo, mas eu ainda não tinha reparado… Como era possível ainda não o ter visto?! Estava vestido de Noivo, era belíssimo, tinha um rosto feliz e um jeito de se mexer que parecia abarcar em cada movimento a Mesa inteira e para lá dela, como se os seus braços fossem uma coisa só com as montanhas, os seus olhos uma coisa só com os astros do universo e os seus cabelos se estendessem por todos os prados da terra… Reconheci o Noivo no Partir do Pão...
“Que noivo é este?! Que vinho é este?!”, perguntei para o lado…

“Não sabes onde estás?!”, perguntaram-me… “Não”, disse eu… “Algures na Galileia”…
“Estás em Caná! Aqui é Caná… E HOJE celebram-se umas bodas… o Noivo sela HOJE a sua Aliança, e o Vinho que nos serve é Dom que ele mesmo nos faz…”

Fixei o olhar naquele Noivo, tão lindo, tão próximo… Como era possível ele ter estado ali o tempo todo e eu não o ter visto?!
O Vinho escorria para os copos, não sei se da jarra que ele segurava ou se directamente das suas mãos abertas, a vida corria como se fosse uma torrente a sair do seu lado, e diante de mim alguém disse o que não estava à espera de ouvir: “É o Senhor!”

E eu quis-me levantar e segui-lo, e fazer tudo o que ele me dissesse, para que o sonho nunca acabasse

quarta-feira, 14 de março de 2012

Arigató!



Agradecimento do Japão a toda ajuda internacional que receberam após o terremoto que devastou parte do país ano passado. Apesar  de todos termos pouco tempo para viver a vida,  estes 8 minutos  são bem empregues. Alguma vez nos passaria pela cabeça criar um video deste género e pô-lo o circular pelo mundo?
E porque não hoje dizer um "obrigado" a quem o merece?

terça-feira, 13 de março de 2012

Nove meses de gravidez em 90 segundos



Um jovem casal norte-americano decidiu registar os nove meses de gravidez, até ao nascimento da filha Amelie, através de um vídeo "stop motion" que revela o crescimento da barriga materna em 90 segundos. Está a ser um sucesso no Youtube. Veja o vídeo.

O "pequeno projeto de nove meses" começa com o jovem a beijar a barriga da companheira, como se do beijo da vida de tratasse, simbolizando o momento da conceção. E ali começa a odisseia de mudanças, da barriga materna e de todo o ambiente que envolve o casal, até ao nascimento da pequena Amelie Amaya.
O vídeo "stop motion" (técnica que utiliza a disposição sequencial de fotografias) foi a maneira escolhida pelo jovem casal para revelar ao mundo a alegria de serem pais.
Quando chega "a hora", a mãe aponta para o relógio e, após mais um beijo do pai na barriga, surge a bebé nos braços dos pais com a mensagem "Apresentando Amelie Amaya".
Publicado no Youtube no passado dia 7, o vídeo já tem perto de 700 mil visualizações, acompanhado de vários comentários que elogiam a iniciativa do casal, pela simplicidade como partilharam a sua felicidade em serem pais.

in JN

segunda-feira, 12 de março de 2012

A esperança cristã


Num tempo em que se fala tanto de crise e se espelha a crise no rosto
e nas palavras de tantos que nos procuram e batem à porta, poderíamos
perguntar-nos: Ainda há lugar para a esperança? Que tem a Igreja a
oferecer a este desânimo perante a crise? O que é que está em crise?
Porque é que chegamos à crise? A crise acontece porque perdemos
valores, referências, sentido da vida, Deus... que depois se repercute
nas mais diversas áreas da vida social.

A crise temo-la tocado e experimentado na imensa quantidade de
pessoas, que de uma forma muitas vezes tão discreta e escondida, se
abeiram de nós, seja vindo bater à porta do Carmelo, seja por telefone
ou por e-mail para encontrar um coração que as escute nas suas
aflições e problemas, pedir uma palavra de conforto, encontrar um
sorriso ou mesmo algo para comer e que sempre damos e partilhamos…

Num tempo em que se diz que não há mais lugar para Deus, pois é
precisamente aqui, no Carmelo (espaço todo reservado a Deus), que
tantos, cansados e desanimados da vida, e depois de beber talvez em
tantas cisternas rotas e vazias à procura de força, vêm abrir o
coração cansado, sem esperança e deixar aquilo que talvez não confiam
a mais ninguém, porque, como tantas vezes nos dizem: “tudo aqui fica,
no segredo e no Coração de Deus”… E não é tanto pelo que levam – como
também tantas pessoas nos dizem - materialmente falando - mas é o que
encontram e que pode – talvez não resolver os problemas – mas
dar-lhes, um sentido para aquilo que não tinha qualquer sentido.

A carmelita, sem sair da sua clausura, vê todos os dias a porta da
clausura forçada pela imensa quantidade daqueles que, sem ela os
chamar ou se fazer anunciar, vêm atraídos por algo que é, com toda a
certeza, muito superior a ela… A vida da carmelita é uma vida que não
se anuncia, mas irradia, no silêncio; grita com o silêncio: é “música
calada, solidão sonora” (S. João da Cruz); e são os corações pobres,
aflitos e sem mais nada a que se agarrar que a ouvem e dela se
abeiram, para descansar um pouco…

Porquê a crise? A crise foi sempre, no cristianismo, e como podemos
ver ao longo da história do povo de Deus, o lugar preferencial para
Deus entrar em diálogo com o homem. Deus escolheu o deserto para Se
encontrar com o Seu povo e isto não foi um acaso, porque é na
experiência do deserto suportado por dias, meses e anos que o homem é
despojado das suas seguranças, dos seus armazéns de alimento e bebida,
de tudo o que é supérfluo, até lhe chegar a faltar quase o essencial
para sobreviver…

Foi assim com o Povo de Deus, é assim na vida de cada
um de nós, é assim na vida de uma carmelita. A crise – seja de toda
uma sociedade, seja na vida cada um de nós, em particular - é o
deserto onde Deus marca o Seu encontro connosco, porque só aí, nesses
momentos dolorosos, quase de desespero, que vazios de todas as
seguranças e apoios que julgávamos inabaláveis, sem nos podermos
agarrar a mais nada, deixamos finalmente que Deus nos encontre e tenha
espaço para nos falar ao coração, nos mostre a Sua presença de Amor,
esse Amor imenso, infinito, o único capaz de saciar o nosso coração,
porque este “não se enche com menos que o Infinito” (S. João da Cruz);
este Amor que Deus nos tem, tem um nome, tem um rosto: é Jesus que
encarnou na nossa história, se fez homem como nós, morreu, mas
ressuscitou, está vivo, é o nosso amigo fiel e companheiro de viagem;
é nas crises, nos “desertos” da nossa vida que caímos na conta que só
n’Ele está o sentido último da nossa vida, para nos dizer que a crise
da nossa vida se resolve pelo amor, como Ele nos veio ensinar:
“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. O Amor resolve todos os
problemas, o Amor traduzido na partilha, em solidariedade, em amizade,
perdão e acolhimento.

Quem descobriu este Amigo, encontrou a verdadeira esperança e quem
aprende a viver desta esperança – dando a vida e amando como Ele -
verá florescer o seu deserto num belo jardim e será capaz de dar vida
e esperança a tantos outros “desertos” que esperam esta vida nova, a
Esperança! E quem vive a esperança, vive na Alegria! A Alegria há-de
ser o rosto da esperança; a Igreja há-de testemunhar e propor a
Alegria, porque a Alegria é o que brota da experiência de amar e ser
amado e esta experiência dá-no-la o encontro com Jesus Ressuscitado,
vive-a quem ama e dá a vida como Ele!

Poderia dizer, retomando ao que ao início dizia, que quem se abeira do
Carmelo, recebe deste “Jardim de Deus”, onde se vive a experiência de
amar e ser amado, talvez também alguma ajuda material, mas sobretudo –
como tantos e tantas nos partilham mais tarde - aquela Esperança para
o caminho da vida, que é Jesus, aquela Alegria inexplicável para –
apesar de das nuvens e das tempestades da vida – continuar a acreditar
que a vida é bela e torna-a bela Aquele que é o Autor de toda a
Beleza, Deus-Trindade que, em Jesus, Se fez Deus-connosco, Amigo
sempre presente, sempre ao nosso lado!

Testemunho das irmãs carmelitas de Fátima

sábado, 10 de março de 2012

Kony 2012



Kony 2012 é um filme e campanha intitulada "Invisible Children" que visa tornar famoso Joseph Kony. Não para celebrá-lo, mas para angariar apoio para a sua prisão e estabelecer assim um precedente na justiça internacional.

sexta-feira, 9 de março de 2012

«Rezai, pois, assim: 'Pai Nosso'»


Fora do serviço divino, que sou muito indigna de recitar, não tenho coragem para me obrigar a procurar nos livros belas orações; isso faz-me doer acabeça, há tantas..., e todas tão belas, tanto umas como as outras...

Não quereria, contudo, a minha Madre, que pensásseis que recito sem devoção as orações feitas em comum no coro ou nas ermidas. Pelo contrário, gosto muito das orações em comum, pois Jesus prometeu estar no meio daqueles que se reúnem em Seu nome (Mt 18,19-20). Sei que então o fervor das minhas irmãs faz as vezes do meu; mas rezar o terço sozinha (envergonho-me de o confessar) custa-me mais do que pôr um instrumento de penitência... Reconheço que o rezo tão mal! Por mais que me esforce por meditar os mistérios do rosário, não consigo concentrar a atenção... Durante muito tempo desolei-me por essa falta de devoção que me surpreendia, pois amo tanto a Santíssima Virgem que me deveria ser fácil rezar em sua honra orações que lhe são agradáveis. Agora desolo-me menos, pois penso que a Rainha dos Céus, sendo minha Mãe, verá a minha boa vontade e contentar-se com ela.

Algumas vezes, quando o meu espírito está numa secura tão grande que me é impossível arrancar-lhe algum pensamento para me unir a Deus, recito muito devagarinho um Pai Nosso e depois a saudação angélica [«Salve, ó cheia de graça, o Senhor está contigo.» Lc 1,28]. Então estas orações encantam-me, alimentam muito mais a minha alma do que se as tivesse recitado precipitadamente uma centena de vezes...»

Santa Teresinha do Menino Jesus (1873-1897), carmelita, doutora da Igreja
Manuscrito autobiográfico C, 25 r°-v°

quarta-feira, 7 de março de 2012

Força e Vitória



Força e Vitória

Padre Marcelo Rossi

Todo joelho se dobrará
E toda língua proclamará
Que Jesus Cristo é o Senhor (2x)
Nada poderá me abalar
Nada poderá me derrotar
Pois minha força e vitoria
Tens um nome
É Jesus
Nada poderá me abalar
Nada poderá me derrotar
Pois minha força e vitoria
É Jesus
Quero viver Tua palavra
Quero ser cheio do Teu espírito
Mas só te peço, livra-me do mal (2x)
Jesus!
Jesus!
Jesus!

terça-feira, 6 de março de 2012

Eu amo-te tanto!



Por que me trouxe aqui?
 Por que me queres Deus tanto assim?
 Se contra o céu pequei, e contra ti também.
 Minha vida eu destruí, como errei...
 Por que me queres tanto assim?

Filho, eu quero tanto
 Enxugar teu pranto te fazer só meu.
 Filho eu quero ser teu Deus
 Eu te amo tanto, tanto, tanto, tanto
 Filho vem ser meu. Filho, eu quero ser teu Deus.
Porque me queres tanto assim?

Eu quero te envolver em meus mistérios
 No manto da minha Glória
 Eu vou desenrolar o rolo santo
 Mudar a tua história
 Eu vou fazer de ti vaso de honra
 Eu vou envergonhar os que te zombam
 Vou te dar vitória.
Por que me queres tanto assim?

R: Filho eu quero tanto
 Enxugar teu pranto te fazer só meu.
 Filho eu quero ser teu Deus
 Eu te amo tanto, tanto, tanto, tanto
 Filho, vem ser meu.
 Filho, eu quero ser teu Deus.

Porque eu te amo!
Eu te amo tanto!

segunda-feira, 5 de março de 2012

Escutar alguém


«Falar é fácil, não assim escutar. Ouvir como se ouve chover.
ouvir o som de um sino que vem de longe,
sem saber de onde vem, até isso, parece fácil.
Não assim, escutar. Escutar alguém, em primeiro lugar, significa afastar
Tudo o que nos possa distrair o ouvir, a nossa mente, o nosso espírito.

Escutar é construir um silêncio, suficientemente intenso
Para expressar o grito interior: “neste momento só existes tu!
Para mim, não existe nenhum outro som,
Que a música das tuas palavras!”

Escutar alguém, significa parar, parar num lugar
Para pôr fim à agitação, como quem diz: “agora tu és o meu centro,
A minha meta! A minha estrada conduz somente a ti!”

Escutar alguém significa parar de olhar para ti mesmo,
E dirigi-lo ao outro, colocar-se face e face, como quem diz:
“Estou aqui. Não tenho nenhum outro interesse!
Estou pronto a acolher todos os sussurros das tuas palavras!”

Escutar equivale a acolher, a abrir completamente as portas
E abater todas as fortalezas e fronteiras, atrás das quais nos barricamos…

Escutar o outro equivale a não fazer caso
A nós mesmos e preferir o outro. É preferir aquele que tenho diante
E acolhê-lo com o seu saco cheio de roupas mais ou menos limpas,
Porque sou eu…

É aceitar que entre em mim. Significa receber o outro com os seus sonhos, os seus desejos, com os seus gostos e desgostos;
Com as suas preferências e medos.
Significa ceder o lugar, oferecer-lhe as chaves de casa,
Como se lhe disséssemos: “A tua presença faz mudar tudo,
Mas corro o risco; quero escutar-te!”

E quando nos referimos a Deus, poder dizer: Eis-me aqui, Senhor!
A Tua presença faz mudar tudo; Mas corro esse risco,
Hoje quero escutar-Te!»

sábado, 3 de março de 2012

Sou um homem rico



Tenho a intenção de processar a revista "Fortune", porque fui vítima de uma omissão inexplicável. Ela publicou uma lista dos homens mais ricos do mundo, e nesta lista eu não apareço. Aparecem: o sultão de Brunei, os herdeiros de Sam Walton e Mori Takichiro. Incluem personalidades como a rainha Elizabeth da Inglaterra, Niarkos Stavros, e os mexicanos Carlos Slim e Emilio Azcarraga.

Mas eu não sou mencionado na revista.
E eu sou um homem rico, imensamente rico. Como não? Ora ouçam:

Tenho vida, que recebi não sei porquê, e saúde, que conservo não sei como.

Tenho uma família, esposa adorável, que ao me entregar sua vida me deu o melhor para a minha; filhos maravilhosos, dos quais só recebi felicidades; e netos com os quais pratico uma nova e boa paternidade.
Tenho irmãos que são como meus amigos, e amigos que são como meus irmãos.

Tenho pessoas que sinceramente me amam, apesar dos meus defeitos, e a quem amo apesar dos meus defeitos.

Tenho quatro leitores a cada dia para agradecer-lhes porque eles lêem o que eu mal escrevo.

Tenho uma casa, e nela muitos livros (minha esposa iria dizer que tenho muitos livros e entre eles uma casa).

Tenho um pouco do mundo na forma de um jardim, que todo ano me dá maçãs e que iria reduzir ainda mais a presença de Adão e Eva no Paraíso.

Tenho um cachorro que não vai dormir até que eu chegue, e que me recebe como se eu fosse o dono dos céus e da terra.

Tenho olhos que vêem e ouvidos para ouvir, pés para andar e mãos que acariciam; cérebro que pensa coisas que já ocorreram a outros, mas que para mim não haviam ocorrido nunca.

Sou a herança comum dos homens: alegrias para apreciá-las e compaixão para irmanar-me aos irmãos que estão sofrendo.

E tenho fé em Deus que vale para mim amor infinito.

Pode haver riquezas maiores do que a minha?

Por que, então, a revista "Fortune" não me colocou na lista dos homens mais ricos do planeta?

E você, como se considera? Rico ou pobre?
Há pessoas pobres, mas tão pobres, que a única coisa que possuem é ... DINHEIRO.

Armando Fuentes Aguirre (Catón)

sexta-feira, 2 de março de 2012


«Bem fizeste, nosso bom Mestre,
em fazer esta última petição,
para que possamos cumprir aquilo
que dais em nosso nome;
porque certamente, Senhor, se assim não fora,
seria impossível, julgo eu.
Mas, fazendo o Vosso Pai aquilo que Lhe pedis:
de nos dar aqui o Seu reino,
eu sei que Vos deixaremos ficar por verdadeiro
em dardes o que dais por nós;
porque, feita a terra céu,
será possível fazer-se em mim a Vossa vontade.
Mas, sem isto, e em terra tão ruim como a minha, etão sem fruto,
eu não sei, Senhor, como seria possível;
é coisa bem grande o que ofereceis!»

Santa Teresa de Jesus, Caminho de Perfeição 32, 2

quinta-feira, 1 de março de 2012

Oração pelos Amigos


Obrigado, Senhor, pelos amigos que nos deste.
Os amigos que nos fazem sentir amados sem porquê.
Que têm o jeito especial de nos fazer sorrir.
Que sabem tudo de nós, perguntando pouco.
Que conhecem o segredo das pequenas coisas que nos deixam felizes.
Obrigado, Senhor, por essas e esses,
sem os quais caminhar pela vida não seria o mesmo.
Que nos aguentam quando o mundo parece um sítio incerto.
Que nos incitam à coragem só com a sua presença.
Que nos surpreendem, de propósito, porque acham mal tanta rotina.
Que nos dão a ver um outro lado das coisas (...).
Obrigado pelos amigos incondicionais.
Que discordam de nós, permanecendo connosco.
Que esperam o tempo que for preciso.
Que perdoam antes das desculpas.
Essas e esses são os irmãos que escolhemos.
Os que colocas a nosso lado para nos devolverem a luz aérea da alegria.
Os que trazem até nós o imprevisível do teu coração, Senhor.

Pe. Tolentino de Mendonça

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...