segunda-feira, 12 de março de 2012

A esperança cristã


Num tempo em que se fala tanto de crise e se espelha a crise no rosto
e nas palavras de tantos que nos procuram e batem à porta, poderíamos
perguntar-nos: Ainda há lugar para a esperança? Que tem a Igreja a
oferecer a este desânimo perante a crise? O que é que está em crise?
Porque é que chegamos à crise? A crise acontece porque perdemos
valores, referências, sentido da vida, Deus... que depois se repercute
nas mais diversas áreas da vida social.

A crise temo-la tocado e experimentado na imensa quantidade de
pessoas, que de uma forma muitas vezes tão discreta e escondida, se
abeiram de nós, seja vindo bater à porta do Carmelo, seja por telefone
ou por e-mail para encontrar um coração que as escute nas suas
aflições e problemas, pedir uma palavra de conforto, encontrar um
sorriso ou mesmo algo para comer e que sempre damos e partilhamos…

Num tempo em que se diz que não há mais lugar para Deus, pois é
precisamente aqui, no Carmelo (espaço todo reservado a Deus), que
tantos, cansados e desanimados da vida, e depois de beber talvez em
tantas cisternas rotas e vazias à procura de força, vêm abrir o
coração cansado, sem esperança e deixar aquilo que talvez não confiam
a mais ninguém, porque, como tantas vezes nos dizem: “tudo aqui fica,
no segredo e no Coração de Deus”… E não é tanto pelo que levam – como
também tantas pessoas nos dizem - materialmente falando - mas é o que
encontram e que pode – talvez não resolver os problemas – mas
dar-lhes, um sentido para aquilo que não tinha qualquer sentido.

A carmelita, sem sair da sua clausura, vê todos os dias a porta da
clausura forçada pela imensa quantidade daqueles que, sem ela os
chamar ou se fazer anunciar, vêm atraídos por algo que é, com toda a
certeza, muito superior a ela… A vida da carmelita é uma vida que não
se anuncia, mas irradia, no silêncio; grita com o silêncio: é “música
calada, solidão sonora” (S. João da Cruz); e são os corações pobres,
aflitos e sem mais nada a que se agarrar que a ouvem e dela se
abeiram, para descansar um pouco…

Porquê a crise? A crise foi sempre, no cristianismo, e como podemos
ver ao longo da história do povo de Deus, o lugar preferencial para
Deus entrar em diálogo com o homem. Deus escolheu o deserto para Se
encontrar com o Seu povo e isto não foi um acaso, porque é na
experiência do deserto suportado por dias, meses e anos que o homem é
despojado das suas seguranças, dos seus armazéns de alimento e bebida,
de tudo o que é supérfluo, até lhe chegar a faltar quase o essencial
para sobreviver…

Foi assim com o Povo de Deus, é assim na vida de cada
um de nós, é assim na vida de uma carmelita. A crise – seja de toda
uma sociedade, seja na vida cada um de nós, em particular - é o
deserto onde Deus marca o Seu encontro connosco, porque só aí, nesses
momentos dolorosos, quase de desespero, que vazios de todas as
seguranças e apoios que julgávamos inabaláveis, sem nos podermos
agarrar a mais nada, deixamos finalmente que Deus nos encontre e tenha
espaço para nos falar ao coração, nos mostre a Sua presença de Amor,
esse Amor imenso, infinito, o único capaz de saciar o nosso coração,
porque este “não se enche com menos que o Infinito” (S. João da Cruz);
este Amor que Deus nos tem, tem um nome, tem um rosto: é Jesus que
encarnou na nossa história, se fez homem como nós, morreu, mas
ressuscitou, está vivo, é o nosso amigo fiel e companheiro de viagem;
é nas crises, nos “desertos” da nossa vida que caímos na conta que só
n’Ele está o sentido último da nossa vida, para nos dizer que a crise
da nossa vida se resolve pelo amor, como Ele nos veio ensinar:
“Amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”. O Amor resolve todos os
problemas, o Amor traduzido na partilha, em solidariedade, em amizade,
perdão e acolhimento.

Quem descobriu este Amigo, encontrou a verdadeira esperança e quem
aprende a viver desta esperança – dando a vida e amando como Ele -
verá florescer o seu deserto num belo jardim e será capaz de dar vida
e esperança a tantos outros “desertos” que esperam esta vida nova, a
Esperança! E quem vive a esperança, vive na Alegria! A Alegria há-de
ser o rosto da esperança; a Igreja há-de testemunhar e propor a
Alegria, porque a Alegria é o que brota da experiência de amar e ser
amado e esta experiência dá-no-la o encontro com Jesus Ressuscitado,
vive-a quem ama e dá a vida como Ele!

Poderia dizer, retomando ao que ao início dizia, que quem se abeira do
Carmelo, recebe deste “Jardim de Deus”, onde se vive a experiência de
amar e ser amado, talvez também alguma ajuda material, mas sobretudo –
como tantos e tantas nos partilham mais tarde - aquela Esperança para
o caminho da vida, que é Jesus, aquela Alegria inexplicável para –
apesar de das nuvens e das tempestades da vida – continuar a acreditar
que a vida é bela e torna-a bela Aquele que é o Autor de toda a
Beleza, Deus-Trindade que, em Jesus, Se fez Deus-connosco, Amigo
sempre presente, sempre ao nosso lado!

Testemunho das irmãs carmelitas de Fátima

1 comentário:

  1. "O Amor resolve todos os
    problemas, o Amor traduzido na partilha, em solidariedade, em amizade,
    perdão e acolhimento.."

    E está tudo dito, no que de mais importante há a dizer..no que de mais importante há a Viver!

    dulce ac

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