segunda-feira, 29 de setembro de 2014

Cada dia como um dom



Ajuda-me, Senhor, a receber cada dia como um dom.

Ajuda-me a reconhecer que nada me falta,
que Tu me deste tudo aquilo que é necessário
para fazer da vida uma coisa feliz e com sentido.

Mesmo que me falte o universo inteiro, nada verdadeiramente me falta.
Mesmo que eu espere muito do amanhã, devo saber que tenho tudo hoje.

Ajuda-me a limpar o olhar poluído
e agravado por juízos, consumos e ressentimentos.

Que eu saiba acolher a vida como a oportunidade que ela é.

Se acontecer o meu coração andar ferido,
recorda-me, Senhor, aquele santo que dizia:
“Nenhum coração é tão inteiro como um coração ferido”

Pe. Tolentino Mendonça

domingo, 28 de setembro de 2014

A rotina de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars



A rotina de São João Maria Vianney, o Cura D'Ars

“À uma da manhã em ponto, faz a sua oração na igreja.
Confessa as mulheres até às seis.
Às seis, celebra a sua Missa.
A seguir, faz a sua ação de graças.
Depois fica à disposição dos fiéis para abençoar-lhes as imagens e dar-lhes conselhos.
Por volta das oito, ele se permite, a instâncias das moças da “Providência”, ir lá tomar, do outro lado da praça, meio copo de leite sem pão.
Como também elas precisam de conselhos, distribui-os generosamente.
Às oito e meia, está de volta e atende os homens na sacristia.
Às dez, interrompe-se e vai render a sua homenagem a Deus recitando as suas horas menores.
E depois confessa mais um pouco.
Às onze, volta à “Providência” para ensinar o catecismo às crianças, às suas órfãs especialmente, e também a muitos adultos.
Ao meio dia, reza o “Angelus” e retorna à casa paroquial para almoçar.
Atravessar a praça leva cerca de um quarto de hora, porque a multidão se comprime à sua volta; é preciso continuar a aconselhar e a abençoar.
Almoça de pé, rapidamente, muitas vezes enquanto fala, pois os paroquianos mais próximos se aproveitam das refeições para confiar-lhe as suas misérias.
Ainda assim, já ao meio-dia e meia tem de visitar os seus enfermos, sempre escoltado pela multidão que não se cansa de interroga-lo.
Assim que volta à igreja, mergulha no seu breviário, a tempo de ler as vésperas e as completas.
Mal fecha o livro, retorna ao confessionário.
As mulheres o retêm ali até às cinco.
Passa aos homens, que o retêm até às oito.
Enfim, sobe ao púlpito para recitar a oração vespertina e o terço da Imaculada Conceição.
Depois deste longo e penoso trabalho, imaginamos que vá jantar e depois dormir?
Não. Nem sempre consegue jantar; é preciso que receba em sua casa umas quantas almas delicadas, difíceis de convencer ou de dirigir.
Também tem de terminar o seu breviário: matinas e laudes, a parte mais longa.
Com isso chegamos às dez horas da noite.
Não é raro, também, que retorne à igreja a fim de confessar mais um pouco, e que de lá não volte senão depois da meia-noite.
Depois deita-se.
Mas a noite será curta: a nova jornada, como a anterior, começa bem antes do nascer do sol.
Façamos as contas. O Pe.Vianney trabalha pelo menos vinte horas. Quinze ou dezesseis, no mínimo, transcorrem ouvindo confissões, tanto na capela de São João Batista, dentro do confessionário onde atende as penitentes, quanto na sede de madeira dura da sacristia, onde recebe os penitentes.
Terá tido duas horas a sós com Deus?
Mas ele está sempre com Deus.
Este regime há de durar trinta anos”

"O Cura d’Ars”. Gheon, Henri - Ed. Quadrante, 1998

domingo, 21 de setembro de 2014

Cirineus



São João Paulo II foi vítima de um atentado a 12 de Maio de 1982, em Fátima. A 13 de Maio de 1981 tinha sido alvejado em Roma, tendo então perigado a sua vida. A providencial coincidência deste incidente com o aniversário da primeira aparição, em Fátima, levou João Paulo II a atribuir a Maria a sua sobrevivência. Por esta razão, fez uma peregrinação, um ano depois, à Cova da Iria. Foi então que um padre espanhol, não católico, atentou, sem êxito, contra a vida daquele Papa.

Logo depois deste segundo atentado, um casal madrileno apresentou-se na nunciatura, em Lisboa: eram os pais do clérigo que pusera em risco a vida de São João Paulo II. A razão da sua precipitada vinda ao nosso país, que passou desapercebida à imprensa, era só uma: pedir desculpa.

Aqueles pais, católicos, não tinham nenhuma responsabilidade no delito perpetrado pelo filho, maior de idade. Naquela hora amarga, de tanta angústia e vergonha, era compreensível que se tivessem escondido mas, pelo contrário, deram a cara em nome de um crime que não era deles. Outros teriam entendido, com razão, que nada tinham a ver com aquele acto criminoso, mas aqueles pais carregaram com a culpa do seu filho. Muitos progenitores ter-se-iam orgulhado de uma glória filial, mas aqueles desgraçados pais humilharam-se com a desonra do seu descendente e, em seu nome, ofereceram-se à vítima, em expiação dessa falta. Como é rara a nobreza de uma voluntária humilhação! Como é belo pedir perdão!

"Nisto consiste o amor: (…) em ter sido Deus que nos amou e enviou o seu Filho, como vítima de expiação pelos nossos pecados. (…) Se Deus nos amou assim, também nós devemos amar-nos uns aos outros" (1Jo 4,10-11). Neste mundo, sobram os Pilatos e os Herodes acusadores, mas faltam Cireneus que carreguem as cruzes alheias.

Gonçalo Portocarrero de Almada | ionline 2014.09.20

segunda-feira, 15 de setembro de 2014

Ser grande

Foto: - "Pai, como é que eu cresço?", perguntou ele dando um salto. "É assim?", e deu outro.
O Pai sorriu... Omi Garandi, treinado nos saberes da vida. Chamou o filho e mandou-o vir com os outros amigos. 
- "Da-lhes as mãos", disse ele, devagaroso. 
Os pequenos entreolharam-se e deram as mãos uns aos outros. 
- "É assim, filho. É assim que humano cresce. Só homem pequeno quer crescer para cima. Omi ki bali pena cresce pelas mãos, cresce para os outros. Ser grande não é chegar onde ninguém chega. Ser grande é chegar a muita gente."

- "Pai, como é que eu cresço?", perguntou ele dando um salto. "É assim?", e deu outro.
O Pai sorriu... Omi Garandi, treinado nos saberes da vida. Chamou o filho e mandou-o vir com os outros amigos.
- "Da-lhes as mãos", disse ele, devagaroso.
Os pequenos entreolharam-se e deram as mãos uns aos outros.
- "É assim, filho. É assim que humano cresce. Só homem pequeno quer crescer para cima. Omi ki bali pena cresce pelas mãos, cresce para os outros. Ser grande não é chegar onde ninguém chega. Ser grande é chegar a muita gente."

domingo, 14 de setembro de 2014

Cruz



«O mundo está em chamas. (…)
Mas no alto, por cima de todas as chamas,
eleva-se a cruz.
Elas não podem queimá-la.
Ela é caminho da terra ao céu.
Quem a abraça com fé,
com amor
e esperança
é levado até ao Seio da Trindade.»

Santa Teresa Benedita da Cruz (Edith Stein) | 1891 – 1942 
Escrito para a Exaltação da Santa Cruz

Pai,
contemplo-te aí, atrás da Cruz,
a sustentar o Crucificado
e a oferecê-lo ao mundo.
A Tua presença aí
diz-me do mistério oculto na Cruz,
diz-me da ‘memória viva’ do ‘Verbo feito carne’
que queres celebrar com cada vida.
Contemplo-te aí, a sustentar o Crucificado,
e no Coração aberto e trespassado
descubro o dom da Encarnação que nos ofereces.
Descubro que o segredo que a Cruz encerra
é o dom do Verbo se fazer um connosco.
Continuo a olhar o Crucificado, sustentado por Ti,
e descubro que as pequenas cruzes da minha vida
são o amor com que fazes Cristo nascer em mim,
são o ‘berço’ que escolheste para o ‘Verbo encarnar’.
Olho-Te de novo, Pai,
e o meu olhar vai de mim a Ti
e da cruz onde sustentas o Crucificado
sinto-me eu mesmo sustentado
e o meu olhar volta de Ti a mim
porque em mim a força da Crucifixão
se converteu na presença de Cristo Vivo.
Trago em mim as marcas da Paixão
Porque Tu me sustentas no Amor do ‘Verbo feito carne’.

A Cruz onde sustentas o Crucificado
Acende no meu interior o fogo vivo
Da Cruz do Amor
Com que me marcaste.

Pai,
Eu te dou graças
Por me sustentares no amor do Crucificado
E por me dizeres que a Cruz de Cristo
É a certeza da ‘Encarnação do Verbo’
Na vida de cada um dos Teus filhos.

segunda-feira, 8 de setembro de 2014

Natividade de Maria



"Quereis saber quão feliz, quão alto é e quão digno de ser festejado o Nascimento de Maria?
Vede o para que nasceu. Nasceu para que dela nascesse Deus.

(...) Perguntai aos enfermos para que nasce esta celestial Menina,
dir-vos-ão que nasce para Senhora da Saúde;
perguntai aos pobres, dirão que nasce para Senhora dos Remédios;
perguntai aos desamparados, dirão que nasce para Senhora do Amparo;
perguntai aos desconsolados, dirão que nasce para Senhora da Consolação;
perguntai aos tristes, dirão que nasce para Senhora dos Prazeres;
perguntai aos desesperados, dirão que nasce para Senhora da Esperança.

Os cegos dirão que nasce para Senhora da Luz;
os discordes, para Senhora da Paz;
os desencaminhados, para Senhora da Guia;
os cativos, para Senhora do Livramento;
os cercados, para Senhora da Vitória.

Dirão os pleiteantes que nasce para Senhora do Bom Despacho;
os navegantes, para Senhora da Boa Viagem;
os temerosos da sua fortuna, para Senhora do Bom Sucesso;
os desconfiados da vida, para Senhora da Boa Morte;
os pecadores todos, para Senhora da Graça;
e todos os seus devotos, para Senhora da Glória.

E se todas estas vozes se unirem em uma só voz,
dirão que nasce para ser Maria e Mãe de Jesus"

Padre António Vieira, Sermão do Nascimento da Mãe de Deus

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Oração para não se tornar rabujento



Ó Senhor, tu sabes melhor do que eu que estou envelhecendo a cada dia.
Sendo assim, Senhor, livra-me da tolice de achar que devo dizer algo, em toda e qualquer ocasião.
Livra-me, também, Senhor, deste desejo enorme que tenho de querer pôr em ordem a vida dos outros. Devo entender que eles podem, às vezes, estar com a razão.
Ensina-me a pensar nos outros e a ajudá-los, sem jamais me impor sobre eles, mesmo considerando com modéstia a sabedoria que acumulei e que penso ser uma lástima não passar aos outros.
Tu sabes, Senhor, que desejo preservar alguns amigos e uma boa relação com os filhos e netos, e que só se preserva quando não há intromissão na vida deles.
Livra-me também Senhor, da tolice de querer contar tudo com detalhes e minúcias e dar asas à minha imaginação, para voar diretamente ao ponto que interessa.
Não me permitas falar mal de ninguém.
Ensina-me a calar as minhas dores e doenças...
Elas estão a aumentar e, com isso, a vontade de descrevê-las vai crescendo a cada ano que passa.
Não ouso pedir o dom de ouvir com alegria a descrição das doenças alheias; Seria pedir muito.
Mas, ensina-me Senhor, a suportar ouvi-las com paciência.
Ensina-me a maravilhosa sabedoria de saber que posso estar errado em algumas ocasiões. Já descobri que pessoas que acertam sempre são maçadoras e desagradáveis.
Mas, sobretudo Senhor, nesta oração de envelhecimento, peço:
Mantenha-me o mais amável possível.
Livrai-me de ser santo. É difícil conviver com santos!
Um velho rabugento, Senhor, é a obra-prima do diabo!
Poupe-me, por misericórdia.
Amen.

Maria A. S. P. Santiago

terça-feira, 2 de setembro de 2014

Se tu amas



Se tu amas por causa da beleza, então não ames!
Ama o sol que tem cabelos doirados!

Se tu amas por causa da juventude, então não ames!
Ama a primavera que fica nova todos os anos!

Se tu amas por causa dos tesouros, então não ames!
Ama a mulher do mar; ela tem muitas pérolas claras!

Se tu amas por causa da inteligência, então não ames!
Ama Isaac Newton: ele escreveu os principios matemáticos da filosofia natural!

Mas se tu me amas por causa do amor, então sim, ama!
Ama sempre!

segunda-feira, 1 de setembro de 2014

A minha família é a minha casa



Numa família há afeto e exemplo, há limites e respeito, há quem nos aceite como somos sem deixar de nos animar a sermos melhores, sem excessos mas com a paciência de quem ama
A solidão absoluta é não ter ninguém a quem dizer um simples: “tenho vontade de chorar”. Não precisamos de muito para viver bem – para ser feliz basta uma família e pouco mais.

A família é a casa e a paz. O refúgio onde uma vontade de chorar não é motivo de julgamento, apenas e só uma necessidade súbita de... família. De um equilíbrio para o qual o outro é essencial... assim também se passa com a vontade de sorrir que, em família, se contagia apenas pelo olhar.

Nos dias de hoje vai sendo cada vez mais difícil encontrar gente capaz de ser família. Os egoísmos abundam e cultiva-se, sozinho, o individual. Como se não houvesse espaço para o amor. Dizem que amar é arriscado, que é coisa de loucos...

Todos temos sentimentos mais profundos. Cada um de nós é uma unidade, mas o que somos passa por sermos mais do que um. Parte de unidades maiores. Estamos com quem amamos e quem amamos também está, de alguma forma, connosco. O amor é o que existe entre nós e nos enlaça os sentimentos mais profundos. Onde uma vontade de chorar é um sinal de que há algo em mim que é maior do que eu... por vezes, nem preciso de chorar.... apenas a vontade me indica o caminho da humildade e do amor. Sozinho não consigo chegar a ser eu...

Uma verdadeira família é simples. É o lugar onde todos amam e protegem a intimidade de cada um. Ninguém é de uma família à qual não se entrega. Mas não é fácil, nunca. É preciso ser forte o suficiente para dizer não a um conjunto enorme de coisas que parecem muito valiosas, mas que não passam de ocas aparências de valor.

Há muita gente que gosta de complicar para fugir ao que é simples. Para que me serve um palácio se nele a minha solidão se faz ainda maior? Quantos desistem de lutar pelo amor com a desculpa de que o preço é alto e o prémio pode afinal não valer o esforço? Quantas vezes a falta de amor é vista como paz?

A família é algo simples – puro – mas muitíssimo difícil de alcançar. Implica a renúncia constante aos artifícios do fácil e do imediato. Exige que nos concentremos num caminho longo que acreditamos (sem grandes provas) que é o único que nos pode elevar e levar ao céu.

Numa família há afeto e exemplo, há limites e respeito, há quem nos aceite como somos sem deixar de nos animar a sermos melhores, sem excessos mas com a paciência de quem ama.

A paz resulta de um equilíbrio de elementos diferentes, com talentos e perspetivas distintos. Não através de um esforço de anulação do que é único de cada um, mas precisamente pela riqueza de o orientar rumo a um fim conjunto e harmonioso. Uma espécie de enriquecimento recíproco dos contrários. Promover o bem do outro não é fazer com que se torne semelhante a mim.

A minha casa é o lugar onde eu sou o outro a quem alguém pode expressar o seu “tenho vontade de chorar” sem que eu trace juízos de qualquer espécie, e que lhe faça sentir com o meu silêncio, dedicação e presença que a sua vontade já não é só sua... mas minha também.

A minha família é a minha casa. Até podemos ser apenas dois... mas é aí, e só aí, que posso ser feliz. Longe de casa estou sempre a caminho. O meu coração não descansa senão nos braços de quem tem vontade de sorrir e de chorar comigo.

José Luís Nunes Martinsin I Online

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...