segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Gosto muito de estar com a mãe


Faz hoje uma semana que o Carlos (nome fictício) me falou a dizer que tinha encontrado a mãe, que procurava há 26 anos, depois desta o ter abandonado quando tinha 4 anos. Foi nessa tarde para Vila Franca de Xira e nessa noite mandou-me uma mensagem a dizer: 
- “Gosto muito de estar com a mãe”. 

Mais tarde, quando lhe falei e lhe perguntei se a mãe o tinha recebido bem e se tinha gostado de o ver, disse-me com simplicidade e despreocupação: 
- “Bem, acho que eu gostei mais do que ela”. 

Fiquei a pensar se não iria haver um desajuste entre eles - uma mãe que abandona e um filho que não pensa em mais ninguém e em mais nada senão nela e em a encontrar... No dia seguinte, terça-feira, veio ao Porto e despediu-se do emprego, fez contas com amigos, despediu-se também de mim. E na própria terça-feira voltou para Vila Franca ao fim da tarde. 

Quando tentei que ele reconsiderasse tanta precipitação, disse-me com uns olhos molhados:
-  “Não pode perceber, ninguém pode perceber. Eu adoro muito a minha mãe, não me quero separar mais dela”. 

Não insisti. Que direito tinha de fazer as coisas à minha maneira? O que sei disto? À noite falou a dizer que tinha chegado bem, e nunca mais deu noticias. Ontem, Domingo, falei-lhe e perguntei como se estavam a passar as coisas, ele respondeu que estava tudo bem:
- “Eu estou com a minha mãe e estou feliz, agora só preciso de arranjar um emprego. Para a ajudar. Vou tomar conta dela”. 

Fiquei muda. Este rapaz está a viver uma página do Evangelho. O “permanecer” uma vida inteira na procura da mãe. O encontro sem nenhuma queixa, e uma necessidade de ajudar a mãe e de tomar conta dela. Um rapaz que guardou o seu segredo fechado no coração ferido e triste mas cheio de esperança,e de amor. Uma Missa (a do Natal do ano passado) que mexeu com ele ao ponto de o fazer finalmente chorar. O Carlos está a escrever uma página de um 5º. Evangelho. Louvado seja Deus.

«Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.» (Mt. 22, 36-40)

Tereza Olazabal

sábado, 25 de outubro de 2014

O bem e o mal que desconhecemos



É sempre possível que estejamos a fazer o bem a outras pessoas, ainda que não seja dado saber nem o quê nem a quem…

Nem sempre nos damos conta do bem e do mal que causamos aos outros. Por vezes ajudamos sem saber, outras vezes magoamos sem querer. É importante que, pelo menos, compreendamos que as nossas ações vão sempre mais para além do que nos é dado saber pelas aparências.

Há quem nos faça muito bem sem que nunca lho agradeçamos, e há também quem nos provoque mal sem que, também nunca, lhe demos nota disso, nem, tão-pouco, lho perdoemos. É bem possível que, nem uns nem outros, saibam o que (nos) fizeram. Mas, nós partimos do princípio que sabem e até assumimos que o quiseram! Mais, que aos bons nada acrescentamos se lhes agradecermos, e, aos maus, que nada mudamos por lhes desculparmos os erros...

Agradecer e perdoar fazem diferença. Muita. Em mim e no outro. Sempre.

Só um verdadeiro amigo arrisca uma crítica desagradável mas justa… Mas, quantas vezes somos capazes de lhas agradecermos? Será que preferimos o prazer dos louvores injustos e interesseiros de outra pessoa qualquer?

Quase nunca os nossos atos são julgados pelos outros da mesma forma que os julgamos nós. As intenções não passam de projetos cujo resultado material é, por vezes, algo tão estranho que só mesmo o seu autor consegue compreender a linha que os liga.

Nem sempre temos coragem para fazer o que sabemos ser o bem. Muitas são as ocasiões em que não conseguimos evitar fazer o mal que não queremos… mas, a tentação do egoísmo é, talvez, a maior de todas.

Não é assim tão difícil distinguir o bem do mal. Árduo é optar pelo bem, porque, na vida, o mais fácil quase nunca é o melhor. E, ainda que depois de uma montanha de erros, parece que sempre encontramos forma de nos seduzir a mais um disparate. De nos levar sempre... para longe de nós mesmos. O caminho da virtude é íngreme, estreito e exige atenção constante, pois a queda dá-se pelo mesmo caminho que a ascensão… o percurso do bem é o mesmo da perdição, um sobe o outro desce… um mesmo caminho que se pode fazer em direções opostas.

Vence duas vezes quem, a vencer, se vence a si mesmo. Quem escolhe, para si e para os outros, o melhor de si. A tentação é o momento exato da virtude.

A vida é uma luta constante. Uma maratona de vidas entrecruzadas, onde alguns dos efeitos dos nossos atos nos escapam… quanta gente se entristece (e se alegra) por coisas que ninguém, na verdade, desejou… Mas, tudo passa… e um só dia claro basta para fazer esquecer os cinzentos!

A sabedoria é humilde, deixando espaço para o que nos ultrapassa. Nunca se julga senhora de todos os porquês e para quês, nem, tão-pouco, capaz de abarcar o mundo. É sábia porque se reconhece limitada. Erra sempre que se julga mais do que é. Sempre que julga saber tudo.

Iludimo-nos muitas vezes. Há quem se emocione com peças de ficção, talvez porque as imagine reais, e seja insensível a tragédias reais, talvez por que as imagine peças de ficção.

Devemos estar atentos a fim de que não causemos algum mal (evitável) aos outros, e não nos devemos desanimar quando a vida parecer estar a perder a cor e o sentido, afinal é sempre possível que estejamos a fazer o bem a outras pessoas, ainda que não seja dado saber nem o quê nem a quem…

Um olhar, uma palavra, um silêncio ou um pequeno gesto, são suficientes para levar trevas ou luz à vida de outros. Assim. Num instante. Dependemos uns dos outros. Nós não somos sós. Nunca. Por maior que seja a solidão em que nos sentimos. Por maior que seja a escuridão e o frio, há sempre alguém que chegará. Sempre. Sempre. Por mais que demore.

Lutarmos sempre com coragem e paciência para manter o fogo da nossa esperança aceso é o suficiente para darmos sentido à vida... à nossa e à de muitos outros!

José Luís Nunes Martins
I Online

sábado, 18 de outubro de 2014

Sofrer sem incomodar



Há pessoas que nos dizem “espero que esteja tudo bem consigo!” com o sentido oculto de uma verdadeira esperança, a de que não lhes demos trabalho algum.

O sofrimento é algo tão natural, quanto inevitável e universal. No entanto, cada vez mais é remetido para a esfera privada, íntima, como se fosse algo que pode e deve ser vivido apenas longe dos outros. Num recanto qualquer, desde que distante dos que lhe querem ser alheios. Estes, sentem-se no direito de exigir que as nossas dores não os incomodem.

Como uma árvore atingida por um raio, quando sou tocado por uma dor profunda, rasgo-me, divido-me e consumo-me com dúvidas, ansiedades e pesadelos… o próprio pensar dói. Estou só e com medo... e o medo faz sempre que qualquer mal pareça muito maior. Sofremos... e sofremos mais ainda quando estamos sós.

É impossível conter o sofrimento, ou o partilhamos ou somos dilacerados por ele.

Perguntam-nos: “Como está?”. Mas a resposta ou é indiferente ou então tem de, pelo menos, parecer. Claro que, no caso de estarmos muito bem, não podemos expressá-lo com euforias, pois também isso vai chocar! Nunca devemos ser pesados para os outros, nem com as nossas lágrimas nem com os nossos sorrisos. É assim que hoje muitos vivem...

É suposto que perguntemos sempre, mas que não respondamos, nunca. A não ser que seja alguém de quem gostamos muito, muito, ao ponto de querermos mesmo saber como está e de nos preocuparmos com o que podemos nós fazer para partilhar a sua intimidade com tudo o que tenha de bom e de mau.

Há pessoas que nos dizem “espero que esteja tudo bem consigo!” com o sentido oculto de uma verdadeira esperança, a de que não lhes demos trabalho algum. Esperam que estejamos bem para que se possam então aproximar-se sem receio que uma qualquer dor ou tristeza nossa os possa surpreender e desacomodar.

Só se aproximam de quem está sempre bem. Só se aproximam de uma parte de nós. Nós não existimos inteiros para quem – só – quer viver de forma cómoda.

Espero que esteja tudo bem consigo... espero para me aproximar? Ou para me ir embora? E se a pessoa não estiver bem? Espero até ela estar! Mas... com ela? Ou longe dela?

Vivemos num tempo em que o sofrimento é visto como algo vergonhoso. Em que as pessoas devem manter as suas dores sob controlo a fim de que os outros sejam poupados ao peso do que entendem não ser seu.… um sofrimento sem expressão… tão escondido como um qualquer pecado obsceno.

São poucos os que querem que a luta interior de alguém seja uma luta comum... Temem-se as dores, mas teme-se mais ainda o seu inevitável contágio a que alguns chamam partilha. Amor.

Mesmo depois de uma grande perda, o luto é uma luta que não deve ser travada longe dos outros. Cada um carrega o seu fardo, mas se o partilhar, a viagem torna-se menos penosa. Porque se aliviam, um pouco, a pena e a solidão.

Claro, há muitas simpatias e compaixões, mas a maior parte delas é apenas aparente. São cada vez menos os que conseguem prestar uma ajuda desinteressada a quem precisa.

As alegrias não incomodam tanto como as tristezas. Embora em ambos os casos seja raro haver partilha.

Vivemos numa enorme tapeçaria de aparências: os egoísmos, disfarçados de coisas belas, escondem podridões... mentiras sempre assumidas de um modo diplomático e inteligente. Afinal, todos temos os nossos problemas – dizem.

Escondo-me nuns óculos escuros, porque não quero que vejam as minhas lágrimas. Visto-me de preto, para me esconder na noite de mim mesmo, quero passar despercebido, oculto, silencioso… não quero incomodar ninguém. Não quero que a minha tristeza estrague a vida de mais ninguém... tenho medo.

Mas é o medo que nos impede de sermos felizes. Porque quem tem medo, não ama, e quem não ama não é feliz.

Solidões que são mentiras e infernos. Para onde nos lançamos inteiros quando dos outros só aceitamos uma parte das suas alegrias e dores… e, também, enquanto a eles mostramos apenas uma parte de nós.

José Luís Nunes Martins
in i online

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Orar para louvar




Papa Francisco pede: rezar para louvar

“Nós sabemos rezar muito bem quando pedimos coisas, mesmo quando agradecemos ao Senhor, mas a oração de louvor é um pouco difícil para nós: não é tão habitual louvar o Senhor"


É fácil rezar para pedir, bem mais difícil é rezar para louvar, mas essa oração dá-nos uma verdadeira alegria. Esta foi a principal mensagem do Papa Francisco na Missa de hoje na Capela da Casa de Santa Marta.

No centro da homilia do Santo Padre a Carta aos Efésios, onde podemos ler a oração de louvor do Apóstolo Paulo “uma oração que nós não fazemos habitualmente” mas que é “gratuita e pura” e nos faz entrar numa “grande alegria” – afirmou o Papa Francisco.

“Nós sabemos rezar muito bem quando pedimos coisas, mesmo quando agradecemos ao Senhor, mas a oração de louvor é um pouco difícil para nós: não é tão habitual louvar o Senhor. E isto, podemo-lo sentir melhor quando fazemos memória das coisas que o Senhor fez na nossa vida: ‘N’Ele – em Cristo – escolheu-nos antes da criação do mundo’. Bendito sejas Senhor, porque tu me escolheste! É a alegria de uma proximidade paterna e terna.”

“Não se pode compreender e também não se pode imaginar: que o Senhor me tenha conhecido antes da criação do mundo, que o meu nome estava no coração do Senhor. Esta é a verdade! Esta é a revelação! Se nós não acreditamos nisto nós não somos cristãos! Talvez sejamos impregnados de uma religiosidade teísta, mas não cristãos! O cristão é um escolhido, o cristão é alguém escolhido no coração de Deus antes da criação do mundo. Também este pensamento enche de alegria o nosso coração: eu sou escolhido! E dá-nos segurança.”

O Santo Padre sublinhou ainda que o nosso nome está no coração de Deus porque nós somos eleitos e isto é algo que não se consegue compreender e para o tentarmos entender devemos entrar no Mistério de Jesus Cristo quando celebramos a Eucaristia.

“Quando celebramos a Eucaristia, entramos neste Mistério, que não se pode compreender totalmente: o Senhor é vivo, está conosco, aqui, na sua glória, na sua plenitude e dá uma outra vez a sua vida por nós. Esta atitude de entrar no Mistério devemos entende-la em cada dia. O cristão é uma mulher, um homem que se esforça por entrar no Mistério.”

in iMissio

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O que é que gostaria de agradecer?



Ontem, durante a confissão, alguém apresenta uma lista impressionante de pecados. Quando terminou, perguntei: “O que é que gostaria de agradecer na sua vida?” “Como?” “Sim, o que é que gostaria de agradecer na sua vida? Desculpe se me equivoco, mas parece-me que a vê como um fardo… e bem pesado.” Levantou a cabeça, fixou-me o olhar e acenou afirmativamente. Da lista, passámos à conversa e o desabafo adensou-se. Histórias tramadas, é o que é. “A forma como vê a sua vida já é bastante dura e é já a penitência no sentido mais negativo da palavra. Se apresentou uma lista de pecados, pois bem, vai fazer uma lista superior de coisas que faz bem ou que gosta de fazer para seu prazer. Das mais simples às mais espectaculares, tipo: passear, ler um livro, dormir mais um bocadinho, ouvir uma música, comprar uma flor para alguém querido. É quase ridículo, sei, mas por vezes é preciso voltar às coisas simples para perceber a importância da nossa vida! Deus é mais simples do que pensamos e é nessa simplicidade que tantas vezes nos dá a Sua graça.”

Paulo Duarte

sábado, 11 de outubro de 2014

Será foto?



O vídeo abaixo representa a vida de uma mulher – do rosto de uma criança até uma mulher madura, em minutos e de forma excecional caracterizou evolutivamente, os traços faciais, as diferentes tonalidades da pele o cabelo.

Este artista quis provar que a vida de uma mulher é bonita em qualquer fase da idade independente das características faciais.

É incrível o que pode ver em apenas quatro minutos, são imensas as mudanças dos traços faciais que ocorrem ao longo da vida. Uma doce e gentil menina, seguida pela figura de uma jovem alegre e animada, e uma adolescente madura, aos poucos, lentamente estamos diante de uma avó gentil.

O que é mais espetacular é o fato de que nada é excluído do desenho inicial, tudo se transforma e assume novas formas. Cabeça, mãos, os olhos brilhantes – todos eles expressão a idade natural de cada fase, vai ficar surpreso.

A vida passa muito rápido, da infância à adolescência e à idade adulta até a velhice é tão curta!
Este filme nos inspira a valorizar a vida como ela é e desfrutar de cada momento vivido.

quarta-feira, 8 de outubro de 2014

Obrigado por iluminares a minha estrada!



"Deus Pai,
Muitas são as vezes que me afasto de Ti...
não propriamente por opção
mas porque me deixo desviar
por "trilhos" altamente manipuladores
existentes na minha própria mente.
Sempre na esperança de procurar atalhos,
encurtar caminhos numa busca incessante de felicidade imediata
mas que na verdade apenas me conduzem
para "labirintos" que só me retiram força,
até me levarem ao desgaste físico, mental e espiritual...
Quero com isto agradecer-te por nunca teres desistido de mim.
Resgataste-me nos momentos eu já não conseguia suportar!
Nunca me deste mais do que eu conseguia aguentar!
E mesmo em momentos como agora que aparentemente está tudo bem
vais-me relembrando através da minha consciência
que devo seguir o Teu caminho.
Ambos sabemos que nem sempre é o mais fácil
mas é o mais claro e gratificante no fim de cada dia.
Obrigado por iluminares a minha estrada!!

Que Ele esteja convosco, queridos irmãos/as!"

Rodrigo Menezes

terça-feira, 7 de outubro de 2014

Maria é modelo



«A Virgem,
que guardava no seu coração
a Palavra de Deus,
é modelo daquelas pessoas atentas
nas quais revive continuamente
a oração sacerdotal de Jesus.
E o Senhor escolheu de preferência a mulheres
que como ela se esqueceram completamente de si mesmas
para se submergir na vida e na paixão de Cristo,
para que fossem seus instrumentos
na realização de grandes obras na Igreja.

Santa Teresa Benedicta da Cruz (Edith Stein) | 1891 – 1942 
Edith Stein, Obras 404

Senhor,
eu te dou graças por todas as mulheres
que seduzidas pelo Teu Amor
deixaram que o Espírito Divino
as submergisse na Tua Vida e Paixão.
Negando-se a si mesmas
tiveram tudo como lixo
diante do bem supremo que é conhecer-Te e amar-Te.
Bendito sejas Senhor,
por manifestares nelas a força irresistível do Amor
e as chamares a participar
na Tua Obra de Salvação para o mundo.
Enamoradas da Tua imolação na Cruz
revivem em si mesmas o mistério da Nova Aliança,
em que Tu és o seu Sacerdote
e das suas vidas elevas ao Pai
a tua oração sacerdotal.
Bendito sejas Senhor,
por que em Maria Tua Mãe
estas mulheres encontram a sua força.

sábado, 4 de outubro de 2014

Não ter onde pousar a cabeça





É por esta vida que se chega à outra. Quantas vezes para chegar à luz, à paz, à fonte do bem em nós… temos de passar por caminhos longos, frios e escuros?

Viver é difícil, ser feliz, muito mais. É preciso aprender a dar e a aceitar. Compreender que as alegrias e as tristezas fazem parte da nossa essência e que não nos devemos nunca fechar. Cada um de nós é uma fonte de sentido para o mundo, para os outros e para si mesmo. Devemos olhar em frente, para lá do horizonte e seguir adiante. Apesar de tudo.

A felicidade depende de se ser simples. Envolve sofrimento, pela pureza que exige. Nunca se chega à felicidade pelo material, até porque passa por abdicar do que tem menos valor. Ser feliz é ser, não é ter.

Uma vida boa supõe que sejamos capazes de nos deixarmos tocar e influenciar pelo que nos rodeia, sem medo. Da capacidade de ser sensível ao que vem de fora resultam as impressões.

Da mesma forma, quem busca uma vida boa deve ser capaz de se dar ao mundo, entregando o melhor de si, arriscando o ridículo, sem medo. Da capacidade de exteriorizar o que vem de dentro, resultam as expressões.

Impressões e expressões tendem a funcionar de forma harmoniosa, numa espécie de respiração. Animam-se e potenciam-se uma à outra, garantindo uma autêntica experiência vital. A pressão que está na base de ambos os movimentos é a força que transforma uma sobrevivência biológica numa vida humana plena de sentido. Sem ela, aparece uma forma de de-pressão, uma falha grave desta dinâmica essencial onde se conjugam a ex-pressão e a im-pressão. O dar e o aceitar.

Antes de reconhecer sentidos à vida, importa compreendê-la tal como é. Aceitando os desafios em que nos lança…

A morte crava no fundo de cada homem a questão do sentido da vida, ainda que muitos vivam como se ela nem provável fosse! Adiam decisões, tarefas, empenhos, palavras e atos para um outro tempo, para um depois, como se este tempo fosse tão certo como o antes. Não é.

Pode haver um inferno antes da morte, um estado de alma de quem, tendo tido uma vida inteira à sua disposição, escolheu adiar o importante, acomodando-se à fatal rotina das insignificâncias. Depois, já num momento tardio, contemplará de forma triste e demorada a vida que escolheu para si. É aqui, neste tarde demais, sem qualquer hipótese de voltar atrás, que para muitos é tempo de sofrer. Sem des-culpas. Apenas a responsabilidade de quem se rendeu ao medo e abdicou de lutar pela felicidade profunda e duradoura. A única que existe.

Nada está decidido antes do último momento. Há sempre tempo para recomeçar.
Se morrer é certo, ser feliz não... E porque o preço da passividade é superior ao do erro, devemos arriscar a vida pela felicidade, antes da morte, antes do inferno do tarde demais. Com a possibilidade de sermos felizes, tratemos de não ter de ficar para sempre nas torturas da culpa. Com a firmeza de quem sabe que por maior que seja a tragédia, a felicidade depende sempre mais de nós do que das circunstâncias.

Muitas vezes a necessidade de sentido esbarra contra a aparente indiferença da realidade face às nossas questões e desesperos. Resulta óbvio que o mundo não nos responderá nem nos dará nada por pena. Mas é no abismo que nos separa do mundo que somos chamados a construir a resposta. A ser a resposta! A sermos o mundo que falta.

O caminho que traçamos e percorremos leva-nos à morte, mas é através dela que se chega ao infinito que existe para lá. É por esta vida que se chega à outra. Quantas vezes para chegar à luz, à paz, à fonte do bem em nós… temos de passar por caminhos longos, frios e escuros?
Posso não ter onde pousar a cabeça, mas ainda assim, não deixarei nunca de ter a obrigação de sonhar, lutar e ser feliz. Amando. Apesar de tudo.

Por José Luís Nunes Martins


Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...