segunda-feira, 28 de fevereiro de 2011

O céu e o inferno



Uma velha e ingénua mas sugestiva comparação do céu com o inferno é a dos condenados que andam sempre às voltas de um imenso caldeirão de comida, cheios de fome, porque as colheres de que dispõem são tão compridas que entornam o manjar e não conseguem provar nem um bocado. Espécie de suplício de Tântalo.
De igual caldeirão e mesmas colheres dispõem os escolhidos no céu, mas alimentam-se bem, pois cada um dá de comer ao que tem defronte.

Vale a pena a lição sobretudo em tempo de crise. O desemprego ou a falta de encomendas podem tornar «infernal» a nossa vida, mas também podem torná-la «celestial», não só no sentido de unirmos essa nossa cruz à Cruz de Cristo, mas também resistindo a pensar só em nós, no nosso problema, e estando atentos às necessidades e preocupações alheias. Vivendo a caridade.

Além disso, se procuro sozinho resolver a minha situação – da minha família – é mais difícil descobrir soluções do que em companhia de outros em idênticas circunstâncias. A ideia de que só os poderei ajudar quando resolver a minha vida é falsa: se tenho em mente os outros, aquele emprego que não me serve pode servir a outrém; a encomenda que não sou capaz de despachar pode ser útil a outra empresa. Por que não avisá-los?
A solidariedade não se limita a ajudar o mais fraco; o fraco também pode ajudar o mais forte. A rivalidade não serve a ninguém.
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domingo, 27 de fevereiro de 2011

Morada de Deus



Um dia pedi a DEUS instruções para viver na terra
DEUS encostou a sua boca ao meu ouvido e disse:
Sê como o Sol! Levanta-te a horas e não te deites tarde!
Sê como a lua, brilha na obscuridade! Porém submete-te à luz principal!
Sê como as flores! Enamoradas pelo sol, porém fiéis às suas raízes
...Sê como a fruta! Bela por fora e saborosa por dentro
Sê como o dia! Que chega e parte, sem querer dar nas VISTAS!
Sê como a lanterna! Mesmo pequena emite luz própria!
Sê como a água! Boa e transparente!
Sê como o oásis! Dá a tua água ao sedento!
Sê como o rio! Caminha e dá caminho!
Sê obediente e fiel ao teu DEUS!

E acima de tudo sê como o céu: A MORADA DE DEUS

Senhor: Não permitas que me deixe ficar onde estou!
Ajuda-me Senhor, a chegar onde Tu esperas que eu chegue!
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domingo, 20 de fevereiro de 2011

Morrer é só não ser visto



O verso certeiro de Fernando Pessoa que diz «Morrer é só não ser visto» ganhou, nos últimos dias, significados que nos deveriam desassossegar. As notícias que dão conta dos idosos que vivem e morrem em total solidão mostram-nos como a frase de Pessoa não é apenas uma alusão simbólica à invisibilidade dos mortos, mas se tornou uma descrição literal do que, entre nós, acontece aos vivos. Num número que ninguém ainda consegue bem quantificar, mas que os poucos indicadores dão como preocupante e crescente, multiplicam-se as situações de isolamento humano, sobretudo na terceira idade, precisamente quando o cuidado e o acompanhamento deveriam ser redobrados.

Por vezes, no cruzamento apressado das horas, deparamos com um rosto idoso que nos olha por detrás de uma janela, na nesga quase oculta de uma cortina, e fazemos por não pensar muito nisso. Mas que nos dizem esses olhos?  Que nos dizem esses olhos que nos olham em silêncio, sedentos de proximidade e de palavra; esses olhos para quem tudo é adiado; esses olhos que se sabem deixados para o fim ou nem isso; esses olhos impotentes e, ainda assim, tão doces; esses olhos que tacteiam as coisas e já não estão certos de as reconhecer ou de as poder activar; esses olhos que desistem um milhão de vezes por dia e nenhuma delas sem dor; esses olhos que se deixaram sequestrar pela televisão a tempo inteiro; esses olhos vazios do que não viram, mas que não desistem de esperar; esses olhos atrapalhados na geografia que alteramos sem aviso; esses olhos que não conseguem perceber a literatura incluída de um mundo que, sem o merecerem, lhes é hostil? Sim, que nos dizem os olhos que encontramos regularmente por anos a fio, ou mesmo só por uns meses, que nos habituamos a reconhecer na nossa paisagem anónima e distraída e, de repente, deixamos de ver? «Morrer é só não ser visto». Deveríamos escrever o verso de Pessoa na Constituição da República e no nosso coração.


José Tolentino Mendonça
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sexta-feira, 18 de fevereiro de 2011

A Oração levanta o Mundo


Um sábio disse:
«Dai-me uma alavanca, um ponto de apoio, e levantarei o mundo». O que Arquimedes não pôde obter, porque o seu pedido não se dirigia a Deus, e por não ser feito senão sob o ponto de vista material, os Santos obtiveram-no em toda a plenitude: o Todo-poderoso deu-lhes, como ponto de apoio: Ele mesmo e Ele só; e como alavanca: a oração, que abrasa com fogo de amor. E foi assim que levantaram o mundo; é assim que os santos que ainda militam na terra o levantam, e que, até ao fim do mundo, os futuros santos o levantarão também.

segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Mais trabalho, menos pasmaceira. Segredos para manter o romance


Já nenhum dos dois tem paciência para as conversas sobre trabalho mas as justificações estão viciadas: é no emprego que as culpas da rotina caem sempre. Tempo? É para o trabalho, para as tarefas domésticas, visitas à família, levar os miúdos à creche, ao ballet e ao inglês. Talvez nas férias sobre algum para o casal estar a sós. Estão juntos há anos mas a intimidade tornou- -se um corpo estranho. Já não se lembram da última vez que se tocaram. Também já não se lembram da última vez que pararam dois minutos para olhar o outro. Um está farto das críticas mas também não se lembra de fazer elogios. E a relação, que no início apostavam ter tudo para ser para sempre, já cansa. Não se separaram, mas perderam-se um do outro.

Pelo meio, A. e B. estabeleceram metas para perder quilos, fazer exercício físico, comer menos carne vermelha e reduzir triglicéridos e colesterol, agendaram datas para mudar de carro e de casa, escreveram na agenda planos profissionais a serem alcançados a cada três meses. Mas esqueceram-se dos objectivos conjugais. Como se o amor fizesse todo o trabalho por eles.

As rotinas condenam as relações longas ou é mais fácil do que parece salvar o romance? "A maioria das pessoas cai no erro de achar que não é preciso trabalho para manter viva uma relação", explica o psicólogo Manuel Peixoto. "E não é preciso fazer uma só coisa, é preciso fazer um tratado de coisas. As pessoas entram nas rotinas e se não se esforçarem para as contrariar é óbvio que a relação acaba mal."

A psicóloga Catarina Mexia usa uma frase de Salvador Minuchin, referência na terapia familiar, para mostrar como as relações precisam de tanto investimento como a carreira profissional: "Todos os casamentos têm erros. Alguns casais têm mais sucesso do que outros a repará-los."

Reparar uma relação é difícil mas não impossível, garantem os terapeutas. "O primeiro conselho que dou é que façam amor muitas vezes", adianta Manuel Peixoto. Problema: para A. e B. o desejo sexual mora para lá de Bagdade e as sessões de sexo que eram boas e pediam bis são um passado distante lembrado com tanta nostalgia como os mais velhos dizem "no meu tempo". Há solução: inovar, diversificar e conversar sobre o que se gosta e o que não se gosta. As relações precisam de erotismo mas "a vida sexual começa com a intimidade e isso não é igual a sexo", lembra Catarina Mexia. "A intimidade muitas vezes é criada na palavra que ouve de manhã ou no beijo que dá quando chega a casa."

Reservar dez minutos do dia para conversar sobre a relação é um bom primeiro passo. "Nos casamentos de maior sucesso, o casal tem uma grande capacidade de falar daquilo que sente. São pessoas capazes de criticar comportamentos - e não o outro. E até de adiar discussões para uma altura em que o nível de stresse seja menor para evitarem agressões", explica a terapeuta Catarina Mexia. Estar sempre a apontar defeitos é, para o terapeuta Manuel Peixoto, "um tiro no pé": "Nas relações há um eu, um tu e um nós. A crítica dirigida ao outro é sempre uma crítica ao casal."

É importante que um seja fã do outro e reservar tempo para elogios: não esquecer de dizer como ela está bonita ou como ele é talentoso "fazem o outro sentir-se valorizado". Outro dos segredos para manter a paixão numa relação em que um pensa já saber de cor o que vai na cabeça do outro é precisamente o contrário: "Nunca pensar que se conhece o outro." E tirar da cabeça que como são um casal têm de andar agarrados tipo lapa se querem ter uma relação longa e feliz. As relações precisam de uns graus de separação e cada elemento deve cultivar a sua individualidade. "Se estamos sempre lá e se as coisas são sistematicamente iguais não há novidade. E sem novidade não há proximidade ", explica Catarina Mexia. 

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Sigo o caminho de Cristo



Eu sigo o caminho de Cristo: Jesus é meu Deus, Jesus é o meu Esposo, Jesus é omeu único Amor, Jesus é o meu Tudo em tudo, Jesus é tudo para mim. É esta arazão pela qual não tenho medo. Faço o meu trabalho com Jesus, faço-o por Ele e dedicando-Lho; é por isso que os resultados são Seus, não são meus. Se tendes necessidade de um guia, basta-vos voltar os olhos para Jesus. Deveis confiar Nele e contar inteiramente com Ele. Desse modo, dissipam-se as dúvidase invade-vos a segurança. Mas Jesus disse: «Se não vos tornardes como crianças, não podeis vir a Mim» (Mt 18, 3).

Madre Teresa de Calcutá
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sexta-feira, 11 de fevereiro de 2011

Há amigos assim



Os amigos cada vez mais se vêem menos. Parece que era só quando éramos novos, trabalhávamos e bebíamos juntos que nos víamos as vezes que queríamos, sempre diariamente. E, no maior luxo de todos, há muito perdido: porque não tínhamos mais nada para fazer.

Nesta semana, tenho almoçado com amigos meus grandes, que, pela primeira vez nas nossas vidas, não vejo há muitos anos. Cada um começa a falar comigo como se não tivéssemos passado um único dia sem nos vermos.

Nada falha. Tudo dispara como se nos estivera - e está - na massa do sangue: a excitação de contar coisas e a alegria de partilhar ninharias; as risotas por piadas de há muito repetidas; as promessas de esperanças que estão há que décadas por realizar.

Há grandes amigos que tenho a sorte de ter que insistem na importância da Presença com letra grande. Até agora nunca concordei, achando que a saudade faz pouco do tempo e que o coração é mais sensível à lembrança do que à repetição. Enganei-me. O melhor que os amigos e as amigas têm a fazer é verem-se cada vez que podem. É verdade que, mesmo tendo passado dez anos, é como se nos tivéssemos visto ontem. Mas, mesmo assim, sente-se o prazer inencontrável de reencontrar quem se pensava nunca mais encontrar. O tempo não passa pela amizade. Mas a amizade passa pelo tempo. É preciso segurá-la enquanto ela há. Somos amigos para sempre mas entre o dia de ficarmos amigos e o dia de morrermos vai uma distância tão grande como a vida.

Miguel Esteves Cardoso
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segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Todos querem ser felizes...




«Quantos O tocavam ficavam curados» (Mc 6, 56)

Todos os homens querem ser felizes; não há ninguém que não o queira, e com tanta intensidade que o deseja acima de tudo. Melhor ainda: tudo o que querem para além disso querem-no para isso. Os homens perseguem paixões diferentes, um esta, outro aquela; também existem muitas maneiras de ganhar a vida neste mundo: cada um escolhe a sua profissão e exerce-a. Mas quer adoptem este ou aquele género de vida, todos os homens agem nesta vida para serem felizes.[...] O que há então nesta vida capaz de nos fazer felizes, que todos desejam mas que nem todos alcançam? Procuremo-lo. [...]

Se eu perguntar a alguém: «Queres viver?», ninguém se sentiria tentado a responder-me: «Não quero». [...] Do mesmo modo, se eu perguntar: «Queres ser saudável?», ninguém me responderá: «Não quero». A saúde é um bem precioso aos olhos do rico e, para o pobre, ela é muitas vezes o único bem que ele possui. [...] Todos concordam no amor pela vida e pela saúde. Ora quando o homem desfruta da vida e é saudável, poderá contentar-se com isso? [...]

Um homem rico perguntou ao Senhor: «Mestre, que devo fazer para ter a vidaeterna?» (Mc 10, 17) Ele temia morrer e era forçado a morrer. [...] Ele sabia que uma vida de dor e de tormentos não é vida, e que se lhe deveria antes dar o nome de morte. [...] Apenas a vida eterna pode ser feliz. A saúde e a vida neste mundo não a garantem, tememos demasiado perdê-las: chamai a isto «temer sempre» e não «viver sempre». [...] Se a nossa vida não é eterna, se não satisfaz eternamente os nossos desejos, não pode ser feliz, nem sequer é vida.[...] Quando entrarmos nessa vida, teremos a certeza de aí ficar para sempre. Teremos a certeza de possuir eternamente a verdadeira vida sem qualquer temor, pois encontrar-nos-emos naquele Reino sobre o qual se diz: «E o Seu reino não terá fim» (Lc 1, 33).

Santo Agostinho (354-430), 
Bispo de Hipona (África do Norte) e Doutor da Igreja 
Sermão 306,
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terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Um cê a mais



Quando eu escrevo a palavra ação, por magia ou pirraça, o computador retira automaticamente o c na pretensão de me ensinar a nova grafia. De forma que, aos poucos, sem precisar de ajuda, eu próprio vou tirando as consoantes que, ao que parece, estavam a mais na língua portuguesa. Custa-me despedir-me daquelas letras que tanto fizeram por mim. São muitos anos de convívio. Lembro-me da forma discreta e silenciosa como todos estes cês e pês me acompanharam em tantos textos e livros desde a infância. Na primária, por vezes gritavam ofendidos na caneta vermelha da professora: não te esqueças de mim! Com o tempo, fui-me habituando à sua existência muda, como quem diz, sei que não falas, mas ainda bem que estás aí. E agora as palavras já nem parecem as mesmas. O que é ser proativo? Custa-me admitir que, de um dia para o outro, passei a trabalhar numa redação, que há espetadores nos espetáculos e alguns também nos frangos, que os atores atuam e que, ao segundo ato, eu ato os meus sapatos.

Depois há os intrusos, sobretudo o erre, que tornou algumas palavras arrevesadas e arranhadas, como neorrealismo ou autorretrato. Caíram hifenes e entraram erres que andavam errantes. É uma união de facto, para não errar tenho a obrigação de os acolher como se fossem família. Em 'há de' há um divórcio, não vale a pena criar uma linha entre eles, porque já não se entendem. Em veem e leem, por uma questão de fraternidade, os és passaram a ser gémeos, nenhum usa chapéu. E os meses perderam importância e dignidade, não havia motivo para terem privilégios, janeiro, fevereiro, março são tão importantes como peixe, flor, avião. Não sei se estou a ser suscetível, mas sem p algumas palavras são uma autêntica deceção, mas por outro lado é ótimo que já não tenham.

As palavras transformam-nos. Como um menino que muda de escola, sei que vou ter saudades, mas é tempo de crescer e encontrar novos amigos. Sei que tudo vai correr bem, espero que a ausência do cê não me faça perder a direção, nem me fracione, nem quero tropeçar em algum objeto abjeto. Porque, verdade seja dita, hoje em dia, não se pode ser atual nem atuante com um cê a atrapalhar.

Manuel Halpern
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Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...