sábado, 12 de setembro de 2015

A chama da vida e o fogo das paixões


Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixões tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertações, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixão é sofrimento, um furor que é o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilíbrios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudência de entregar tudo sem uma vontade própria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilíbrio momentâneo. Afinal, quem nunca ousa está perdido, para sempre.

Há boas paixões. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguém faz ideia da capacidade que cada um de nós tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixões comuns, há quem perca a cabeça, o coração e a alma. Uma paixão forte que se consente pode fazer com que a mais digna das pessoas se destrua... se consuma, não ficando senão as cinzas em que ardeu. É preciso que saibamos cuidar do que queremos ser, mais do que do prazer que julgamos merecer. O nosso caminho deve ser decidido por nós, não por um qualquer impulso estranho à nossa vontade. Ser feliz passa por ser firme face às tentações do fácil e do imediato.

A verdadeira chama, aquela que nos ilumina, aquece e orienta, não é a das paixões, é a chama da vida. A vida ela própria, assim, simples e pobre na aparência. Aquela vida que tem consciência de que é, em si mesma, um dom. Uma luz. Um presente do divino. Uma presença divina. Não se trata de uma alegria de cumprir fantasias, antes sim da virtude suprema de saber apreciar os momentos da vida sem necessidade de ser sob a séria ameaça de a perder. Este é o único fogo que não consome.

O frio que por vezes sentimos na alma não é sinal de estarmos no caminho errado, apenas de que é hora de por à prova a nossa determinação.

A paixão aumenta a sua força à medida que crescem os obstáculos que se lhe opõem. Combate-se com a luz da razão e o calor do coração. Sem excessos nem violências. Apenas firmeza, sofrimento e paz.

Posso sofrer, mas não quero desistir de mim mesmo… assim eu me saiba fazer maior do que as minhas dores. Mais forte do que as minhas paixões...

José Luís Nunes Martins

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