sábado, 28 de dezembro de 2013

O último abraço que me dás


Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele

O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria, onde a elegância dos doentes os transforma em reis. Numa das últimas vezes que lá fui encontrei um homem que conheço há muitos anos. Estava tão magro que demorei a perceber quem era. Disse-me:

- Abrace-me porque é o último abraço que me dá durante o abraço

- Tenho muita pena de não acabar a tese de doutoramento

... e, ao afastarmo-nos, sorriu. Nunca vi um sorriso com tanta dor entre parêntesis, nunca imaginei que fosse tão bonito.

Com o meu corpo contra o dele veio-me à cabeça, instantâneo, o fragmento de um poema do meu amigo Alexandre O'Neill, que diz que apenas entre os homens, e por eles, vale a pena viver. E descobri-me cheio de respeito e amor. Um rapaz, de cerca de vinte anos, que fazia quimioterapia ao pé de mim, numa determinação tranquila:

- Estou aqui para lutar.

... e, por estranho que pareça, havia alegria em cada gesto seu. Achei nele o medo também, mais do que o medo, o terror e, ao mesmo tempo que o terror, a coragem e a esperança.

A extraordinária delicadeza e atenção dos médicos, dos enfermeiros, comoveu-me. Tropecei no desespero, no malestar físico, na presença da morte, na surpresa da dor, na horrível solidão da proximidade do fim, que se me afigura de uma injustiça intolerável. Não fomos feitos para isto, fomos feitos para a vida. O cabelo cresce-me de novo, acho-me, fisicamente, como antes, estou a acabar o livro e o meu pensamento desvia-se constantemente para a voz de um homem no meu ouvido

- Acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento, acabar a tese de doutoramento

porque não aceito a aceitação, porque não aceito a crueldade, porque não aceito que destruam companheiros. A rapariga com a peruca no braço da cadeira. O senhor que não olhava para ninguém, olhava para o vazio. Ali, na sala de quimioterapia, jamais escutei um gemido, jamais vi uma lágrima. Somente feições sérias, de uma seriedade que não topei em mais parte alguma, rostos com o mundo inteiro em cada prega, traços esculpidos a fogo na pele. Vi morrer gente quando era médico, vi morrer gente na guerra, e continuo sem compreender. Isso eu sei que não compreenderei. Que me espanta. Que me faz zangar. Abrace-me porque é o último abraço que me dá: é uma frase que se entenda, esta? Morreu há muito pouco tempo. xxx. Perdoem esta palavra mas é a única que me sai. xxx. Quando eu era pequeno ninguém morria. Porque carga de água se morre agora, pelo simples facto de eu ter crescido? Morra um homem fique fama, declaravam os contrabandistas da raia. Se tivermos sorte alguém se lembrará de nós com saudade. De mim ficarão os livros. E depois? Tolstoi, no seu diário: sou o melhor; e depois? E depois nada porque a fama é nada.

O que é muito mais do que nada são estas criaturas feridas, a recordação profundamente lancinante de uma peruca de mulher num braço de cadeira. Se eu estivesse ali sozinho, sem ninguém a ver-me, acariciava uma daquelas madeixas horas sem fim. No termo das sessões de quimioterapia as pessoas vão-se embora. Ao desaparecerem na porta penso: o que farão agora? E apetece-me ir com eles, impedir que lhes façam mal:

- Abrace-me porque talvez não seja o último abraço que me dá.

Ao M. foi. E pode afigurar-se estranho mas ainda o trago na pele. Durante quanto tempo vou ficar com ele tatuado? O lugar onde, até hoje, senti mais orgulho em ser pessoa foi o Serviço de Oncologia do Hospital de Santa Maria onde a dignidade dos escravos da doença os transforma em gigantes, onde só existem, nas palavras do Luís, Heróis.

Onde só existem Heróis. Não estou doente agora. Não sei se voltarei a estar. Se voltar a estar, embora não chegue aos calcanhares de herói algum, espero comportar-me como um homem. Oxalá o consiga. Como escreveu Torga o destino destina mas o resto é comigo. E é. Muito boa tarde a todos e as melhoras: é assim que se despedem no Serviço de Oncologia. Muito boa tarde a todos e até já, mesmo que seja o último abraço que damos.

sexta-feira, 27 de dezembro de 2013

Um punhado de sal



"O velho Mestre pediu a um jovem triste que colocasse uma mão cheia de sal em um copo d'água e bebesse.
- Qual é o gosto? - perguntou o Mestre.
- Ruim. - disse o jovem sem pensar duas vezes.
O Mestre sorriu e pediu ao jovem que pegasse outra mão cheia de sal e levasse junto com ele ao lago. Os dois caminharam em silêncio, e quando chegaram lá o mestre mandou que o jovem jogasse o sal no lago. O jovem então fez como o mestre disse.
Logo após o velho disse:
- Beba um pouco dessa água.
O jovem assim o fez e enquanto a água escorria do queixo do jovem o Mestre perguntou:
- Qual é o gosto?
- Bom! - o jovem disse sem pestanejar.
- Você sente o gosto do sal? - perguntou o Mestre.
- Não. - disse o jovem.
O Mestre então sentou ao lado do jovem, pegou em suas mãos e disse:
- A dor na vida de uma pessoa não muda. Mas o sabor da dor depende de onde a colocamos. Quando você sentir dor, a única coisa que você deve fazer é aumentar o sentido de tudo o que está a sua volta. É dar mais valor ao que você tem em detrimento ao que ao que você perdeu. Em outras palavras: É deixar de ser copo, para tornar-se um Lago."

quinta-feira, 26 de dezembro de 2013

É Natal


É tempo de alegria e gratidão! Chegaste! Celebremos a Tua vinda, neste dia tão especial. Parabéns e obrigada!

Obrigada por nos teres vindo mostrar que o amor que nos tens é maior que a soma de todos os nossos pecados.
 
Nasce, hoje, outra vez, em mim, para que se renove a inocência e a doçura do Menino, a obediência e a mansidão do Filho, a sabedoria e a paciência do Mestre e a misericórdia e o amor do Salvador.

Saiba eu, com a Tua graça, ser uma centelha da Tua luz, num mundo que perdeu a esperança, ser o silêncio sereno da Tua paz, num mundo de vozes que já não se entendem, e ser o testemunho do Teu amor com a simplicidade do meu viver.
 
Saiba eu lembrar-me, sempre, do modo como viveste entre nós para que, com o Teu auxílio, nunca me falte a coragem de prosseguir a caminhada, mesmo quando as minhas pernas fraquejarem e o meu corpo for trespassado pelas dores desta vida.
 
Saiba eu ter sempre presente o modo como morreste por todos nós, para que saiba acolher a Tua vontade, mesmo quando ela me parecer amarga e insuportável. Lembra-me, com carinho, que, aos pés da Tua Cruz, nenhum fardo é tão pesado que não o possa suportar.
 
Saiba eu entregar-me a Ti, sem medo e sem hesitar, depositando em Ti toda a minha esperança e renovando, diariamente, o meu "sim", com alegria e confiança, como fez Maria, com tanta ternura e fé, antes de todos nós.
 
Saiba eu corresponder ao Teu amor por nós, mantendo sempre acesa a chama da minha fé, cantando os Teus louvores e agradecendo Todas as dádivas que me concedes.
 
Obrigada pela Vida que És em mim, pela Verdade que me guia, pela Palavra que educa, pela Luz que ilumina o meu caminho, pela Paz que serena, pela Esperança que renova e pelo Amor que brota do meu coração.
 
É Natal! Parabéns Jesus!

Raquel Dias

terça-feira, 24 de dezembro de 2013

O sinal é a ternura de Deus



O sinal é que esta noite Deus se enamorou da nossa pequeneza e se fez ternura para toda a fragilidade, para todo o sofrimento, para toda a angústia, para toda a busca, para todo o limite; o sinal é a ternura de Deus e a mensagem que buscavam todos os que pediam sinais a Jesus, a mensagem que buscavam todos os desorientados, os que até eram inimigos de Jesus e O buscavam, no fundo da alma era este: buscavam a ternura de Deus, Deus feito ternura, Deus a acariciar a nossa miséria, Deus enamorado da nossa pequeneza. Hoje é isto que se proclama: a ternura de Deus. O mundo vai em frente, os homens continuam a buscar Deus, mas o sinal é sempre este!

Contemplando o Menino nascido no presépio, contemplando esse Menino enamorado da nossa pequenez, nesta noite cabe a pergunta: qual é a ternura de Deus para connosco? Deixas-te acariciar por essa ternura de um Deus que te quer bem, por um Deus feito ternura? Ou és indócil, e não te deixas buscar por esse Deus. “Não, eu não procuro a Deus», pode dizer-se. Não é muito importante que tu procures a Deus, porque o mais importante é que te deixes procurar por ele, pela sua carícia na ternura. Esta é a primeira pergunta que este menino, apenas com a sua presença, nos faz hoje. Deixamo-nos envolver por essa ternura? Deixas-te animar também a ser ternura para toda a situação difícil, para todo o problema humano, para quem está próximo, ou preferes a solução burocrática, executa, fria, eficiente, não evangelizadora? Se assim for é porque tens medo da ternura que Deus exerce contigo? E esta seria a segunda pergunta: aceito, através dos meus comportamentos, essa ternura que me deve acompanhar ao longo da vida, nos momentos de alegria, de tristeza, de cruz, de trabalho, de conflito, de luta?

A resposta do cristão não pode ser outra que a mesma resposta de Deus à nossa pequenez: ternura, mansidão. Quando vemos que um Deus Se enamora da nossa pequenez, que Se faz ternura para nos acariciar melhor, um deus que é mansidão, todo intimidade, todo proximidade, não nos resta outra coisa senão dizer-lhe: Senhor, se tu foste assim, ajuda-nos. Dá-nos a graça da ternura nas mais penosas situações da vida; dá-me a graça da proximidade, perante toda a necessidade humana, dá-me a graça da mansidão perante todo o conflito.

Peçamos isto porque esta é uma noite para pedir e atrevo-me a dar-vos uma tarefa para o lar: esta noite, ou amanhã, que não termine o dia de Natal, se, que encontreis um pouquinho de silêncio e pergunteis: que ternura é que Deus tem para comigo? Que ternura tenho eu para os demais? Que ternura costuma ser a minha em situações-limite? Que mansidão é a minha no trabalho e nos conflitos? E certamente Jesus vai responder-vos.

Cardeal Bergoglio, Buens Aires 2004

segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Pegadas na areia



Uma noite tive um sonho
Sonhei que andava a passear
Eram dois pares de pegadas
Mesmo ali à beirinha do mar

Vi a vida de cena em cena
Mesmo ali ao pé de mim
Voei como uma gaivota
Sem destino sem fim
Enquanto sobre as areias
Apenas um pé a andar
Levaste-me tu ao colo
Caminhando sobre o mar

Pegadas na areia
Um trilho teu
Talvez o que quiseste marcar.

De pegada em pegada
Deixei o meu trilho marcado
Numa areia, numa vida
Sempre contigo ali, ao meu lado
(Ao meu lado)
Pegadas na areia
Um trilho teu
Talvez o que quiseste marcar.

sábado, 21 de dezembro de 2013

Encontro com Deus precisa do silêncio


Encontro com Deus precisa do silêncio e foge da publicidade, sublinha papa Francisco
 
O papa Francisco pediu esta sexta-feira, durante a missa a que presidiu no Vaticano, «a graça de amar o silêncio», que precisa de ser protegido longe dos holofotes.
 
Deus não «faz publicidade do mistério», porque «um mistério que faz publicidade de si não é cristão, não é o mistério de Deus: é uma simulação de mistério», vincou Francisco, citado pela Rádio Vaticano.
 
A «sombra», a «nuvem», o «silêncio» constituem, de acordo com a narrativa bíblica, algumas das ocasiões em que Deus se revela, como se lê no Evangelho proclamado nas eucaristias desta sexta-feira, referente ao anúncio que um anjo faz a Maria sobre o nascimento de Jesus.
 
«Esta nuvem em nós, na nossa vida, chama-se silêncio: o silêncio é precisamente a nuvem que cobre o mistério da nossa relação com Deus», «mistério que não podemos explicar» e que «se perde» quando não há silêncio na vida.
 
Maria, a Mãe de Jesus, «foi o ícone perfeito do silêncio»: «Com o silêncio, protegeu o mistério que não compreendia [do nascimento de Jesus] e com este silêncio deixou que este mistério pudesse crescer e florir na esperança».
 
«Que Deus nos dê a todos a graça de amar o silêncio, de o procurar, e ter um coração guardado pela nuvem do silêncio», pediu Francisco a terminar a homilia.

Rádio Vaticano | Com SNPC

sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

A humildade é a semente da vida



A humildade é a semente da vida, diz papa Francisco

O papa Francisco sublinhou esta quinta-feira que Deus pode converter em fecundidade o que à partida parece estéril em termos físicos ou espirituais, desde que a soberba desapareça e dê lugar à humildade.

Referindo-se à leitura do Evangelho lida nas missas de hoje, em que contra todas as expetativas, Isabel, já idosa, fica grávida do seu primeiro filho, João Batista, Francisco lembra que Deus intervém não só em «mulheres estéreis», mas também naquelas que «não têm esperança de vida».

«Eu sou capaz de dar vida» é o que Deus quer dizer ao agir em chão infértil, afirmou o papa, citado pela Rádio Vaticano, acrescentando que também nos profetas surge a imagem da «terra deserta incapaz de fazer crescer uma árvore, um fruto, de fazer germinar qualquer coisa».

«O deserto será como uma floresta, dizem os profetas, será grande, florirá. Mas o deserto pode florir? Sim. A mulher estéril pode dar vida? Sim. Aquela promessa do Senhor: Eu posso! Eu posso da secura, da vossa secura, fazer crescer a vida, a salvação. Eu posso da aridez fazer crescer os frutos», vincou Francisco.

Na homilia da missa a que presidiu no Vaticano, o papa advertiu para o fracasso de quem pensa converter a sua vida sem pedir ajuda a Deus, como chegou a acontecer na história da Igreja.
«É a intervenção de Deus que nos ajuda no caminho da santidade. Só Ele pode. Mas da nossa parte, que podemos fazer? Primeiro: reconhecer a nossa aridez, a nossa incapacidade de dar vida», apontou.

O segundo momento consiste em pedir ajuda: “Senhor, eu quero ser fecundo. Eu quero que a minha vida dê vida, que a minha fé seja fecunda, e progrida, e possa dá-la aos outros. Senhor, eu sou estéril, eu não posso, Tu podes. Eu sou um deserto: eu não posso, Tu podes”.»

Recordando a narrativa bíblica de Micol, jovem fecunda que se tornou estéril, o papa salientou que «os soberbos, aqueles que crêem que podem fazer tudo por si, são atingidos».

A terminar, Francisco fez a apologia da «humildade do deserto», que com a consciência da sua pobreza recebe «a graça de florir, de dar fruto e de dar vida».


quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Oração ao Menino Jesus


Ó meu Menino adorado,
quis fazer de mim um berço
decorado a ouro e prata
para te poder acolher…
Disseste-me docemente
sussurrando ao meu ouvido:
Não quero o meu berço assim,
mas como te vou dizer.
Constrói-o só em verdade,
reveste-o de simplicidade,
aquece-o na caridade
e que todos o possam ver,
porque é num berço assim
que Eu quero vir a nascer.
Respondi-Te com meiguice
esperançado na resposta:
Mas Tu sabes, meu Menino
que sozinho nada consigo.
Por isso Te peço, ó Pai
que envies o Teu Santo Espírito
e me faças em berço novo,
segundo a Sua vontade.
Que no alto desponte a Luz
para que todos possam ver,
o meu berço,
todos os berços,
em que Jesus vai nascer…
Joaquim Mexia Alves, via Spe Deus

quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Oração pelas minhas paróquias



Senhor,
esta é a minha oração de hoje:
Obrigado pelas minhas paróquias.
Estou a aprender com estas comunidades!
Tenho tanto para Te agradecer!

Nelas estou a descobrir-Te,
Estou a aprender a amar-Te e a seguir-Te,
Nelas escuto a Tua Boa Nova,
Delas recebo o pão necessário para o caminho

Quando me canso, deixam-me a sua palavra de entusiasmo,
Quando caio e falho, dão-me o perdão,
Quando me sinto débil, fortalecem-me,
Quando “acomodo-me”, despertam-me.

Obrigado, Senhor pelas minhas paróquias,
Obrigado pelas crianças e os jovens,
Pelos maiores e os mais idosos.
Todos formamos a Tua Comunidade, a Igreja.

Hoje, também quero pedir-Te, por elas, Senhor;
Pelos seus grupos e actividades, pela sua gente.
Como me ajudam!

Que sejamos um pedaço acolhedor,
Um lugar onde nos queremos e respeitamos,
Um espaço onde vivemos com irmãos,
Onde, unidos, nos esforçamos pelo Teu Reino.

Ainda Te peço mais:
Com a força de que sou capaz,
que as minhas/tuas paróquias não lutem por si e pela sua causa.
Antes se empenhem por Ti e pela Tua causa.

Que não sejamos falados por fazer muitas coisas,
Por ser muitos e importantes.
Que nos conheçam, Senhor, por vibrar e sonhar
Com o que Te fez vibrar e sonhar.

Senhor, dou-Te graças pelas minhas paróquias.
Que elas sejam sempre "Comunidade".
Elas são, apenas e só, o caminho.
Tu és a meta e o horizonte!

domingo, 15 de dezembro de 2013

Creio em Vós



«Creio em Vós.
Espero em Vós.
Amo-Vos unicamente a Vós,
Deus Omnipotente e Senhor meu.
Jesus amoroso,
vem ao meu coração
e visita a minha alma que tanto Te deseja.
Dignai-Vos saciar a minha fome,
bom Jesus.
Vinde,
enchei a minha alma
e deixai o meu amor cheio.»

Santa Teresa Margarida de Redi | 1747 – 1770 
In Creio em Vós. Espero em Vós.

Senhor,
tenho fome e sede de Ti.
Tantas vezes não sei sequer
que fome é esta que me enche.
E contudo é fome de amor,
é sede de esperança,
desejo de uma vida nova,
de uma felicidade que saberei reconhecer quando chegar.
Senhor, és Tu o objecto de todos os meus desejos.
Na infinitude do Teu amor por mim,
abre o meu coração,
para que possa receber a semente da paz e da alegria,
que germina para a uma vida nova e eterna,
que começa já no tempo.
Essa semente és Tu!
Vem Senhor Jesus

O desinteresse do amor

Foto: O desinteresse do amor
 
O amor é um ato íntimo, original e singular. Uma força que se define cada vez que se faz protagonista de uma vida concreta. 

Amar não supõe reciprocidade. Será o nosso natural egoísmo que tende a fazer-nos crer (e querer) que a felicidade passa por recolher o máximo sem ter de entregar o mínimo. Quando a verdade é o rigoroso oposto disso: feliz será quem dá tudo sem querer receber nada em troca. Amar é abdicar de si, fazer-se uma abundante fonte de bem. 

O amor não é universal nem frequente. Poucos são capazes de compreender que o valor de uma existência é servir outra. Ser instrumento. Entregar a própria vida em favor da realização da felicidade de outra, sem contar perdas ou recompensas pelos seus gestos.

Um dos principais equívocos a respeito do amor resulta da semelhança que se encontra entre o (meu) egoísmo e o amor do outro (por mim)... de facto, tendem estas duas tensões para um mesmo fim, há até aquilo que parece ser uma espécie de sintonia perfeita, uma compreensão plena... mas, na verdade, trata-se de um amor e um egoísmo. Uma felicidade e uma infelicidade, na ordem inversa à das aparências.

Há cada vez mais gente sedenta de ser feliz, julgam até tratar-se de um direito seu – resultante de um dever dos outros...  acham que se é feliz a receber... e, assim, buscam em todas as fontes – e todas as fontes lhe parecem pouco... definham de tanto desejo, sem se darem conta que, afinal, ser feliz começa no dar... no talento divino de ser dom na vida de outra pessoa. 

Ninguém se ama a si mesmo. É preciso que nos abandonemos para que nos possamos encontrar. É para o espaço entre o que sou e o que melhor posso ser que devo ir. Potenciando todos e cada um dos meus talentos. Sendo... sempre no melhor sentido, naquele que vai de mim para o outro. 

Quando se estabelecem parcerias com contabilidade organizada, nas quais se regista cada gesto, onde tudo não passa de uma espécie de máquina de equilíbrios e jogos de cedências... aí, não há amor, a exigência não é parte do amor – é a essência do egoísmo.

O amor é natural, não ao ser humano, mas ao ser divino. É pelo amor, no entanto, que o homem se faz imagem e semelhança de Deus.

Muitos são os que não conseguem imaginar que alguém ame quem lhe quer mal. Mas a maldade não se combate com a maldade... e é quem escolhe o mal que mais precisa do amor para se salvar.

O amor não existe entre os seres humanos, no sentido de os atrair mutuamente, brota de dentro de quem o escolhe, e acolhe, de forma livre e consciente como sentido para a sua vida, levando essa pessoa ao encontro de outra, ao melhor de si, ao melhor da outra. Mas o propósito é o outro, a felicidade do outro... nunca a própria. 

Pelo amor aproximamo-nos da perfeição, o caminho começa onde a imaginação ocupa ainda os espaços vazios que a realidade não preencheu... a pouco e pouco aprende-se que só o amor nos torna dignos dele mesmo, e que é preciso sermos capazes de nos libertarmos a nós próprios, das amarras dos nossos narcisismos, das garras das nossas cobardias, para que cheguemos a ser quem podemos (e devemos) ser.

O amor une – o homem a Deus. Quebra os muros das incompreensões e suplanta as montanhas da solidão. É uma vontade criadora, bondade pura, generosidade de quem ousa sonhar os sonhos de outrem... num caminho sempre solitário, por onde se sofre e se é feliz a cada passo. Sem condições, exigências ou promessas.

Quando o amor é verdadeiro perdura, ainda que sem qualquer estímulo para continuar... 

O amor não exige nada, mas espera tudo!


José Luís Nunes Martins
jornal i, 
14 dezembro 2013

http://www.ionline.pt/iopiniao/desinteresse-amor

O amor é um ato íntimo, original e singular. Uma força que se define cada vez que se faz protagonista de uma vida concreta. 

Amar não supõe reciprocidade. Será o nosso natural egoísmo que tende a fazer-nos crer (e querer) que a felicidade passa por recolher o máximo sem ter de entregar o mínimo. Quando a verdade é o rigoroso oposto disso: feliz será quem dá tudo sem querer receber nada em troca. Amar é abdicar de si, fazer-se uma abundante fonte de bem.

O amor não é universal nem frequente. Poucos são capazes de compreender que o valor de uma existência é servir outra. Ser instrumento. Entregar a própria vida em favor da realização da felicidade de outra, sem contar perdas ou recompensas pelos seus gestos.

Um dos principais equívocos a respeito do amor resulta da semelhança que se encontra entre o (meu) egoísmo e o amor do outro (por mim)... de facto, tendem estas duas tensões para um mesmo fim, há até aquilo que parece ser uma espécie de sintonia perfeita, uma compreensão plena... mas, na verdade, trata-se de um amor e um egoísmo. Uma felicidade e uma infelicidade, na ordem inversa à das aparências.

Há cada vez mais gente sedenta de ser feliz, julgam até tratar-se de um direito seu – resultante de um dever dos outros... acham que se é feliz a receber... e, assim, buscam em todas as fontes – e todas as fontes lhe parecem pouco... definham de tanto desejo, sem se darem conta que, afinal, ser feliz começa no dar... no talento divino de ser dom na vida de outra pessoa.

Ninguém se ama a si mesmo. É preciso que nos abandonemos para que nos possamos encontrar. É para o espaço entre o que sou e o que melhor posso ser que devo ir. Potenciando todos e cada um dos meus talentos. Sendo... sempre no melhor sentido, naquele que vai de mim para o outro.

Quando se estabelecem parcerias com contabilidade organizada, nas quais se regista cada gesto, onde tudo não passa de uma espécie de máquina de equilíbrios e jogos de cedências... aí, não há amor, a exigência não é parte do amor – é a essência do egoísmo.

O amor é natural, não ao ser humano, mas ao ser divino. É pelo amor, no entanto, que o homem se faz imagem e semelhança de Deus.

Muitos são os que não conseguem imaginar que alguém ame quem lhe quer mal. Mas a maldade não se combate com a maldade... e é quem escolhe o mal que mais precisa do amor para se salvar.

O amor não existe entre os seres humanos, no sentido de os atrair mutuamente, brota de dentro de quem o escolhe, e acolhe, de forma livre e consciente como sentido para a sua vida, levando essa pessoa ao encontro de outra, ao melhor de si, ao melhor da outra. Mas o propósito é o outro, a felicidade do outro... nunca a própria.

Pelo amor aproximamo-nos da perfeição, o caminho começa onde a imaginação ocupa ainda os espaços vazios que a realidade não preencheu... a pouco e pouco aprende-se que só o amor nos torna dignos dele mesmo, e que é preciso sermos capazes de nos libertarmos a nós próprios, das amarras dos nossos narcisismos, das garras das nossas cobardias, para que cheguemos a ser quem podemos (e devemos) ser.

O amor une – o homem a Deus. Quebra os muros das incompreensões e suplanta as montanhas da solidão. É uma vontade criadora, bondade pura, generosidade de quem ousa sonhar os sonhos de outrem... num caminho sempre solitário, por onde se sofre e se é feliz a cada passo. Sem condições, exigências ou promessas.

Quando o amor é verdadeiro perdura, ainda que sem qualquer estímulo para continuar...

O amor não exige nada, mas espera tudo!


José Luís Nunes Martins
jornal i,
14 dezembro 2013

http://www.ionline.pt/iopiniao/desinteresse-amor

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

Mudança radical



“Sabe o que eu mais sinto falta? Ser despreocupado!”
Estas são as palavras que inspiraram um novo projeto que tem como objetivo ajudar pacientes com cancro a esquecer a sua doença “nem que seja apenas por um segundo”.
A Fundação Mimi, em colaboração com Leo Burnett, reuniu 20 pacientes com cancro, em junho. Os homens e as mulheres pensavam que estariam recebendo uma mudança de visual comum e foram convidados a fechar os olhos durante essa transformação. Porém, quando abriram os olhos viram no espelho uma mudança radical, pode-se até dizer “escandalosa”. O que eles também não contavam é que estavam a ser fotografados e filmados!
Assim, todos ganhamos esse presente incrível: ver a expressão de pessoas que lutam contra o cancro sem a mácula da doença. Por um segundo eles só pensaram no que viram: uma mudança radical! Nada de um rosto marcado pela doença, mas verdadeiros personagens!
Eles não puderam deixar de rir e, por um momento, ficaram, mais uma vez sem preocupações.
Incrível, não é? Vejam o vídeo que gravou esta experiência. São fantásticas as expressões dos modelos.




quinta-feira, 12 de dezembro de 2013

Jesus Costales



Em 2012 realizou-se no Santuário de Covadonga (Astúrias) e foi organizado pelo chefe do respectivo Ramo Jesus Costales. O Jesus tem pouco mais de trinta anos e tem uma doença que o impossibilita de mexer-se do pescoço para baixo. É licenciado em psicologia e está a fazer um doutoramento. Estuda e escreve no computador com um rato especial que opera com a boca.

Nesta época em que tanta gente se queixa, o exemplo de fé do Jesus Costales é merecedor de divulgação, como motivo de inspiração.

quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

A fórmula da vida honesta



Não procures granjear a amizade de alguém por meio da adulação, nem permitas que outros por meio dela granjeiem a tua. Não sejas ousado nem arrogante; submete-te e não te imponhas; conserva a serenidade e aceita de boa mente as advertências e com paciência as repreensões. Se alguém te repreender com razão, reconhece que é para teu bem; se o faz sem motivo, admite que é com boa intenção. Não temas as palavras ásperas, mas sim as brandas.

Emenda-te dos teus defeitos e não sejas curioso indagador ou severo censor dos alheios; corrige os outros sem incriminação, prepara a advertência com mostras de sincera simpatia, e ao erro dá facilmente desculpa.

Não exaltes nem humilhes pessoa alguma. Sê discreto a respeito do que ouves dizer e acolhedor benévolo dos que te querem ouvir. Responde prontamente a quem te pergunta e cede facilmente a quem porfia, para que não venhas a cair em contendas e imprecações.

Se és moderado e senhor de ti mesmo, vigia sobre as moções do teu ânimo e os impulsos do teu corpo, evitando todas as inconveniências; não os ignores pelo facto de serem ocultos; pois não importa que ninguém os veja, se tu de facto os vês.

Sê flexível, mas não leviano; constante, mas não teimoso. A tua ciência não seja ignorada nem molesta. Considera a todos iguais a ti; não desprezes os inferiores com altivez, e não temas os superiores, se vives rectamente. Em matéria de obséquios e saudações não te dispenses nem os exijas. Para todos deves ser afável; para ninguém, adulador; com poucos, familiar; para todos, justo.

Sê mais severo no discernimento do que nas palavras e mais nobre na vida do que na aparência. Afeiçoa-te à clemência e detesta a crueldade. Quanto à boa fama, não apregoes a tua nem invejes a alheia. Sobre rumores, crimes e suspeitas não sejas crédulo nem inclinado a pensar mal, mas opõe-te decididamente àqueles que com aparente simplicidade maquinam a difamação alheia.

Sê tardo para a ira e fácil para a misericórdia; firme nas adversidades, prudente e moderado nas prosperidades; ocultador das próprias virtudes, como outros o são dos vícios. Evita a vanglória e não busques o reconhecimento das tuas qualidades.

A ninguém desprezes por ignorante. Fala pouco, mas tolera pacientemente os faladores. Sê sério mas não desumano, e não menosprezes as pessoas alegres.

Sê desejoso da sabedoria e dócil. Sem presunção, ensina o que sabes a quem to pedir; e sem disfarçar a ignorância, pede que te ensinem o que não sabes.

S. Martinho de Dume
Fórmula de vida honesta

Pedir



É um verbo humaníssimo, este verbo pedir. Pedimos coisas diferentes e de formas absolutamente variáveis. Quando nascemos, começamos por pedir aos gritos que partam em nosso socorro, antes de termos as palavras. Quando aprendemos a usá-las, ganhamos talvez maior tranquilidade no pedir, mas nem sempre. Pedimos porque não nos bastamos a nós próprios. E isso, que seguramente é um elemento que nos redime, não deixa de ser igualmente uma ferida. O léxico do pedir é prolífero, mas também inconstante. Pedimos com simplicidade e com inúmeros rodeios. Mantemo-nos fluentes ou gaguejamos, mergulhados numa insegurança que nos tolhe.

Pedimos oralmente, por escrito, por entreposta pessoa, de forma ostensiva ou subtil, ou, até, com maior ou menor consciência de que um pedido está a ser formulado. Há mesmo momentos da vida (e não são poucos) em que faríamos tudo para não ter de pedir. Esta dificuldade nem sempre é má Precisamos de autonomia para maturarmos o nosso caminho pessoal, e todas as dependências de que a vida se tece só ganham em ser sacudidas e purificadas por um espírito de liberdade que se afirma. Pedir pode tornar-se um obstáculo a aprendizagens que estão perfeitamente ao nosso alcance. Mas o contrário também é verdade, pois crescemos no reconhecimento de que sem os outros nós não somos. De entre todos os pedidos, os que nos custam mais são os mais simples, aqueles imateriais, e que se prendem com a arquitetura (ou arquitextura, como ensinou Derrída) das relações: pedir amor, pedir desculpas, pedir presença, conversa, calor, compaixão. Aí é tão fácil ficar enredado em engulhos, coisas não-ditas ou mal-entendidas.

Penso muitas vezes num pedinte que conheci em Roma. Era (e é) impossível não dar com ele quando se visita a cidade. Eu estava sempre a esbarrar com uma das suas passagens: à saída da universidade, da biblioteca, do cinema, no Campo das Flores, em São Pedro, por todo o lado. De dia ou de noite. Um homem que andará hoje pelos sessenta anos de idade, com um porte discreto, delicado até. Abeira-se dos passantes com duas perguntas. «Fala italiano?» - atira primeiro. E, qualquer que seja a resposta, dá o passo seguinte. Pegando cuidadosamente numa moeda entre os dois dedos e colocando-a perto dos nossos olhos, roga: «Tem 100 liras?». Conheci-o assim, ainda antes do euro. Com a integração na moeda única, ele também se ajustou, passando a pedir 10 cêntimos.

A primeira vez que a sua interpelação nos é dirigida pensamos que se trata de alguém que precisa de completar a quantia necessária para um bilhete de metro ou para uma fatia de pizza. Depois de o encontrarmos centenas de vezes, ficamos sem saber exatamente o que pensar. Assisti, porém, a uma cena que porventura pode esclarecer parte do enigma.

Numa rua, à volta do Panteão, estava sentado um outro mendigo. Melhor seria dizer que estava prostrado. Com um vestuário andrajoso, um braço deformado por caroços, um ar que trazia misturado tudo: dor e exclusão. À distância, vejo o pedinte aproximar-se dele. E, para meu espanto, percebo que repete ao mendigo a cantilena que faz a todos os outros, mostrando-lhe insistentemente uma moeda. Talvez para afastá-lo, talvez vencido pela compaixão, vejo que o mendigo tira do seu prato uma moeda que lhe entrega. E foi neste momento que a cena se tornou inesquecível. O pedinte ajoelha-se ali diante de todos, agarra as mãos do mendigo e beija-as repetidamente, turbado pela emoção. Penso que finalmente o percebi. Ele não pedia moedas. Pedia um bem mais raro e vital: pedia o dom.


José Tolentino Mendonça
In Expresso, 23.11.2013

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

Imaculada



«É certo que nenhuma vida humana
está isenta de pecados,
só a Imaculada se apresenta absolutamente pura
diante da Majestade Divina.
Que alegria pensarmos
que esta Virgem é nossa mãe!
Se ela nos ama
e conhece a nossa fraqueza,
que temos a recear?»

Santa Teresa do Menino Jesus | 1873 - 1897
Carta 226, 1 vº

Senhor,
neste tempo de Advento
a Imaculada vem-me relembrar
a certeza do infinito amor por mim
que tens por mim.
Sim, tanto me amaste e amas
que A criaste para mim,
para que por Ela nascesse o meu Salvador!
Senhor, eu não sou isento de pecado,
como a Imaculada,
mas posso, com a Tua graça,
transformar o meu pecado em motivo de confiança
e abandono na Tua Misericórdia infinita.
Se o meu pecado é grande,
infinitamente maior é a Tua misericórdia para comigo,
a ponto de Te dares inteiramente a mim!
Comovo-me e adoro-Te, Senhor!
Vem, Senhor Jesus!
Minha Mãe, ajuda-me a receber o Teu Filho! 

sábado, 7 de dezembro de 2013

A Indignidade Que Colamos à Pobreza



Tempos de crise dão origem a manifestações de fraternidade. Partilhamos com os pobres e com os filhos dos amigos roupa em bom estado. Partilhamos com os necessitados roupa que já não queremos mas que para eles serve perfeitamente. Ficam assim todos contentes. A sociedade vai aprendendo, hoje em dia as pessoas têm muito mais cuidado. Podemos dar coisas um bocadinho fora de moda, um bocadinho coçadas mas o pobre «tem que saber viver remediadamente, administrar bem aquilo que tem e não morder a mão que se lhe estende». De resto, não é isso que acontece nas famílias? Quando um primo fica pobre, deixamos de lhe comprar presentes, passamos a dar-lhe a nossa roupa usada, porque aos pobres se faz assim. E todos os meses temos a generosidade de lhe dar grão, batata, arroz, óleo, conservas, salsichas de lata e leite marca branca, que «até é o que compramos lá para casa». Hoje em dia existe uma rede fraterna que ajuda a pobreza a viver mais condignamente, considerações de luta pela justiça social à parte, que não é este o objectivo do artigo. Já é muito bom quando estes mecanismos funcionam e os particulares dão aos pobres o que já não querem, em vez de ficarem em casa, sentados no sofá. Levantarem-se e tentarem saber o que é que faz falta e onde, olhar à sua volta, participar generosamente em iniciativas como o «banco alimentar» já é muito bom.

Para os cristãos também é muito bom. Sobretudo para os alvos desta generosidade, pobres cristãos pobres. E tenho a certeza que Cristo também fica todo contente. Até porque Cristo não tem corpo, de maneira que qualquer coisa Lhe serve. Agora, aquele Cristo que está em cada um de nós, portanto, em cada pobre, talvez não ache grande graça andar sempre com roupa em segunda mão. Pelo menos no Natal. Pelo menos nos filhos. Nem o primo que ficou pobre, a quem passámos a dar roupa em segunda mão porque ficou pobre, porque aos pobres dá-se roupa em segunda mão, não é? Quem é que agora se lembra de ir comprar roupa para dar aos pobres? [A não ser aquela senhora, a quem aproveito para prestar aqui homenagem, que resolveu comprar quinhentas camisas numa fábrica.] O que é certo é que aos pobres se dá roupa pobre. Usada e coçada. Como eles. Cansados, coçados e usados.

Aqui há 2 ou 3 anos, uma instituição de caridade resolveu dar, pelo Natal, roupinhas aos bebés. Qual não foi o espanto da directora da instituição quando viu a desilusão estampada na cara das Mães porque as roupinhas eram em segunda mão. A directora estava tão habituada a pensar que aos pobres se dá coisas usadas que nem se lembrou que aquelas Mães podiam estar à espera de receber roupinhas novas. [Devo dizer que a directora aprendeu a lição.] Tenho a certeza que foi por estas e outras que Jesus disse: «Sempre que fizestes isto a um destes meus irmãos mais pequeninos, a Mim mesmo o fizestes» (Mt 25, 40). Jesus deu a sua dignidade divina aos pobres. Nós tinhamos-lhes tirado a humana, apontando-lhes a indignidade de serem pobres. Indignidade a que apontamos o dedo ao darmos sistematicamente coisas usadas. O leitor dir-me-á que os seus filhos também recebem roupa em segunda mão. Mas repare que só receber roupa usada porque não se pode comprar roupa nova é muito diferente de receber roupa usada para acrescentar à nova. Ao darmos sempre roupa usada estamos a apregoar que os pobres não têm a mesma dignidade que nós. Damos a entender, sem nunca o expressarmos verbalmente e, muitas vezes, nem disso termos consciência, que os pobres são infra-pessoas, ou pessoas de segunda categoria, pessoas que tornamos inferiores por só lhes darmos coisas inferiorizadas por nós, coisas que para nós deixaram de ter valor.

Uma pessoa vulgar ainda pode fazer isso, um cristão não, porque um pobre é um irmão, um seu irmão. Daí que Jesus também tenha dito: «É mais fácil passar um camelo pelo fundo de uma agulha, do que um rico entrar no Reino de Deus» (Mt 10, 25). Nós, os ricos, não precisamos. (Das palavras de Cristo.) Estamos empanturrados. (Com as nossas próprias palavras.) Não ligamos ao que Cristo disse, não acreditamos n'Ele. Temos roupa nova suficiente para sermos felizes sem acreditarmos.

Sem acreditarmos que estamos no mundo para sermos criados dos outros (pobres), para sermos os últimos, para lavarmos os pés. Estamos mas é contentes com as nossas honras, as nossas coisas boas, os últimos ipods, ipads, de não termos que pedir – o que no fundo é uma maldição –, cheios de tudo e ainda mais de pena dos pobres. Mas se até Cristo disse que «pobres sempre os tereis convosco» (Mt 26,11), o que é que se lhe há-de fazer? No fundo, somos ricos demais para acreditarmos que

Um pobre é mais do que nós.

Um pobre é um pequenino.

Um pobre é Cristo.

Um pobre é mesmo Cristo.

Mesmo.

Gonçalo Miller Guerra, s.j.

sexta-feira, 6 de dezembro de 2013

O homem que ensinou a perdoar



Tinha a sabedoria da paz. Preferiu a reconciliação ao ódio e devolveu a África do Sul à comunidade internacional. Esteve apenas cinco anos no poder efectivo, mas promoveu o perdão e conseguiu unir um país ferido por décadas de apartheid. Nelson Mandela morreu aos 95 anos.

www.rr.pt

quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

O sorriso de Cristo



Papa convida católicos a olharem para o sorriso de Cristo e a serem como Ele.
A paz, a alegria e a espiritualidade foram as notas dominantes da homilia que o papa Francisco pronunciou esta terça-feira, durante a missa a que presidiu na Casa de Santa Marta, no Vaticano. «Pensamos sempre em Jesus quando pregava, quando curava, quando caminhava, andava pelas estradas, também durante a Última Ceia… Mas não estamos tão habituados a pensar em Jesus sorridente, alegre», disse Francisco, citado pela Rádio Vaticano. Cristo quis que «a Igreja fosse também alegre»: «Não se pode pensar uma Igreja sem alegria, e a alegria da Igreja é precisamente isto: anunciar o nome de Jesus.»

terça-feira, 3 de dezembro de 2013

O Papa na Aula Magna



E de repente, eis que a nossa esquerda descobriu a doutrina social da Igreja.

O Papa Francisco lançou uma exortação apostólica, que em larga medida é um programa do seu papado (com um nível de qualidade, detalhe e empenho muito superior ao guião de Paulo Portas – talvez ele possa começar a recorrer aos serviços do Vaticano), e perante certas passagens de A Alegria do Evangelho, onde o Papa critica a idolatria do dinheiro (“o dinheiro deve servir, e não governar!”) e o capitalismo selvagem, logo ele foi cooptado pela esquerda mais gongórica como um quase-discípulo de Mário Soares, como se a exortação de Francisco tivesse sido escrita para ser lida no encontro da Aula Magna.

Convém, portanto, em nome do rigor e da seriedade dos argumentos, avançar com uma breve citação: “Os trabalhadores isolados e sem defesa têm-se visto, com o decorrer do tempo, entregues à mercê de senhores desumanos e à cobiça de uma concorrência desenfreada. A usura voraz não tem deixado de ser praticada por homens ávidos e gananciosos, e de insaciável ambição. A tudo isto deve acrescentar-se que a contratação do trabalho e a condução dos negócios se concentram nas mãos de um pequeno número de ricos e de opulentos, que impõe assim um jugo quase servil à massa imensa do proletariado.” De onde é que este texto é retirado? De O Capital? Do Manifesto Comunista? Do 18 de Brumário de Luís Bonaparte? Nada disso. Da encíclica de Leão XIII Rerum Novarum, documento fundador da chamada doutrina social da Igreja, escrita em… 1891.

Só quem tem andado muito distraído nos últimos 122 anos é que pode agora descobrir, com o espanto com que Adão e Eva se aperceberam nus, que a Igreja defende a primazia do ser humano sobre o dinheiro, que se opõe às desigualdades e que coloca os mais pobres no centro das suas preocupações pastorais. Mas, como se costuma dizer, mais vale tarde do que nunca, e é bom ver tão vasto número de ovelhas dispostas a regressar ao redil de São Pedro, até porque a Igreja anda com falta de vocações. Por este andar, pode ser que ainda veja Francisco Louçã e Catarina Martins a entregarem sacos do Banco Alimentar à entrada do supermercado.

Ah, não, espera, isso já não pode ser – porque isso é caridade. E a caridade não serve os propósitos de certa esquerda, que a vê como uma forma de os ricos perpetuarem o jugo sobre os pobres, dando-lhes apenas o suficiente para eles não se revoltarem. Essa esquerda adora ouvir o Papa dizer que a “economia mata”, mas não suporta ouvir D. Manuel Clemente dizer que a “fé actua pela caridade”. Lá está: é o velho tique de amar muito a Humanidade como um todo, mas não ter grande interesse pelos homens em particular. A Igreja não funciona assim: cada pessoa é sagrada – individualmente sagrada, a cada hora do dia, e por isso não pode ser usada como um meio (o sofrimento como combustível da revolta) ainda que ao serviço de um fim muito bem-intencionado (um mundo onde todos sejam iguais)

Convinha que não cortassem a mensagem do Papa às postas para ficarem só com a parte que lhes interessa. Porque quando Francisco diz que o problema maior da sociedade actual é a exclusão, e que os excluídos já nem sequer são explorados, porque se limitam a ser “resíduos” e “sobras”, ele não está imediatamente a pôr-se do lado de manifestantes e grevistas. Está a pôr-se muito mais abaixo, ao lado daqueles que nem roubados podem ser, porque já não têm nada. Infelizmente, nem sequer um sindicato".

João Tavares

segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

Que diremos nós ao Anjo do Advento?

Anjo

Que o Teu Anjo Senhor
possa testemunhar como trazemos cravada
a necessidade da Tua mão,
a absoluta necessidade de sentir a Tua mão funda,
capaz de nos acolher tal qual somos
tal qual nos encontramos;

Que o Teu Anjo relate este desejo que temos
de sentir o roçar, mesmo que leve,
da Tua imensidão
no precipitado, no precário, no incerto
das nossas quotidianas rotas;

Que o Teu Anjo descreva o que viu em nós:
a fome e o desejo
o labor e a imperfeição
o silêncio e a prece com que dizemos
com que Te dizemos:
Vem!

José Tolentino Mendonça

sexta-feira, 29 de novembro de 2013

Parar de ferir a família de Deus




Entre cristãos também surgem desavenças. Não sendo o ideal, o que é verdade é que há despiques e, por sinal, bem acalorados. No entanto, pior do que roçarem o desrespeito por posições contrárias é enveredarem por soluções inaceitáveis. Em vez de tratarem no ambiente fraternal os seus diferendos, lamenta-se a opção por meios litigiosos. Além de se maltratarem publicamente, acabam por esmurrar o evangelho. Escolher ringues seculares para dirimir divergências espirituais é um contra-senso. Teimar em dar tiros nos pés é prova de falta de amor próprio e, sobretudo, a Deus. Tendo-lhes Ele dado o privilégio de ajuizar todas as coisas, não lembra a ninguém recorrer a pessoas que não O temem. Daí a legítima pergunta que ainda hoje paira no ar: “Não há, pois, entre vós sábios, nem mesmo um, que possa julgar entre os seus irmãos?”. Na falta de alternativas mais vale sofrer-se a injustiça e o dano pois já é suficientemente vergonhoso que haja “demandas uns contra os outros”. É tempo, e com significativo atraso, de largar as questiúnculas, parar de ferir a família de Deus e deixar de maltratar o Seu reino.

Jónatas Figueiredo

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Um amigo é um irmão que escolhemos



Quão frequente é ouvirmos e lermos a palavra “amigo” ou “amizade” durante o nosso dia?
De facto, situações não faltam, a começar pelas músicas que passam na rádio, nos anúncios de televisão, na internet, em conversas com pessoas…
mas será que já paraste para pensar na mais autêntica e pura definição de amizade?
Será sequer possível encontrar uma boa definição, quando temos relações tão diferentes de amigo para amigo? (...)

“Quem encontrou um amigo, descobriu um tesouro”, ensina a Bíblia.
Um amigo é um irmão que escolhemos.
Alguém que entende, como mais ninguém, as nossas conversas mais longas, as nossas tímidas meias palavras e até os nossos silêncios.
Junto a um conhecido muitas vezes não conseguimos estar sem falar pois sentimos o desconforto do silêncio.
Mas, perto de um amigo, podemos estar calados confortavelmente sem nos sentirmos constrangidos.
Com ele podemos até falar demais, sem ter medo de dar a conhecer o nosso mais íntimo ou de guardar um segredo.
Com um amigo, podemos dar uma gargalhada livre, solta, ou podemos chorar sem nos sentirmos menores, porque ele nos compreende.

E, porque é natural filtrarmos, não só o que dizemos mas também a quem o dizemos, imagina-se muitas vezes estas relações entre pessoas como uma peneira.
Se alguém me é completamente desconhecido ou não me dá provas para partilhar o mais íntimo de mim, então os buracos da minha rede são muito apertados
e pouco passa para o outro lado.
Mas, à medida que uma amizade se fortalece, os buracos tornam-se maiores e começo a pôr menos barreiras ao que penso e ao que posso/quero contar a essa pessoa.
Por isso, um amigo faz-nos compreender o significado da palavra confiança, a base de todas as relações de amizade, pois é ela que alarga a rede da nossa peneira, muitas vezes sem repararmos.
Os frutos são evidentes: confiamos sentimentos, emoções, experiências que nos marcam.
Quantas vezes isto não reduz substancialmente o peso da nossa cruz ou aumenta, espantosamente o tamanho da nossa alegria?

Mas, não nos esqueçamos, é preciso haver retorno.
Há amizades que falham porque assentam apenas no esforço sincero de uma das partes.
A amizade é uma história recíproca.
Há pessoas que se lamentam da falta de amigos ou que olham para trás no tempo e vêem que não conseguiram manter muitas amizades muito especiais.
Contudo, não se lembram da importância de investir tempo a “cativar” e a “criar laços”.
Como diria a raposa ao Principezinho no livro de Antoine de Saint-Exupéry: “foi o tempo que perdeste com a tua rosa que a tornou tão especial.”
A amizade exige empenho, dedicação e lealdade.

As amizades verdadeiras ajudam-nos a crescer porque um amigo é aquele que em vez de nos dizer o que queremos ouvir, não se enfarpela muito para nos dizer o que realmente precisamos de ouvir.
Um amigo não tem de nos dar sempre palmadinhas nas costas.
Às vezes é mesmo difícil pôr o dedo na ferida, implica muita coragem porque sabemos que nos estão a tocar num ponto fraco.
Assim, é ele que puxa por nós e nos desinstala para nos pôr em movimento.
E que graça tão grande quando encontramos um amigo em que eu me torno mais eu, e ele mais ele.
Se eu não sou verdadeiro e não te ajudo a caminhar para a verdade não mereço ser teu amigo.

Mas quando passamos muito tempo com uma pessoa ou conversamos com alguma frequência com ela, ganhamos confiança e à-vontade e às vezes desse à-vontade nascem desentendimentos, mal-entendidos e até mesmo algumas zangas.
É mesmo importante irmos aprendendo a olhar para essas situações com humildade (reconhecendo a parte da culpa de cada um) e recorrendo ao perdão.
Sem perdão não há amizades sólidas.
No fundo, são desafios que nos são propostos e que quando bem geridos e vividos acabam por fortalecer uma amizade.

A cena da visitação de Nossa Senhora a Santa Isabel mostra-nos como a amizade é algo de especial e que se pode (re)descobrir pela vida fora, senão vejamos:
1. Maria corre para ajudar Isabel (a amizade é um desejo de estar próximo; é uma disponibilidade para ajudar).
2. A alegria do encontro (a amizade é essa alegria pura de um simples encontro).
3. O Magnificat (a amizade é um dom de Deus que nos faz dar graças).

in Caderno de Pilotagem EJNS - 2012

quarta-feira, 27 de novembro de 2013

Testemunho de um pároco



«Sou pároco em Carpi, na Emilia Romagna, uma região onde a gente é honesta, trabalhadora mas, por tradição, indiferente à Igreja, ou até mesmo manifestamente hostil. A participação na missa dominical é muito baixa e muitos funerais realizam-se na forma civil.

Aquele pouco de fé que sobrevive, dificilmente se faz notar. Procuro reconhecer nesta situação um rosto de Jesus crucificado e ver as pessoas com o Seu olhar: Ele fez seu todo o vazio, todo o pecado, e veio para nos salvar.

Tinha chegado à paróquia há poucos dias quando me avisaram que, no condomínio, havia um doente. Bati à porta. Ele próprio me responde, dizendo não ter tempo para mim. Penso: também Cristo foi rejeitado. Por isso sou semelhante a ele numa pequena parte! Uno-me a Ele e, no meu coração, nasce a alegria. Aquele doente, depois, morreu nos braços da Igreja.

Estou convencido de que ninguém está longe do amor de Deus. Quando alguém me diz que não reza, não vai à missa e talvez nem creia, sublinho: tu és honesto, amas a tua família, fazes voluntariado. Também tu vives o Evangelho! A quem se sente excluído da vida da Igreja por estar só casado civilmente e não poder receber a Eucaristia, recordo-lhe que pode entrar em comunhão com Jesus doutros modos: vivendo a sua Palavra, amando o irmão, abraçando os sofrimentos. Isto atrai-os: as pessoas descobrem que já estão “dentro” do amor de Deus e, para muitos, começa uma nova busca.

Hoje, cerca de duzentas pessoas vêm uma vez por mês à paróquia, para aprofundar em pequenos grupos o Evangelho. Escutam a Palavra de Vida e depois partilham entre si as experiências. Mais de metade não tem prática religiosa e cerca de um terço está em situações familiares não regulares. Mas captam um clima de alegria que conforta e envolve. Sabem que não queremos impor-lhes nada e, por isso, sentem-se livres para expor também as dúvidas, os fracassos pessoais ou familiares, os problemas de trabalho. E, pouco a pouco, começam a contar os primeiros gestos de amor aos outros.

Pelo menos quinze casais frequentam agora a missa diária, e três deles decidiram pelo matrimónio na Igreja, após anos de união de facto ou de casamento somente civil. Alguns tornaram-se sensíveis à comunhão de bens e oferecem tudo quanto têm de supérfluo, às vezes com regularidade. Não nos cabe a nós converter as pessoas, mas apenas amá-las. A mudança nasce do encontro com Deus, da descoberta da sua Palavra.
No âmbito da paróquia há uma associação de idosos. A maior parte deles manteve sempre uma animosidade contra a Igreja. Quando construíram a sua nova sede, propus no conselho pastoral que déssemos um contributo. Na altura, ouve uma reação: seria melhor ir falar-lhes de Deus! Explico que nos cabe a nós, que acreditamos no Evangelho, ser os primeiros a amar. Decidimos dar uma pequena oferta, com uma carta de agradecimento pelo bem que têm feito em favor dos idosos do bairro. Este gesto disse-lhes mais do que uma pregação: os idosos tinham lágrimas nos olhos. E abriram-se ao encontro com a Igreja».

Testemunho de vida, Padre Carlo, Itália

terça-feira, 26 de novembro de 2013

Viver plenamente



Viver plenamente significa abandonar a lógica de dobrar o mundo, tudo aquilo que nos rodeia, à nossa vontade; viver plenamente significa procurar integrarmo-nos, nele da melhor maneira. Devemos aprender a partilhar, a participar, a unirmo-nos, e não a dividir ou a dominar ou a controlar o outro.

A história de cada um de nós é aproximarmo-nos do invisível, do espiritual.

Existe um plano de Deus, preparado para cada um de nós, ainda antes de nascermos; compete a cada um de nós aderir-lhe ou não, procurá-lo ou não.

Como reconhecer uma pessoa que vive verdadeiramente?
Pelos seus frutos.
Sobretudo, é preciso dar bons frutos.

«Porventura podem colher-se uvas dos espinheiros ou figos dos abrolhos? Toda a árvore boa dá bons frutos e toda a árvore má dá maus frutos. A árvore boa não pode dar maus frutos nem a árvore má, dar bons frutos. Toda a árvore que não dá bons frutos é cortada e lançada ao fogo. Pelos frutos, pois, os conhecereis» (Mt 7,16~20).

O meu homem sente, dentro de si, que deve fazer alguma coisa nesta terra, completar um desígnio, realizar um projeto, alcançar um objetivo.

Mas, se não formos conscientes, se não tivermos em conta a nossa componente psicoespiritual, acabaremos por viver o mundo como lugar de competição, de agressão, onde o único objetivo é sobreviver, é pensar no nosso interesse pessoal e, consequentemente, viver o outro como coisa ou objeto, sempre em nosso proveito.

A espiritualidade revela-nos que o mundo não é nosso, que o outro não é nosso, que a natureza, que o mundo em que vivemos não são nossos.
Nada é nosso.
Nem sequer o corpo em que vivemos. Somos apenas hóspedes.
Porque tudo é de Deus.

Por outro lado, quando não nos sentimos realizados, satisfeitos com as nossas existências; quando não temos sentido espiritual, experimentamos um sentimento de mal-estar.
Sentimo-nos inúteis, anónimos, confusos.
É o modo como vivemos a vida que é importante.
É o modo e a atitude como e com que enfrentamos cada momento do dia, cada encontro, que faz toda a diferença.

Só teremos sucesso, quando deixarmos de nos preocupar com o nosso sucesso pessoal.
Quando já não nos preocuparmos com possuir, é que começaremos a ter.
Quando não nos preocuparmos com controlar, seremos livres.
A nossa vida é como um campo infinito de possibilidades, de oportunidades.

Por isso, quanto mais nos separarmos de ideias preconcebidas, de preconceitos, tanto mais nos abrimos à possibilidade de mudar, de nos transformarmos.

Ou melhor, permitimos que a nossa pessoa atraia a si coisas, pessoas, situações que ajudarão a realizar os seus objetivos.

Tenta imaginar, por exemplo, como seria a tua vida sem medos, sem complexos de culpa ou de inferioridade (...).

Quase todas as nossas vidas rodam, sem que nos apercebamos disso, ao redor da neurose, dos nossos complexos, dos nossos medos.

Por isso, por exemplo, estamos sempre à defesa ou preferíamos agredir.

Só com a espiritualidade, com a criatividade podemos sair das prisões invisíveis que criamos para nós.

- A rigidez não é um valor.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais negativo serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais fechado serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais limitado serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais ciumento serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais invejoso serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais perigoso serás.
- Quanto mais rígido fores, tanto mais incapaz serás  de compreender os outros.

Pelo contrário, uma pessoa criativa, espiritual, é uma pessoa aberta, disponível, otimista, flexível e generosa.
Frequentemente, é a nossa educação, são os usos e costumes do nosso ambiente que nos bloqueiam.

Mas, quando se vive coerentemente o motivo, o objetivo por que viemos ao mundo, quando estamos no percurso de crescimento psicoespiritual, já nada mais é impossível.
O conhecimento das nossas verdades funda-se no nível de maturidade, no conhecimento de nós mesmos.

Se descobrirmos verdadeiramente quem somos, também reconheceremos as nossas potencialidades e respeitar-nos-emos a nós próprios.

Além disso, cada ação realizada para satisfazer uma necessidade começa com a atividade de pensamento. Cada um de nós deve tomar, se responsável não somente pelas suas ações, mas também pelos seus pensamentos, pelas suas emoções.

No fundo, somos nós quem escolhe a vida que estamos a viver.

Valerio Albisetti
In Felizes apesar de tudo, ed. Paulinas

sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Fazer da Fé experiência vital

tolentino mendonca

Erri di Luca escreve de forma muito pertinente que a Fé é deixar de tratar Deus pela terceira pessoa e passa-Lo a tratar pela segunda.

O vocabulário bíblico da Fé pode ensinar alguma coisa a quem se questiona no século XXI sobre a relação com Deus? A Bíblia define a Fé sobretudo de dois modos: como temor de Deus e como confiança. Parecem coisas completamente inconciliáveis, mas talvez não sejam. A Fé para ser experiência vital deve misturar ambas.

O temor de Deus tem o seu fundamento na consciência da alteridade de Deus. Deus é Deus. Quer dizer: Deus é (e há de continuar) uma pergunta infinita; é Todo-Outro, transcendente e pleno de mistério. Temor, porém, não quer dizer medo: é precisamente o resultado da anulação do medo e da sua substituição por um misto de reverência perante a imensidão de Deus. Vista dessa perspectiva, a Fé é o modo de permanecer fiel a este Deus cuja transcendência é compreendida não como terrífica ou paralisante, mas sim suscitadora de uma abertura orante. Esta é, por exemplo, a Fé de Job que, quando confrontado com a omnisciência de Deus, diz: "Vou pôr a mão na boca, e não volto a dissertar insensatamente sobre Deus" (Job 39, 37-38). E, no mesmo sentido, a de São Gregório Palamas, teólogo do século XIV: "A natureza de Deus não pode ser pensada, nem vista, nem dita, porque está distante de todas as coisas. Não existe nome para mencioná-La, nem neste século, nem no futuro; e nenhuma palavra encontrada na alma e proferida pela língua, nem qualquer imagem pode dar-nos o Seu conhecimento. Para nomear Deus é preciso renunciar a tudo o que é ou pode ser nomeado". A Fé provoca sempre a desarrumação dos nossos saberes e razões e mergulha-nos no silêncio. Os crentes não têm a cabeça cheia de ideias sobre Deus. Quanto mais se vive de Deus menos se sabe, ensinam os místicos.


Mas a Fé não se fica apenas pela purificadora consciência do que nos distancia de Deus. A Fé é o impossível da presença tornado possível pelo próprio Deus. Ele toma a iniciativa do encontro e a Fé explica-se então como revelação, história comum, amizade partilhada. Por isso, sem a semântica da confiança ninguém consegue descrever a Fé. O escritor italiano Erri di Luca, que vive numa grande dilaceração entre crer e não-crer, escreve de forma muito pertinente que a Fé é deixar de tratar Deus pela terceira pessoa e passa-Lo a tratar pela segunda (Tu ou Vós). O próprio termo bíblico guarda uma variante riquíssima de sentidos que vai nessa linha: significa “estar seguro em” e alude, igualmente, à estreita relação que existe entre a mãe que aleita e a criança que é ob¬jecto desse carinhoso cuidado. Jesus, que para os cristãos é não só objecto de Fé mas também seu modelo, soube chamar por Deus como a criança fala com o seu pai, com a mesma simplicidade, a mesma intimidade, o mesmo abandono confiado. Lição a redescobrir para fazer da Fé uma experiência vital.

José Tolentino Mendonça

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

O amigo número 3


1. Trago hoje uma antiga história rabínica, edificante, que se ajusta bem a este tempo de Novembro. Um homem tinha três amigos. Mas tinha-os catalogados por ordem de importância: o amigo n.º 1, o amigo n.º 2 e o amigo n.º 3. O amigo n.º 1 era naturalmente o melhor amigo do nosso homem; digamos que eram amigos íntimos, e, por isso, inseparáveis: andavam sempre juntos. O amigo n.º 2 era aquele amigo que o nosso homem encontrava de vez em quando, apenas de vez em quando, altura em que confraternizavam e punham a conversa em dia. O amigo n.º 3 era aquele género de amigo que o nosso homem encontrava muito raramente, por mero acaso, e de quem já nem sequer se lembrava do nome.

2. Um dia, o nosso homem foi apanhado de surpresa. Chegou-lhe pelo correio uma carta que provinha do palácio do Rei. O nosso homem abriu a carta, leu, releu, e ficou muito preocupado. Tratava-se de uma intimação que obrigava o nosso homem a comparecer no palácio do Rei. Ora, acontece que o nosso homem, o homem desta história, nem sabia o que era um Rei, e muito menos um palácio. Tão pouco sabia o caminho para o palácio. Mas preocupava-o sobretudo o modo como se devia comportar na presença do Rei. Não era o mundo dele.

3. Ficou aflito. Já nem conseguia comer nem dormir. Apoderou-se dele uma grande tremedeira. Quando isto nos acontece, lembramo-nos naturalmente de recorrer aos amigos. Foi assim que o nosso homem foi desabafar com o seu melhor amigo, o amigo n.º 1. Expôs-lhe o assunto que o preocupava. Tinha sido intimado a comparecer no palácio do Rei, e tinha muito medo, pois nada percebia de palácios e de reis. Foi assim que pediu ao seu amigo n.º 1 o favor de o acompanhar naquela viagem difícil. Nem era nada demais, dado que andavam sempre juntos, eram amigos inseparáveis. O amigo n.º 1 respondeu assim ao nosso homem: é verdade que somos muito amigos; de facto, andamos sempre juntos. Pede-me o que quiseres, que eu estou sempre disposto a ajudar-te; porém, nessa viagem, não te posso acompanhar.

4. É assim que o nosso homem, desiludido, tem de ir à procura do seu amigo n.º 2. Pô-lo a par do seu problema, e implorou-lhe, da mesma maneira, que o acompanhasse naquela viagem difícil. O amigo n.º 2 ouviu atentamente a exposição do nosso homem, e respondeu assim: sim, disponho-me a acompanhar-te, mas com uma condição: vou contigo, mas só até à porta do palácio; daí para a frente, terás de ir sozinho, pois não te posso acompanhar. O nosso homem, porém, insistiu: mas o meu problema é dentro do palácio, porque eu não entendo nada de reis e de palácios. Compreendo, retorquiu o amigo n.º 2, mas, nesse caso, não te posso mesmo ajudar. Terás de ir sozinho.

5. Foi então que o nosso homem se pôs a caminho para ver se encontrava o seu amigo n.º 3, aquele amigo de quem já nem se lembrava do nome nem de quando tinha sido a última vez que se tinham encontrado. Com alguma sorte, lá o encontrou. Expôs-lhe o problema, e suplicou-lhe que o acompanhasse naquela viagem difícil. O amigo n.º 3 ouviu atentamente, e nem sequer deixou o nosso homem terminar. Respondeu logo: mas é claro que te acompanho. Até te digo mais: ficaria mesmo muito triste, se soubesse que estavas a braços com esse problema, e não me tivesses dito nada!

6. A história rabínica termina aqui. Mas, para entendermos o seu alcance, terei de a descodificar. O nosso homem, o homem desta história, sou eu, és tu, pode ser qualquer um de nós. O Rei é Deus. A viagem é a morte. O amigo n.º 1, aquele que anda sempre connosco, é a nossa própria vida, os nossos projetos, os nossos trabalhos, os nossos sonhos, as nossas ambições. De facto, andamos sempre juntos, somos inseparáveis. Todavia, naquela viagem, os nossos projetos e trabalhos não nos podem acompanhar. O amigo n.º 2, aquele que encontramos de vez em quando para confraternizar e pôr a conversa em dia, são os nossos próprios amigos. Aqueles que se mostram dispostos a ir connosco, mas só até à porta… do cemitério! O amigo n.º 3, aquele que muito raramente encontramos, de quem até acabamos por esquecer o nome, mas que até ficaria triste e sentido se não lhe disséssemos nada, e que é o único que nos pode acompanhar, é o Bem que fazemos, o Amor que pomos naquilo que fazemos.

7. Bem vistas as coisas, está bom de ver que temos de inverter a ordem dos nossos amigos, e passar para 1.º lugar aquele que temos no catálogo em 3.º lugar. Decisivo, decisivo, decisivo é o Amor. Temos de nos encontrar muito mais vezes com este amigo. Na verdade, diz bem S. Paulo, tudo passa; só o Amor permanece (1 Coríntios 13,8). Fica atento, meu irmão de Novembro.

António Couto

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Deus e o tufão das Filipinas: O dilema de Epicuro




1. Como reagir na fé, a cenários de tragédia e de horror, como aqueles que vimos, esta semana, com imagens, que nos chegaram das Filipinas e do Vietnam, e de toda a região atingida pelo furacão Hayan?!

Perante a devastação da catástrofe ecológica, do incontável número de mortos, do inaceitável sofrimento das crianças, da insuportável tortura da fome, diríamos, que, de algum modo, a realidade do mal, volta a pôr Deus no banco dos réus!
Voltamos, quase sem querer, ao velho dilema de Epicuro: “Ou Deus quer tirar o mal do mundo, mas não pode” e então não é um Deus todo-poderoso! Ou “Deus pode tirar o mal do mundo, mas não quer” e então não nos ama verdadeiramente! Ou, se “Deus não quer tirar o mal do mundo e não pode” então não é nem bom, nem omnipotente”. Como compaginar afinal a fé num Deus, que é Amor, com uma “natureza que “se vinga sobre os seus filhos”? Como aceitar o silêncio de Deus, face ao grito dos inocentes?

2. Neste lugar não é possível um debate sério, sobre o assunto. Mas ainda assim, vou tentar dizer algumas coisas simples (?), que nos ajudem a ir ao fundo da questão.

1º O mundo e a humanidade são, na verdade, obra do amor criador de Deus. Ao decidir, livremente, criar este mundo, Deus não podia criar algo igual a Si mesmo, algo que fosse infinitamente perfeito, porque então confundir-se--iam o Criador e a própria criatura! Ao criar as coisas, essas coisas só podiam ser o que são: coisas finitas, inacabadas, imperfeitas, em processo, em evolução, em transformação, em aperfeiçoamento, no tempo presente. Se as coisas deste mundo fossem infinitas e perfeitas, deixariam de ser “coisas” e seriam “de outro mundo”. Portanto, ao ser criado este mundo, ele não poderia ser outra coisa senão uma realidade finita!
É, portanto, próprio deste mundo, e desta humanidade que somos, a finitude, a nossa imperfeição, que se vai superando, apesar dos nossos limites! Querer um mundo sem esta imperfeição, é praticamente como conceber um círculo quadrado!

2º Essa finitude, de que afinal não nos livraremos, no tempo presente desta vida, traz consigo a imperfeição moral do pecado, e arrasta consigo a imperfeição física do corpo, com a doença e a morte! Esta imperfeição, que resulta de um mundo que é finito, de um mundo sempre em gestação, explica, por exemplo, as indisposições da Natureza, as suas convulsões, os seus desmandos, os seus vulcões e furacões! A criação está em evolução, em crescimento. E, neste processo de crescimento, há dor, convulsão, agitação. Não há por que se admirar disso. “Ainda não é o fim”.
Mas caberia perguntar aqui: não são muitas destas catástrofes naturais consequência da nossa desordem espiritual, do nosso abuso desordenado dos recursos da Terra? Não foram feitas construções, em lugares desadequados?! Temos escutado o grito da Terra?

3º Mas – diremos nós então - se ao criar este mundo, Deus contava com estes “limites” todos, não seria melhor não o ter feito? Se é assim, o mundo e a vida do homem, valem mesmo a pena? Basta olhar para a tragédia destes dias. Nasce aqui e ali uma criança, a quem os pais dão o nome do tufão Hayan. Não é uma mensagem de esperança, de confiança, de certeza, que apesar de tudo, vale a pena?! Não é esta “força da natureza” um ato de fé, na vida do homem, que é um ser finito, mas com uma abertura infinita? Não é este nascimento um sinal de que o mal não pode destruir, em definitivo, a nossa vida?!

3. Em que ficamos, então, relativamente ao dilema, com que nos defrontámos ao início? Eu diria, olhando agora, para o nosso Cristo Crucificado e ressuscitado:
Sim, Deus quer tirar o mal deste mundo! E pôde fazê-lo, entrando neste mundo e lutando contra toda a espécie de mal. E pôde vencê-lo, tornando-se Ele próprio a mais injusta vítima do mal no mundo! Neste Deus de Jesus Cristo, Crucificado por nós, o mal tornou-se o lugar onde o amor venceu, onde o amor se revelou em toda a sua plenitude, onde o amor foi mais forte do que a morte! Sim. Deus quer e pode tirar o mal deste mundo! Agora, Deus está, neste mundo, do nosso lado, do lado de cada pessoa, para vencer o mal. Deus luta por mim, Deus luta connosco, contra toda a espécie de mal. E chama-nos a essa luta, para que o escândalo do mal dê lugar ao milagre do bem.

4. Disse o Cardeal Tagle, das Filipinas: “vemos destruição e ruínas em todos os lugares, mas também vemos a fé e o amor surgir daquelas ruínas e isso torna-nos pessoas mais fortes”. E, mais uma vez, recordo as sábias palavras do Papa Francisco: “Ao homem que sofre, Deus não dá um raciocínio que explique tudo, mas oferece a sua resposta sob a forma duma presença, que o acompanha, de uma história de bem que se une a cada história de sofrimento, para nela abrir uma brecha de luz” (LF 57).

5. Para terminar, com algo concreto e menos especulativo, vem-me à mente aquela pergunta que um dia fizeram a Madre Teresa: “O que pensa de Deus, quando vê este mundo cheio de injustiças, de solidão, de tragédias”. Ela respondeu, de imediato: “só penso numa coisa: ir ao encontro de alguém, fazer algo de concreto, para que este mundo se torne melhor”.

Seja este o nosso compromisso, no meio de um mundo, de um país e de uma fé em crise: rezar e trabalhar, sempre e sem desanimar, por um mundo melhor!

Amaro Gonçalo

________________________________________
Sugestão de leitura para filósofos:

A. TORRES QUEIRUGA, Creo emn Dios Padre, Ed. Sal Terrae, Col. Presencia teológica, Santander 1986, 109-149.

terça-feira, 19 de novembro de 2013

Misericordina



Ao final do tradicional encontro dominical na Praça São Pedro, o Papa Francisco recomendou um “remédio espiritual” chamado “Misericordina”, que seria distribuído por voluntários aos presentes, dizendo, em tom de brincadeira: “Alguém pode perguntar: o Papa é um farmacêutico agora?”.

A bem da verdade, este ‘remédio espiritual’ nada mais é do que uma pequena caixa lembrando uma caixa de remédio, contendo no seu interior uma imagem de Jesus da Misericórdia, um terço com as 59 contas, acompanhado de uma ‘bula’ com ‘prescrições’ e posologia, como por exemplo, procurar um local silencioso e ajoelhar-se diante de uma imagem de Jesus da Misericórdia onde está escrito “Jesus, eu confio em ti”. No verso da 'bula', algumas passagens do Diário de Madre Faustina kowalska.

O Papa observou que com aquele terço poderia ser rezado o Terço da Misericórdia, “ajuda espiritual para a nossa alma, para nossa vida e para divulgar em todo lugar o amor, o perdão e a fraternidade”. E insistiu: “Não esqueçam de pegá-la, porque faz bem, eh? Faz bem ao coração, à alma e para toda a vida”.

A distribuição deste 'remédio espiritual' foi uma iniciativa do Elemosineiro Pontifício, Dom Konrad Krajawski, a partir de uma Idéia nascida na Polônia. Foram confecionados milhares de 'kits' em quatro línguas: italiano, espanol, ingês e polonês.

segunda-feira, 18 de novembro de 2013

O meu tesouro



Senhor,eu podia, como outros,
agradar-Te e ter alguém;
poderia, como tantos, afirmar "sou teu"
e também dizer: "és minha, és meu".
Poderia ser escolhido e escolher
decidir sem perguntar o Teu querer
possuir e usar os bens do mundo
como outro qualquer.

Mas porque me chamaste e escolheste
e livremente me entreguei a Ti
sou apenas Teu, e em Ti, de todos.
Não sou dono de mim, não me pertenço,
nada tenho e também nada me falta.
Vivo do Teu Amor e posso amar
e ser pão repartido, vida entregue.

E vou-me dando conta de que ao dar-me
muitos outros recebem vida eterna.
Por eu Te pertencer sou tão amado
e por eu Te seguir a muitos salvas,
e por seres o meu tesouro os enriqueces.

uantos me procuram e Te encontram!
Porque sou alguém que Tu habitas
reconhecem em mim traços do Teu rosto
sinais da paternidade d'Aquele que Te enviou.

Tu és o meu tesouro, a minha herança.
Defende-me da vaidade e da mentira!
Por aqueles que me deste, Senhor,
mantém-me sempre fiel

conserva-me feliz no Teu Amor

Autor anónimo

sábado, 9 de novembro de 2013

Dar a volta



«Eu estou a tentar dar a volta.
O desafio é muito duro e temos de dar tudo por tudo.
Fazer o melhor possível e esforçar-se ainda mais.
O segredo é jogarmos unidos.
Atacar juntos todos e defendermos todos.
Porque para ganhar há que jogar em equipa
e, por isso, eu tenho a minha!
Um é avançado, outro guarda-redes e outro defesa.
Cada um faz parte da equipa.
Não estamos sozinhos.
Somos uma equipa e trabalhamos juntos para ganhar.

Na vida, há uma equipa mais importante.
Agora, muitos de nós, estamos a jogar o jogo mais difícil das nossas vidas
e precisamos de uma equipa para dar a volta.

E eu tenho uma grande equipa: a minha família!
Porque me animam a acordar em cada manhã.
Porque me fazem rir quando estou triste
ou aturam o meu mau humor quando tenho um dia menos bom.
Todos arregaçamos as mangas
e nos ajudamos em tudo o que é possível.
Porque sem os avós, os irmãos, os pais e as mães,
e até sem todos vocês,
muitos de nós perderíamos o jogo.

O importante não é a posição em que jogas
mas o esforço de cada jogada.
Porque, apesar das dificuldades,
se a equipa está unida, nunca desiste.
É que nós podemos sempre dar a volta!»

sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Grande lição

GRANDE LIÇÃO!!!

Primeiro dia de aula, o professor de 'Introdução ao Direito' entrou na sala e a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Qual é o seu nome?
- Chamo-me Nelson, Senhor.
- Saia de minha aula e não volte nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Nelson estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala.
Todos estavam assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - vamos começar .
- Para que servem as leis? Perguntou o professor - Seguiam assustados ainda os alunos, porém pouco a pouco começaram a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso, para que haja justiça.
E agora, para que serve a justiça?
Todos começaram a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor .
- Para diferençar o certo do errado, para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém respondam a esta pergunta:
"Agi correctamente ao expulsar Nelson da sala de aula?"
Todos ficaram calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - responderam todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!
- E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais! 

Vá buscar o Nelson - Disse. Afinal, ele é o professor, eu sou aluno de outro período.

Aprenda: Quando não defendemos nossos direitos, perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.

@Gostou? Compartilhe!

Primeiro dia de aula, o professor de 'Introdução ao Direito' entrou na sala e a primeira coisa que fez foi perguntar o nome a um aluno que estava sentado na primeira fila:
- Qual é o seu nome?
- Chamo-me Nelson, Senhor....
- Saia de minha aula e não volte nunca mais! - gritou o desagradável professor.
Nelson estava desconcertado. Quando voltou a si, levantou-se rapidamente, recolheu suas coisas e saiu da sala.
Todos estavam assustados e indignados, porém ninguém falou nada.
- Agora sim! - vamos começar .
- Para que servem as leis? Perguntou o professor - Seguiam assustados ainda os alunos, porém pouco a pouco começaram a responder à sua pergunta:
- Para que haja uma ordem em nossa sociedade.
- Não! - respondia o professor.
- Para cumpri-las.
- Não!
- Para que as pessoas erradas paguem por seus atos.
- Não!
- Será que ninguém sabe responder a esta pergunta?!
- Para que haja justiça - falou timidamente uma garota.
- Até que enfim! É isso, para que haja justiça.
E agora, para que serve a justiça?
Todos começaram a ficar incomodados pela atitude tão grosseira.
Porém, seguíamos respondendo:
- Para salvaguardar os direitos humanos...
- Bem, que mais? - perguntava o professor .
- Para diferençar o certo do errado, para premiar a quem faz o bem...
- Ok, não está mal porém respondam a esta pergunta:
"Agi correctamente ao expulsar Nelson da sala de aula?"
Todos ficaram calados, ninguém respondia.
- Quero uma resposta decidida e unânime!
- Não! - responderam todos a uma só voz.
- Poderia dizer-se que cometi uma injustiça?
- Sim!
- E por que ninguém fez nada a respeito? Para que queremos leis e regras se não dispomos da vontade necessária para praticá-las? Cada um de vocês tem a obrigação de reclamar quando presenciar uma injustiça. Todos. Não voltem a ficar calados, nunca mais!

Vá buscar o Nelson - Disse. Afinal, ele é o professor, eu sou aluno de outro período.
Aprenda: Quando não defendemos nossos direitos, perdemos a dignidade e a dignidade não se negocia.

quinta-feira, 7 de novembro de 2013

A vida de Deus é Amor:



«A vida de Deus é Amor:
amor desbordante, sem limites
e que se dá livremente;
amor que se inclina misericordioso
a toda a necessidade;
amor que cura o enfermo
e ressuscita o que estava morto;
amor que protege, defende,
alimenta, ensina e forma;
amor que chora com os que choram
e se alegra com os que estão alegres;
dispostos a servir a todos
para que cheguem a ser o que o Pai quer;
numa Palavra:
o amor do Coração Divino.»

Teresa Benedita da Cruz | 1891 – 1942 
Edith Stein, Werk V, 11

Pai,
eu Te dou graças,
porque me chamas a ser o amor do Teu Coração.
Um amor que, como o Teu, se dá livremente;
um amor capaz de se inclinar
e servir em todas as circunstancias;
um amor capaz de aliviar a dor do enfermo
e ser sinal de esperança;
um amor capaz de fazer germinar sinais de vida
onde há morte;
um amor voltado para os irmãos,
disposto a fazer-se tudo para todos.

Pai,
dá-me um coração capaz de servir a todos,
para que todos possam sentir a força do Teu Amor
e a alegria de serem Teus filhos.

quarta-feira, 6 de novembro de 2013

São Nuno de Santa Maria



S. Nuno de Santa Maria, Dom Nuno Álvares Pereira, o Santo Condestável: evocação por Bento XVI

A Igreja assinala a 6 de novembro a memória do Santo Condestável, que «embora fosse um ótimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à ação suprema que vem de Deus», como realçou Bento XVI.

Recordamos a evocação de S. Nuno de Santa Maria redigida pelo Vaticano aquando da canonização, seguida de excertos da homilia da missa em que foi declarado santo, presidida pelo atual papa emérito.
«Nuno Álvares Pereira nasceu em Portugal a 24 de junho de 1360, muito provavelmente em Cernache do Bonjardim, sendo filho ilegítimo de fr. Álvaro Gonçalves Pereira, cavaleiro dos Hospitalários de S. João de Jerusalém e Prior do Crato, e de D. Iria Gonçalves do Carvalhal. Cerca de um ano após o seu nascimento o menino foi legitimado por decreto real, podendo assim receber a educação cavalheiresca típica dos filhos das famílias nobres do seu tempo.

Aos treze anos torna-se pajem da rainha D. Leonor, tendo sido bem recebido na Corte e acabando por ser pouco depois cavaleiro. Aos dezasseis anos casa-se, por vontade de seu pai, com uma jovem e rica viúva, D. Leonor de Alvim. Da sua união nascem três filhos, dois do sexo masculino, que morrem em tenra idade, e uma do sexo feminino, Beatriz, a qual mais tarde viria a desposar o filho do rei D. João I, D. Afonso, primeiro duque de Bragança.

Quando o rei D. Fernando I morreu a 22 de outubro de 1383 sem ter deixado filhos varões, o seu irmão D. João, Mestre de Avis, viu-se envolvido na luta pela coroa lusitana, que lhe era disputada pelo rei de Castela por ter desposado a filha do falecido rei. Nuno tomou o partido de D. João, o qual o nomeou Condestável, isto é, Comandante supremo do exército. Nuno conduziu o exército português repetidas vezes à vitória, até se ter consagrado na batalha de Aljubarrota (14 de agosto de 1385), a qual acaba por determinar à resolução do conflito.

Os dotes militares de Nuno eram no entanto acompanhados por uma espiritualidade sincera e profunda. O amor pela eucaristia e pela Virgem Maria são a trave-mestra da sua vida interior. Assíduo à oração mariana, jejuava em honra da Virgem Maria às quartas-feiras, às sextas, aos sábados e nas vigílias das suas festas. Assistia diariamente à missa, embora só pudesse receber a eucaristia por ocasião das maiores solenidades. O estandarte que elegeu como insígnia pessoal traz as imagens do Crucificado, de Maria e dos cavaleiros S. Tiago e S. Jorge. Fez ainda construir às suas próprias custas numerosas igrejas e mosteiros, entre os quais se contam o Carmo de Lisboa e a Igreja de S. Maria da Vitória, na Batalha.

Com a morte da esposa, em 1387, Nuno recusa contrair novas núpcias, tornando-se um modelo de pureza de vida. Quando finalmente se alcançou a paz, distribui grande parte dos seus bens entre os seus companheiros, antigos combatentes, e acabo por se desfazer totalmente daqueles em 1423, quando decide entrar no convento carmelita por ele fundado, tomando então o nome de frei Nuno de Santa Maria.

Impelido pelo Amor, abandona as armas e o poder para revestir-se da armadura do Espírito recomendada pela Regra do Carmo: era a opção por uma mudança radical de vida em que sela o percurso da fé autêntica que sempre o tinha norteado. Embora tivesse preferido retirar-se para uma longínqua comunidade de Portugal, o filho do rei, D. Duarte, de tal o impediu. Mas ninguém pode proibir-lhe que se dedicasse a pedir esmola em favor do convento e sobretudo dos pobres, os quais continuou sempre a assistir e a servir. Em seu favor organiza a distribuição quotidiana de alimentos, nunca voltando as costas a um pedido.

O Condestável do rei de Portugal, o Comandante supremo do exército e seu guia vitorioso, o fundador e benfeitor da comunidade carmelita, ao entrar no convento recusa todos os privilégios e assume como própria a condição mais humilde, a de frade Donato, dedicando-se totalmente ao serviço do Senhor, de Maria — a sua terna Padroeira que sempre venerou —, e dos pobres, nos quais reconhece o rosto de Jesus.

Significativo foi o dia da morte de frei Nuno de Santa Maria, o domingo de Páscoa, 1 de abril de 1431, passando imediatamente a ser reputado de “santo” pelo povo, que desde então o começa a chamar “Santo Condestável”.

Mas, embora a fama de santidade de Nuno se mantenha constante, chegando mesmo a aumentar, ao longo dos tempos, o percurso do processo de canonização será bem mais acidentado. Promovido desde logo pelos soberanos portugueses e prosseguido pela Ordem do Carmo, depara com numerosos obstáculos, de natureza exterior. Foi somente em 1894 que o Pe. Anastasio Ronci, então postulador geral dos Carmelitas, consegue introduzir o processo para o reconhecimento do culto do Beato Nuno “desde tempos imemoriais”, acabando este por ser felizmente concluído, apesar das dificuldades próprias do tempo em que decorre, no dia 23 de dezembro de 1918 com o decreto Clementissimus Deus do Papa Bento XV.

As suas relíquias foram trasladadas numerosas vezes do sepulcro original para a Igreja do Carmo, até que, em 1961, por ocasião do sexto centenário do nascimento do Beato Nuno, se organizou uma peregrinação do precioso relicário de prata que as continha; mas pouco tempo depois é roubado, nunca mais tendo sido encontradas as relíquias que contivera, tendo sido depostos, em vez delas, alguns ossos que tinham sido conservados noutro lugar. A descoberta em 1966 do lugar do túmulo primitivo contendo alguns fragmentos de ossos compatíveis com as relíquias conhecidas reacendeu o desejo de ver o Beato Nuno proclamado em breve Santo da Igreja.

O Postulador Geral da Ordem, P. Felipe M. Amenós y Bonet, conseguiu que fosse reaberta a causa, que entretanto era corroborada graças a um possível milagre ocorrido em 2000. Tendo sido levadas a cabo as respetivas investigações, o Santo Padre, Papa Bento XVI, dispõe a 3 de julho de 2008 a promulgação do decreto sobre o milagre em ordem à canonização e durante o Consistório de 21 de fevereiro de 2009 determina que o Beato Nuno seja inscrito no álbum dos Santos no dia 26 de abril de 2009.»

Na homilia da missa em que Nuno de Santa Maria foi canonizado, celebrada na Praça de S. Pedro, Vaticano, a 26 de abril de 2009, o papa Bento XVI evocou o Salmo 4: «Sabei que o Senhor me fez maravilhas. Ele me ouve, quando eu o chamo».

«Estas palavras do Salmo Responsorial exprimem o segredo da vida do bem-aventurado Nuno de Santa Maria, herói e santo de Portugal. Os setenta anos da sua vida situam-se na segunda metade do século XIV e primeira do século XV, que viram aquela nação consolidar a sua independência de Castela e estender-se depois pelos Oceanos – não sem um desígnio particular de Deus –abrindo novas rotas que haviam de propiciar a chegada do Evangelho de Cristo até aos confins da terra. São Nuno sente-se instrumento deste desígnio superior e alistado namilitia Christi, ou seja, no serviço de testemunho que cada cristão é chamado a dar no mundo», sublinhou.

O atual papa emérito salientou a «intensa vida de oração e absoluta confiança no auxílio divino»: «Embora fosse um ótimo militar e um grande chefe, nunca deixou os dotes pessoais sobreporem-se à ação suprema que vem de Deus».

«São Nuno esforçava-se por não pôr obstáculos à ação de Deus na sua vida, imitando Nossa Senhora, de Quem era devotíssimo e a Quem atribuía publicamente as suas vitórias. No ocaso da sua vida, retirou-se para o Convento do Carmo por ele mandado construir».

«Sinto-me feliz por apontar à Igreja inteira esta figura exemplar nomeadamente pela presença duma vida de fé e oração em contextos aparentemente pouco favoráveis à mesma, sendo a prova de que em qualquer situação, mesmo de caráter militar e bélico, é possível atuar e realizar os valores e princípios da vida cristã, sobretudo se esta é colocada ao serviço do bem comum e da glória de Deus», afirmou Bento XVI.

© SNPC | 05.11.13

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...