sábado, 31 de dezembro de 2016

Para viver melhor…



Para viver melhor…

Não se preocupe, se ocupe.
Ocupe seu tempo, ocupe seu espaço, ocupe sua mente.

Não se desespere, espere.
Espere a poeira baixar, espere o tempo passar, espere a raiva desmanchar.

Não se indisponha, disponha.
Disponha boas palavras, disponha boas vibrações, disponha sempre.

Não se canse, descanse.
Descanse sua mente, descanse suas pernas, descanse de tudo.

Não menospreze, preze.
Preze por qualidade, preze por valores, preze por virtudes.

Não se incomode, acomode.
Acomode seu corpo, acomode seu espirito, acomode sua vida.

Não desconfie, confie.
Confie no seu sexto sentido, confie em você, confie em Deus.

Não se torture, ature.
Ature com paciência, ature com resignação, ature com tolerância.

Não pressione, impressione.
Impressione pela humildade, impressione pela simplicidade, impressione pela elegância 

Não crie discórdia, crie concórdia.
Concórdia entre nações, concórdia entre pessoas, concórdia pessoal 

Não maltrate, trate bem.
Trate bem as pessoas, trate bem os animais, trate bem o planeta.

Não se sobrecarregue, recarregue.
Recarregue suas forças, recarregue sua coragem, recarregue sua esperança.

Não atrapalhe, trabalhe.
Trabalhe sua humanidade, trabalhe suas frustrações, trabalhe suas virtudes.

Não conspire, inspire.
Inspire pessoas, inspire talentos, inspire saúde. Não se apavore, ore. Ore a Deus 


Somente assim viveremos dias melhores. 

Um ótimo final de ano e um excelente 2017 com Deus em primeiro lugar.

sábado, 17 de dezembro de 2016

Quatro maldades das palavras


 
Só as coisas que são boas é que podem ser mal-usadas.

É a má utilização de uma coisa que acaba por causar danos, sendo que nunca são os instrumentos os responsáveis pelos prejuízos que causam, antes sim os que os usam com má intenção ou sem a noção do poder que dão. Quem, por falta de consciência do mal que pode fazer, o faz, é responsável em parte pelo ato, mas de forma integral pela ignorância que impôs a si mesmo.

O uso da palavra tem quatro virtudes associadas a quatro tentadoras maldades.

Não devemos ofender. A falta de respeito pelo outro é, sem exceção, condenável, pois ninguém tem o direito de condenar outro apenas com base numa vontade interessada apenas em si mesma. Uma injúria acaba sempre por desonrar mais quem a faz, do que quem dela é alvo.

As palavras não devem provocar a discórdia. Há quem julgue que melhor nos entendemos quando conversamos, mas há momentos em que se passa o contrário: é por se abusar das palavras que surgem os desentendimentos. Os que alimentam guerras querem apenas arrastar os outros para as suas próprias trevas.

Não se deve mentir. A verdade é algo precioso, que aperfeiçoa quem a escolhe em detrimento das tentações de suavizar, mascarar ou ocultar a realidade. Talvez o mundo que temos não seja tão bom quanto seria possível, mas ficará sempre pior de cada vez que alguém o falseia por causa dos seus egoísmos, em proveito dos seus orgulhos e a fim de encobrir as suas faltas. Não há meias-mentiras nem meias-verdades, isso são apenas formas mentirosas de a mentira dizer a verdade a seu respeito. Uma mentira, seja ela maior ou menor, é sempre e só uma mentira. Algo mau da semente até ao fruto. A verdade pode magoar, mas nunca tanto quanto uma mentira.

As palavras não devem alimentar futilidades. Quem preenche aquilo que julga serem tempos vagos da sua vida com palavras soltas e desenraizadas acaba sempre por falar de mais – porque diz o que não deve, e de menos – porque não diz o que deve, restando-lhe depois pouco tempo, atenção e força para construir algo de bom.

Quem escolhe o mistério do silêncio encontra nele mais paz, força e luz do que em qualquer discurso, por mais belo que pareça.

O silêncio é uma das melhores armas contra o mal, que assim nunca encontra forma de nos atacar com eficácia.

A palavra é uma espada afiadíssima. Usada de forma inconsciente será quase um milagre que não fira alguém, uma simples palavra tem um poder capaz de envenenar a credibilidade do outro, as relações humanas e a própria dignidade de quem a diz.

O silêncio é sempre a última palavra.

José Luís Nunes Martins
(ilustração de Carlos Ribeiro)


domingo, 27 de novembro de 2016

Somos feitos para estar com os outros

Imagem

A nossa humanidade enriquece-se muito se estamos com todos os outros e em qualquer situação em que se encontram. É o isolamento que faz mal, não a partilha. O isolamento desenvolve o medo e a desconfiança e impede de beneficiar da fraternidade. É preciso com efeito dizer que se correm mais riscos quando nos isolamos do que quando nos abrimos ao outro: a possibilidade de nos fazermos mal não está no encontro mas no fechamento e na rejeição. A mesma coisa vale quando assumimos o cuidado de alguém: penso num doente, num idoso, num imigrante, um pobre, num desempregado. Quando tomamos conta do outro complicamos menos a vida do que quando estamos concentrados em nós mesmos.

Estar no meio das pessoas não significa só estar abertos e encontrar os outros, mas também deixar-se encontrar. Somos nós que temos necessidade de ser olhados, chamados, tocados, interpelados, somos nós que temos necessidade dos outros para nos podermos fazer participantes de tudo o que só os outros nos podem dar. A relação pede este intercâmbio entre pessoas: a experiência diz-nos que habitualmente dos outros recebemos mais do que damos.

Entre a nossa gente há uma autêntica riqueza humana. São inumeráveis as histórias de solidariedade, ade ajuda, de apoio que se vivem nas nossas famílias e nas nossas comunidades. É impressionante como algumas pessoas vivem com dignidade a restrição económica, a dor, o trabalho duro, a provação. Encontrando estas pessoas tocas com a mão a sua grandeza e recebes quase uma luz através da qual se torna claro que se pode cultivar uma esperança para o futuro; pode acreditar-se que o bem é mais forte do que o mal porque elas estão ali. Estando no meio das pessoas temos acesso ao ensinamento dos factos.

Dou um exemplo: contaram-me que há pouco tempo morreu uma jovem de 19 anos. A dor foi imensa, muitas pessoas participaram no funeral. O que a todos tocou foi não só a ausência de desespero, mas a perceção de uma certa serenidade. As pessoas, após o funeral, falavam da admiração de terem saído da celebração aliviadas de um peso. A mãe da jovem afirmou: «Recebi a graça da serenidade». A vida quotidiana é entretecida destes factos que marcam a nossa existência: eles nunca perdem eficácia, mesmo se não fazem parte dos títulos dos jornais. Acontece precisamente assim: sem discursos ou explicações compreende-se o que na vida vale ou não vale.

Estar no meio das pessoas significa também dar-se conta de que cada um de nós é parte de um povo. A vida concreta é possível porque não é a soma de muitas individualidades, mas a articulação de muitas pessoas que concorrem para a constituição do bem comum. Estar juntos ajudar-nos a ver o conjunto. Quando vemos o conjunto, o nosso olhar é enriquecido e torna-se evidente que os papéis que cada pessoa desempenha no interior das dinâmicas sociais nunca podem ser isoladas ou absolutizadas. Quando o povo está separado de quem comanda, quando se fazem escolhas por força do poder e não da partilha popular, quando quem comanda é mais importante do que o povo e as decisões são tomadas por poucos, ou são anónimas, ou são impostas sempre por emergências verdadeiras ou presumidas, então a harmonia social é colocada em perigo, com graves consequências para as pessoas: aumenta a pobreza, a paz é posta em risco, manda o dinheiro e as pessoas passam mal. Estar no meio das pessoas, por isso, faz bem não só à vida de cada um mas é um bem para todos.
Estar no meio das pessoas evidencia a pluralidade de cores, culturas, raças e religiões. As pessoas fazem-nos tocar com a mão a riqueza e a beleza da diversidade. Só com uma grande violência se poderia reduzir a variedade à uniformidade, a pluralidade de pensamentos e de ações a um único modo de fazer e de pensar. Quando se está com as pessoas toca-se a humanidade: nunca é só a cabeça, há sempre também o coração, há mais concretude e menos ideologia.

Para resolver os problemas das pessoas é preciso partir de baixo, sujar as mãos, ter coragem, escutar os últimos. Penso que é espontânea a pergunta: como é que se faz assim? Podemos encontrar a resposta olhando para Maria. Ela é serva, é humilde, é misericordiosa, está a caminho connosco, é concreta, nunca está no centro da cena mas é uma presença constante. Se olharmos para ela encontraremos a melhor maneira de estar no meio das pessoas. Olhando para ela podemos percorrer todas as sendas do humano sem medo e preconceitos, com ela podemos tornar-nos capazes de não excluir ninguém.

Papa Francisco 
Excertos da mensagem em vídeo para o Festival da Doutrina Social da Igreja (Verona, Itália)
24.11.2016 

segunda-feira, 14 de novembro de 2016

Levanto as minhas mãos



Levanto as minhas mãos, ainda que não tenha força...
Levanto as minhas mãos ainda que tenha mil problemas...
Quando levanto as minhas mãos começo a sentir uma unção que me faz cantar...
Quando levanto as minhas mãos começo a sentir o fogo...
Quando levanto minhas mãos os meus pesos desaparecem
e novas forças tu me dás...
tudo o isso é possível,
quando levanto minhas mãos.

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

O ser humano é estranho



Briga com os vivos, e leva flores para os mortos;
Lança os vivos na sarjeta, e pede um "bom lugar para os mortos";
Se afasta dos vivos, e se agarra desesperados quando estes morrem;
Fica anos sem conversar com um vivo, e se desculpa, faz homenagens, quando este morre;
Não tem tempo para visitar o vivo, mas tem o dia todo para ir ao velório do morto;
Critica, fala mal, ofende o vivo, mas o santifica quando este morre;
Não liga, não abraça, não se importam com os vivos, mas se autoflagelam quando estes morrem..
Aos olhos cegos do homem, o valor do ser humano está na sua morte, e não na sua vida.
É bom repensarmos isto, enquanto estamos vivos!

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Tudo por Jesus



«Tudo por Jesus
Eu sou Teu,
e quero obedecer-Te em tudo.
Empregar toda a minha vida,
todas as minhas forças e talentos
somente naquilo
que for para a Tua maior glória
e fazer a Tua vontade.
Sim, meu Jesus,
tudo por Ti e tudo para Tua glória,
na vida, na morte
e para toda a eternidade.
Amén»

Santo Henrique de Ossó | 1840 - 1896 
Orações 

sábado, 15 de outubro de 2016

Os problemas de ontem não são importantes



Os erros do nosso passado não devem ser problemas hoje, pois já nada podemos fazer. O erro de ontem resultou da incapacidade de o termos previsto e evitado em todo o tempo que o precedeu. Depois já nada há a fazer. O que é imbecil é pensar que os erros são inevitáveis.
Pensar é encontrar o ponto de equilíbrio que permite distinguir o verdadeiro do falso, o perfeito do imperfeito, os juízos bem fundados das justificações ilusórias.

Vivemos na cultura do provisório, do relativo, do descartável. Importa, talvez hoje mais do que antes, ter a coragem de ver as coisas como elas são.

Só quem escolhe bem o seu ponto de equilíbrio é estável. Não varia, nem cede às tentações do fácil e do prazer imediato. Só se mantém no seu lugar quem procura de forma constante o seu equilíbrio.

Quando descubro um erro em mim devo ter a ousadia de o reconhecer e emendar logo, em vez de o ignorar, disfarçar, justificar ou, pior de tudo, persistir nele, achando que faz parte de mim.

O que é importante é evitar os erros de hoje, prevendo os problemas de amanhã.

A nossa razão deve centrar-se no que podemos e devemos fazer em relação ao futuro. Passar a vida a olhar para trás não faz sentido. Pode até ser um modo de compreender a vida, mas uma vida sem futuro. Só se vive para diante.


José Luís Nunes Martins

(ilustração de Carlos Ribeiro)

quarta-feira, 12 de outubro de 2016

O pecado da preocupação



Entenda quando a ansiedade e a preocupação podem se tornar pecados na sua vida

O mundo está doente, mas a maior de todas as doenças não é causada por infecções, vírus ou epidemias, muito embora também possa ser contagiosa. As doenças psicossomáticas — pressão alta, hipertensão, etc, são a marca de uma sociedade emocionalmente frustrada e mentalmente enferma.  Milhões de pessoas estão sobrecarregadas com problemas de ansiedade, a preocupação é a causa de problema doméstico, fracasso comercial, injustiças sociais, e mortes prematuras.

Não vos inquieteis com nada! Em todas as circunstâncias apresentai a Deus as vossas preocupações, mediante a oração, as súplicas e a ação de graças. (Filipenses 4,6)

Uma das características da preocupação é sua natureza contagiosa. Vários psiquiatras creem que a preocupação é muito mais contagiosa do que doenças infecciosas como a poliomielite e a difteria. A preocupação causa efeitos devastadores não apenas naqueles  que a sofrem, mas em todos à sua volta.

A palavra preocupação vem da palavra grega merimnao que é uma combinação de duas palavras:  – merizo que significa “dividir” e nous que significa “mente” (incluindo as faculdades perceptivas, de compreensão, sentimento, de julgamento e determinação).

A preocupação, portanto, significa “dividir a mente”. A preocupação divide a mente entre interesses dignos e pensamentos prejudiciais.

Uma pessoa com a mente dividida entre o sucesso e o fracasso, certamente vai fracassar. Uma mente dividida não atinge metas, pois a dúvida sempre dá o tom. A mente dividida é a desconfiança de si mesmo, é sentir-se incapaz, mesmo quando este alguém está plenamente qualificado para executar a tarefa.

São Tiago fala do estado infeliz da pessoa que tem a mente dividida: “O homem de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos” (Tiago 1,8).

O  homem irresoluto, de ânimo dobre é inconstante em todos os seus caminhos. Ele é inconstante em suas emoções. É inconstante em seus processos de pensamento. É instável em suas decisões. É instável em seus julgamentos.

Preocupação é PECADO

Ao preocupar-se, a pessoa acusa Deus de falsidade.

A Palavra de Deus diz: “Sabemos que todas as coisas concorrem para o bem daqueles que amam a Deus, daqueles que são os eleitos, segundo os seus desígnios.” (Romanos 8,28).

A preocupação diz: “Tu mentes, ó Deus!”

A Palavra de Deus diz: “Tudo ele tem feito esplendidamente” (Marcos 7,37).

A preocupação diz: “Tu mentes, ó Deus!”

A palavra de Deus diz: “Tudo posso naquele que me fortalece” (Filipenses 4,13).

A preocupação diz: “Tu mentes, ó Deus!”

A Palavra de Deus diz: “… não vos preocupeis por vossa vida, pelo que comereis, nem por vosso corpo, pelo que vestireis.”. .. Ora, vosso Pai celeste sabe que necessitais de tudo isso” (Mateus 6,25a, 32b).

A preocupação diz: “Tu mentes, ó Deus!”

Preocupação é hipocrisia, porque professa fé em Deus e ao mesmo tempo ataca a sua fidelidade.

Como vencer a preocupação

Nosso objetivo neste artigo não é desenvolver um sistema de auto-ajuda, mas uma relação de mútua confiança entre nós e nosso Deus. Somos seres com enorme carência afetiva, precisamos nos relacionar, viver em comunidade, ser parte da sociedade. Muitas vezes Deus é apenas o agente máximo da religião que praticamos, não o autor da nossa vida e o provedor de todo o meio ambiente que desfrutamos.

Deus é a pessoa mais acessível com a qual podemos contar, em todo o tempo e em qualquer momento, basta uma palavra de oração, nem que seja um gemido desesperançado, inexprimível, é suficiente para chamar à atenção do Pai em favor dos filhos.

Devemos estabelecer um equilíbrio em nosso relacionamento com Deus, fazer com que se torne uma estrada de mão dupla, onde ambos possam ter livre acesso um ao outro. A confiança é a base de qualquer relacionamento, devemos confiar que nossas orações estão alcançando seus objetivos e que Deus, a Seu tempo, cumprirá os desígnios e propósitos da nossa fé.

sábado, 1 de outubro de 2016

Face à desgraça, pensa!



Por maior que seja a desgraça, ela deve ser sempre motivo de reflexão. Isso é mais importante do que a dor que se possa sentir, ou a empatia com quem a sente. Há quem passe a vida a achar que a sorte e o azar escrevem o nosso destino e que apenas podem alegrar-se com os bons momentos e entristecer-se com os maus.

Depois de uma tragédia, é tempo de procurar aprender algo. Pode ser apenas uma boa dose de aceitação, por não termos grande poder sobre a maior parte das coisas que nos rodeiam. Ou então, a humildade de reconhecer que não somos tão bons quanto nos julgávamos.

Depois de algum tempo, começamos a perceber que boa parte das calamidades pessoais, que são séries de desgraças, se devem mais a faltas de sensatez e prudência nossas do que a infortúnios alheios à nossa existência.

Quantas vezes somos nós próprios que buscamos os extravios?!

Todos estamos à mercê das circunstâncias, mas a resposta que damos a cada uma é que define a nossa identidade. Não somos vítimas das condições, seremos sempre a capacidade concreta de lhes dar resposta. Ora, isso pressupõe muito mais do que lágrimas e lamentos.

Há quem julgue mesmo, no interior do seu coração e nas profundezas da sua razão, que não somos mortais. Cada morte é vivida com uma tal surpresa que só pode advir de um erro enraizado nas profundezas da sua razão. Todos temos o mesmo destino. A morte é para todos. Para mim, que escrevo estas linhas e para si, que as lê. Somos iguais nisso. E iguais a todos os outros.

Felizes os que se aperfeiçoam a partir das suas infelicidades.

Mas enquanto a morte não chega, importa aproveitar bem os dias e as noites da nossa fugidia existência. Devemos viver em pleno, mesmo sabendo que uma noite virá em que a poeira que somos poisará e voltará à terra, de onde, numa madrugada, um sopro a levantou...

Nenhuma desgraça é o fim, nem mesmo a morte. Há muito mais no céu e na terra do que aquilo que conseguimos compreender. Mas é essencial que procuremos sempre saber mais a fim de aprender a sentir e viver melhor.

Só uma razão iluminada permite um coração tranquilo!

José Luís Nunes Martins, 
(ilustração de Carlos Ribeiro)

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

Ficarei, em silêncio



Ficarei, em silêncio
todo o tempo que for necessário,
esperando uma palavra
vinda de Ti.

Então, somente
pronunciarei o teu Nome.

Não terei opinião sobre Ti
enquanto a Tua Luz
não encandear o meu espírito.

Então, somente
falarei de Ti.
Antes de trabalhar a terra,
antes de abrir os braços,
deixaremos o fogo do teu amor
gravar a sua lei nas palmas das nossas mãos.

Então, somente
mudaremos o mundo
abraçar-nos-emos
e bateremos palmas para Ti.
Assim seja

Stany Simon, SJ

domingo, 18 de setembro de 2016

"Era estrangeiro e acolhestes-me" (Mt 25,35)

«Tragicamente, no mundo há hoje mais de 65 milhões de pessoas que foram obrigadas a abandonar os seus locais de residência. Este número sem precedentes vai além de toda a imaginação. (...)
Se formos além da mera estatística, descobriremos que os refugiados são mulheres e homens, rapazes e raparigas que não são diferentes dos membros das nossas famílias e dos nossos amigos. Cada um deles tem um nome, um rosto e uma história, como o inalienável direito de viver em paz e de aspirar a um futuro melhor para os seus filhos. (...)
Encorajo-vos (...) a dar as boas-vindas aos refugiados nas vossas casas e comunidades, de maneira que a sua primeira experiência da Europa não seja a traumática de dormir ao frio nas estradas, mas a de um acolhimento quente e humano.
Recordai-vos que a autêntica hospitalidade é um profundo valor evangélico, que alimenta o amor e é a nossa maior segurança contra os odiosos atos de terrorismo. (...) Vós sois olhos, boca, mãos e coração de Deus neste mundo. (...)
Recordai-vos igualmente das palavras de Jesus: "Tive fome e destes-me de comer, tive sede e destes-me de beber, era estrangeiro e acolhestes-me". Levai estas palavras e os gestos convosco, hoje. Que possam servir de encorajamento e de consolação.»
Papa Francisco
17.9.2016

quinta-feira, 1 de setembro de 2016

Cumpre o que prometes




As palavras não são vento que sai de nós. Com elas se diz a verdade, através delas se constroem realidades, mas é também com o seu poder que se criam mentiras – buracos onde se quer que os outros caiam.

Uma promessa que cumpro é uma garantia que dou aos outros – e a mim mesmo – de que a confiança em mim depositada não se perde, frutifica. Uma mentira – ou uma simples promessa vã – faz o contrário, corrói os pilares do que sou, destrói-me... quando minto, sou eu próprio que assumo que não mereço a verdade, que não sou digno nem da minha própria confiança. Eis porque é quase irrelevante que uma determinada mentira seja descoberta pelos outros: quando alguém mente, sabe que mente. Quer mentir. Não quer verdade. Não quer ser autêntico.

Julgar que as próprias palavras são passageiras é desprezar-se. Reconhecer um erro é bom, tentar desculpar-se, alegando que todos cometemos erros, já é um artifício para a irresponsabilidade... até porque é possível que a maior parte dos outros não cometa os mesmos erros que nós.

É essencial ter presente que o eco da palavra dada com honra ficará para sempre no coração daquele a quem se destina, mas marcará ainda mais o chão da alma de quem decidiu proferi-la.

Quem quer ser melhor, levanta-se cedo. Não quer sonhar com mundos fáceis e impossíveis. Quer viver o melhor de todos os possíveis, por mais difícil que seja.

Importa cuidar bem do silêncio em que embrulhamos as nossas palavras. Ele diz sempre mais do que as próprias palavras. Pode ser sinal de presença ou de ausência. A verdade ou mais uma mentira. O bem ou um mal. O silêncio pode ser uma armadura que protege ou uma espada que mata...

Prometer a alguém o nosso bom silêncio será um dos mais belos gestos que podemos realizar, não a promessa em si, mas o que fizermos para a cumprir.

Um dos desígnios mais altos da existência será o de fazer da própria vida uma certeza de bem.


José Luís Nunes Martins, 
(ilustração de Carlos Ribeiro)

domingo, 7 de agosto de 2016

Não temerei as feras


«Às almas mais generosas 
costumam apresentar-se outras feras 
mais interiores e espirituais, 
como sejam, dificuldades e tentações, 
tribulações e trabalhos de várias espécies 
pelos quais é conveniente passar. 
Deus manda-os 
aos que quer elevar a grande perfeição, 
provando-os e examinando-os 
como ouro no fogo, 
conforme diz David: 
“Muitas são as tribulações dos justos, 
mas de todas elas os livrará o Senhor”. 
Contudo, a alma enamorada, 
que estima o seu Amado 
acima de todas as coisas, 
confiando no seu amor 
e no seu auxílio, 
não tem grande dificuldade em dizer: 
“Nem temerei as feras, e passarei os fortes e fronteiras”.» 

S. João da Cruz | 1542 - 1591
Cântico espiritual. 3, 8

Senhor,
aqueles que escolhestes
para estarem mais perto de Ti,
provas, mas também sofres com eles,
para os atrair mais a Ti.
Senhor,
que não me atemorize com o sofrimento
que a vida me traz,
mas que a cada momento
tenha a certeza de que estás
com aqueles que estão atribulados
e lhes concedes em abundância
grandes graças de humildade,
de confiança e abandono nas Tuas mãos.
Prova-me, Senhor,
e dá-me a graça de não fugir às dificuldades,
mas sempre me unir mais conTigo.
Tu nunca abandonas os que Te procuram.
Assim seja!

Não temerei as feras


«Às almas mais generosas 
costumam apresentar-se outras feras 
mais interiores e espirituais, 
como sejam, dificuldades e tentações, 
tribulações e trabalhos de várias espécies 
pelos quais é conveniente passar. 
Deus manda-os 
aos que quer elevar a grande perfeição, 
provando-os e examinando-os 
como ouro no fogo, 
conforme diz David: 
“Muitas são as tribulações dos justos, 
mas de todas elas os livrará o Senhor”. 
Contudo, a alma enamorada, 
que estima o seu Amado 
acima de todas as coisas, 
confiando no seu amor 
e no seu auxílio, 
não tem grande dificuldade em dizer: 
“Nem temerei as feras, e passarei os fortes e fronteiras”.» 

S. João da Cruz | 1542 - 1591
Cântico espiritual. 3, 8

Senhor,
aqueles que escolhestes
para estarem mais perto de Ti,
provas, mas também sofres com eles,
para os atrair mais a Ti.
Senhor,
que não me atemorize com o sofrimento
que a vida me traz,
mas que a cada momento
tenha a certeza de que estás
com aqueles que estão atribulados
e lhes concedes em abundância
grandes graças de humildade,
de confiança e abandono nas Tuas mãos.
Prova-me, Senhor,
e dá-me a graça de não fugir às dificuldades,
mas sempre me unir mais conTigo.
Tu nunca abandonas os que Te procuram.
Assim seja!

domingo, 24 de julho de 2016

Mensagem do Papa às JMJ 2016



O Papa enviou uma mensagem nesta terça-feira, 19 de julho, por ocasião da Jornada Mundial da Juventude de Cracóvia 2016

quarta-feira, 20 de julho de 2016

O mais importante não é…




O mais importante não é…

eu procurar-Te,
mas sim que Tu me procuras por todos os caminhos (Gen 3, 9);

eu chamar-Te pelo Teu nome,
mas sim que Tu tens o meu nome marcado
na palma da Tua mão (Is 49, 16);

eu gritar-Te quando nem palavras tenho,
mas sim que Tu entras suavemente
em mim com o Teu grito (Rom 8, 26);

eu ter projectos para Ti,
mas sim que Tu me convidas a caminhar contigo
em direcção ao futuro (Mc 1, 17);

eu compreender-Te,
mas sim que Tu me compreendes até
ao meu último segredo (1 Cor 13, 12);

eu falar de Ti com sabedoria,
mas sim que Tu vives em mim e Te exprimes
à Tua maneira (2 Cor 4, 10);

eu guardar-Te na minha caixa de segurança,
mas sim que eu sou como uma esponja
no fundo do Teu oceano (EE 335);

eu amar-Te com todo o meu coração e com todas as minhas forças,
mas sim que Tu me amas com todo o Teu coração
e com todas as Tuas forças (Jo 13, 1);

eu consolar-me e planificar,
mas sim que o Teu fogo arde dentro dos meus ossos (Jer 20, 9);

Porque, como é que eu seria capaz de procurar-Te, chamar-Te, amar-Te...
se Tu não me procurasses, chamasses e me amasses primeiro?

Benjamin Gonzalez Buelta, sj

terça-feira, 19 de julho de 2016

Quero agradecer a Deus Pai

 

Em primeiro lugar e acima de tudo, quero agradecer a Deus Pai por este momento e tudo aquilo da minha vida. 

Deixar uma palavra especial ao presidente, dr. Fernando Gomes, pela confiança que sempre depositou em mim. Não esqueço que comecei com um castigo de oito jogos pendentes.
A toda a direcção e a todos os que viveram comigo estes meses. Aos jogadores, dizer mais uma vez que tenho um enorme orgulho em ter sido o seu treinador. A estes e aqueles que aqui não puderam estar presentes. Também é deles esta vitória. 

O meu desejo pessoal é ir para casa. Poder dar um beijo do tamanho do mundo à minha mãe, à minha mulher, aos meus filhos, ao meu neto, ao meu genro e à minha nora e ao meu pai, que junto de Deus está certamente a celebrar.

A todos os amigos, muitos deles meus irmãos, um abraço muito apertado pelo apoio mas principalmente pela amizade. 

Por último, mas em primeiro, ir falar com o meu maior amigo e sua mãe. Dedicar-Lhe esta conquista e agradecer-Lhe por ter sido convocado e por me conceder o dom da sabedoria, perseverança e humildade para guiar esta equipa e Ele a ter iluminado e guiado. Espero e desejo que seja para glória do Seu nome".

Fernando Santos, treinador da seleção de futebol de Portugal

sexta-feira, 15 de julho de 2016

Tu paravas se esta criança passasse por ti?



"Todos diziam-me para ir embora." Anano, de 6 anos, é uma pequena atriz. Mas a situação que ela retrata é muito real. Todos os dias, milhões de crianças que vivem na pobreza são ignoradas, empurradas para o lado e privadas de tudo o que precisam para crescer.

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Por isso somos somos campeões



Uma criança portuguesa consola um adepto da seleção francesa que chora após a derrota da França no Euro 2016 com a vitória de Portugal por 1-0.

sábado, 9 de julho de 2016

Ser feliz a dobrar



Estimada, valente e mui nobre cavaleira,

Julgo ser tempo de lhe fazer chegar algumas palavras a respeito do que aprendi com a minha vida e que pode ser útil à sua. Não porque se esteja a acabar a minha, assim o espero, mas porque a sua, que começou em força, promete já ultrapassar-me em tudo.

Não deseje ter mais do que aquilo que o mundo lhe der. Sonhe e lute por ser mais. O ter é passageiro, o ser constrói-se e permanece. Aceite com grande alegria o pouco que alguém queira partilhar consigo. O amor é a maior riqueza... e dura para sempre.

As suas armas – sejam a espada ou a pena – devem ser usadas com coragem, inteligência e o cuidado de jamais magoar o inocente. É demasiado fácil fazermos o mal quando nos julgamos senhores do bem.

A virtude encontra-se sempre num ponto de equilíbrio entre dois desequilíbrios.

Os males tendem a parecer-se todos uns com os outros. O bem é sempre novo. Os heróis são sempre únicos. Tão imensa é a riqueza do bem que se renova por completo de cada vez que alguém se faz bom.

Cuidado com a felicidade. Ela atrai mais inveja do que o ouro. A verdadeira alegria transparece nos olhos. Não perca demasiado tempo a olhar para quem quer mesmo estar perdido. Centre-se em quem procura ajuda para se encontrar. E ajude-o. Sem cuidar de buscar outra recompensa senão saber que está ao serviço do amor.

Por mais que tenha ou seja, saiba que a obediência é o sinal mais forte de uma vontade livre. Somos livres quando subjugamos os nossos apetites ao maior bem.

Eis o que a fará digna de tudo o que de bom a vida lhe confiar: moderação e humildade, sobriedade e fé, mesmo que tenha um reino a seus pés.

Seja senhora de si e das suas ideias, do seu coração e da sua vontade. Se o alcançar, será feliz a dobrar, porque se venceu a si mesma e ao mundo!

Com a verdadeira admiração e gratidão da sua rainha.

Obrigada,

José Luís Nunes Martins, 

(ilustração de Carlos Ribeiro)

sábado, 25 de junho de 2016

Anatomia do invisível




Só se pode ver uma pequena parte do mundo. A maior parte das suas belezas não são visíveis. Distinguir entre o que é simples aparência e o que tem valor, ainda que por baixo de um manto sujo ou feio, é o maior de todos os desafios em que nos devemos lançar.

Há quem não reconheça a existência do amor só porque não o pode ver. Mas será que alguém duvida da existência do ar? E do vento, que é ar em movimento?

Tocamos a vida como uma música. E ela toca-nos. Somos compositores, instrumentos e sinfonias. Com falhas e desafinações, imensos altos e baixos... mas sempre para diante e mais alto... rumo ao céu.

Precisamos de aprender a fechar os olhos às superficialidades e a fixar o olhar no que tem verdadeira beleza... confiarmo-nos à luz que nos ilumina o coração, que nos aquece a vontade e é a raiz das nossas forças mais íntimas.

Podem até os olhos incendiar-se com lágrimas ardentes, mas não devemos nunca deixar de acreditar que um dia veremos a verdadeira paz, aquela que só merece quem vive sem grandes exigências.

Afinal, aquilo que os nossos olhos veem é só a aparência, a parte de fora. Importa olhar para dentro das coisas, para o nosso íntimo e para o dos outros...

Tal como numa bela melodia, o silêncio que se lhe segue ainda faz parte dela. Por vezes, importa pararmos... para sentirmos o nosso coração – que não vemos… para admirar o invisível... para agradecer... para sonhar... e para aprendermos a dar o melhor que somos e sonhamos ser.

Na vida, mais do que a excelência de uma nota, o que importa é o que se toca e a forma como se toca... e o silêncio que se segue...

E o que fica... depois de tudo o resto passar.



JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS
Ilustração de Carlos Ribeiro

sábado, 18 de junho de 2016

O valor da pontualidade





Se há virtude que pode ser representativa do valor de alguém é a pontualidade.

Ser pontual começa no momento em que se define e assume, perante o outro e perante si mesmo, um compromisso que se há de cumprir, também por respeito, delicadeza e amor pelo outro.

Não importa ser uma vez pontual, importa ser pontual sempre. Essa constância é que determina parte do valor de alguém. O verdadeiro poder de cada um de nós não é a capacidade de levantar grandes tempestades, mas sim o dom de criar e alimentar brisas suaves e constantes.

Ser pontual é ser um ponto firme no meio de um terreno escorregadio. É ser mais livre do que os outros, porque se voa mais alto e, assim, se chega onde os demais apenas sonham chegar.

Ser pontual é cumprir o dever de ser senhor de si mesmo. Ponto por ponto. É ser exato nas ideias, nobre nos sentimentos e, mais importante, atento e cuidadoso nas ações. Sem outro motivo se não o de ser fiel... a si mesmo.

Cada momento é sempre o último. O tempo faz o seu trabalho sem nunca se repetir. Ou o assumimos e dominamos ou, julgando-nos livres, deixamo-nos ir... para onde não queremos... e depois queixamo-nos dos desatinos do nosso fado. É urgente viver, como deve ser. Segurando com determinação as rédeas do nosso destino. Não perdendo tempo. Não atrasando o dever. Sabendo esperar. Sem pressas, pois que são a maior razão dos atrasos.

Levantarmo-nos da cama à hora que tivermos escolhido na véspera é a melhor forma de começar o dia. Por respeito a nós mesmos. É excelente começar o dia com uma vitória! Uma boa nota que dará o tom à sinfonia de todo o dia!

Há quem adie a realização dos seus sonhos de cada vez que prefere dormir um pouco mais.

Afinal, que valor tem uma pessoa que, a si mesmo, diz uma coisa e faz outra?

JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS
Ilustração de Carlos Ribeiro

sexta-feira, 17 de junho de 2016

Gabe Adams



Gabe Adams nasceu no Brasil sem braços nem pernas e foi abandonado pelos pais. Mas Deus levou o Gabe até aos Estados Unidos, onde abençoou esta criança com uma família incrível!

quinta-feira, 16 de junho de 2016

O outro par



Um vídeo que fala sobre a partilha, a reciprocidade e recorda um episódio da vida de Gandhi. Ao entrar num comboio, ele perdeu um sapato na linha férrea. Tentou apanhá-lo quando o comboio estava prestes a partir mas foi impossível. Então tirou o segundo sapato e lançou-o para perto do outro. Alguém, surpreendido, perguntou por que é que ele tinha feito isso. Gandhi respondeu, sorrindo: "O pobre que encontra um sapato não saberia o que fazer com um só sapato. Deixando lá também o segundo sapato, pelo menos ele sentirá alegria".

quarta-feira, 15 de junho de 2016

«Fecha a porta e ora a teu Pai em segredo»



"Quando orares, entra no teu quarto, fecha a porta e ora a teu Pai em segredo; e teu Pai, que vê o que está oculto, te dará a recompensa." (Mt 6,6)

Sê assíduo à oração e à meditação. Disseste-me que já tinhas começado. Isso é um enorme consolo para um Pai que te ama como Ele te ama! Continua, pois, a progredir nesse exercício de amor a Deus. Dá todos os dias um passo: de noite, à luz suave da lamparina, entre as fraquezas e na secura de espírito; ou de dia, na alegria e na luminosidade que deslumbra a alma […].

Se conseguires, fala ao Senhor na oração, louva-O. Se não conseguires, por não teres ainda progredido o suficiente na vida espiritual, não te preocupes: fecha-te no teu quarto e põe-te na presença de Deus. Ele ver-te-á e apreciará a tua presença e o teu silêncio. Depois, pegar-te-á na mão, falará contigo, dará contigo cem passos pelas veredas do jardim que é a oração, onde encontrarás consolo. Permanecer na presença de Deus com o simples fito de manifestar a nossa vontade de nos reconhecermos como seus servidores é um excelente exercício espiritual, que nos faz progredir no caminho da perfeição.

Quando estiveres unido a Deus pela oração, examina quem és verdadeiramente; fala com Ele, se conseguires; se te for impossível, detém-te, permanece diante dele. Em nada mais te empenhes como nisso.

São (Padre) Pio de Pietrelcina (1887-1968), capuchinho 
GF 173; EP 3 (982-983) 

sábado, 11 de junho de 2016

A alegria é paz que transborda




A alegria é uma bondade que se quer partilhar. Depende da capacidade de cada um de nós se desprender do que nos impede de voar. Sim, a alma voa. Mesmo. Se não a aprisionarmos em preocupações inúteis que se devem ignorar ou esquecer, ainda que, por vezes, com bastante sacrifício.

Só há alegria quando aprendemos a não nos entristecer com dores do passado, a seguirmos adiante apesar dos obstáculos do presente e quando temos mais fé do que ansiedade em relação ao futuro dos nossos sonhos... a alegria é sem tempo, está acima do tempo.

É uma condição essencial do verdadeiro contentamento que se estejam a vencer as guerras. Interiores e exteriores. E vencer, por vezes, é apenas lutar... qualquer que seja o resultado. A alegria supõe uma paz de espírito. Sem paz, não há alegria.

As pessoas que não invejam o que os outros possuem, e que vivem contentes com o que são, têm paz e, portanto, alegria. Ao contrário daquelas que, mesmo tendo muito, acham que é sempre pouco, porque maior é a sua ambição, ou avareza, ou ânsia de poder…

A alegria nasce da paz, é um silêncio íntimo de quem luta na mais importante das guerras... é a vontade de partilhar o mais precioso de todos os bens: a felicidade autêntica.

A alegria não é o entusiasmo do início… só há verdadeira alegria no fim.

sábado, 4 de junho de 2016

​Para quem procura luz na escuridão



Somos muitos, apesar de cada um se sentir isolado, desprotegido e só. No cansaço do nosso desespero… nesta procura constante por um simples sinal de descanso... devemos confiar mais no que escutamos. Talvez a salvação nos chegue pelo que ouvimos. Não pelo que vemos.

A tristeza demora-se no tempo. A aflição é mais forte, mas muito mais passageira. A infelicidade é um contínuo estado de tristeza. O infeliz está sempre triste. Mas quase todas as tristezas resultam de uma aflição... que passa, mas deixa uma ferida aberta. A tristeza é sem aflição. Arde mais fundo do que quase todos os sentimentos comuns. Apenas o amor é mais profundo.

As tristezas matam, de forma lenta, quem as sente e não as consegue resolver.

Só o amor pode salvar quem vive entristecido. Não os amores egoístas, mas o verdadeiro, aquele que procura o bem de um outro.

Nas trevas da solidão onde nos perdemos, podemos ouvir o silêncio de outros como nós, sentir o seu medo e a sua frustração, tocar-lhes… dar-lhes a mão. É difícil suportar alguém. Impedir que caia. Ajudá-lo a erguer-se. É difícil amar… muito mais do que ser só.

Escuta. Escuta o silêncio. Escuta o outro. O infinito e a paz que procuras não estão em ti, estão no outro.

Não confies no que brilha, quase sempre é apenas um mero reflexo de uma luz que está no lado oposto.

O mundo que vês quando fechas os olhos também és tu que o fazes. Escolhe o melhor de ti.


Ilustração de Carlos Ribeiro

sexta-feira, 3 de junho de 2016

Uma guitarra, um saxofone e um pedinte



Francisco afirmou no projeto ‘O Vídeo do Papa’ de junho que a solidariedade é mais do “dar a quem precisa” e deseja que as grandes cidades criem “espaços de convívio e de solidariedade” para os marginalizados.

A “intenção mensal do Santo Padre” para junho é feita através de uma gravação vídeo do Papa Francisco, onde a comunicação do seu pedido de oração acontece enquanto se vê a indiferença de quem passa diante de um idoso a pedir na rua e a atenção a dois jovens que tocam guitarra e saxofone.

“Nas cidades, é frequente o abandono de idosos e doentes. Podemos ignorá-los?”, pergunta o Papa.

“As nossas cidades deveriam caraterizar-se sobretudo pela solidariedade, que não consiste apenas em dar a quem precisa, mas em ser responsáveis uns pelos outros e criar uma cultura do encontro”, acrescenta o Papa.

Francisco desafia todos a rezar, ao longo do mês de junho, “para que os idosos, os marginalizados e as pessoas sós encontrem, mesmo nas grandes cidades, espaços de convívio e solidariedade”.

‘O Vídeo do Papa’ é uma plataforma lançada pela Rede Mundial de Oração do Papa - Apostolado da Oração (AO), da Companhia de Jesus, através da qual Francisco convida homens e mulheres do mundo inteiro a unir-se às suas intenções.

O vídeo é também disponibilizado na rede social facebook, em www.facebook.com/ovideodopapa, com outras informações sobre esta iniciativa e interação com a comunidade que a integra.

De acordo com o AO, estima-se que façam parte da Rede Mundial de Oração do Papa mais de 30 milhões de pessoas, em dez idiomas.

‘O Vídeo do Papa’ foi idealizado e realizado pela agência La Machi, Consultora de Comunicação para Boas Causas, e conta com o apoio do AO-Portugal.

Todos os meses, o Papa confia duas intenções de oração: uma universal, com temáticas que apelam a todos os homens e mulheres de boa vontade; e outra pela evangelização, mais centrada na vida da Igreja e na sua missão.

Agência Ecclesia

terça-feira, 31 de maio de 2016

The Human Experience



For the first time ever is the highly anticipated DVD release of The Human Experience. This Limited Edition DVD features full length commentary with Director Charles Kinnane, Executive Producer Joseph Campo and Writer/Producer Michael Campo. The DVD includes a photo gallery with behind-the-scene photos to give you the ultimate experience.

In a world fraught with hostility and violence, an altruistic group of young men endeavor to understand the true essence of the human spirit by visiting forgotten souls such as homeless New Yorkers, Peruvian orphans and isolated Ghanaian lepers. By spotlighting heartwarming stories from around the world, this uplifting documentary shows viewers that every single person, no matter his or her lot in life, is beautiful.

segunda-feira, 30 de maio de 2016

Outcasts



O estúdio premiado Grassroots Films, depois do sucesso do filme Human Experience, lançou mais um documentário sobre a experiência de ser padre, que se junta ao filme Fishers of Men (Pescadores de Homens) O novo documentário chama-se Outcasts e traz o dia a dia dos Frades Franciscanos da Renovação. O filme tem cenas fortes e cenas belíssimas.

sexta-feira, 27 de maio de 2016

Onde vive um coração puro?



Estimada amiga,
De que lhe serve ser sincera quando não tem nada de bom para dizer? Muitas pessoas confundem franqueza com verdade e permitem-se dizer os maiores disparates, julgando que qualquer coisa que digam sem intenção de mentir será verdadeira e valiosa... mas não é bem assim.

Tente ter cuidado com o que diz. Mais ainda quando se zanga. A fúria é um animal selvagem que se lhe dermos espaço, em pouco tempo, acaba por usar as nossas forças para destruir tudo, sem distinguir entre o que é bom e o que não é. No fim, depois da explosão, fica apenas a raiva, o cansaço e o remorso que começa a nascer. Pouco depois, surge sempre a errada ideia de que, com um pedido sincero de desculpas, tudo voltará a ser como dantes.

Quando tiver algo a dizer, diga-o, de forma breve, concreta e tão simples quanto possível.

Quem nos ama saberá o que sentimos com uma simples troca de olhares. Quem não nos considera não passará a fazê-lo com base nas nossas palavras, por mais inspiradas, verdadeiras e autênticas que sejam.

O silêncio pode ser uma lâmina afiada capaz de trespassar o coração mais forte, mas pode também ser a mais importante das armas na defesa do bem.

Há uma imagem que me parece cada vez mais acertada: quando algo é bom vale por si mesmo, não está nunca dependente de elogios.

Peço-lhe que considere as minhas palavras, não como uma lição, mas como um desabafo de quem, há já algum tempo, anda nesta guerra contra as palavras que escondem mais do que mostram... com mais derrotas do que vitórias.

Um coração puro vive num castelo, não num palácio.

No castelo, o coração está protegido e só quando vale a pena é que se abre e dá aos outros.

No palácio, em vez de guardar o coração dentro dele como seu tesouro, aposta tudo na simples aparência... e é vazio. Mostrando-se sem distinção a tudo quanto passa.

Obrigado, muito.



(Ilustração de Carlos Ribeiro)

segunda-feira, 16 de maio de 2016

Revelo-me sempre que decido



Escolher implica traçar uma linha clara. Um critério que permite examinar e avaliar as opções separando as boas das más, as úteis das inúteis, as convenientes das inconvenientes.

Esta linha é também resultado de uma escolha. Por isso, pode ser justa ou injusta, levar ao sucesso ou ao fracasso. Há escolhas sensatas e outras mais apaixonadas... chegando, por vezes, a ser meros caprichos.

Preferir é estabelecer prioridades ou importâncias. É ordenar de acordo com pesos e medidas. Mas também aqui o critério mais importante é o que preside à escolha do critério.

Há depois um nível superior de decisão: a eleição. Uma pessoa não escolhe outra, tão-pouco a pode preferir. Eleger é uma vontade da alma. Única e exclusiva.

Podemos escolher os membros de uma equipa, preferir uns a outros, mas quando assumimos a pessoa como um todo, integral e absoluto, ou a elegemos ou não. O critério é um só: a decisão da alma, baseada na sua identidade.

Posso conhecer bem alguém por aquilo que escolhe ou prefere, mas será muito mais evidente se me revelar os seus critérios. Quem elege não pode deixar de revelar quem é.

A alma expõe-se de forma concreta quando se decide alguém... E fica ali, bem diante dos olhos dos outros e ao alcance dos seus eventuais golpes... Nas eleições que fazemos mostramos o que povoa o fundo do nosso coração, até a nós mesmos... nesse sentido, é quando fechamos os olhos que melhor nos vemos.

Se cabe a quem decide ter de lidar com as dúvidas e as possibilidades de fracasso das suas decisões, as eleições íntimas são – de todas – as que envolvem maior coragem. Na eleição de quem devemos amar não se pode arriscar menos do que tudo.

Ao amor é essencial o sacrifício do que somos... mas, na verdade, quem deseja o céu... só se encontra quando se dá, quando se perde.

Texto de José Luís Nunes Martins
Ilustração de Carlos Ribeiro

sexta-feira, 13 de maio de 2016

Tenho ao cimo da escada...



Tenho ao cimo da escada, de maneira
Que logo entrando os olhos me dão nela,
Uma Nossa Senhora de Madeira
Arrancada a um Calvário de capela.

Põe as mãos com fervor e angústia. O manto
Cobre-lhe a testa, os ombros, cai composto;
E uma expressão de febre e espanto
Quase lhe afeia o fino rosto.

Mãe das Dores, seus olhos enevoados
Olham chorosos, fixos, muito além...
E eu, ao passar, detenho os passos apressados
Peço-lhe: - A sua bênção, Mãe!

Sim, fazemo-nos boa companhia,
E não me assusta a sua dor; quase me apraz.
O Filho dessa Mãe nunca mais morre. Aleluia!
Só isso bastaria a me dar paz.

“Porque choras Mulher?... – docemente a repreendo,
Mas à minh’alma, então, chega de longe a sua voz
Que eu bem entendo:
“Eu sei! Teus filhos somos nós”.

José Régio (1901-1969)

terça-feira, 10 de maio de 2016

O silêncio

Imagem

O silêncio é mansidão quando não respondes às ofensas e deixas a Deus a tua defesa. O silêncio é paciência quando sofres sem te lamentares, não procuras consolações humanas, esperas que a semente germine. O silêncio é humildade quando calas para deixar emergir os irmãos e deixas aos outros a glória do feito. O silêncio é fé quando não procuras compreensão e renuncias à glória pessoal porque te basta ser conhecido por Deus.

Assim escrevia em 1581 S. João da Cruz, grande místico e escritor espanhol. O seu canto do silêncio conjuga-se bem com a "mística" que - como na palavra "mistério" - tem na raiz um verbo grego que significa "calar". Não é preciso acrescentar muito sobre este tema, tão marginalizado no tempo em que vivemos, marcado por um excesso de falatório, rumor e fatuidade exterior.

Gostaria, em vez disso, de colocar o acento nas "cores" do silêncio que o santo consegue fazer brilhar. Há, antes de mais, a mansidão que emerge do calar as respostas amargas, sarcásticas, vingativas. Há a paciência que desponta desde o reprimir do lamento emitido para obter compreensão e para se tornar o centro da atenção do outro. Sofrer em silêncio é confiar só a Deus a própria dor, sabendo que Ele «as nossas lágrimas no seu odre recolhe, escrevendo-as depois no seu livro (Salmo 56, 9).

O silêncio é também o ventre da humildade porque o prepotente tem sempre uma palavra a mais do que os outros e o soberbo faz ribombar a sua voz de maneira retumbante, de tal forma que ela domine e revele a grandeza de quem a emite. E, por fim, a fé é silenciosa porque é intimidade com Deus. E é belíssima a frase, de sabor paulino (leia-se Galátas 4, 9), com que João da Cruz conclui o seu louvor do silêncio: «Basta-nos ser conhecidos por Deus!».


Card. Gianfranco Ravasi 
In "Avvenire" 
Trad.: Rui Jorge Martins 
Publicado em 09.05.2016

segunda-feira, 9 de maio de 2016

O profeta Oseias, a traição e o amor




São páginas belíssimas, até na dramaticidade que as envolve. É a história do profeta Oseias, que viveu no século VIII a.C., cuja existência familiar é narrada nos primeiros três capítulos do seu livrinho bíblico, onde, todavia, é transfigurada em símbolo religioso para todo o Israel.

A história é conhecida: o profeta tinha desposado uma ex-prostituta (ou talvez uma sacerdotisa de cultos pagãos da fertilidade); dela havia tido três filhos, mas a mulher tinha-o abandonado. Nesta experiência tormentosa podemos encontrar a relação entre família e misericórdia.

Dois são os perfis que queremos agora descrever. O amor misericordioso que sabe perdoar pode coexistir com o desdém pela ofensa da infidelidade. É isto que brilha no capítulo 2 da confissão de Oseias. Ele, com efeito, apesar de gritar a sua ira e amargura pelo abandono do teto conjugal, sonha que a sua mulher, Gomer, desiludida pelos amantes, retome o seu lugar no lar, agora deserto, com a sua família. Ela, efetivamente, dirá: «Voltarei ao meu primeiro marido, porque eu era outrora mais feliz do que agora». (2, 9). E Oseias estará pronto a perdoar tudo, e com ela quererá celebrar um novo casamento e uma nova lua de mel.

Juntos irão novamente aos lugares da sua juventude, retirar-se-ão para o deserto, abraçar-se-ão os corações: «É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração [literalmente: sobre o seu coração] (...) Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude» (2, 16-17).

Envolvida e comovida por este amor que elimina e perdoa o passado, Gomer repetirá as palavras ternas da intimidade nupcial: «Naquele dia – oráculo do Senhor – ela me chamará: "Meu marido" e nunca mais: "Meu Baal"» (2, 18). E Oseias replicará: «Então, te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. Desposar-te-ei com fidelidade» (2, 21-22).
O segundo perfil encontra-se em Oseias 11,1-4. Nele entra em ação a misericórdia paterna, que se inclina com ternura sobre o filho, mesmo sendo ele um pouco caprichoso e rebelde. Também neste caso a representação do pai que tem nos braços o seu menino torna-se um símbolo da relação entre Deus e o seu povo.

Eis a pequena cena descrita pelo profeta, onde Deus fala a Efraim, isto é, a Israel: «Entretanto, Eu ensinava Efraim a andar, trazia-o nos meus braços, mas não reconheceram que era Eu quem cuidava deles. Segurava-os com laços humanos, com laços de amor, fui para eles como os que levantam uma criancinha contra o seu rosto; inclinei-me para ele para lhe dar de comer» (11, 3-4).

É fácil intuir a terna solicitude deste pai que, tendo pela mão o filhinho, o ensina a caminhar, o aperta fortemente a si, o eleva até à altura do seu rosto para o impelir a comer, mesmo quando o pequeno não quer saber e é caprichoso.

Este é um pequeno quadro de intimidade familiar que se liga à cena matrimonial anterior e que recorda a todos os esposos e pais a necessidade do amor misericordioso para viver juntos uma experiência nem sempre fácil. Como observava o escritor suíço Max Frisch, falecido em 1991, «no amor não se deve ver um ponto de chegada, nem um apagamento, mas apenas um continuo prosseguir».

Card. Gianfranco Ravasi

sábado, 7 de maio de 2016

​A solidão do amor



Ele trazia sempre na carteira a fotografia dela. Era um tesouro que admirava várias vezes ao dia. Uma prova concreta de que ela existira e existia, de que não era uma mentira ou ilusão.

Na fotografia, ela estava lindíssima, com um sorriso acolhedor e um olhar cheio de luz que iluminava tudo... embora os nadas que ia enchendo fossem cada vez maiores.

Aquele homem sentia o seu amor despedaçar-se a cada dia, a cada hora... a cada agora! Como uma cascata sobre um abismo. Mas amava-a, nunca deixou de a amar, mesmo quando a morte o fazia deixar de acreditar. O seu coração parecia ter sido o lugar escolhido pelo bem e pelo mal, para nele se medirem as forças da luz e das trevas.

À noite, em casa, a saudade batia-lhe à porta, até a arrombar... logo que entrava, uma dor profunda seguia-lhe todos os passos e pesava, a cada um, mais e mais. Quando o sono chegava para lhe silenciar a tristeza, a saudade enchia o quarto e deitava-se na cama antes dele, esperando-o com o seu abraço frio. Era uma solidão tão concreta que, só, ele a podia ver e ouvir.

Queria tanto que ela, do lado de lá da morte, pudesse vê-lo...

A certeza de que o paraíso não faria sentido sem ela aquecia-lhe, por momentos, aquela noite imensa, ainda mais imensa quando ele perdia a esperança... e, apesar de não poder sentir a sua amada, ela dava-lhe sentido.

Desejava que a mesma morte que a havia levado, o levasse também a ele... ou para junto dela, ou para um nada qualquer onde já não houvesse dor. Mas não queria ser cemitério. Havia de honrar o que lhe prometera: conquistar, neste mundo, a vida eterna!

Sabia bem, muito bem, que uma das piores partes da batalha é a espera, mas estava certo da felicidade... desde o dia em que decidiram amar-se, perdoar-se e esperar um pelo outro.

O homem morreu num dia triste de chuva.

Morreu... e foi logo ajoelhar-se à cabeceira da cama onde ela esperava por ele, há tanto tempo...

O que ela não esperava foi o beijo quente com que ele a acordou, para sempre.

JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS
(Ilustração de Carlos Ribeiro)

quarta-feira, 4 de maio de 2016

O Nó no Lenço

Numa reunião de pais numa escola, a professora ressalvava o apoio que os pais devem dar aos filhos e pedia-lhes que se mostrassem presentes, o máximo possível...
Considerava que, embora a maioria dos pais e mães trabalhasse fora, deveriam arranjar tempo para se dedicar às crianças.
Mas a professora ficou surpreendida quando um pai se levantou e explicou, humildemente, que não tinha tempo de falar com o filho nem de vê-lo durante a semana, porque quando ele saía para trabalhar era muito cedo e o filho ainda estava a dormir e quando regressava do trabalho era muito tarde e o filho já dormia.
Explicou, ainda, que tinha de trabalhar tanto para garantir o sustento da família, mas também contou que isso o deixava angustiado por não ter tempo para o filho e que tentava compensá-lo indo beijá-lo todas as noites quando chegava em casa.
Mas, para que o filho soubesse da sua presença, ele dava um nó na ponta do lençol que o cobria. Isso acontecia religiosamente todas as noites quando ia beijá-lo.
Quando o filho acordava e via o nó, sabia logo, que o pai tinha estado ali e o tinha beijado.
O nó era o meio de comunicação entre eles.
A professora emocionou-se com aquela história e ficou surpreendida quando constatou que o filho desse pai era um dos melhores alunos da escola.
Este facto, faz-nos reflectir sobre as muitas maneiras de as pessoas se mostrarem presentes, e de comunicarem com os outros.
Aquele pai encontrou a sua, que era simples mas eficiente.
E o mais importante é que o filho percebia, através do nó, o que o pai estava a dizer.
Simples gestos, como um beijo e um nó na ponta do lençol, valiam, para aquele filho, muito mais do que presentes ou a presença indiferente de outros pais.
É por essa razão que um beijo cura a dor de cabeça, o arranhão no joelho, ou o medo do escuro...
É importante que nos preocupemos com os outros, mas é também importante que os outros o saibam e que o sintam.
As pessoas podem não entender o significado de muitas palavras, mas sabem reconhecer um gesto de amor.
Mesmo que esse gesto seja apenas e só, um nó num lençol..."

segunda-feira, 2 de maio de 2016

Amor e sacrifício



O sinal revelador de que já se deixou de amar torna-se manifesto quando os sacrifícios começam a custar; o sinal de que se ama pouco acende-se quando te dás conta de que os estás a fazer.

É verdade que há outros sinais: por exemplo, um escritor afirmava que quando dois namorados começam a explicar-se e a justificar-se, é porque estão prestes a deixarem-se.

Mas não há dúvida de que é o egoísmo, quando aflora de maneira prepotente, o indício de que o amor está a regredir. Sente-se o peso daquilo que se faz pelo outro, começa a calcular-se quanto se dá e quanto se recebe.

Quando alguém se dá conta de que está em crédito de bem em relação a outra pessoa, então está aí o sinal claro de que começou o declínio do amor.

Uma mãe ou a um pai, se são verdadeiramente tais, não são esmagados pelo cansaço de um trabalho stressante, de vigílias e de sacrifícios vários quando o fazem pelo seu filho.

A característica fundamental do amor é a gratuidade, não se admite o interesse ou o cálculo; não se espera recompensa nem gratidão, porque para a pessoa amada tu só queres o seu bem e a sua felicidade.

A sociedade contemporânea, que é decididamente mais egoísta, desabituou-nos ao gratuito puro, ao dar sem pedir em troca, ao sacrifício de si por amor. É por isso que não conhece a verdade daquela frase de Jesus, referida por Paulo: «Há mais alegria no dar do que no receber» (Atos dos Apóstolos, 20, 35).



P. [Card.] Gianfranco Ravasi
In "Avvenire"
Publicado em 30.04.2016

domingo, 1 de maio de 2016

Uma mãe não tem dia, tem vidas




O que faz a diferença entre as mães e o resto do mundo é que uma mãe é incondicional: ela não impõe condições de espécie alguma e para nada. Uma mãe é sempre igual e do primeiro ao último dia. Seja como for o filho, uma mãe não lhe vê defeitos, reconhece-lhe apenas algumas fragilidades. Para ela, os filhos cometem erros ou fazem asneiras, mas não são maldosos; fazem disparates, mas não são desastrados. Eles até podem mentir, o que não quer dizer que sejam desonestos. É verdade que muitas vezes não se esforçam, mas isso não faz deles preguiçosos. E se estão inseguros, não significa que sejam fracos.

Para uma mãe, o verbo ser só se aplica às qualidades e às virtudes; os verbos estar ou fazer aplicam-se aos defeitos. Porque um filho não tem defeitos, apenas está a crescer. E ele cresce a vida toda. Por isso uma mãe não condena, ela censura; não se vinga, corrige e emenda; também não se revolta, apenas se entristece. E não desiste. Nunca desiste.

Do primeiro ao último dia, as mães mantêm uma esperança infinita nos filhos. Nenhum filho é um projeto falhado ou uma frustração. Ela também nunca se desilude porque não tem ilusões: tem a certeza de que o filho é maravilhoso. A angústia de uma mãe é a infelicidade do filho e não a dela. Daí que as mães nunca se deixem guiar pela razão - pois aquilo que guia a esperança é puramente emocional. Para uma mãe, os filhos são diamantes em bruto que ela tem a obrigação de lapidar. E quando o trabalho não corre bem, a culpa não é certamente deles, é dela - a técnica especializada.

Uma mãe é incondicional porque parte do princípio de que os filhos são mais importantes, mais valiosos do que qualquer outra coisa no mundo incluindo ela, da mesma forma que um diamante é mais valioso do que a máquina que o corta. O que faz as mães especiais é que as mães dão sentido ao sofrimento: sofrem sempre por um bem maior que é cada um dos filhos. E por isso sofre-se a sorrir. Pelo menos a minha mãe é assim. Perfeita.

Inês Teotónio Pereira
DN 2016.04.30

sábado, 23 de abril de 2016

Os sonhos são feitos de amo




O amor sonha, mas somos nós quem deve carregar as pedras, desenhar e fazer os caminhos, e erguer os castelos. Ninguém pode esperar reinos perfeitos onde nos receberão como reis, rainhas e senhores de tudo. Não existem. Nem fariam sentido.

Os sonhos querem manifestar-se à luz do dia. Nunca são absurdos. Só quando alguém abandona um sonho é que o condena à prisão do impossível.

Muitos pesadelos nascem do egoísmo. São medo, medos e medo dos medos... infelicidade em potência, pronta a irromper na realidade e a impor-se a quem desiste de si. Não há pessoa mais pobre do que aquela que perdeu toda a sua paciência. As feridas demoram a cicatrizar. Muito… Mas com tempo e silêncio curam-se quase todos os males.

Com humildade, devemos acolher a presença e a ajuda dos outros. Aceitando que a verdade também nos chega pelo olhar, mão ou voz de uma criança, de um qualquer desconhecido ou até mesmo de alguém da nossa família...

Todos os dons são formas de amor, assim todas as virtudes nele encontram a sua semente e o seu alimento. O amor sopra em todos os tempos e lugares, nunca sai do seu silêncio nem a nada faz sombra... é a luz que vê e ilumina, sem ser vista ou iluminada.

O amor é uma paixão sensata, cuidadosa e sonhadora.

É um cuidar do outro como única forma de cuidar de si.


JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS
(ilustração de Carlos Ribeiro)

Tarde Te amei!



“Tarde Te amei!” De Santo Agostinho, uma das mais arrebatadoras orações de todos os tempos
"Et ecce intus eras et ego foris et ibi te quaerebam, et in ista formosa quae fecisti deformis irruebam..."

1. Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova… Tarde Te amei! Trinta anos estive longe de Deus. Mas, durante esse tempo, algo se movia dentro do meu coração… Eu era inquieto, alguém que buscava a felicidade, buscava algo que não achava… Mas Tu Te compadeceste de mim e tudo mudou, porque Tu me deixaste conhecer-Te. Entrei no meu íntimo sob a Tua Guia e consegui, porque Tu Te fizeste meu auxílio.

2. Tu estavas dentro de mim e eu fora… “Os homens saem para fazer passeios, a fim de admirar o alto dos montes, o ruído incessante dos mares, o belo e ininterrupto curso dos rios, os majestosos movimentos dos astros. E, no entanto, passam ao largo de si mesmos. Não se arriscam na aventura de um passeio interior”. Durante os anos de minha juventude, pus meu coração em coisas exteriores que só faziam me afastar cada vez mais d’Aquele a Quem meu coração, sem saber, desejava… Eis que estavas dentro e eu fora! Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Estavas comigo e não eu Contigo…

3. Mas Tu me chamaste, clamaste por mim e Teu grito rompeu a minha surdez… “Fizeste-me entrar em mim mesmo… Para não olhar para dentro de mim, eu tinha me escondido. Mas Tu me arrancaste do meu esconderijo e me puseste diante de mim mesmo, a fim de que eu enxergasse o indigno que era, o quão deformado, manchado e sujo eu estava”. Em meio à luta, recorri a meu grande amigo Alípio e lhe disse: “Os ignorantes nos arrebatam o céu e nós, com toda a nossa ciência, nos debatemos em nossa carne”. Assim me encontrava, chorando desconsolado, enquanto perguntava a mim mesmo quando deixaria de dizer “Amanhã, amanhã”… Foi então que escutei uma voz que vinha da casa vizinha… Uma voz que dizia: “Pega e lê. Pega e lê!”.

4. Brilhaste, resplandeceste sobre mim e afugentaste a minha cegueira. Então corri à Bíblia, abri-a e li o primeiro capítulo sobre o qual caiu o meu olhar. Pertencia à carta de São Paulo aos Romanos e dizia assim: “Não em orgias e bebedeiras, nem na devassidão e libertinagem, nem nas rixas e ciúmes. Mas revesti-vos do Senhor Jesus Cristo” (Rm 13,13s). Aquelas Palavras ressoaram dentro de mim. Pareciam escritas por uma pessoa que me conhecia, que sabia da minha vida.

5. Exalaste Teu Perfume e respirei. Agora suspiro por Ti, anseio por Ti! Deus… de Quem separar-se é morrer, de Quem aproximar-se é ressuscitar, com Quem habitar é viver. Deus… de Quem fugir é cair, a Quem voltar é levantar-se, em Quem apoiar-se é estar seguro. Deus… a Quem esquecer é perecer, a Quem buscar é renascer, a Quem conhecer é possuir. Foi assim que descobri a Deus e me dei conta de que, no fundo, era a Ele, mesmo sem saber, a Quem buscava ardentemente o meu coração.

6. Provei-Te, e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me, e agora ardo por Tua Paz. “Deus começa a habitar em ti quando tu começas a amá-Lo”. Vi dentro de mim a Luz Imutável, Forte e Brilhante! Quem conhece a Verdade conhece esta Luz. Ó Eterna Verdade! Verdadeira Caridade! Tu és o meu Deus! Por Ti suspiro dia e noite desde que Te conheci. E mostraste-me então Quem eras. E irradiaste sobre mim a Tua Força dando-me o Teu Amor!

7. E agora, Senhor, só amo a Ti! Só sigo a Ti! Só busco a Ti! Só ardo por Ti!…

8. Tarde te amei! Tarde Te amei, ó Beleza tão antiga e tão nova! Tarde demais eu Te amei! Eis que estavas dentro, e eu, fora – e fora Te buscava, e me lançava, disforme e nada belo, perante a beleza de tudo e de todos que criaste. Estavas comigo, e eu não estava Contigo… Seguravam-me longe de Ti as coisas que não existiriam senão em Ti. Chamaste, clamaste por mim e rompeste a minha surdez. Brilhaste, resplandeceste, e a Tua Luz afugentou minha cegueira. Exalaste o Teu Perfume e, respirando-o, suspirei por Ti, Te desejei. Eu Te provei, Te saboreei e, agora, tenho fome e sede de Ti. Tocaste-me e agora ardo em desejos por Tua Paz!

Santo Agostinho, Confissões 10, 27-29

quarta-feira, 20 de abril de 2016

Pessoas felizes não falam mal dos outros

 

O hábito de “falar mal” dos outros está tão enraizado na nossa sociedade atual que infelizmente não nos damos conta do quanto ele pode prejudicar a vida de todos: aquele que critica, aquele que é criticado, e até aquele que ouve passivamente a crítica sobre os outros.

Você já reparou em como as pessoas felizes não falam mal dos outros? Parece que elas, simplesmente, não têm essa necessidade que tantas outras pessoas têm.

Neste artigo, queremos falar sobre os motivos pelos quais as pessoas criticam as outras e sobre como podemos nos manter fortes diante das críticas e das energias negativas de pessoas que só sabem falar mal dos outros.

Por que as pessoas falam mal dos outros?

O motivo principal pelo qual as pessoas sentem a necessidade de falar mal dos outros é para que elas se sintam melhor com as suas próprias inseguranças. Geralmente elas procuram defeitos e falhas dos outros para comentar, em uma tentativa de disfarçar, tirar o foco ou até parar de pensar nos seus próprios  defeitos.

E não se enganem: ninguém está imune a isso. Analise o seu próprio comportamento com atenção e veja se você não fez nenhum comentário maldoso nos últimos tempos, mesmo sem intenção. Muitas vezes falamos algo e só depois nos damos conta.

Infelizmente este tipo de comportamento está enraizado no dia a dia de muitas pessoas, que na maioria das vezes estão insatisfeitas com algum aspecto das suas vidas, e criticam os outros para, de alguma forma, se sentirem melhor, mesmo que isso seja feito de maneira inconsciente em algumas situações.

Mantenha-se forte diante das críticas

Também é fundamental falar sobre o outro lado da moeda: a pessoa que é criticada. Em teoria, deveríamos todos ser completamente imunes às críticas. Afinal, o que uma pessoa diz sobre nós é a realidade dela, e não a nossa.  Ninguém sabe realmente o que acontece na vida de outra pessoa, tanto das alegrias e momentos de felicidade quanto das lutas e adversidades superadas.

Não deixe que a opinião dos outros influencie o seu dia a dia negativamente. É muito importante reforçar e desenvolver a sua  autoestima e autoconfiança, para saber lidar melhor com as críticas e resistir a delas. Sabemos que, muitas vezes, é difícil fazer isso, mas a chave para consegui-lo é o autoconhecimento.

Se você estiver feliz consigo mesmo, se tiver valores fortes nos quais acredita, se souber valorizar tudo o que tem na vida, ao invés de focar no que não tem, poderá viver alheio aos comentários dos outros, pois eles não o afetarão.

Afaste-se de quem só sabe criticar

Todo mundo conhece uma pessoa repleta de energias negativas, que só sabe se queixar da vida, reclamar de todos os acontecimentos, até dos felizes, e falar mal dos outros sempre que tiver uma mínima oportunidade.

Estas energias são contagiosas, por isso não vale a pena incentivar este tipo de comportamento, pois você também irá perder com ele. Cerque-se de pessoas felizes, com um astral lá em cima, otimistas e que enxerguem o lado positivo da vida, e não de pessoas que deixam todos (e inclusive elas mesmas) “para baixo”.

E não se engane: uma pessoa que fala mal dos outros para você, certamente fala mal de você para os outros. É este tipo de amizade ou relacionamento que você quer ter? Talvez seja o momento de reavaliar.

Se você conviver com alguém assim, pode conversar e explicar que este comportamento somente prejudica a todos, e que você não gostaria mais de ouvir comentários maldosos sobre as outras pessoas. Se mesmo assim não adiantar, infelizmente a melhor solução pode estar no afastamento.

Seja a melhor versão de você mesmo

As pessoas felizes estão preocupadas demais com elas mesmas e com o seu bem-estar pessoal para perder tempo falando mal dos outros. Inspire-se nelas!

Dedique o seu tempo, os seus pensamentos e as suas palavras à pessoa que mais importa na sua vida: você mesmo! Mantenha o seu foco em ser a melhor versão possível de você mesmo, trabalhando as suas inseguranças sem se comparar aos outros, e sem perder tempo com comentários e observações a respeito de características e comportamentos alheios.

Quando você estiver satisfeito consigo mesmo, certamente estará tomando as melhores decisões para o seu presente e o seu futuro, e vivendo de acordo com a sua verdadeira essência, não terá nenhuma preocupação com os outros e poderá seguir em frente de forma muito mais leve, plena e feliz




Leia mais: http://www.fasdapsicanalise.com.br/pessoas-felizes-nao-falam-mal-dos-outros/#ixzz46LpXGkBO

sábado, 16 de abril de 2016

O segredo do que sou



O que somos depende do que amamos. Só quem se dá aos outros se liberta do egoísmo. Ser é amar. Realizar-se na entrega de si ao outro.

O que sou não se limita ao que penso que sou, tão-pouco ao que penso que os outros julgam de mim. É mais. Sou também aquilo que recebo quando me esqueço de mim e me abro ao outro, e aquilo que fica de mim nos outros, quando a eles me dou...

Não sou apenas um aqui e agora. Sou também o que fui... e o que hei de ser.

Sou o que quero concretizar da minha essência, as sementes que decido regar de entre as que existem em mim.

A minha identidade faz-se dos muitos e pequenos passos que vou escolhendo dar... cada momento da vida é tão importante quanto insignificante.

Sofremos, por vezes, golpes fundos. O tempo nem os apaga nem os cura. São partes de nós, todas elas boas, porque são parte de nós. As tempestades, muitas vezes, aproximam-nos de quem nos quer bem... As dores fazem-nos família. Quando amo, e sou aceite, também sou no outro... e o outro, quando me ama e eu o aceito, também é em mim.

Sou um mistério que se constrói e revela... na certeza de que nunca sou nem mais, nem menos, do que o amor de que for capaz...

Sou o que amo.

JOSÉ LUÍS NUNES MARTINS
(ilustração de Carlos Ribeiro)

terça-feira, 12 de abril de 2016

A felicidade não é uma sorte



A felicidade não é um dom divino atribuído apenas a alguns, assim como também não é o resultado de um qualquer acaso ou sorte mais terrena. Não. Não vem dos céus nem de uma qualquer lotaria, antes sim de um conjunto de decisões íntimas e concretas em relação à vida de todos os dias. Por vezes, passa por abdicar do que outros julgam essencial. Muitos são os que permitem que as coisas banais os (pre)ocupem de mais.

Ser feliz não passa por satisfazer desejos momentâneos, mas por aprender a sonhar e a criar realidade, tantas vezes a partir do nada.

Ser feliz não é ser escravo dos seus apetites, é ser senhor de si. Todos temos o dever de nos tratarmos bem. Sermos corretos connosco próprios e com os outros.

Só quem acredita e confia em si pode ser feliz, porque não medirá o seu valor pelo que veste, pelos seus bens, pelo sucesso ou por outra coisa qualquer que o dinheiro pode comprar.

Não se deve nunca usar ninguém, ainda que seja por um interesse nobre. A única forma virtuosa de relação humana é o encontro, nunca o negócio.

Ser feliz não é viver no céu, é ter o céu em si. É escolher ser céu… e dar-se.

A felicidade é a realização plena de si… mas nunca se é feliz sozinho, porque o infinito só se revela no encontro.

José Luís Nunes Martins
(ilustração de Carlos Ribeiro)

segunda-feira, 4 de abril de 2016

Desejo ardentemente passar esta Páscoa contigo…



Quando cheguei percebi que aquele jantar iria ser muito especial. A sala era toda de pedra e o tecto uma beleza, com arcos e ogivas, e as colunas que os suportavam espalhavam-se pela sala deixando um espaço central para a mesa, enorme, que estava posta de uma maneira muito simples. As paredes estavam pintadas de cor-de-rosa velho realçando ainda mais a beleza da pedra antiga. Numa das paredes estava acesa uma lareira enorme e ouvia-se o barulhar da lenha, o que fazia um ambiente muito acolhedor.

Todos os que estávamos ali tínhamos recebido o mesmo estranho convite: “Desejo ardentemente que venhas cear comigo nesta Páscoa”. Eu olhava à roda a ver quem poderia ter sido o da ideia mas percebi que todos tinham a mesma curiosidade.

A certa altura entrou na sala um homem que começou a cumprimentar cada um de uma maneira muito calorosa. Dizia qualquer coisa enquanto nos abraçava, sem pressas e com uma imensa ternura. Quem seria ele?

Chegou a minha vez. Avançou para mim com os braços muito abertos e um sorriso de uma bondade tal que senti o coração estremecer. Instintivamente estendi também os braços e deixei-me envolver naquele abraço eterno, apertando-o contra mim com toda a força de que fui capaz. Quando me largou, olhou-me intensamente e disse-me numa voz imensamente suave: “Não imaginas como desejei que viesses! Que bom teres aceitado o convite. A tua presença enche o meu coração de uma enorme alegria. És um filho muito amado. Senta-te aqui”. E arrastando um banco, mostrou-me o meu lugar. Sentia-me muito comovido, era aconchegante tudo o que ali se passava, as pessoas estavam agora com um olhar lavado e alegre, era uma alegria que vinha de dentro, como se todos os corações estivessem chapados nas nossas caras.

Começámos a comer e a conversar alegremente, o anfitrião estava num lugar central, mas era como se estivesse ao meu lado, ao lado de cada um. Falava pouco mas estava atento a todos e à conversa. A certa altura disse como se fosse a coisa mais natural do mundo – “Hoje alguém me vai trair!”. Foi uma bomba, e fez-se silêncio – quem poderia trair esta pessoa que tão bem nos recebia, que nos tinha abraçado com tanto amor, junto de quem nos sentíamos tão profundamente queridos? Alguém perguntou quase num sussurro: “Quem?”. E o anfitrião respondeu: “aquele”.

Nessa altura senti uma coisa muito estranha que mais tarde soube que todos sentiram também. Era para mim que ele olhava, era para cada um de nós que ele olhava pessoalmente. E era um olhar tão fundo que vi - num relâmpago - toda a minha história: de miséria, de negação, de infidelidade, de mentira, de orgulho, de vaidade, de injustiça, de maledicência... e era espantoso porque todas as pessoas a quem eu tinha feito mal, de quem tinha pensado mal, a quem magoei, tinham todas SEMPRE a cara do anfitrião. Voltei a olhar para ele e reparei que me olhava com uma bondade e uma doçura que me trespassaram.

Havia um silêncio muito violento na sala que só se quebrou quando ele se levantou, pegou numa toalha e numa bacia e veio lavar os pés de cada um. Um burburinho cortou então aquele silêncio pesado. A minha primeira reacção foi dizer: “Não! Não Senhor... como posso deixar que me laves os pés?” Mas ele de joelhos, totalmente despojado, olhava-me humildemente como se aquilo fosse para ele a coisa mais importante do mundo: “Deixas? Posso? Por favor!” E voltei a ver o mesmo filme de há pouco: todas as vezes em que O ofendi, e troquei, e julguei, e esqueci, e fingi... em cada pessoa a quem o fiz... “Achas que não tens nada para lavar?” Deixei-me então lavar... perdoar... amar. A todos ele lavou os pés com um carinho incrível, e no fim, disse-nos com autoridade: “Assim como vos fiz, façam também vocês uns aos outros”.

Vim a pé para casa, devagar e pensativo. Precisava de arejar, tinha o coração aos saltos. Até que “VI”! Vi que aquele era O Senhor que eu procurava há tanto tempo, O Senhor a Quem queria amar e seguir... “O SENHOR” da minha vida. E percebi também que não Lhe interessa ser amado se O separar do meu irmão, daquele familiar, daquele amigo, daquele que me fez mal, daquele de quem não gosto, mas que é em cada um deles que Ele quer ser reconhecido e querido.

Disseram-me depois que no fim daquele jantar o tinham morto, mas não é verdade porque passados 3 dias voltei a encontrá-lO. Ía eu pela rua, e ao passar por um beco vi-O: estava deitado a dormir despido e cheio de chagas em cima de um cartão. E voltei a vê-lO quando fui a um lar de velhinhos, estava num canto só e triste. E vi-O também na televisão, num país de África, parecia cheio de fome, muito magro e com uma barriga enorme, e vi-O ainda num irmão desprezado e caluniado... Não morreu nada! ESTÁ VIVO! Vejo-O muitas vezes. Sempre que O vejo Ele volta a dizer-me ao ouvido: “Assim como te fiz, faz tu também aos outros...”

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...