terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Enfrentando o desafio



O ano de 2014 foi duro. Os conflitos novos e os duradouros, os desastres naturais e uma das piores epidemias dos últimos tempos levaram as pessoas ao seu limite. A Cruz Vermelha trabalha em 80 países, para prestar assistência e socorro. Este vídeo é uma amostra do trabalho que foi possível realizar com a ajuda dos amigos, parceiros e colaboradores da Cruz Vermelha.

sexta-feira, 26 de dezembro de 2014

Nós os dois


Desde que sei
Que sou como um fiozinho de erva
Que de manhã reverdece e à tarde seca,
Que aprendi a suportar o peso
Do milagre.
Hoje tudo é mais claro
Tudo é mais nítido.
Mas no tempo em que os pinheiros
Eram altos
E os meus olhos de um verde cristalino,
No tempo em que o tempo
Era incandescente
E fazia carrancas ao destino,
Aí, oh meu país inocente
E pequenino,
Era eu que era mais divino
Ou era Deus que era mais menino?

1. Sim. Enquanto tu descias a este chão de pó, e afanosamente o modelavas (Génesis 2,7), eu subia em sonhos a escada de Jacob (Génesis 28,12), e às escondidas, comia o teu céu de pão-de-ló. Deslumbramento teu no sótão deste chão, quando, no lusco-fusco da vidraça, descobriste o meu pião enrolado na baraça. Deslumbramento meu, quando, distraído, brincava no teu céu, e quase escorregava pelo firmamento.
2. Valeu-me então um anjo que estava de passagem, e me deu a mão. Percebi depois que regressava do jardim do éden (Génesis 2,8), de regar a tua plantação (Isaías 61,3). Contou-me tudo. Falou-me de Abraão, de um rio que abriste no deserto (Isaías 43,19), da avenida florida que atravessa o mar a céu aberto (Sabedoria 19,7), da estrada traçada no deserto onde habitualmente andas a pé (Isaías 35,8), e sobretudo das flores que fizeste florescer em Nazaré (de natsar, florescer).
3. Fomos depois os dois até Jerusalém, e vimos-te a escolher no ribeiro manso as pedras trabalhadas na torrente (1 Samuel 17,40). Olhavas para elas demoradamente em tuas mãos deitadas, e só depois as adornavas com tinta cor de rímel (Isaías 54,11), e as sentavas carinhosamente à tua mesa, em tua casa, onde ardia e não se consumia uma sarça acesa (Êxodo 3,2).
4. Juntaram-se, entretanto, a nós milhares de anjos deslumbrados. Pus-me todo atento e parabólico, e pude ver o vento que o seu bater de asas produzia, e vi ainda que é essa energia que alumia as casas, muito mais do que qualquer rede de alta tensão ou parque eólico. Foi então que o anjo que comigo viajava me indicou um caminho hiperbólico (1 Coríntios 12,31).
5. Entrei nesse caminho. Mas rapidamente vi que não ia sozinho. Ias tu, Senhor, comigo. Chamava-se amor esse caminho aberto no deserto (Atos 8,26). Confesso que nunca tinha estado tão perto da água viva e tão perdido no meio do sentido (Atos 8,36). Tão refém deste Deus nascido em Belém.

Mesa de palavras: NÓS OS DOIS
D. António Couto, Bispo de Lamego (25-12-2014)
[Imagem: Tela: Natività (1650), de Carlo Maratta Igreja São José dos Marceneiros, Roma]

quarta-feira, 24 de dezembro de 2014

Adeste Fidelis

https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEihKb9nJpeMqotJtYo1i4whgoFMOa3KeGd3sPXSmBmpDD5H77Kwxb9Hh0bTAO8VAo4Zvm7RCd35kRIo29GlRJcYX2mrtYlBLmkto1tjewpJe3xKHAM3MOElerlbAfyul_avcp0Nw8CqOKA/s1600/Adeste_Fidelis.jpg

ADESTE FIDELIS
Hino Português tocado em todo o mundo no Natal.

"Adeste Fideles" é o título do chamado "Hino de Natal Português", escrito pelo Rei D. João IV de Portugal. Foram achados dois manuscritos desta obra, datados de 1640, no seu palácio de Vila Viçosa.

Muitos outros atribuem a autoria desse hino a John F. Wade, que não pode ter composto a obra, já que o seu manuscrito data de 1743. O mais provável é que Wade tenha traduzido o Hino Português, como era chamado em Londres na época e ficado com os louros.

D. João IV de Portugal, “O Rei Músico” nascido em 1604 foi um mecenas da música e das artes, assim como um sofisticado autor; foi também compositor e durante o seu reinado possuiu uma das maiores bibliotecas do mundo. A primeira parte da sua obra musical foi publicada em 1649.

Fundou uma escola de música em Vila Viçosa de onde saíam músicos para Espanha e Itália e foi aí, no seu palácio, que se acharam dois manuscritos desta obra. Esses escritos (1640) são anteriores à versão de 1760 feita por Wade.

De entre os seus escritos podemos encontrar “Defesa da Música Moderna (Lisboa, 1649) ano em que o Rei D. João IV lutou contra o Vaticano para conseguir a aprovação da música instrumental nas igrejas.


Clicar:
http://www.youtube.com/watch?v=u7JkQEiOVKI

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Para dizer junto à manjedoura



Que teus olhos, Menino, ensinem largueza
e altura aos meus olhos

Que teus olhos curem os meus
da fadiga e dos seus filtros

Que teus olhos desimpeçam a visão
fragmentária, parcial e indecisa

Que teus olhos devolvam aos meus olhos
o vento azul da viagem e a sua alegria
Devolvam o real como anel aberto
em vez dos círculos obsidiantes e fechados
Devolvam o aberto como imagem
e programa

Que teus olhos, Menino, ensinem aos meus
o seu natal

José Tolentino Mendonça

sábado, 20 de dezembro de 2014

Orgulho, o outro lado da ignorância



Os orgulhos feridos são perigosos. A pessoa torna-se quase insuportável, carrega em si mil ressentimentos, todos (d)escritos no livro dos ódios e dos rancores...
O orgulho, a vaidade e a soberba andam quase sempre juntos. São os superiores aliados da ignorância! O orgulhoso coloca-se a si mesmo acima da realidade. Mas, não só se julga superior aos outros como ainda deseja que eles partilhem dessa mesma opinião, ou seja, que todos pensem que ele é o melhor! Mais ainda, por se julgar o assim o suprassumo, considera poder tratar os outros como seus inferiores!

O orgulhoso é uma realidade fantasiada... de si mesmo! Não se conhece! É um ignorante de si próprio, o que é a pior ignorância.

O orgulho vê a humildade como uma humilhação.

A vaidade serve-se muitas vezes da caridade, da generosidade e da bondade. Estraga-as. Porque as faz esgotarem-se em si mesmas, na medida em que os destinatários das boas ações são meros meios e não fins. Não se procura o bem do outro, mas apenas a servir-se dele para conseguir algo para si mesmo. Egoísmo simples, com uma volta a mais. Mas, claro, os próprios, nunca se dão conta disto!

Na verdade, não há pessoas altivas e pessoas humildes. Todos somos arrogantes. Os humildes são os que sabem que o são e querem deixar de sê-lo, enquanto os arrogantes são os que acham que são humildes e por isso não nada fazem!!

Raiz de todos os vícios, o orgulho, é uma maldade tremenda na medida em que impede quem lhe dá vida de contemplar a beleza e a bondade do mundo e dos outros. O orgulhoso julga-se tão único quanto sublime... o mundo e os outros são-lhe indiferentes e, por isso, os despreza.

A vaidade enraíza-se na ideia de que a aparência é o mais importante. Deseja-se viver no pensamento dos outros, como uma entidade divina.

A fome de aplausos leva muita gente a esconder (até de si mesmo) a sua autenticidade, remetem a uma treva inquietante a verdade sobre si. Quando buscam o agrado a todo o custo, mentem até a si mesmos. Constroem torres altas, e lá vivem, no alto, acima de tudo, sozinhos com o seu egoísmo. Por vezes caem lá do topo... e magoam-se. Muito.

Cuidado. Os orgulhos feridos são perigosos. A pessoa torna-se quase insuportável, carrega em si mil ressentimentos, todos (d)escritos no livro dos ódios e dos rancores, e, às vezes, explode em manifestações da mais requintada e fria vingança. Enfim, a mais triste das amarguras.

A soberba é sempre triste e desassossegada, uma ansiedade em relação ao que os outros sentem, pensam e imaginam, o que dizem e o que podem dizer sobre nós…
Todos temos uma origem humilde e mais vale ser estimado por aquilo que se é, do que ser admirado pelo que se parece...

Há também a falsa humildade, que é a de quem se finge menos do que é para assim se desculpar para não cumprir o seu dever. A verdadeira humildade é audaciosa e não encolhida, é generosa e não cobarde. Os humildes não são os tímidos, mas os artífices das grandes obras, precisamente porque se sabem pouca coisa e, por isso, são capazes de aprender e de arriscar, sem receio da opinião alheia ou do fracasso.

Quem julga bastar-se a si mesmo não admira nem estima nada além disso, não julga sequer necessário criar ou permitir que nasça em si nada de novo e melhor.... afinal, considera-se mesmo perfeito!

É essencial estar atento ao que nos rodeia. O mundo é cheio de alegria, beleza e bondade! É preciso esvaziarmo-nos nós mesmos, darmos o que temos e somos, abrirmo-nos ao mundo, aos outros e ao que de melhor, assim, nasce em nós!

quarta-feira, 17 de dezembro de 2014

Acolhimento amigável



"A alegria é um dom que me visita na surpresa do não anunciado. E nesse sentido tenho de viver em hospitalidade. O meu coração é uma soleira, uma porta entreaberta. A minha vida vive do acolhimento amigável. Temos de adquirir uma porosidade, deixarmo-nos tocar, deixarmo-nos ligar pelo fluxo reparador da vida.

Em vez de crescermos na severidade, na intransigência, na indiferença, no sarcasmo, na maledicência, no lamento, caminhemos suavemente no sentido contrário, cresçamos na simplicidade, na gratidão, no despojamento e na confiança".

José Tolentino Mendonça, in "Cultivar a alegria de cada dia"

terça-feira, 16 de dezembro de 2014

Aprender a ir mais longe



A Susana Réfega atualmente é paroquiana em São Julião da Barra e mãe de uma menina da catequese. Vale a pena ler!


Aprender a ir mais longe, a ser mais pessoa e a crescer na fé!

Foi no seio da sua família que Susana Réfega despertou para a fé, “de forma natural” pois a sua família era “comprometida com a Igreja, nomeadamente na vida paroquial na Paróquia de Nossa Senhora da Purificação, em Oeiras”.

Despertar para a fé no seio da família

A sua mãe sempre esteve muito envolvida nas atividades paroquiais e foi catequista e coordenadora da Catequese durante muitos anos. “Do meu pai recebi ao longo de toda a sua vida um testemunho de vida, muitas vezes silencioso e sem excessivas palavras, mas de simplicidade e coerência nas atitudes”, diz-nos. Também a sua irmã mais velha foi um exemplo “importante de como ser jovem e crescer na sociedade mantendo uma coerência de valores e escolhas”.

“Bebendo” de várias correntes e espiritualidades

Durante a sua infância, adolescência e juventude teve vários exemplos e espiritualidades a marcar o seu caminho, optando sempre por não se integrar em nenhum movimento ou grupo. “Assim, fui "bebendo" e sendo inspirada por várias correntes e espiritualidades”, conta. Em criança, recorda que os Missionários Combonianos a marcaram através dos seus testemunhos nas missas dominicais, principalmente pela sua “radicalidade, ousadia e paixão pela missão e por África”. Diz-nos que foram talvez os primeiros a despertar o seu “imaginário africano”. Já no liceu, partilha que “a beleza da liturgia e da oração de Taizé ensinaram uma outra forma de rezar, feita de poucas palavras”. Já na Universidade, dois “universos” cruzaram os seus dias e a marcaram: “Por um lado a espiritualidade inaciana, através do CUPAV, onde encontrei uma grande liberdade de pensamento e horizontes onde se cruzavam a fé, a ciência e a procura da justiça. Em simultâneo, através de um livro, conheci a vida de Charles Foucault e, mais tarde, vi esse sonho materializado ao conhecer as fraternidades das Irmãzinhas de Jesus onde encontrei uma alegria indizível e uma verdadeira pobreza.” Ao longo do seu percurso, afirma que sempre gostou de “cruzar diversos ambientes, contextos, pessoas e o meu grupo de amigos próximos sempre contou com ateus e agnósticos que me ensinaram a ir mais longe, a ser mais pessoa e (talvez sem o saberem) a crescer na fé”.

A missão desperta na sua vida

Partilha a sua primeira experiência de missão: “Diria que a minha primeira "experiência de missão" foi curiosamente fora da Igreja. Ainda no liceu integrei um grupo local da Amnistia Internacional e encontrei, na luta pelos Direitos Humanos, um terreno de missão que me ensinou a assumir responsabilidades (algumas bem áridas como escrever à mão cartas e cartas para decisores políticos espalhados pelo mundo!), a não esperar resultados imediatos, a compreender que cada pequeno gesto conta, mas também que a missão passa por compreender a(s) realidade(s) de forma mais profunda.” No Verão de 1992, após um ano de preparação com o GAS’África da Universidade Católica para partir para Luanda, o grupo teve de ficar em Portugal por questões de segurança. Passaram o verão no Bairro da Serafina, mas afirma que “a experiência não poderia ter sido mais marcante.” Os seus dias foram “assentes em fortes momentos de oração” e pôde descobrir uma realidade social que desconhecia e que considera “dura e heroica” As suas missões ao longo da vida tiveram sempre estas duas experiências como base. Em 1997 partiu para Benguela (Angola) com os Leigos para o Desenvolvimento. Deixou família e namorado (atualmente seu marido) e partiu “cheia de entusiasmo, pois tinha chegado enfim o momento esperado, sonhado, rezado ao longo de uma vida”. Esteve quase dois anos em missão, ainda num contexto de guerra civil em Angola, considera que descobriu a fé “daqueles que, tendo perdido tudo, mantinham a esperança e estranhamente a alegria. No encontro com o outro e com uma cultura, que desde o primeiro momento me apaixonou, descobri as minhas fragilidades, as minhas limitações mas também um verdadeiro sentido de missão na procura da justiça social.” Voltou à Europa e sentiu-se perdida, sem saber que direção tomar. Regressou à sua formação de origem (Medicina Veterinária) e já em Paris (onde se encontrou com o seu namorado), concluiu o doutoramento em parasitologia. No entanto, diz-nos com emoção que não conseguiu mais calar dentro de si “esta paixão pelo trabalho em prol do desenvolvimento nos países mais pobres e em particular em África.” Deixou a Veterinária e começou a trabalhar em organizações não governamentais internacionais e a acompanhar projetos em vários países africanos. “Primeiro, tendo como base Paris e, mais tarde, durante cinco anos em Londres, onde trabalhei na CAFOD (Caritas Inglaterra) e aprendi muito do que hoje sou profissionalmente”, diz-nos.

Sonho de uma vida entregue à missão

Ao terminar a nossa conversa conclui que “hoje, passados alguns anos, já casada e mãe de três filhos, enquanto Diretora da FEC, continuo a perseguir o sonho de uma vida entregue à missão, ao desenvolvimento e à justiça. Com uma fantástica equipa de mulheres e homens, comprometidos e profissionais, todos os dias, passo a passo, com projetos sérios e ambiciosos procuramos gerar mudança. A mudança que o Evangelho nos propõe e de que todos somos responsáveis”.

texto por Catarina António, FEC – Fundação Fé e Cooperação

sábado, 13 de dezembro de 2014

Cristiano Ronaldo, o melhor dentro e fora do campo



Cristiano Ronaldo volta a ser notícia em todo o mundo depois de mais um gesto incrível em Espanha.

O craque português escreveu cartas a três jovens espanhóis, que atravessam grandes dificuldades.

Um tem de ajudar a mãe numa cadeira de rodas, outro perdeu recentemente o pai, e o terceiro esteve às portas da morte devido a um erro médico.

Kátia Aveiro, irmã de Ronaldo, esteve no programa onde foram lidas as cartas de CR7.

O melhor do mundo dentro e fora do campo.

sexta-feira, 12 de dezembro de 2014

O quarto Rei Mago



Como toda a gente sabe, os três reis magos ofereceram presentes ao Menino Jesus: ouro, incenso e mirra. Nossa Senhora e S. José agradeceram. Mas o Menino piscou os olhos com o brilho do ouro, começou a tossir com o cheiro do incenso; e não achou graça nenhuma à mirra. Os três reis, que se tinham ajoelhado, levantaram-se e foram-se embora pouco satisfeitos, porque o Menino os não tinha tratado com a consideração a que achavam que tinham direito.

Já eles iam longe, quando apareceu o quarto rei. Este rei vinha do Golfo Pérsico. No dia em que tinha visto a estrela que anunciava o nascimento do Messias, dispôs-se logo a partir. Foi à câmara subterrânea onde guardava os seus tesouros, abriu um cofre e retirou aquilo que tinha de mais valioso, três pérolas muito grandes e muito brancas. Mandou ajaezar o seu camelo mais forte e partiu na direcção da estrela.

Alguns dias depois, viu o presépio, mesmo por debaixo da estrela. O pior é que chegava atrasado, os reis seus colegas até já se tinham ido embora. E, pior ainda, já não tinha presentes…
Mesmo assim, abriu devagarinho a porta da cabana. Lá estavam, o Menino, sua Mãe e S.José. Começava a ficar escuro. S. José ajeitava a palha para se deitarem. O Menino Jesus estava ao colo de Maria, que o embalava, cantando em surdina uma canção.

O rei do Golfo Pérsico entrou a medo, e ajoelhou aos pés do Menino e de sua Mãe. Com ar envergonhado, começou a falar:

«Senhor, cheguei atrasado. Vejo que os meus colegas já Te prestaram as suas homenagens, já Te ofereceram os seus presentes, e já partiram.

Eu também Te trazia uma prenda: eram três pérolas muito grandes e muito bonitas, três pérolas verdadeiras, do mar do Golfo Pérsico.

Peço muita desculpa. Sabia que os outros reis vinham à minha frente, e tinha a certeza de que os ia apanhar. Mas entrei numa estalagem para jantar. Bebi um bocadinho de mais e apeteceu-me ficar lá nessa noite. Mas ao sair da sala de jantar, vi um velho estendido no chão ao pé da lareira e a tremer de febre. Ninguém sabia quem ele era, não tinha dinheiro e iam pô-lo na rua.

Senhor, era um velho muito velho, magro e macilento, com uma barba branca mal tratada. Fez-me lembrar o meu pai. Senhor, desculpa-me: peguei numa das três pérolas que eram para ti e dei-a ao dono da estalagem para que chamasse um médico, desse comida e alojamento ao velho, e o enterrasse de maneira digna se ele não resistisse à doença e morresse.No dia seguinte, retomei o caminho. Batia no meu camelo para ver se ele andava mais depressa e alcançava os meus amigos. Mas ao passar num desfiladeiro ouvi gritos. Eram salteadores que queriam fazer mal a uma rapariga. Eram muitos e eu não tinha possibilidade de os atacar e vencer. Gritei-lhes que lhes dava uma pérola muito grande se soltassem a rapariga. Quando viram a pérola, disseram logo que sim. Deixaram a rapariga , que fugiu a correr para os montes. E eu dei-lhes a pérola, que era para ti. Desculpa-me!

Já só tinha uma pérola, mas essa não a queria perder. Já passava do meio-dia, e eu obrigava o meu camelo a andar cada vez mais depressa. Passei então por uma aldeia. Estava cheia de soldados de Herodes, que procuravam os meninos de menos de dois anos e os matavam à espada. Já só restava um e iam deitá-lo a uma fogueira. A mãe da criança gritava e chorava, como se a estivessem a matar a ela. Senhor, desculpa-me, peguei na última pérola e dei-a aos soldados para que entregassem o miúdo à mãe. Eles aceitaram. A mulher nem me agradeceu. Pegou no filho, vivo, e fugiu a correr muito.

Senhor, já não tenho pérola nenhuma. Desculpa-me!»

O rei calou-se. Não se ouvia zumbir uma mosca. Prostrado no chão, ousou finalmente levantar a cabeça. S. José tinha acabado de ajeitar a palha e aproximava-se. Maria olhava fixamente para Jesus, ao seu colo. E o Menino, será que estava a dormir?

Não. O Menino Jesus não estava a dormir. Voltou a cabeça para o rei do Golfo Pérsico. Tinha um ar muito contente. Estendeu as mãozinhas para as mãos vazias do rei. E sorriu-lhe.

JOANNES JOERGENSEN, in Contes de Noël, Éd.du Seuil,1961. (Adaptação)

terça-feira, 9 de dezembro de 2014

Andar contracorrente

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Papa Francisco pede à Imaculada Conceição que a Igreja possa «andar contracorrente»

O papa Francisco rezou ontem diante da imagem da Imaculada Conceição localizada na Praça de Espanha, em Roma, pedindo-lhe que os cristãos se comportem «contracorrente» durante o tempo do Advento, que antecede o Natal. A tradição desta oração radica na definição do dogma da Imaculada Conceição da Virgem Maria, que se assinala a 8 de dezembro, formulação que foi definida em 1854 pelo beato papa Pio IX. Três anos depois, a 8 de setembro de 1857, o papa abençoou e inaugurou o monumento da Imaculada na Praça de Espanha. Mais tarde, o papa Pio XII começou a enviar flores para a imagem. Em 1958, S. João XXIII recolheu-se na Praça de Espanha e depôs aos pés do monumento um cesto de rosas brancas. A seguir o papa visitou a basílica de Santa Maria Maior. O costume prosseguiu com os papas beato Paulo VI, S. João Paulo II e Bento XVI.

Texto da oração de Francisco diante da imagem da Imaculada Conceição:

«Ó Maria, Mãe nossa, hoje o povo de Deus em festa venera-te, Imaculada, preservada desde sempre do contágio do pecado. Acolhe a homenagem que te ofereço em nome da Igreja que está em Roma e no mundo inteiro.

Saber que tu, que és nossa mãe, és totalmente livre do pecado dá-nos grande conforto. Saber que sobre ti o mal não tem poder enche-nos de esperança e de fortaleza na luta quotidiana que nós devemos realizar contra a ameaça do maligno.

Mas nesta luta não estamos nós, não somos órfãos, porque Jesus, antes de morrer na cruz, deu-nos a ti como mãe. Nós, por isso, ainda que sendo pecadores, somos teus filhos, filhos da Imaculada, chamados àquela santidade que em ti resplandece pela graça de Deus desde o início.

Animados por esta esperança, nós hoje invocamos a tua materna proteção por nós, pelas nossas famílias, por esta cidade, pelo mundo inteiro. O poder do amor de Deus, que te preservou do pecado original, por tua intercessão livre a humanidade de toda a escravidão espiritual e material, e faça vencer, nos corações e nos acontecimentos, o desígnio de salvação de Deus.

Faz com que também em nós, teus filhos, a graça prevaleça sobre o orgulho e possamos tornar-nos misericordiosos, como é misericordioso o nosso Pai celeste. Neste tempo que nos conduz à festa do Natal de Jesus, ensina-nos a andar contracorrente: a despojarmo-nos, a abraçarmo-nos, darmo-nos, a escutar, a fazer silêncio, a descentrarmo-nos de nós mesmos, para deixar espaço à beleza de Deus, fonte da verdadeira alegria.

Ó Maria nossa Imaculada, ora por nós!»




segunda-feira, 8 de dezembro de 2014

Aprendamos da Virgem Maria



"Aprendamos, da Virgem Maria, a ter mais coragem para seguir a Palavra de Deus". 

[Papa Francisco. Twitter. 08 de dezembro de 2014]

sábado, 6 de dezembro de 2014

Agradecer apenas



Senhor, hoje quero apenas agradecer-te por todas a bênçãos que derramas sobre mim, sem nenhum mérito meu, como a chuva que ao cair beija a terra e abençoa-a para que possa dar frutos.

Agradeço-te por quereres construir na minha fragilidade, transformando as minhas limitações em metas, pintando, com o sol, os estados cinzentos e chuvosos da minha alma em coloridos arco-íris, iluminando as minhas trevas com estrelas cintilantes e serenando os mares tempestuosos do meu ser com a tua brisa de esperança.

Agradeço-te por todas as pessoas que pões no meu caminho, sinais da tua presença nos meus dias, que sendo instrumentos do teu amor, me conduzem a ti.

Agradeço-te pelo muito ou pelo pouco que me dão, pelo muito ou pelo pouco que me ensinam e pelo muito ou pelo pouco que me amam.

Em cada uma delas está uma lição, um reflexo da tua bondade, uma centelha da tua luz, um eco da alegria da tua boa nova, um abraço da tua misericórdia, a chama do teu amor e um esboço da tua compaixão.

Com eles aprendi que só o amor faz renascer e que até um coração empedernido amolece perante a perseverança, a bondade, e a fidelidade do teu amor.

Renasce hoje, outra vez, em mim, Senhor, para que o amor que já não consigo conter no meu peito, transborde nas lágrimas que choro e na alegria que irradio ao contemplar as maravilhas da tua criação. Ilumina  o meu sorriso e salga as minhas palavras para que, também eu, possa tocar os corações daqueles que, como eu, em tempos, estão perdidos e não sabem onde encontrar-te.

Ensina-me a ser instrumento do teu amor para que nesta dádiva que é a amizade, também eu, saiba dar de graça aquilo que recebi de graça.

Raquel Dias
in iMissio

quinta-feira, 4 de dezembro de 2014

Advento, tempo de espera


Advento, tempo de espera. Não apenas de um dia, mas daquilo que os dias, todos os dias, de forma silenciosa, transportam: a Vida, o mistério apaixonante da Vida que em Jesus de Nazareth principiou.

Advento, tempo de redescobrir a novidade escondida em palavras tão frágeis como "nascimento", "criança", "rebento".

Advento, tempo de escutar a esperança dos profetas de todos os tempos. Isaías e Bento XVI. Miqueias e Teresa de Calcutá.

Advento, tempo de preparar, mais do que consumir. Tempo de repartir a vida, mais do que distribuir embrulhos.

Advento, tempo de procura, de inconformismo, até de imaginação para que o amor, o bem, a beleza possam ser realidades e não apenas desejos para escrever num cartão.

Advento, tempo de dar tempo a coisas, talvez, esquecidas: acender uma vela; sorrir a um anjo; dizer o quanto precisamos dos outros, sem vergonha de parecermos piegas.

Advento, tempo de se perguntar: "há quantos anos, há quantos longos meses desisti de renascer?"

Advento, tempo de rezarmos à maneira de um regato que, em vez de correr, escorre limpidamente.

Advento, tempo de abrir janelas na noite do sofrimento, da solidão, das dificuldades e sentir-se prometido às estrelas, não ao escuro.

Advento, tempo para contemplar o infinito na história, o inesperado no rotineiro, o divino no humano, porque o rosto de um Homem nos devolveu o rosto de Deus.



P. José Tolentino Mendonça

terça-feira, 2 de dezembro de 2014

O egoísmo é um medo de amar



Há quem chame amor ao impulso básico da paixão fulminante, que na atração física possessiva, quase incontrolável, procura satisfazer-se, consumir-se e saciar-se...

O amor pode chegar ao nosso coração vindo do céu... mas nunca serve para nós mesmos. Devemos fazê-lo chegar a quem dele precisa, amando com um único fim: a felicidade daquela pessoa concreta.
Há quem chame amor ao impulso básico da paixão fulminante, que na atração física possessiva, quase incontrolável, procura satisfazer-se, consumir-se e saciar-se...

Há também quem pense que o amor é uma alegria, que resulta da união de duas vontades que procuraram estar juntas e que partilham momentos, esperanças, dores e sonhos. Sendo que, aqui, segundo dizem, só há amor se os dois desejos se encontrarem em sintonia. O amor será então, para estas pessoas, algo que não existe completo em ninguém, que só existe quando dois anseios concorrem para o mesmo fim. Será pois algo que resulta de uma troca, de uma dupla entrega de um ao outro, sendo que quando uma das partes falha tudo perde o sentido e valor.

Mas talvez o verdadeiro amor seja algo diferente. Não visa satisfazer-se, nem procura qualquer retorno. É desinteressado, gratuito e dá-se sem condições. Só esta pureza é capaz de criar verdadeira felicidade a quem o recebe... e uma outra, talvez ainda mais profunda, a quem tem coragem de o escolher, viver e dar.

É preciso muita coragem para amar. Mas, depois, o amor vence sobre todos os medos!
Os egoístas têm medo de amar. Julgam que se bastam a si mesmos e que os outros são apenas seus instrumentos de prazer. Exigem tudo dos demais, abrem as suas portas apenas para receber. Mas nunca são felizes, porque ainda que lhes entreguem tudo, isso será sempre pouco... um breve sorriso de pequena satisfação e logo fazem uma exigência maior. Mas quem não é capaz de dar, também não consegue receber, desconhecem pois a felicidade de ser amados. Julgam que ser forte não é levantar o outro, mas derrubá-lo... nem sonham o que é o amor.

Os egoístas são cobardes. Usam as pessoas, fogem dos compromissos. Assusta-os o perigo de amar. O ridículo e o fracasso, suspeitam de mil males, sem nunca se darem conta que alguém assim é sempre vítima de si mesmo. Incapazes de compreender que só a vida que é vivida para os outros faz sentido. Que só pelo amor se chega à felicidade profunda e verdadeira, àquela que longe dos prazeres do momento, se ergue mais alta que o céu.

O egoísmo é uma espécie de paixão que se vai apoderando da pessoa. Desconfia-se de tudo. Teme-se o futuro. Chora-se até, pela frustração do mundo e dos outros não compreenderem a necessidade enorme que se sente de ser levado até à felicidade. Mas o egoísta não faz mais nada senão esperar que alguém generoso o venha servir.

Julgam que guardando o amor que há no seu coração para si mesmos, nada sofrem e tudo gozam. Quando, na verdade, assim vivem o maior dos sofrimentos: uma vida sem amor.

Nada vem ao acaso, nada existe sem causa. Se existe amor em nós, é para que amemos de verdade... para que a felicidade que despertarmos nos que amarmos, transborde e que, com ela, consigamos amar ainda mais.

Claro que ninguém é obrigado a fazer coisas impossíveis. Mas, na verdade, será que há coisas impossíveis? Quem ama, acredita!

Todos os dias morremos, nascemos e devemos amar.

O tempo da nossa vida é precioso, porque nada é mais veloz que os nossos anos. Depois da noite que a todos espera, nem as montanhas nem mar ficam... apenas o amor de que tivermos sido capazes.

José Luís Nunes Martins

sábado, 29 de novembro de 2014

Um dom pessoal para cada um.



"Ontem conheci o Simone, a Cristiana e o Enrico e, através deles, a Chiara Corbella Petrillo. Estavam lá outras 500 pessoas no auditório, mas pouco se deu por elas, porque, como eles próprios disseram, estavam ali na condição de discípulos de Jesus e aquilo que tinham para contar era algo que não podendo guardar só para si, tornou-se um dom pessoal para cada um".

Como gostava que vivêssemos assim!!!

quinta-feira, 27 de novembro de 2014

No meio do silêncio



No meio do silêncio,
não são precisas muitas palavras para falar conTigo.

Sei que por vezes me esqueço de Ti, 
que daí olhas por mim, mas continuas a amar-me, 
como Pai, e a acolher-me de braços abertos.

Transmites-me serenidade, quando olhas para mim, através da cruz. 
Sinto a Tua força, aquela que me dás quando penso que já não posso mais. 
Sozinha não, mas conTigo, sim!
As nuvens cinzentas, que por vezes passam na vida, tapam-nos a vista.
Não consigo ver-Te, onde estás?
Ali! Mesmo à minha frente!
Naquele "bom dia", naquele "como estás", 
naquele abraço apertado, que sem palavras diz tudo.
Naqueles minutos de conversa, 
naquele sorriso rasgado, 
naquela lágrima que teima em correr.
Naquele acorde, naquela música, que se repete e vai enchendo o coração.


Estás lá, sempre.
Permaneces paciente, mesmo que eu não Te veja logo,
que ande cega com coisas de menor importância.


Sim, pois Tu deves ser o primeiro, 
Aquele a quem falo quando acordo,
Aquele a quem falo quando me deito, 
Aquele a quem entrego a vida e que zela pelo sono tranquilo.


Que bem que sabe falar conTigo, o calor da oração...
Porque precisava daquele silêncio 
para Te agradecer tudo e todos os que escreves no livro da minha vida.

Helena Chaveiro

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

O eremita e o jardineiro

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Disse um ancião: «Havia um padre que vivia no deserto. Depois de haver servido Deus durante muitos anos, disse: “Senhor, dai-me a conhecer se vos soube satisfazer”. E ele então viu um anho que lhe disse: “Não estás ainda à altura do jardineiro que vive em certo lugar”. O ancião, estupefacto, disse: “Irei à cidade para visitá-lo. Quem será esse que pôde fazer obras superiores às minhas e suportou os sofrimentos que eu suportei durante tantos anos?”.

Partiu e dirigiu-se ao lugar indicado pelo anjo. Viu um homem ocupado a vender legumes. Sentou-se perto dele e já no fim do dia, no momento em que ele se ia embora, disse-lhe: “Não te importas, irmão, de me receber esta noite em tua casa?” O homem aceitou cheio de alegria, e já em casa pôs-se a preparar o jantar para o ancião. E este perguntou-lhe: “Por caridade, irmão, podes dizer-me do que vives?”.

O outro teve medo; não queria falar, mas o ancião não se cansava de lhe pedir que dissesse. Finalmente o homem, esgotado, respondeu:

“Eu como apenas à noite, depois do trabalho, não guardo senão aquilo que chega para me sustentar, o resto dou a quem precisa. Se recebo um servo de Deus, dou-lho. Quando me levanto de manhã, antes de me dirigir ao trabalho, digo para mim que na cidade inteira, do mais pequeno ao maior, todos entrarão no Reino graças às suas boas obras, enquanto eu serei o único a herdar o castigo, por causa dos meus pecados. E à noite, antes de me deitar, digo o mesmo”.

Ao ouvi-lo, o ancião disse: “A tua conduta é bela, mas as tuas obras não podem superar as minhas, de tantos anos”.

E quando se preparavam para jantar, o ancião ouviu gente na rua que cantava canções; a casa do jardineiro ficava num bairro populoso. O ancião então disse-lhe: “Irmão, se queres viver para o Senhor, como podes viver aqui? Não te perturba ouvir estas canções?”. E o outro respondeu: “Confesso-te, Abade, que não me perturba nem me escandaliza”. Disse o ancião: “Mas que pensas tu, ao ouvi-los, lá fora?”. E o outro disse: “Penso que todos entrarão no Reino”.

Foi então que o ancião sentiu uma admiração súbita e disse: “Eis a obra que supera a minha, cumprida durante tantos anos!”. E em seguida, fazendo-lhe uma reverência, disse-lhe: “Perdoa-me, irmão, esse grau de perfeição ainda não consegui alcançar”. E, sem tocar na comida, regressou ao deserto».

In "Ditos e feitos dos Padres do Deserto", ed. Assírio & Alvim 
Publicado em 25.11.2014

segunda-feira, 24 de novembro de 2014

Ser luz




Podemos escolher ficar no quentinho, onde é fácil estar e a luz nos aquece e ilumina. Ou podemos deixar-nos questionar pelos sinais que surgem no céu, pelos exemplos que recebemos dos outros e arriscar sair, seguindo o exemplo de quem saiu antes de nós. Se saímos, o medo tentará paralisar-nos ou fazer-nos voltar para trás, para o quentinho. Mas podemos continuar a gastar-nos, gastar a vida para que com ela possamos iluminar a vida de outras pessoas.

No final tudo parece voltar ao início, mas agora já seremos nós a luz no céu que motiva outros a também eles saírem do quentinho, onde é fácil estar.

Luís Onofre, sj 

sábado, 22 de novembro de 2014

A verdade é o silêncio



Umas mãos vazias cheias de amor, dispostas a criar o que for preciso, são o melhor e mais belo presente que podemos dar a alguém!

Cada homem tem em si uma fonte de vida, de onde lhe nascem todos as suas obras: o sentir, o pensar, o dizer, o calar e o agir. É um silêncio carregado de sentido, uma fonte que não deixa nunca de correr... uma tempestade boa.

Aquele que quer ser feliz deve dar-se. Ser é amar e amar é dar-se. Ninguém pode ser nada se não na sua relação com os outros e com o mundo. O ser mais perfeito seria imperfeito se se fechasse em si mesmo e assim se reduzisse à sua própria individualidade. A vida é o dom de ser dom. Serve para se chegar à vida do outro. Para ser o que lhe falta... amando-o.

A felicidade só é possível quando compreendo que não preciso senão do essencial e resolvo libertar-me do que  me sobra.

É comum, que os mais generosos sejam aqueles que menos têm. Estes, são capazes de dar o devido valor à verdadeira carência, distinguindo de forma sábia o que é importante de tudo quanto apenas o parece ser. Na verdade, são bastantes os que, afortunados, vivem atormentados pela possibilidade de não só perderem o que têm, como ainda de não conseguirem o sempre muito que ainda sonham alcançar... nunca têm descanso, nem paz. Talvez nem saibam o que é o silêncio...

Só uma pessoa capaz de se dar, de se realizar, é feliz. Quem vive centrado em si , mesmo que passe o tempo a alimentar o seu egoísmo, nunca terá paz.

Prefiro dar. Ser quanto me chegue e ainda sobrar, antes assim do que ser um imenso desejo que tudo absorve dos outros sem retribuir. Um buraco negro que tudo a si atrai....capaz de fazer desaparecer estrelas... e como ao mal sucede sempre o mal... destrói e destrói-se.

Quem procura receber é, em si mesmo uma falta, uma carência, um desejo ardente que se consome. Há que aceitar o que os outros nos queiram dar, mesmo que seja a sua indiferença; uma coisa má é servir-se dos outros para os nossos projetos pessoais; o amor verdadeiro é gratuito e silencioso, enquanto o egoísta é interesseiro e barulhento.

Umas mãos vazias cheias de amor, dispostas a criar o que for preciso, são o melhor e mais belo presente que podemos dar a alguém!

Que as minhas mãos sejam de quem delas precisa. Que o meu silêncio seja um espaço onde o outro se encontre a si mesmo e descubra a sua paz.

Longa é uma vida cheia. Quando somos capazes de nos despreocuparmos, de nos descentrarmos de nós mesmos e das nossas necessidades, tornamo-nos mais capazes de ser felizes com o pouco que temos e somos.

A nossa verdade somos nós. A verdade é a presença. Aqui. Em silêncio.

Mas a verdade nunca chega a tocar quem não a quer aceitar. O silêncio é tantas vezes sentido como um vazio... quando é, afinal, a resposta que tanto procuramos.

Um silêncio é a mais bela forma de dizer o amor.

Para sermos anjos (e não é nada do outro mundo) basta que tenhamos a coragem de estar presentes, de acreditar que o silêncio pode dizer muito... e de escolhermos gestos simples que possam levar ao outro o essencial que lhe falta.

Presença. Silêncio. Simplicidade.

José Luís Nunes Martins

sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Umbrais

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Procure a alma inclinar-se não ao que é mais fácil, mas ao mais difícil;
Não ao mais agradável, mas ao mais agreste;
Não ao mais gostoso, mas ao que menos gosto dá;
Não ao que é descanso, mas ao que é trabalhoso;
Não ao que é consolo, mas antes ao desconsolo;
Não ao mais, antes ao menos;
Não ao mais alto e precioso, mas ao mais baixo e desprezível;
Não a querer alguma coisa, mas a não querer nada;
Não a andar buscando o melhor das coisas temporais, mas o pior;
e, por amor de Cristo, a desejar entrar em toda a nudez e vazio e pobreza que há no mundo.
E estas obras convém que se dê a elas do coração e procure nelas aplainar a vontade.
Quem do coração as pratica, muito em breve, agindo ordenada e discretamente, nelas virá a achar grande alegria e consolação.

S. João da Cruz

segunda-feira, 17 de novembro de 2014

Por fim, toda a verdade sobre Jesus Cristo!



Depois do Jesus casado, é agora a vez do Jesus papá … e vem aí o vovô Jesus!

É fatal como o destino: de tempos a tempos, invariavelmente, descobre-se um raríssimo manuscrito do século I, com revelações bombásticas sobre Jesus Cristo; um novo heterónimo de Fernando Pessoa, encontrado pela mulher a dias, ao limpar a fecundíssima arca do autor da Mensagem; e um post-it no frigorífico, autografado pelo Nobel português, que dá depois azo a uma volumosa obra póstuma, original e inédita.

Este parece ser o caso do sensacional livro que o Sunday Times anunciou, com grande destaque, e que tem por autores Barrie Wilson, professor de estudos religiosos da Universidade de York, em Toronto, no Canadá, e Simcha Jocabovici, escritor e jornalista israelo-canadiano. Ao que parece, esta promissora obra acaba de chegar às nossas livrarias, just in time para o Natal.

Esta nova versão «histórica» de Cristo é, convenhamos, pouco original pois, contrariando a tradição evangélica de Jesus celibatário, ascético demais para os gostos modernos, copia Dan Brown, o romancista casamenteiro que patrocinou o enlace matrimonial do filho de Nossa Senhora com Maria Madalena.

A novidade está agora nos dois filhos havidos desse casamento. Não sei se se trata de dois rapazes, de duas raparigas ou de um de cada, ou seja, aquilo que antes se chamava, muito burguesmente, um casalinho. Também não sei se esta inesperada geração do Messias e da sua putativa mulher, sem ofensa, tem alguma coisa a ver com a bonificação que, em sede de IRS, é agora dada às famílias, por cada filho a seu cargo. É que, como é sabido, as coisas não estão fáceis para ninguém …

Se um Jesus casado já contradizia a verdade histórica dos Evangelhos e dos mais sérios e científicos estudos biográficos sobre Cristo, de que é principal referência o Jesus de Nazaré, em três volumes, de Bento XVI, este Jesus papá, provavelmente de pantufas, embora menos atraente do que o revolucionário Che Guevara, augura promissora continuidade num próximo episódio, digno de fazer concorrência ao Pai Natal: o vovô Jesus.

O novo livro baseia-se, ao que consta, num «Evangelho perdido» que, a bem dizer, é infeliz até no título porque, se depois foi encontrado, dever-se-ia chamar o «O Evangelho perdido e achado», não vá o leitor ficar, também ele, perdido. Ou então apelidar-se, tal como o filho mais novo da conhecida parábola, «O Evangelho pródigo», que o é, aliás, em inverosímeis disparates.

É de estranhar a co-autoria de um jornalista israelo-canadiano. Um jornalista é, em princípio, um cronista da actualidade, não um historiador de acontecimentos de há dois mil anos. E, já agora, porque se afirma israelo-canadiano? Quanto ao canadiano, tudo bem, mas a precedente referência parece indiciar o seu alinhamento ideológico com a política de Israel e, nesse sentido, contrário ao Cristianismo e à sua presença na Terra Santa. Se assim for, esta obra mais não é do que uma expressão pseudocientífica dessa mesma beligerância.

Entre nós, outro artesão do mesmo ofício, famoso pelas suas piscadelas de olho à teologia, deu a Jesus alguns irmãos, todos igualmente filhos de Maria, à qual atribuiu várias imaculadas conceições (?!), por ignorar que um tal privilégio respeita à concepção da própria virgem e não à sua maternidade, que foi única e exclusivamente de Jesus. É o que dá, quando alguém se mete a fazer ciência teológica e nem sequer sabe as verdades mais elementares do catecismo …

A banalidade destas «descobertas», que de científico nada têm, tem contudo uma vantagem porque, quanto mais insistem na aparente vulgaridade de Cristo, mais adensam o seu mistério. De facto, se Jesus de Nazaré era, apenas, um homem comum, carpinteiro de profissão, casado e pai de dois filhos, como explicar que, mais de dois mil anos depois, o seu nome e a sua mensagem suscitem tanta aversão – a religião cristã é, actualmente, a mais perseguida no mundo – e, sobretudo, tanto amor?!

P. Gonçalo Portocarrero de Almada

sexta-feira, 14 de novembro de 2014

A Igreja é a minha casa



A Igreja é a minha casa
Sim, é a minha casa.
Esta Igreja onde eu nasci e onde quero morrer.
Nela me sinto bem. Nela gosto de estar.
Aqui, eu penso, projeto, sonho, alimento-me.
Aqui, rezo, recordo, choro, zango-me,
encontro-me.
Aqui sofro, aqui canto.

A Igreja é a minha casa.
Gostaria, tantas vezes, de a ver
mais acolhedora,
mais aberta,
com mais espaços para outras pessoas
(não é ela comunhão e sacramento?),
mais gratuita,
mais convidativa.

A Igreja é a minha casa,
E tenho pena que
feche portas,
condene sem coração,
corte com quem procura...

Eu amo muito a Igreja, porque a Igreja é a minha casa.
Com defeitos?
Com a ruga dos anos?
Às vezes azeda?

Mas é a minha casa!
Então, porque lhe quero muito,
vou pintá-la de fresco,
vou rasgar-lhe mais portas,
vou torná-la mais simpática,
mais disponível,
mais atenta.
Vou fazer com que cante mais a beleza da vida,
perca o medo e salte para o mundo,
grite os valores e os direitos
das pessoas e dos povos.

A Igreja é a minha casa.
Se eu quiser,
se tu quiseres,
se nós todos quisermos,
todos virão a ela
e todos nela se sentirão bem.
Porque ela é o rosto de Deus.
Porque Deus habita nela.


D. Manuel Martins 
Bispo emérito de Setúbal 
In "Pregões de esperança", ed. Paulinas 
Publicado em 12.11.2014

quinta-feira, 13 de novembro de 2014

Pai Nosso do catequista



PAI NOSSO QUE ESTAIS NO CÉU,
Pai de todos nós, Vossos seguidores
Pai presente na missão de todos os Catequistas
Pai que estais presente nos catequizandos que formamos
Pai, primeiro Catequista da humanidade e Mestre de sabedoria.

SANTIFICADO SEJA O VOSSO NOME;
Santificado seja o Vosso nome nas palavras que pronunciamos
Santificado seja o Vosso nome no tempo que dedicamos aos catequizandos
Santificado seja o Vosso nome pelo Catequista que somos.

VENHA NOS O VOSSO REINO,
Reino de paz e humanidade
Reino de fé e constância
Reino de forca e coragem
Reino de serviço e doação

SEJA FEITA A VOSSA VONTADE, ASSIM NA TERRA COMO NO CÉU;
Seja feita a Vossa vontade nas palavras que dizemos
Seja feita a Vossa vontade em tudo que testemunhamos
Seja feita a Vossa vontade no testemunho que damos
Seja feita a Vossa vontade no coração de todos.

O PÃO NOSSO DE CADA DIA NOS DAI HOJE;
Dai-nos o pão da esperança e segurança
Dai-nos o pão da Vossa Palavra, o Evangelho.
Dai-nos o pão para comer, pão que sacia a fome.
Dai-nos o pão da fé e do Vosso Amor, a Eucaristia.

PERDOAI-NOS AS NOSSAS OFENSAS, ASSIM COMO NÓS PERDOAMOS A QUEM NOS TEM OFENDIDO;
Perdoai a nossa fraqueza na fé
Perdoai o nosso desânimo e descompromisso cristão
Perdoai a nossa não correspondência ao Vosso amor
Perdoem todos os que praticam o mal

E NÃO NOS DEIXEIS CAIR EM TENTAÇÃO, MAS LIVRAI-NOS DO MAL
Livrai-nos da tentação, da ambição e do orgulho
Livrai-nos da tentação de não falar em nome da Vossa Igreja
Livrai-nos da tentação do comodismo
Livrai-nos da tentação de não professar, com atos, a fé que assumimos.

Amen!

sábado, 8 de novembro de 2014

Síndrome de Down

Grávida perguntou como seria a vida do filho com Síndrome de Down. A resposta foi emocionante...

Uma mãe grávida de um bebê portador de Síndrome de Down estava assustado e como medo de que tipo de vida seu filho teria sendo portador da síndrome. Então ela escreveu para uma organização de apoio à Síndrome, e recebeu como resposta esse vídeo. Se prepare, é a coisa mais linda que você vai ver em muito tempo: Principalmente se você é mãe....

Ela estava à espera de um bebé com Síndrome Down, estava preocupada e resolveu perguntar como seria a vida do filho para um associação. Eles fizeram esse vídeo para responder. Prepare-se, principalmente se você é mãe, você vai chorar de emoção.

quinta-feira, 6 de novembro de 2014

Chamo a esperança pelo nome de Deus



Não pode a morte reter-me na cruz.
Não pode o mundo arrancar-me à raiz.
Ao pé de Deus hei-de sempre viver.
Com Deus cheguei e com Ele vou partir.

Não poderá corromper-se a alegria.
Não pode o fogo extinguir-se no céu.
Meu ser demanda a morada do Deus que guarda os nomes no livro da vida.

Não pode a morte apagar o desejo de ver a Deus face a face e viver.
A Deus busquei toda a vida e vivi de acreditar no infinito da vida.
Não nos reduz o escuro da noite.

Não pode o amor esquecer o que o altera.
Já ouço a voz do Senhor, Deus dos vivos.
Já ouço a voz do amigo que vem.

Não pode o mar esquecer o que o salga.
Não pode a areia esquecer-se do mar.

Meu Deus, meu Deus, vem buscar-me ao deserto.
Que em tuas mãos entreguei a minha sede.
A Tua vida me toma e transporta.
Teu sangue inunda meu corpo de paz.
Eu vejo as mãos do Senhor glorioso.
Nas minhas mãos a memória de Deus.

A Ti, Senhor, meus desejos regressam.
Findo o andar, disponíveis as mãos.
Abre meu corpo ao devir que não sei.
Eu chamo a esperança pelo nome de Deus.

Frei J. Augusto Mourão

quarta-feira, 5 de novembro de 2014

Maria passa na frente



Senhor, eu sei que me conheces 
e sabes dos meus problemas
Eu sei que me acompanhas 
mesmo quando eu me perco
eu sei que quando tudo me falta,
o Senhor está comigo
Eu sei que Tu me destes uma mãe Maria
A Tua mãe é a minha mãe

Maria na simplicidade de sua presença
nunca esteve ausente
nos momentos em que a angústia 
atormentava as celebrações da vida
ela soube reconhecer e interceder

Por isso eu peço a mãe:
Intercede por mim
Quando o vinho acabar, intercede por mim
Quando alguma coisa faltar, intercede por mim
Quando eu me perder, intercede por mim
Quando eu pecar, intercede por mim
Quando eu deixar de amar, intercede por mim

Senhor amado, 
obrigado pela mãe que nos destes
É mais uma prova de Teu imenso amor, Ágape

Cuida de nós,
Amém.

Pe. Marcelo Rossi

domingo, 2 de novembro de 2014

Lição de humildade



O Canal OckTV, decidiu fazer uma experiência social em Nova Iorque, eles foram pedir comida várias pessoas, e filmaram as suas reacções.

Não conseguiram que ninguém lhes desse comida. Mais tarde, os jovens deram uma caixa de pizza a um sem abrigo, passados 20 minutos, um outro rapaz senta-se educadamente ao lado do sem-abrigo e pede-lhe uma fatia de pizza, a sua resposta é uma verdadeira lição de humildade ...

"Quem menos tem, é que mais dá", partilha esta emocionante mensagem.

sábado, 1 de novembro de 2014

O silêncio dos céus em nós



A nossa paz interior é essencial, pelo que devemos defendê-la de qualquer ataque exterior. Muitos julgam que a opinião alheia, a fama e a fortuna são contributos fundamentais para a felicidade, quando, na verdade, não são senão de enganos. 

Para que os outros pensem bem de nós, passamos muito tempo a comportarmo-nos de acordo com expectativas que não são nem nossas, nem boas. Tememos até que uma simples escolha errada possa manchar a nossa tão importante (suposta) reputação… passamos a vida inquietos e ao sabor das esmolas do julgamento alheio… Devemos aprender dos outros as muitas lições que nos podem dar, mas sem nunca deixarmos de ser quem somos, nem hipotecar as nossas potencialidades, sem a quais perdemos a nossa identidade e, de certo modo, a nossa razão de ser, o sentido da nossa existência.

Não devemos agir bem para agradar a ninguém, devemos fazê-lo por respeito a nós mesmos, cumprindo o nosso dever de sermos tão bons quanto possível.

Mesmo quando se alcança o que é alvo da admiração alheia, logo aparecem a inveja e a desconfiança. Pior, a partir de um determinado ponto deixará de ser claro se quem está connosco… estará por aquilo que somos ou, tão-só, por aquilo que temos…

Mas a ideia de viver longe dos outros, para evitar os males da sua convivência, também não é nada boa. Só chegamos a ser quem somos através das nossas relações com outros, nelas nos construímos e realizamos. 

Aqueles que escolhemos, aqueles a quem amamos, esses serão a fonte dos maiores presentes que a vida nos pode oferecer, embora sejam, também, tantas vezes, a causa das nossas maiores amarguras. 

A minha obrigação é a de ser artífice do meu destino, e assim, de forma cuidada e discreta, ir conquistando a paz interior, amando, dando-me, sem contabilizar custos ou destinatários. As árvores não contam os frutos que dão, muito menos a quem.

O dever não é o oposto da felicidade. A felicidade é o nosso dever. 

Sem egoísmos, sem nos afastarmos dos outros. Haverá sempre gente ingrata, insolente, desleal, com má vontade e com egoísmos de todos os tamanhos e formas, mas o perigo maior é o de nos tornarmos como essas pessoas… sendo que, eles, também têm um papel útil, porque nos mostram, pelos seus vícios, o que devemos evitar. São um exemplo do que não devemos fazer. 

É nossa obrigação, também para connosco mesmos, cuidar de todos aqueles que, por alguma razão, a vida coloca perto de nós. 

As relações constroem-se. Mesmo o amor pelo nosso melhor amigo não é fácil e envolve um trabalho árduo e persistente. Não é nada natural… É divino! 

Por mais difícil que possa parecer, a verdade é que podemos amar quem escolhemos e, mais importante ainda, podemos escolher quem amamos! 

Nunca é o agradecimento ou a admiração dos outros que nos dá paz. Mas sempre que cumprimos o nosso dever experimentamos um estado de harmonia connosco próprios e com o mundo que nos rodeia. Neste ponto tudo é perfeito. 

Ajudarmos os outros é a melhor forma de alcançarmos a nossa paz interior. 

Nunca nenhum de nós deixa de ser aquela criança que, à janela de casa, admira a chuva... enquanto, por entre o seu próprio reflexo, sonha com um mundo perfeito… e descobre que, afinal, a água que vem do céu… só lá volta depois de ter cumprido aqui a sua missão!

É essencial para a nossa paz interior que saibamos escolher o que sentir, o que pensar, o que dizer e o que calar... o que fazer e como o fazer. E é assim, sempre com firmeza e delicadeza, tal como a gota que escava a pedra, que devemos lutar pelo silêncio do céu que há nós… 


José Luís Nunes Martins
jornal i
1 de novembro de 2014
http://www.ionline.pt/iopiniao/silencio-ceu-nos
Ilustração de Carlos Ribeiro

segunda-feira, 27 de outubro de 2014

Gosto muito de estar com a mãe


Faz hoje uma semana que o Carlos (nome fictício) me falou a dizer que tinha encontrado a mãe, que procurava há 26 anos, depois desta o ter abandonado quando tinha 4 anos. Foi nessa tarde para Vila Franca de Xira e nessa noite mandou-me uma mensagem a dizer: 
- “Gosto muito de estar com a mãe”. 

Mais tarde, quando lhe falei e lhe perguntei se a mãe o tinha recebido bem e se tinha gostado de o ver, disse-me com simplicidade e despreocupação: 
- “Bem, acho que eu gostei mais do que ela”. 

Fiquei a pensar se não iria haver um desajuste entre eles - uma mãe que abandona e um filho que não pensa em mais ninguém e em mais nada senão nela e em a encontrar... No dia seguinte, terça-feira, veio ao Porto e despediu-se do emprego, fez contas com amigos, despediu-se também de mim. E na própria terça-feira voltou para Vila Franca ao fim da tarde. 

Quando tentei que ele reconsiderasse tanta precipitação, disse-me com uns olhos molhados:
-  “Não pode perceber, ninguém pode perceber. Eu adoro muito a minha mãe, não me quero separar mais dela”. 

Não insisti. Que direito tinha de fazer as coisas à minha maneira? O que sei disto? À noite falou a dizer que tinha chegado bem, e nunca mais deu noticias. Ontem, Domingo, falei-lhe e perguntei como se estavam a passar as coisas, ele respondeu que estava tudo bem:
- “Eu estou com a minha mãe e estou feliz, agora só preciso de arranjar um emprego. Para a ajudar. Vou tomar conta dela”. 

Fiquei muda. Este rapaz está a viver uma página do Evangelho. O “permanecer” uma vida inteira na procura da mãe. O encontro sem nenhuma queixa, e uma necessidade de ajudar a mãe e de tomar conta dela. Um rapaz que guardou o seu segredo fechado no coração ferido e triste mas cheio de esperança,e de amor. Uma Missa (a do Natal do ano passado) que mexeu com ele ao ponto de o fazer finalmente chorar. O Carlos está a escrever uma página de um 5º. Evangelho. Louvado seja Deus.

«Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.» (Mt. 22, 36-40)

Tereza Olazabal

sábado, 25 de outubro de 2014

O bem e o mal que desconhecemos



É sempre possível que estejamos a fazer o bem a outras pessoas, ainda que não seja dado saber nem o quê nem a quem…

Nem sempre nos damos conta do bem e do mal que causamos aos outros. Por vezes ajudamos sem saber, outras vezes magoamos sem querer. É importante que, pelo menos, compreendamos que as nossas ações vão sempre mais para além do que nos é dado saber pelas aparências.

Há quem nos faça muito bem sem que nunca lho agradeçamos, e há também quem nos provoque mal sem que, também nunca, lhe demos nota disso, nem, tão-pouco, lho perdoemos. É bem possível que, nem uns nem outros, saibam o que (nos) fizeram. Mas, nós partimos do princípio que sabem e até assumimos que o quiseram! Mais, que aos bons nada acrescentamos se lhes agradecermos, e, aos maus, que nada mudamos por lhes desculparmos os erros...

Agradecer e perdoar fazem diferença. Muita. Em mim e no outro. Sempre.

Só um verdadeiro amigo arrisca uma crítica desagradável mas justa… Mas, quantas vezes somos capazes de lhas agradecermos? Será que preferimos o prazer dos louvores injustos e interesseiros de outra pessoa qualquer?

Quase nunca os nossos atos são julgados pelos outros da mesma forma que os julgamos nós. As intenções não passam de projetos cujo resultado material é, por vezes, algo tão estranho que só mesmo o seu autor consegue compreender a linha que os liga.

Nem sempre temos coragem para fazer o que sabemos ser o bem. Muitas são as ocasiões em que não conseguimos evitar fazer o mal que não queremos… mas, a tentação do egoísmo é, talvez, a maior de todas.

Não é assim tão difícil distinguir o bem do mal. Árduo é optar pelo bem, porque, na vida, o mais fácil quase nunca é o melhor. E, ainda que depois de uma montanha de erros, parece que sempre encontramos forma de nos seduzir a mais um disparate. De nos levar sempre... para longe de nós mesmos. O caminho da virtude é íngreme, estreito e exige atenção constante, pois a queda dá-se pelo mesmo caminho que a ascensão… o percurso do bem é o mesmo da perdição, um sobe o outro desce… um mesmo caminho que se pode fazer em direções opostas.

Vence duas vezes quem, a vencer, se vence a si mesmo. Quem escolhe, para si e para os outros, o melhor de si. A tentação é o momento exato da virtude.

A vida é uma luta constante. Uma maratona de vidas entrecruzadas, onde alguns dos efeitos dos nossos atos nos escapam… quanta gente se entristece (e se alegra) por coisas que ninguém, na verdade, desejou… Mas, tudo passa… e um só dia claro basta para fazer esquecer os cinzentos!

A sabedoria é humilde, deixando espaço para o que nos ultrapassa. Nunca se julga senhora de todos os porquês e para quês, nem, tão-pouco, capaz de abarcar o mundo. É sábia porque se reconhece limitada. Erra sempre que se julga mais do que é. Sempre que julga saber tudo.

Iludimo-nos muitas vezes. Há quem se emocione com peças de ficção, talvez porque as imagine reais, e seja insensível a tragédias reais, talvez por que as imagine peças de ficção.

Devemos estar atentos a fim de que não causemos algum mal (evitável) aos outros, e não nos devemos desanimar quando a vida parecer estar a perder a cor e o sentido, afinal é sempre possível que estejamos a fazer o bem a outras pessoas, ainda que não seja dado saber nem o quê nem a quem…

Um olhar, uma palavra, um silêncio ou um pequeno gesto, são suficientes para levar trevas ou luz à vida de outros. Assim. Num instante. Dependemos uns dos outros. Nós não somos sós. Nunca. Por maior que seja a solidão em que nos sentimos. Por maior que seja a escuridão e o frio, há sempre alguém que chegará. Sempre. Sempre. Por mais que demore.

Lutarmos sempre com coragem e paciência para manter o fogo da nossa esperança aceso é o suficiente para darmos sentido à vida... à nossa e à de muitos outros!

José Luís Nunes Martins
I Online

sábado, 18 de outubro de 2014

Sofrer sem incomodar



Há pessoas que nos dizem “espero que esteja tudo bem consigo!” com o sentido oculto de uma verdadeira esperança, a de que não lhes demos trabalho algum.

O sofrimento é algo tão natural, quanto inevitável e universal. No entanto, cada vez mais é remetido para a esfera privada, íntima, como se fosse algo que pode e deve ser vivido apenas longe dos outros. Num recanto qualquer, desde que distante dos que lhe querem ser alheios. Estes, sentem-se no direito de exigir que as nossas dores não os incomodem.

Como uma árvore atingida por um raio, quando sou tocado por uma dor profunda, rasgo-me, divido-me e consumo-me com dúvidas, ansiedades e pesadelos… o próprio pensar dói. Estou só e com medo... e o medo faz sempre que qualquer mal pareça muito maior. Sofremos... e sofremos mais ainda quando estamos sós.

É impossível conter o sofrimento, ou o partilhamos ou somos dilacerados por ele.

Perguntam-nos: “Como está?”. Mas a resposta ou é indiferente ou então tem de, pelo menos, parecer. Claro que, no caso de estarmos muito bem, não podemos expressá-lo com euforias, pois também isso vai chocar! Nunca devemos ser pesados para os outros, nem com as nossas lágrimas nem com os nossos sorrisos. É assim que hoje muitos vivem...

É suposto que perguntemos sempre, mas que não respondamos, nunca. A não ser que seja alguém de quem gostamos muito, muito, ao ponto de querermos mesmo saber como está e de nos preocuparmos com o que podemos nós fazer para partilhar a sua intimidade com tudo o que tenha de bom e de mau.

Há pessoas que nos dizem “espero que esteja tudo bem consigo!” com o sentido oculto de uma verdadeira esperança, a de que não lhes demos trabalho algum. Esperam que estejamos bem para que se possam então aproximar-se sem receio que uma qualquer dor ou tristeza nossa os possa surpreender e desacomodar.

Só se aproximam de quem está sempre bem. Só se aproximam de uma parte de nós. Nós não existimos inteiros para quem – só – quer viver de forma cómoda.

Espero que esteja tudo bem consigo... espero para me aproximar? Ou para me ir embora? E se a pessoa não estiver bem? Espero até ela estar! Mas... com ela? Ou longe dela?

Vivemos num tempo em que o sofrimento é visto como algo vergonhoso. Em que as pessoas devem manter as suas dores sob controlo a fim de que os outros sejam poupados ao peso do que entendem não ser seu.… um sofrimento sem expressão… tão escondido como um qualquer pecado obsceno.

São poucos os que querem que a luta interior de alguém seja uma luta comum... Temem-se as dores, mas teme-se mais ainda o seu inevitável contágio a que alguns chamam partilha. Amor.

Mesmo depois de uma grande perda, o luto é uma luta que não deve ser travada longe dos outros. Cada um carrega o seu fardo, mas se o partilhar, a viagem torna-se menos penosa. Porque se aliviam, um pouco, a pena e a solidão.

Claro, há muitas simpatias e compaixões, mas a maior parte delas é apenas aparente. São cada vez menos os que conseguem prestar uma ajuda desinteressada a quem precisa.

As alegrias não incomodam tanto como as tristezas. Embora em ambos os casos seja raro haver partilha.

Vivemos numa enorme tapeçaria de aparências: os egoísmos, disfarçados de coisas belas, escondem podridões... mentiras sempre assumidas de um modo diplomático e inteligente. Afinal, todos temos os nossos problemas – dizem.

Escondo-me nuns óculos escuros, porque não quero que vejam as minhas lágrimas. Visto-me de preto, para me esconder na noite de mim mesmo, quero passar despercebido, oculto, silencioso… não quero incomodar ninguém. Não quero que a minha tristeza estrague a vida de mais ninguém... tenho medo.

Mas é o medo que nos impede de sermos felizes. Porque quem tem medo, não ama, e quem não ama não é feliz.

Solidões que são mentiras e infernos. Para onde nos lançamos inteiros quando dos outros só aceitamos uma parte das suas alegrias e dores… e, também, enquanto a eles mostramos apenas uma parte de nós.

José Luís Nunes Martins
in i online

quinta-feira, 16 de outubro de 2014

Orar para louvar




Papa Francisco pede: rezar para louvar

“Nós sabemos rezar muito bem quando pedimos coisas, mesmo quando agradecemos ao Senhor, mas a oração de louvor é um pouco difícil para nós: não é tão habitual louvar o Senhor"


É fácil rezar para pedir, bem mais difícil é rezar para louvar, mas essa oração dá-nos uma verdadeira alegria. Esta foi a principal mensagem do Papa Francisco na Missa de hoje na Capela da Casa de Santa Marta.

No centro da homilia do Santo Padre a Carta aos Efésios, onde podemos ler a oração de louvor do Apóstolo Paulo “uma oração que nós não fazemos habitualmente” mas que é “gratuita e pura” e nos faz entrar numa “grande alegria” – afirmou o Papa Francisco.

“Nós sabemos rezar muito bem quando pedimos coisas, mesmo quando agradecemos ao Senhor, mas a oração de louvor é um pouco difícil para nós: não é tão habitual louvar o Senhor. E isto, podemo-lo sentir melhor quando fazemos memória das coisas que o Senhor fez na nossa vida: ‘N’Ele – em Cristo – escolheu-nos antes da criação do mundo’. Bendito sejas Senhor, porque tu me escolheste! É a alegria de uma proximidade paterna e terna.”

“Não se pode compreender e também não se pode imaginar: que o Senhor me tenha conhecido antes da criação do mundo, que o meu nome estava no coração do Senhor. Esta é a verdade! Esta é a revelação! Se nós não acreditamos nisto nós não somos cristãos! Talvez sejamos impregnados de uma religiosidade teísta, mas não cristãos! O cristão é um escolhido, o cristão é alguém escolhido no coração de Deus antes da criação do mundo. Também este pensamento enche de alegria o nosso coração: eu sou escolhido! E dá-nos segurança.”

O Santo Padre sublinhou ainda que o nosso nome está no coração de Deus porque nós somos eleitos e isto é algo que não se consegue compreender e para o tentarmos entender devemos entrar no Mistério de Jesus Cristo quando celebramos a Eucaristia.

“Quando celebramos a Eucaristia, entramos neste Mistério, que não se pode compreender totalmente: o Senhor é vivo, está conosco, aqui, na sua glória, na sua plenitude e dá uma outra vez a sua vida por nós. Esta atitude de entrar no Mistério devemos entende-la em cada dia. O cristão é uma mulher, um homem que se esforça por entrar no Mistério.”

in iMissio

terça-feira, 14 de outubro de 2014

O que é que gostaria de agradecer?



Ontem, durante a confissão, alguém apresenta uma lista impressionante de pecados. Quando terminou, perguntei: “O que é que gostaria de agradecer na sua vida?” “Como?” “Sim, o que é que gostaria de agradecer na sua vida? Desculpe se me equivoco, mas parece-me que a vê como um fardo… e bem pesado.” Levantou a cabeça, fixou-me o olhar e acenou afirmativamente. Da lista, passámos à conversa e o desabafo adensou-se. Histórias tramadas, é o que é. “A forma como vê a sua vida já é bastante dura e é já a penitência no sentido mais negativo da palavra. Se apresentou uma lista de pecados, pois bem, vai fazer uma lista superior de coisas que faz bem ou que gosta de fazer para seu prazer. Das mais simples às mais espectaculares, tipo: passear, ler um livro, dormir mais um bocadinho, ouvir uma música, comprar uma flor para alguém querido. É quase ridículo, sei, mas por vezes é preciso voltar às coisas simples para perceber a importância da nossa vida! Deus é mais simples do que pensamos e é nessa simplicidade que tantas vezes nos dá a Sua graça.”

Paulo Duarte

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...