terça-feira, 10 de fevereiro de 2009

Perdoar e libertar-se



Fico muitas vezes com a sensação de que trazemos a maior parte da nossa história escrita nos traços do rosto. Deve ser por isso que tanta gente usa máscaras… E deve ser por isso que eu não gosto nada de as usar! Com o passar do tempo a gente vai descobrindo que ninguém chega a ser Inteiro enquanto não se reconciliar com a sua história.

Perdoar e perdoar-se.

Faz-me lembrar a história da primeira pomba da Criação… Passava os dias a fugir do primeiro gato da Criação e, chateando-se de vez, descobriu o caminho para a casa do Criador e disse-lhe: “Olha, não sei em que Escola de Criadores andaste, mas deves ter faltado à aula em que explicavam que, se era suposto eu correr a fugir do gato, melhor seria não ter estas duas coisas presas às costas!!!”

E então teve que ser o Criador a ensinar-lhe a voar…

Lembrei-me desta parábola, porque às vezes parece que acontece o mesmo com a Vida: a história é como um peso que carregamos às costas… A nossa história só deixa de ser um “peso” quando deixamos de lhe fugir e quando deixamos de a apontar como “culpada” das nossas actuais demissões, preguiças e medos.

Há umas semanas atrás, expliquei numa homilia que “Amar os inimigos e rezar por eles” era um exercício prático de perdão. Explicava que Jesus pedia aos seus discípulos que “não se deixassem derrotar pelo mal, mas derrotassem o mal com o bem”, como sintetizou o Apóstolo Paulo. Deixar-se derrotar pelo mal significa deixar-se minar e corroer por desejos de vingança e pelo rancor. Derrotá-lo com o bem significa ser capaz de Perdoar, o que traz sempre consigo uma profunda experiência de Leveza e Libertação.

Hoje, há cerca de meia hora, aconteceu o seguinte: uma senhora a quem faleceu o marido há três anos trouxe-me a fotocópia de uma carta que tinha escrito esta manhã, e pediu-me para eu a ler. Explicou-me o que era: no dia em que o marido tinha morrido, ela estava em casa, depois da hora de almoço e o marido estava internado. Recebeu um telefonema do hospital em que o médico disse o nome secamente e “É só para dizer que o seu marido morreu!”

Despediu-se e desligou…

Há três anos que aquele nome e aquela voz não lhe saíam da cabeça…

Hoje de manhã, finalmente, escreveu uma carta de reconciliação para esse médico. Explicou-me que, enquanto ouvia a homilia há umas semanas, só tinha aquele acontecimento na cabeça… E mastigar aquele rancor não deixava que a própria morte do marido se desdramatizasse…

Mas hoje conseguiu! Li a carta. Que fantástico testemunho. A meio diz mesmo: “Eu sou cristã e faço isto porque tenho consciência de que é o melhor a fazer, e perdoar-lhe é a única maneira de eu própria me sentir Livre!”

Não há uma única palavra de azedume, não há um único momento de rancor… Disse-me que foi a terceira carta que escreveu, porque nas duas anteriores, ao lê-las, sentia nelas alguma agressividade… Tinha-as deitado ao lixo!

Ao contar-me isto tudo, brilhavam-lhe os olhos como a uma menina encantada. E disse-me assim: “Há três anos que eu não respirava tão bem… Sinto-me tão leve!” No rosto desta mulher reconciliada estavam escritas as palavras Paz e Liberdade. Que o meu rosto também tenha sempre escritas, com traços de Verdade, experiências libertadoras e fecundas…

E se um dia destes passares por mim e não vires isto, por favor, chama-me à atenção, ok?
Rui Santiago
.

3 comentários:

  1. Cada dia o teu blog esta mais giro e instrutivo.
    Tenho uma amiga, que visita todos os dias o meu blog, que pede ajuda. Ja lhe falei de ti e hoje mando-te o link do blog dela. Se puderes, visita-o e ajuda-a no pedido que ela faz sobre a Perfeicao Divina.
    Beijos de saudades da mae que te ama muito

    ResponderEliminar
  2. Que bom, voltámos ao perdão. Só tenho pena que tudo isto não tenha sido publicado uns meses mais cedo, quando eu andava às voltas com o perdão. Agora, já estou liberta e, por isso, também digo, que se alguém não vir isso estampado no meu rosto, por favor, avisem-me.

    ResponderEliminar
  3. Mae, onde está o tal link? Se quiseres dá-lhe também o meu email. Beijinhos

    ResponderEliminar

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...