quinta-feira, 30 de julho de 2015

Felizes os que choram



Apesar de parecerem pedaços de solidão, as lágrimas são gotas de amor que nascem aos pares.

As tristezas não são aflições. A tristeza é o que fica depois da desgraça do momento. Estar triste dura.

Os naturais tormentos da vida ensinam-nos que ser feliz é uma forma de viver nas profundidades imutáveis da existência, não nas superfícies e aparências agitadas e passageiras da vida.

A fragilidade humana leva a que por vezes tenhamos de experimentar o que julgamos ser o desaparecimento da nossa felicidade... perdemos e sentimos as perdas. Perdemos o que temos, mas não o que somos. Amar é dar-se. Os que nos amaram deram-se-nos. Não se perderam porque existem em nós. Sou também aquele que me amou. Que me ama.

A dor é um mal. Por vezes, chega através da culpa. Quando não percebemos bem o que sentir e o que pensar. Quando dizemos o que era para calar ou fazemos silêncio do que era para dizer. Quando não escolhemos bem o que fazer ou como fazê-lo.

Por vezes, a mágoa é funda. Tantas vezes é a própria liberdade que parece ser o nosso castigo. Quanto mais opções temos adiante, maiores serão depois os arrependimentos.

Mais profunda do que a pena é a saudade verdadeira. A pena é uma impressão de desgosto que se crava no coração. A saudade é muito mais doce mas, qual espada, muito mais dura, afiada e longa. Parece destruir o que celebra. Trata-se de uma das tristezas mais fundas... a de se haver perdido o que se teve, a de se continuar a amar o que já não está aqui connosco. A de se continuar a ser dois depois de deixarmos de sentir o outro.

Há quem, mesmo triste, escolha alimentar-se da luz. E quem, em igual situação, prefira alimentar as sombras. Um amor que se fez ausente dói, mas o sofrimento só existe porque o bem não desapareceu. Está ali. Não foi destruído ou esquecido, pois, nesse caso, não se sofreria, porque teria desaparecido também a razão pela qual sofrer.

A saudade é um bem pelo qual se sofre.

Uma saudade que se extingue é sinal de um amor que não existiu. Os amores que acabam nunca são verdadeiros...

A vida é uma alegria profunda. Um mistério. Um milagre.

Não há tristeza pura... porque flutua sempre nela uma certa paz: a da certeza de um além que existe.

Todas as lutas são lutos... e os lutos são marcas da verdade e da tristeza de quem é feliz…

O luto é uma gravidez ao contrário. Um processo lento por onde o matéria se vai convertendo em espírito. Enriquecendo-nos pelo amor de que nos faz criadores.

O consolo de quem chora é a certeza de que quando se ama... a felicidade está tudo e é para sempre.

As lágrimas são silêncios que abrem os nossos olhos à luz.

José Luís Nunes Martins

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