Todas as crises são bi-polares. O que eu quero dizer é que normalmente empurram para dois tipos de postura: a pura passividade da desistência, por um lado, e o desespero da violência, por outro.
Uma das atitudes típicas em horas de crise (esquecendo que na sua raiz grega a palavra significa decisão, escolha) é a passividade, que costuma ser justificada com uma das espécies de messianismo: há-de vir alguém, dentro do sistema, no topo do sistema, enquadrado no poder como o conhecemos, resolver isto e pôr as coisas a funcionar bem! O messianismo-tuga chama-se Sebastianismo… como se fosse de algum rei ou governante que pudesse vir a solução! O messianismo judaico também andou por aqui vezes demais, pelas veredas ambíguas de uma expectativa segundo as lógicas deste mundo, as manhas do poder e as artimanhas da violência.
A outa atitude típica em tempos de crise é a agressividade provocada pelo desespero, o desnorte de quem se sente sem saídas. É muito fácil dar rostos concretos às crises, criar bodes expiatórios – no tempo de Jesus os romanos serviam na perfeição – e depois fazer desaguar neles toda a nossa raiva desesperada. Esta é uma segunda postura típica na crise, a violência.
Para os primeiros, a solução há-de vir e não há nada a fazer, para os segundos a solução está no fio do meu punhal, é a destruição dos apontados como causadores deste sofrimento e opressão. No tempo de Jesus é fácil encontrar grupos destas duas posições.
Mas nem uma nem outra atitude falam de Esperança. Nenhuma delas! Uma demite-se, a outra desespera. Uma cai na passividade doentia a outra na agressividade inumana.
É neste emaranhado que vai aparecer Jesus a formar também um grupo. Um outro, sim, que não se encaixava em nada do que havia nem sintonizava com nenhuma das suas soluções. É preciso uma coisa nova… Jesus vai formar também um grupo, mas não mais um com uma solução. Vai começar a realizar uma Esperança, realmente uma Esperança. Todas as soluções são a prazo. Só a Esperança é capaz de meter a história inteira dentro do coração de um homem e cada homem dentro do coração da história inteira! É por aqui que a coisa avança…
Rui Santiago
Sem comentários:
Enviar um comentário