terça-feira, 21 de maio de 2019

Reconhecer o bem


Não sei o que nos aconteceu como civilização, mas a verdade é que as boas notícias nos embaraçam e entediam, ao ponto de quase evitarmos falar delas, enquanto que as más provocam uma curiosidade viral, uma excitação, um interesse redobrado. Não há patologia pior do que este emurchecer da alma, deste olhar repleto de preconceitos que depois se faz amargo, deste juízo que se deixa capturar pelo defeito e pelo peso da imperfeição, e depois não voa, ignorando o que é a ligeireza. Não há exercício mais esterilizador do que esta espécie de ressentimento expresso como anátema em relação à vida, do que este totalitarismo da lamúria que, sem nos apercebermos, nos asfixia, do que esta incapacidade de romper com a engrenagem do maldizer tudo e todos, ao qual nem nós escapamos. E todavia, reconhecer o bem, procurá-lo obstinadamente e construí-lo a cada dia é a nossa vocação primordial. Dar notícia do bem e divulgá-lo realiza a nossa missão de fidelidade à vida. Só assim se desperta a consciência de que cada ser humano é portador autorizado da imagem e semelhança de Deus. E só este é o modo de fazer justiça a esse extraordinário milagre que é estar vivo. Colocamos demasiadamente o acento na compreensão racional, mas a razão só por si é clamorosamente insuficiente para interpretar a existência. A razão precisa, muitas vezes, de ser completada pela ordem do coração. D. José Tolentino Mendonça

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