sábado, 25 de fevereiro de 2012

Cinzas... em abertura de Quaresma



Há gritos que têm de ser dados. De dúvidas, questões, mais ou menos existenciais. De sentimentos que ficaram guardados na incógnita dos acontecimentos ou na procura de quem se é. Parece-me que é um caminho a percorrer. O sentido do tal deserto depois da libertação. Passar do ser livre das amarras para uma liberdade de plenitude. Seria mais cómodo não sair dos anseios, ficar-se apenas pelo prazer do momento, até mesmo do passado, chorando as cebolas.

Não me recordo onde li, mas ficou-me a pairar este pensamento de Rilke: “Tudo quanto é velocidade não será mais do que passado, porque só aquilo que demora nos inicia”. A demora leva a uma estranha profundidade, saindo de um chão firme para o abandono de fé. E nessa “queda” com a sensação de abandono dão-se os gritos... primeiro de desespero, a estranheza perante uma novidade de um eu que se (re)constrói. Depois, solidifica-se o sentir, o silêncio torna-se uma melodia de presença. Permite o segundo grito: o porquê?  Renova-se a relação. Já sem medo de questionar o próprio Deus, o caminho segue em formação. Montes são aplanados, vales levantados. Prepara-se a passagem. A morte tem de acontecer, para que o nome seja pronunciado com todas as letras. Sem outros adjectivos, a caracterização fica, simplesmente, purificada. E dar-se-á a Ressurreição.

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