quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Uma palavra só minha



Procuro evitar as palavras banais. Palavras que clandestinamente se inserem num vento selvagem, sem rumo, mas com um final previsível: a dissolução perante o confronto com outro vento, igualmente selvagem, igualmente inútil. Sei que a vida de uma palavra banal é breve, facilmente desmascarada pela inconsistência de um vazio próprio de quem não respeita o seu propósito: ser geradora de sentido.
Uma palavra banal é injusta, equivoca. Fere de morte o acto de comunicar, que é, porventura, aquilo que de mais humano existe. Uma palavra banal faz da pessoa vulgar.

No meio de tanta desordem, algumas palavras soam diferente. Nem sempre são as mais belas ou eruditas. Sobressaem porque são genuínas, e a verdade sempre teve uma força incontrolável. A palavra genuína, que nada tem de selvagem, é livre, e dá ainda mais liberdade a quem sempre viveu no alto monte, onde tudo é mais claro.

Admiro muito os poetas. Talvez seja até uma certa inveja. Admiro-lhes esta capacidade de retratarem a realidade, despindo as palavras e perseguindo irrequietamente a perfeição. Olham para uma folha branca e vêem; pegam numa caneta mas o texto já está escrito; simplesmente eliminam o excesso que perturba o leitor de ver aquilo que outrora já ele havia visto. E fazem isso brincando com as palavras… porque desde o início as respeitam.

E, por fim, quanto mais paro nos Evangelhos, mais admiro Cristo. Experimenta ler Jo 20, 11-18, o momento em Ele se encontra com Maria Madalena na manhã da ressurreição.

Maria não reconheceu Jesus. Na verdade, até o confundiu com o jardineiro. Dois amigos, ali tão próximos, mas estranhamente tão afastados. Até que uma palavra, uma só palavra, restitui a nobreza de um encontro interrompido pela cegueira humana. Uma palavra que não foi dita a mais ninguém e que só poderia ser dita daquele modo: “Maria!”, ao que ela corresponde “Rabbuni!”. Aquela voz. Aquela palavra. Faz sentido.

Esta não é uma questão de palavras. Pelo contrário. Das palavras, Jesus passou à palavra e do sentido passou à identidade. Uma palavra, quando verdadeira, gera vida. Ora, a questão é: “qual é palavra que em mim gera vida?”. Qual é aquela palavra, aquela voz, aquele momento, aquele amor nesta narrativa construida a dois?

"Mestre, não sou digno que entres na minha casa. Diz somente uma palavra e eu serei salvo" (Mt 8, 8)

Tiago Freitas

1 comentário:

  1. "Uma palavra, quando verdadeira, gera vida.."

    Nesta

    P onte (feita)
    A braço (num)
    L aço (de)
    A mor
    V erdadeiro
    R enasci (numa)
    A liança

    encontrei-me num sentido tão certo (!)
    que é hoje esperança na minha vida

    dulce ac

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