sábado, 7 de fevereiro de 2009

Os caminhos da vida



Caminhavam três viajantes para um país longínquo, em busca de honras e fortunas.
Por algum tempo, andaram juntos, consultando o mesmo roteiro, comendo do mesmo pão e dormindo sob a mesma tenda.

Apesar de ser o rumo determinado com relativa facilidade pelas constelações, começaram a preocupar-se com os acidentes do terreno e bem cedo as suas opiniões dividiram-se. Por esse tempo, atravessavam uma vasta zona deserta e sentiram-se aflitos ao ver quase terminada a provisão de água.

Temendo as torturas da sede, depois de acalorada discussão, resolveram separar-se dois deles, tomando caminhos que lhes pareciam mais razoáveis.

O primeiro, desprezando o mapa que levavam, saiu sozinho pelo areal ardente, ansioso por encontrar uma fonte e depois o país remoto. Andou dias e dias, até se esgotarem todos os recursos para a longa viagem.

No meio da sua angústia, viu, ao longe, um pequeno riacho de águas cristalinas. Correu para lá, fazendo derradeiros esforços para chegar à margem. Mas tombou moribundo e sem esperanças, quando verificou que a corrente era apenas uma enganadora miragem.

O segundo viajante também desprezou o roteiro e seguiu o rumo aconselhado por outros, antes da partida, homens que jamais quiseram arriscar-se a empreender a perigosa jornada. Após alguns dias de inauditas canseiras, viu, à distância, o que lhe pareceu um lago. Estugou o passo até chegar à margem e exultou de alegria ao ver que tinha água fresca à disposição.

Mas sofreu, em seguida, decepção amarga, ao provar a água e verificar que era salgada. Tinha diante de si apenas um braço de mar, avançando por solitárias regiões. Ali mesmo expirou exânime o louco aventureiro.

Mas o terceiro caminhante agiu doutro modo. Sentado na areia, poupando as forças, examinou detidamente o roteiro, orientou-se pelas estrelas e foi-lhe fácil, afinal, acertar com uma quase apagada vereda. Alcançou breve um delicioso oásis, onde descansou, comeu frutos e bebeu água fresca e límpida. Uma caravana que passava, levou-o seguramente à terra desejada e ai encontrou muito mais do que havia sonhado em honras e riqueza!

Um velho contou esta história a um grupo de jovens, que o escutava atentamente e acrescentou:

‒ Meus filhos: o roteiro, que nos ensina o caminho para o país longínquo, é a Palavra de Deus.

O primeiro viajante é o homem que, desprezando os ensinamentos sagrados, deixando de olhar para o alto e preocupando-se apenas com os interesses mundanos, deixa-se guiar apenas com a fraca luz da sua inteligência. No final da vida, verifica que perseguiu miragens enganadoras e já não tem mais forças nem tempo para retroceder.

O segundo viajante é o que espera encontrar o rumo através da filosofia e da opinião dos homens. Segue conselhos, faz esforços bem intencionados, porém tudo em vão, porque os seus conselheiros são homens que apenas dizem: “Fazei assim”, e eles mesmos nunca empreenderam a heróica jornada.

Mas o terceiro viajante é o que lê atentamente a Sagrada Escritura, medita nos seus profundos ensinamentos, olha para o alto e obedece com fidelidade aos divinos preceitos. A despeito de toda a aridez da vida, não tarda a encontrar no consolador oásis da fé as virtudes evangélicas que o levam, pela graça divina, à presença de Cristo.

Quereis um conselho? Não desprezeis, filhos meus, esse roteiro, enquanto fazeis vossa jornada pelo caminho da vida!

Athalicio Pithan, Lendas e Alegorias.
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