Hoje é assim, Senhor.
Mantemos as portas abertas, mas a conversa é entre nós.
Gosto de Ti.
E hoje apetece-me ficar assim, só, sem título, sem imagem, sem música, sem parágrafos, sem negritos, sem nada. Eu e Tu.
E a porta, aberta.
Acredito que o que temos de mais íntimo é também o que temos de mais universal. Aquilo mesmo que achamos que é só nosso, no fundo de mim, do outro lado de onde chegam todos os olhos… O que tenho de mais íntimo, que às vezes penso que é só meu e ninguém vai entender por ser tão meu, é, afinal, o que tenho de mais universal e comum para partilhar com a humanidade inteira. Porque é aí, no mundo dos nossos desejos, dos nossos projectos, dos nossos espantos e desencantos, das nossas ousadias e medos, que somos todos tão irremediavelmente parecidos.
Amo-Te!
Já não quereria ter nascido, hoje, se tivesse que viver a vida toda sem ter a oportunidade de me admirar contigo... de gostar de Ti. E poder passar um tempo como este, feito de gratuidade e leveza, sem esperar nada em troca nem ter nada para dar. Sentar-me assim, sem mais, sem pensar no que há a dizer, sem te perguntar o que queres que eu diga e também sem pensar em ninguém mais.
Eu e Tu agora, chega?
Tem que chegar, Senhor, hoje tem que chegar, porque não há Amor que dure sem Namoro! O problema é quando o Namoro está apenas no começo de uma grande relação… porque o lugar dele é dentro, é no centro, como fio condutor de permanentes descobertas, como sabedoria e arte que se aprende para que o encanto não se torne coisa do passado. E não consigo entender a Fé senão assim, como Aliança, Encontro, Relação, Amor, Namoro, Confidência, História, Dança, Luta, Abraço, Comunhão, Vida.
Senhor, Tu que me sondas e me conheces, Tu que sentes ainda a forma do meu corpo nas Tuas entranhas, Tu que me trazes desenhado nas pupilas e gravado nas palmas das mãos, diz o meu Nome. Diz o meu Nome, hoje… e fico assim, eu, a ouvir-Te só dizer o meu Nome e a beber de Ti a ternura com que o dizes.
O eco do meu Nome, em mim, é Abba. Quando, assim, fico só à escuta que digas o meu Nome, sem Te pedir nem dar nada, sinto-me mais Filho. Filho… Filho Teu. Senhor… que és meu Abba, meu Pai. Meu Pai.
Gosto de chamar-Te Senhor, sendo meu Pai, porque quero mesmo que tenhas o Senhorio da minha Vida. És bom para mim, porque és bom. Confio em Ti, meu Senhor, Abba. E abdico de medir qualquer palavra porque hoje não é dia para isso.
Rezar é coisa de amantes. E de filhos.
Reza quem ama, pronto. E a Vida faz-se disto, destes momentos nus, inúteis, gratuitos, não cuidados, não esperados mas em que verdadeiramente percebemos que estamos vivos! Irrompe de dentro de nós aquilo que percebemos que é para sempre porque acontece para além de qualquer experiência de espaço e de tempo… E diante do mistério da vida que não morre, parece que de repente tudo fica passageiro. Fugaz. Parece que os dias também têm idade e envelhecem todos muito depressa. E nós permanecemos.
Ganhamos-lhes!
E renasce a experiência da paz. Renasce a certeza de que aqueles que olham os dias com tristeza e pessimismo têm sempre razão no dia seguinte, mas os que olham com alegria e esperança serão confirmados depois, naquele futuro que está já a despontar no silêncio. É mais prudente ser triste.
Temos razão mais vezes. Mas é estúpido. Porque a vida não se faz só de sensatez e de coisas certas. Porque acontecem coisas admiráveis na nossa vida também - sobretudo - quando não temos razão!
Oh Pai, meu Pai… meu Pai, cujo Nome se arredonda de tal maneira na minha boca quando o digo, que a mim próprio me espanto de me saber tão bem: meu Pai, meu Pai, Abba, Abba, meu Pai…
Vamos só ficar assim, agora.
É tarde.
Eu digo o Teu Nome, como posso…
Abba, meu Pai…
e Tu dizes o meu, assim como Tu dizes.
Eu digo o Teu Nome, e Tu dizes o meu.
Sem mais.
Assim, longamente, até adormecer eu.
Sabendo que continuarás a dizer o meu,
e a chamar-me Filho a eternidade inteira.
Não entendo.
Juro que não entendo esse mistério de Amor
do qual, ao mesmo tempo, não abdico!
.
Comovo-me tanto com esta oração, que nem consigo fazer nenhum comentário. Sinto-me muito pequenina!
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