terça-feira, 31 de janeiro de 2012

Como Jesus, manso e humilde de coração


Antes de mais, se queremos ser amigos do verdadeiro bem dos nossos alunos e encaminhá-los para o cumprimento dos seus deveres, é necessário que nunca vos esqueçais de que sois representantes dos pais desta querida juventude, esta juventude que foi sempre o terno objecto das minhas preocupações, dos meus estudos, do meu ministério sacerdotal e da nossa Congregação Salesiana.

Quantas vezes, meus queridos filhos, na minha longa carreira, me tive de convencer desta grande verdade: é mais fácil encolerizar-se do que ter paciência, ameaçar uma criança do que persuadi-la; direi mesmo que é mais cómodo, para a nossa impaciência e para a nossa soberba, castigar os recalcitrantes do que corrigi-los, suportando-os com firmeza e benignidade.

A caridade que vos recomendo é aquela de que usava São Paulo com os recém-convertidos e que muitas vezes o fez chorar e suplicar quando os encontrava menos dóceis e menos dispostos a corresponder ao seu zelo.

Tende cuidado que ninguém possa julgar que procedeis movidos pelo ímpeto da emoção repentina. Dificilmente quem castiga é capaz de conservar aquela calma que é necessária para afastar qualquer dúvida de que agimos para demonstrar a nossa autoridade ou desafogar o nosso mau humor.

Olhemos como filhos nossos para aqueles sobre os quais exercemos alguma autoridade. Ponhamo-nos ao seu serviço como Jesus, que veio para obedecer e não para dar ordens, envergonhando-nos de tudo o que nos possa dar a aparência de dominadores; e se algum domínio exercemos sobre eles, há-de ser apenas para os servir melhor.

Assim fazia Jesus com os seus Apóstolos, tolerando-os na sua ignorância e rudeza, e inclusivamente na sua pouca fidelidade; era tal a familiaridade e afeição com que tratava os pecadores que a alguns causava espanto, a outros escândalo, e em muitos infundia a esperança de receber o perdão de Deus; por isso nos ordenou que aprendêssemos d’Ele a ser mansos e humildes de coração.

Uma vez que são nossos filhos, afastemos toda a cólera quando devemos censurar as suas falhas, ou ao menos moderemo-la de tal modo que pareça totalmente dominada.

Nada de agitação de ânimo, nada de desprezo no olhar, nada de injúrias nos lábios; mas tenhamos compaixão no presente e esperança no futuro: então seremos verdadeiros pais e conseguiremos uma verdadeira correcção.

Em certos momentos muito graves ajuda mais uma recomendação a Deus, um acto de humildade perante Ele, do que uma tempestade de palavras, que só fazem mal a quem as ouve e de nenhum proveito servem para quem as merece.
 
Das Cartas de São João Bosco, presbítero
(Epistolario, Torino 1959. 4, 201-203) (Sec. XIX)

1 comentário:

  1. "Educar é sobretudo uma questão do Coração.."

    Muito obrigado, Padre Nuno, pela partilha destas palavras de S. João Bosco, tão importantes aos nossos dias.

    Pais, Educadores, enfim, acho que todos nós que de uma forma ou de outra nos nossos dias nos cruzamos nas nossas vivências com jovens ávidos de conhecimento e de um aprender inigualável, tenhamos consciência (e começo por falar em mim, na minha..) de que é o nosso testemunho que os move num amanhã melhor. Mais solidário, mais fraterno. Tenho essa esperança, na certeza de que não é de um dia para o outro que nos melhoraremos nesse testemunho, mas termos essa certeza presente em nós, é já muito para que o nosso crescimento se promova e frutifique junto de muitos jovens.

    O testemunho de Vida de S. João Bosco é por demais significativo no tanto que nos alenta perscrutarmos um mundo melhor, mais justo e por isso mesmo também mais fraterno.

    "Mais vale prevenir do que remediar"
    Era a máxima de S. João Bosco, e com ela concordo absolutamente!

    Um abraço amigo, para si, Pe. Nuno!
    dulce ac

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