do Lat. ciboriu; s. m., a parte mais alta que exteriormente remata ou cobre a cúpula das grandes igrejas ou dos edifícios monumentais. Este blog é, na sua grande maioria, partilha de videos e textos de diversos autores que recebo diariamente. Com a visão dos outros podemos ver mais alto, mais longe...
quinta-feira, 26 de março de 2015
De que estamos famintos se estamos fartos?
Notícias recentes baseadas em dados da FAO referem que atualmente deitamos fora cerca de um bilião de euros por dia em alimentos desperdiçados, o que significa cerca de um terço dos alimentos não consumidos! Contudo, ao mesmo tempo, estima-se que existam cerca de 805 milhões de pessoas com fome!
De que estamos fartos? E que fome é esta que nos move e faz querer mais e mais, tanto mais que nos leva a desperdiçar?
Estranho paradoxo este de que tanto se vem falando mas que tanto tarda em ser alterado! Enquanto muitos matam a fome mas não sabem de quê, outros tantos ou mais não têm o que realmente comer!
Dizem-nos as previsões que nos próximos 35 anos a produção alimentar terá de crescer 60%! Pelo enorme aumento de procura de alimentos que tem vindo a verificar-se, pois cerca de 70% da população mundial viverá em contextos urbanos ou próximo deles.
Ao mesmo tempo cresce significativamente a atração dos investidores financeiros por este sector de matérias-primas, o que gera o tremendo risco de o olhar apenas do ponto de vista do lucro que através dele poderão obter!
Nesta competição da produção e da especulação, que sentido faz este pseudocrescimento face ao desequilíbrio que provoca?
Na sua reflexão sobre os “bens comuns” Ricardo Petrella alerta-nos: «Num plano mais geral, "o planeta Terra e a existência do outro" são os primeiros dos bens comuns públicos mundiais. O homem não existiria se não houvesse planeta. Esse, pelo contrário, existiu e existirá ainda sem o género humano. Por outra parte, cada um de nós não existiria se não existisse o outro, o diferente (o homem pela mulher, a mulher pelo homem, o velho e o jovem, o familiar e o estranho, o presente e o passado...)».
Assim sendo, é da nossa responsabilidade o que fazemos (ou não) em prol do mundo em que nos foi dado viver, mas é também essencial o que fazemos ou não em prol daquele outro que dá razão de ser à nossa existência. Neste horizonte como podemos não nos questionar face à forma como próximo de nós utilizamos e partilhamos os recursos que temos, designadamente os alimentos, colocando em causa vida com dignidade a que todos legitimamente aspiramos?
Henrique Joaquim
Universidade Católica Portuguesa, presidente da Comunidade Vida e Paz
Publicado em 25.03.2015
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