segunda-feira, 31 de março de 2014

Press Cartoon Europe



O Grande Prémio da edição deste ano do Press Cartoon Europe distinguiu Rodrigo de Matos, por um trabalho publicado no último ano no semanário Expresso. A distinção internacional foi-lhe atribuída por um trabalho publicado no Expresso Economia onde retrata a forma como o apuramento da selecção nacional de futebol para o Mundial no Brasil distraiu toda a gente da difícil situação económica atravessada por Portugal, onde perante as dificuldades e as políticas de austeridade esta surgiu como única alegria.

domingo, 30 de março de 2014

Pássaros no fio



Certa manhã, ao ler um jornal, Jarbas viu uma fotografia de pássaros num fio elétrico. Ele decidiu fotografar o momento e sentiu-se inspirado para fazer uma música usando a localização exata dos pássaros como notas musicais. Ficou ansioso por ouvir o resultado e a eventual melodia que os pássaros pudessem ter criado. Enviou a música para o fotógrafo, Paulo Pinto, que disse ao seu editor, que disse a um repórter e a história acabou como uma entrevista no jornal. Acabou como vencedor do YouTube Play Guggenheim Bienal Festival. Ouça como é incrível o som.

quarta-feira, 26 de março de 2014

Rezar é...



Rezar é olhar para Deus...
Rezar é deixar-se olhar por Ele...
Rezar é rir com alegria...
Rezar é chorar...
Rezar é zangar-se com Ele, mas a correr fazer as pazes...
Rezar é estar em silencio e não conseguir dizer nada...
Rezar é olhar Maria, nossa Mãe. e ver como Ela fazia...
Rezar é falar amigavelmente com o nosso Amigo e no silencio tentar escutá-Lo...
Rezar é dar murros na mesa e tentar compreender o incompreensível...
Rezar é deixá-Lo sofrer em nós...
Rezar é arranjar O espaço Dele em nós e assim viver...
Rezar é deixá-Lo Ressuscitar em nós e nós com Ele...
Rezar é de uma diversidade que não tem fim...
Afinal, afinal...rezar aprende-se rezando...

Rezar! Rezar...rezar!
Estar com amigos também é rezar.

Pe. Zé Melo

terça-feira, 25 de março de 2014

O perigo da história única



Esta reflexão mostra como as nossas vidas e as nossas culturas são feitas de muitas histórias que se sobrepõem.

A romancista Chimamanda Adichie conta a história de como ela encontrou a sua autêntica voz cultural e adverte que, quando se ouve apenas uma história única sobre outra pessoa ou país, corremos o risco de um criar mal-entendidos.

segunda-feira, 24 de março de 2014

Obrigado, Senhor



"Pelo menos, no fim do dia, dizermos: Obrigado Senhor, pelas maravilhas que Ele faz. Olhar para o nosso dia e reconhecer as maravilhas do Senhor."

Por vezes é mais fácil lembrarmo-nos do que nos atormenta e preocupa, de tudo o que corre na nossa cabeça, do que correu mal ao longo do dia... que até nos esquecemos de agradecer os melhores momentos, o essencial, aquilo que por vezes damos como garantido.

Chegou a noite,
e naquele silêncio disse-Te,
Obrigada, Senhor, pelas maravilhas com que me contemplaste ao longo deste dia.
Obrigada por mais um dia que nasceu, por ter acordado e ter a oportunidade de ver o sol.
Obrigada por mais um dia de vida, pela possibilidade de estudar e aprender um pouco mais do que aquilo que já sei.
Obrigada pelo alimento que nos dá força ao longo do dia.
Obrigada por poder celebrar conTigo e com todos, a Tua festa, aquela Missa, por poder ouvir aquelas palavras que, Tu sabes, tanto precisava de ouvir e que me fizeram pensar e sorrir.
Obrigada pela preocupação daquela pessoa, pelo ouvido atento daquele amigo, pelo abraço daquele irmão.
Obrigada pelos momentos de alegria e de convívio, e por ter tido oportunidade de assistir àquele espectáculo, que transmitiu uma mensagem, às vezes esquecida.
Obrigada pelas pessoas que se cruzam connosco ao longo de todo o dia, pelos seus sorrisos, pelos seus olhares.
Obrigada, Senhor, por poder estar a falar conTigo, agora, no aconchego da minha cama, e me permitires mais uma noite de sono.
Obrigada, Senhor, e muito mais ficou por te agradecer.

C.

domingo, 23 de março de 2014

Se for da Tua vontade



Amanhã, se for da Tua vontade, que eu acorde curada da minha cegueira para que os meus olhos, cheios da Tua luz, possam ver no amanhecer a beleza da Tua criação. Que eu saiba ver as pessoas à luz da Tua compaixão e assim veja espelhado, em cada uma delas, o reflexo do Teu amor.

Amanhã, se for da Tua vontade, que eu desperte da minha surdez para que possa ouvir nos sons que me rodeiam a doçura da Tua voz e, compreendendo as Tuas palavras, saiba tocar o mundo como Tu tocaste a minha vida.  Que a minha língua seja sempre instrumento da Tua paz oferecendo palavras de amizade, conselho e consolo a todos os que cruzarem o meu caminho. Que a minha boca cante sempre os Teus louvores reconhecendo, com gratidão e alegria, as maravilhas que fazes em nós.

Amanhã, se for da Tua vontade, transforma o meu coração de pedra num coração de carne capaz de amar o próximo como Tu nos amaste. Que eu saiba amar os meus inimigos e orar por aqueles que me perseguem sendo capaz de dar a outra face àqueles que me ofendem, oferecer também o meu manto a quem me pedir a túnica e caminhar duas milhas com quem me obrigar a caminhar uma.

Amanhã, se for da Tua vontade, que eu saiba renunciar-me a mim mesma, tomar a minha cruz e seguir-Te confiante que, ao perder a minha vida por causa de Ti, salvá-la-ei. Que eu saiba deixar que se cumpra em mim a Tua vontade para ser, como me pedes, sal da terra e luz do mundo.

Amanhã, se for da Tua vontade, que eu acredite. Curada da minha incredulidade e revestida de fé, que eu acredite por saber, enfim, ver para além do olhar, escutar para além do ouvir, amar para além do sentir e compreender que, se for da Tua vontade, manterás acesa em mim a chama do Teu amor que arde hoje em meu coração.

Amanhã, ao fim do dia, se for da Tua vontade, que a noite venha embalar o meu cansaço para que eu possa adormecer serena e feliz no Teu abraço. E, se for da Tua vontade, que no dia seguinte eu volte a acordar para de novo recomeçar.

Raquel Dias
http://www.imissio.net/v2/rezar-a-vida/se-for-da-tua-vontade:1804

sexta-feira, 21 de março de 2014

Obrigado pelas minhas mãos feias



Senhor obrigado pelas minhas mãos feias...
Obrigado pelas minhas mãos de pecador.

Mas obrigado por fazeres
das minhas mãos feias e de pecador as Tuas mãos.
Por estas minhas, tão fracas e feias,
tornas-te presente aos meus irmãos
quando abençoo,
quando as imponho,
quando as elevo para rezar
e, acima de tudo, quando Te torno presente no altar
e Te dou em alimento à Igreja que pobremente sirvo.

Obrigado, Senhor, pelas minhas mãos feias
que, por grande mistério, tornas belas.

Um Teu padre...

quarta-feira, 19 de março de 2014

Dá valor ao teu pai!



Este video mostra-nos a história de um filho que sempre reclamou da vida que o pai lhe ofereceu. Mas, quando o seu partiu, tudo começou a fazer sentido para o jovem. É um daqueles vídeos que nos fazem parar e repensar um pouco sobre a vida.

terça-feira, 18 de março de 2014

Os sobrinhos de Deus



Há católicos tão bem, tão bem, tão bem, que tratam Deus por tio. De facto, chamá-Lo pai seria ficar automaticamente irmã, ou irmão, dessa gentinha pé-descalça e malcheirosa que vai à Cova da Iria de xaile e garrafão. Tratá-Lo por Senhor seria reconhecer-se de uma condição servil, que está muito bem para as criadas e para os chauffeurs, mas que não é compatível com quem é, há várias gerações, gente de algo.

Os sobrinhos de Deus gostam muito de Jesus, porque Ele é superfantástico: andou sobre o mar e fez montes de coisas giríssimas. Gostam tanto d'Ele que até Lhe perdoam o ter sido carpinteiro, pormenor de gosto duvidoso que têm a caridade de omitir, sempre que, ao chá, falam d'Ele. Também têm muita devoção ao Espírito Santo: à família do banco, claro, pois conhecem-na toda da Quinta da Marinha e de um ror de sítios muito in, que tudo o que é gente frequenta.

Alguns foram a Fátima a pé e acharam o máximo. Levaram uns ténis de marca, roupa desportiva q. b. e um padre da moda. Rezaram imenso, tipo um terço, sei lá. O resto do tempo foi à conversa, sobretudo a cortar na casaca de uns quantos novos-ricos, um bocado beatos, que também se integraram na peregrinação (já agora, aqui para nós, mais por fervor aos sobrinhos de Deus do que a Nossa Senhora, mas note-se que isto não é ser má-língua, mas a pura verdade, à séria).

Têm imenso gosto e casas estupendas. Quando olham para um crucifixo em pau-santo, com imagem de marfim e incrustações de prata, são capazes de reconhecer o estilo, provavelmente indo-europeu, identificar a punção, pela certa de algum antigo joalheiro da Coroa, e a data, até porque, geralmente, é igualzinho a um lá de casa, ou muito parecido ao da capela da quinta. Só não vêem o Cristo, nem a coroa de espinhos, nem as chagas, que são coisas de menos importância.

Detestam essas modernices do abraço da paz ou da Igreja dos pobres, mas não é que tenham nada contra os pobres, apenas receio de doenças contagiosas.

Também não são muito fãs do senhor prior, nem do Papa Francisco, simplórios de mais para os seus gostos sofisticados. Mas derretem-se quando se cruzam, nalgum cocktail, exposição ou concerto na Gulbenkian, ou em São Carlos, com alguém que os fascine pelo seu glamour, pela sua cultura, pela sua inteligência ou poder porque, na realidade, o principal santo da sua devoção é o príncipe deste mundo.

Uma só coisa aflige os sobrinhos de Deus: que o céu, onde já têm lugar reservado, esteja mesmo, como se diz no sermão das bem-aventuranças, cheio de maltrapilhos.

1) Qualquer relação com a realidade não é coincidência, mas um azar dos diabos.

Gonçalo Portocarrero de Almada | Público, 08/01/2014

segunda-feira, 17 de março de 2014

Ser santo não é estar fora da realidade



Ser santo não é estar fora da realidade, ser ingénuo e viver sem alegria

Queridos amigos, o apóstolo São Paulo, em muitas das suas cartas, não tem receio de designar por «santos» os seus contemporâneos, os membros das comunidade locais. Aqui torna-se evidente que cada baptizado - ainda antes de poder realizar boas obras ou particulares acções - é santificado por Deus.

No baptismo, o Senhor acende, por assim dizer, uma luz na nossa vida, uma luz que o Catecismo chama a graça santificante. Quem conservar essa luz, quem viver na graça, é efectivamente santo.

Queridos amigos, a imagem dos santos foi repetidamente objecto de caricatura e apresentada de modo distorcido, como se o ser santo significasse estar fora da realidade, ser ingénuo e viver sem alegria.

Não é raro pensar-se que um santo seja apenas aquele que realiza acções ascéticas e morais de nível altíssimo, pelo que se pode certamente venerar mas nunca imitar na própria vida. Como é errada e desalentadora esta visão! Não há nenhum santo, à excepção da bem-aventurada Virgem Maria, que não tenha conhecido também o pecado e que não tenha caído alguma vez.

Queridos amigos, Cristo não se interessa tanto de quantas vezes vacilastes e caístes na vida, como sobretudo de quantas vezes vos erguestes. Não exige acções extraordinárias, mas quer que a sua luz brilhe em vós. Não vos chama porque sois bons e perfeitos, mas porque Ele é bom e quer tornar-vos seus amigos.

Sim, vós sois a luz do mundo, porque Jesus é a vossa luz. Sois cristãos, não porque realizais coisas singulares e extraordinárias, mas porque Ele, Cristo, é a vossa vida. Sois santos porque a sua graça actua em vós.

BENTO XVI
Vigília de Oração com os jovens na Feira de Freiburg im Breisgau 
24 de setembro de 2011

sábado, 15 de março de 2014

Tudo por amor



Em fevereiro de 2014, um dos amigos de Gerdi McKenna enviou um e-mail às suas amigas, convidando-as para uma sessão de fotografias uma vez que lhe tinha sido diagnosticado cancro da mama, alguns meses antes. Em solidariedade com Gerdi, as suas amigas decidiram surpreendê-la e raparam a cabeça também!

sexta-feira, 14 de março de 2014

Não morreu!



“...Não Morreu!...
Levanta o olhar para lá das nuvens
Da tristeza e da saudade e solidão…
Verás que aquele que amas continua teu,
Porque está vivo!...
Adormeceu...
Rasga o nevoeiro denso da amargura
Com os faróis da Fé e da Esperança
E verás que aquele que amas continua teu,
Porque está vivo!...
Adormeceu…
E quando transpuseres a curva da morte
Na caminhada veloz para os céus,
Reencontrarás aquele que partiu e amas
Eternamente vivo,
Na Vida de Deus…

Pe. Mário Salgueirinho

quinta-feira, 13 de março de 2014

Faleceu D. José Policarpo



Faleceu o nosso Patriarca Emérito
Faleceu esta Quarta-feira, aos 78 anos, o Patriarca Emérito de Lisboa, Cardeal José da Cruz Policarpo. O Patriarca Emérito encontrava-se em retiro em Fátima quando por uma indisposição foi levado para o Hospital do SAMS, onde veio a falecer vítima de um aneurisma na aorta.

 As exéquias presididas pelo Patriarca de Lisboa D. Manuel Clemente vão ser celebradas na sexta-feira, dia 14, às 16 horas na Sé Patriarcal, seguindo depois para o Panteão dos Patriarcas. 

Que Deus misericordioso, glória dos fiéis e vida dos justos, o faça alcançar as alegrias da bem-aventurança eterna.

quarta-feira, 12 de março de 2014

A oração do camponês


Um pobre camponês que regressava do mercado a altas horas da noite, percebeu que não levava consigo o seu livro de orações. 
Então, pensou em rezar da seguinte maneira: 
- Cometi uma verdadeira estupidez, Senhor. Saí de casa esta manhã sem o meu livro de oração e como tenho pouca memória, agora, não sou capaz de rezar nem sequer uma oração. De maneira que vou fazer uma coisa: vou rezar cinco vezes o alfabeto muito devagar, e tu, que conheces todas as orações, podes juntar as letras e formar essas oração que sou incapaz de recordar. 
E o Senhor disse aos seus anjos: 
- De todas as orações que escutei hoje, esta foi, sem dúvida, a melhor, porque brotou de um coração simples e sincero.

segunda-feira, 10 de março de 2014

Pobreza espiritual, caminho de vida



Há uma escultura de S. Francisco de Assis no Monte Alverne, Itália, em que ele está deitado na terra, a olhar. É uma imagem da santidade. A capacidade de se deitar a olhar, a ver, a reparar, a respeitar - olhar outra vez. Por vezes somos injustos com a vida, as coisas, os acontecimentos, porque não olhamos outra vez. O nosso ponto de vista já está muito cheio, muito condicionado, é um funil que deixou de ser abertura de coração.

Por um lado, devemos ter consciência da nossa autonomia. Deus tem de ser um caminho para cada pessoa. Não vivemos encostados à experiência de ninguém. Somos autónomos também no caminho da fé. A nossa relação com Deus é comunitária, sem dúvida, mas antes de tudo é pessoal. Deus não se revelou primeiro a um povo, mas a uma pessoa: Abraão, Moisés,... Um por um. Deus sabe o nosso nome, sabe o que somos. Isto também tem a ver com a aceitação da pobreza. É na pobreza que está a riqueza enquanto ponto de partida.

A par da autonomia, temos de viver na consciência de que dependemos inteiramente do amor de Deus. «Não temas, pequenino rebanho, porque agradou a teu Pai dar-te o Reino.»

A pobreza espiritual, encarnada por Jesus, tem ressonância no Antigo Testamento. Nesta tradição fala-se de um modo de ser e viver pobre em termos espirituais, concretizado pelos anawin, os pobres de Yahweh. O que Maria canta e testemunha no seu "Magnificat" é a reviravolta de Deus, que pôs os olhos na pobreza da sua serva, que retira os poderosos dos tronos e neles faz sentar os humildes, que despede os ricos de mãos vazias e enche os pobres das suas riquezas.

Um coração pobre está disponível para viver a alternativa de Deus, a lógica nova de Deus, as transformações, o modo de ver e atuar de Deus na história.

Jesus também nos ensina o caminho da pobreza espiritual. Quando atravessa a Samaria, acompanhado pelos discípulos, sente fome. Por vezes a fome é um momento espiritual importante. Não só a fome biológica, mas também a necessidade de outra coisa.

Os discípulos vão à aldeia buscar comida e, ao regressar, Jesus fala-lhes de outro alimento: fazer a vontade do Pai. Também nós fazemos um grande investimento para buscar o alimento, mas Jesus, à semelhança do diálogo com os discípulos, como que nos pergunta: «É disso que te alimentas?».

O verdadeiro alimento é vivermos a partir da condição de sermos filhos, de sermos filhos amados por Deus. Se vivemos a partir da convicção profunda de que é o amor de Deus que nos funda - o que o Pai diz a Jesus, «Tu és o meu filho muito amado, em ti coloco o meu amor» -, a nossa existência será completamente diferente. Deixaremos de andar de equívoco em equívoco. Saberemos verdadeiramente qual é o nosso alimento, o que nos sacia, o que é decisivo para nós.

A pobreza espiritual também se expressa na aceitação de si. Não temos apenas mal-entendidos com os outros. Por vezes, o maior e o mais difícil mal-entendido é connosco próprios. Não nos aceitamos, não nos abraçamos, não nos acolhemos, não nos perdoamos. Aceitar-me no que sou e não sou, no que fui, no que não fui, no que não consegui, no que correu bem e no que correu mal, na fraqueza e na fragilidade.

Como é que se torna fecunda a vida pobre? Na aceitação confiante de si. Como diz S. Paulo na segunda carta aos Coríntios (4, 7): «Trazemos em vasos de barro o nosso tesouro». E é sempre assim. Temos de aceitar o tesouro, mas também o barro, o barro que se quebra, o barro que se cola, o barro que não tem remédio, o barro que fica ferido.

O poeta brasileiro Manoel de Barros, com quase 90 anos, é uma das grandes figuras espirituais do nosso tempo: «Prefiro as máquinas que servem para não funcionar». Isto exige uma conversão. Porque nós preferimos o que funciona. «Porque cheias de areia, de formigas e de musgo, elas podem um dia milagrar flores». Há um milagre que só nos chega pela pobreza.

Há a história do monge perseguido por um tigre: o monge corre, o tigre também; o monge sobe a uma árvore, e também o tigre; o monge desce, o tigre imita-o. Chegado ao cume de uma montanha, percebe que de um lado tem o tigre e do outro o abismo. Então pensa: no abismo haverá, possivelmente, alguma coisa que amorteça a queda; e então atira-se. Ao cair, fica preso numas raízes, com o tigre, no alto, a olhar para ele. Mas as raízes começam a ceder com o peso, e daí a momentos ele vai cair onde não sabe. Olhando à volta, encontra um morangueiro, estende o braço e come um belíssimo morango, sentindo todo o seu sabor.

A nossa vida tem o tigre, tem as raízes que cedem, tem o que não sabemos à nossa espera. A atitude da pobreza é a convicção de que, no meio da aflição, os morangos não perdem o sabor. Que os encontros não perdem o sabor. Que sejamos capazes de perceber o sabor que nos é dado, mesmo que não seja nas condições, no modo, no dia ou no tempo que tínhamos previsto. O pobre recebe infinitamente mais do que previa.

Como o mestre que chama o discípulo para a primeira lição, que é tomar chá. Ao deitar chá para o chávena do aprendiz, não para, e então o chá transborda. O discípulo, assustado, grita: «Mestre, o chá está a espalhar-se por todo o lado». E o mestre diz-lhe: «É a primeira lição: se não tiveres o coração vazio, vai perder-se tudo aquilo que ouvires e viveres».

Como é que pode acontecer que passem semanas e nada nos toque? Como podemos dizer que não vemos Deus em nenhum lado? S. Francisco andava com uma varinha a bater nas rochas, nas flores e nas criaturas, e dizia-lhes: «Para, para, não me fales de Deus».

Esta pobreza espiritual é chamada a expressar-se num estilo de vida essencial. É importante que cada pessoa se pergunte o que quer testemunhar. Porque nós estamos sempre a testemunhar.

Diz Rumi: O que é que eu deixo em herança? Deixo em herança a primeira brisa do outono e o primeiro canto do cuco na primavera. O que é que nós deixamos em herança? Podemos até deixar bens, mas se não deixamos o sabor da vida, o sentido, a transparência, se não deixamos a brisa do outono e o canto do cuco na primavera, então não deixamos nada, não testemunhamos nada.

O que possuímos, possuí-nos. Devemos estar muito alerta e perguntar: eu quero possuir isto? Que é como quem diz, eu quero ser possuído por isto? Se pensarmos assim, ganhamos outra liberdade, que é um caminho exigente, de pequenas e grandes escolhas, de momentos extraordinários e da vida de toda a hora.

Queremos viver para dar testemunho do amor e do acolhimento, ou queremo-nos protegidos através do conforto e da segurança?

Rezemos a nossa vida. Perguntemo-nos o que nos alimenta, o que nos toca, perguntemos se só vemos a meta ou se aceitamos a nossa vida pobre e vazia. Perguntemos se em cada dia franqueamos as muralhas do nosso coração.

«O ser humano é uma casa de hóspedes; cada manhã, um novo recém-chegado, uma alegria, uma tristeza, uma maldade, que vem como um visitante inesperado. Diz-lhes que são bem-vindos, e recebe-os a todos, ainda se são um coro de penúrias que esvaziam a tua casa violentamente. Trata cada hóspede com todas as honras; ele pode estar a criar-te um espaço para uma nova delícia. O pensamento obscuro, a vergonha, a malícia, recebe-os à porta sorrindo e convida-os a entrar. Agradece a quem quer que venha, porque cada um foi enviado como um guia do Além».



P. José Tolentino Mendonça

sábado, 8 de março de 2014

O jejum mais difícil é a bondade e a ternura



O jejum mais difícil é a bondade e a ternura, diz papa Francisco

A relação entre a espiritualidade cristã, especialmente no tempo da Quaresma, e o afeto pelos pobres e excluídos que resulta em ações concretas estiveram no centro da homilia que o papa Francisco proferiu esta sexta-feira no Vaticano.

O jejum que Deus quer é aquele «que se preocupa com a vida do irmão, que não se envergonha – diz o próprio profeta Isaías – da carne do irmão», vincou Francisco na missa a que presidiu, revela a Rádio Vaticano.

«A nossa perfeição, a nossa santidade progride com o nosso povo, no qual somos escolhidos e inseridos. O nosso maior ato de santidade é precisamente na carne do irmão e na carne de Jesus Cristo», assinalou.

Por isso, prosseguiu, o gesto de santidade que se deve apresentar no altar «não é um jejum hipócrita, mas não envergonhar-se da carne de Cristo», do «mistério do [seu] Corpo e Sangue» presente na Eucaristia.

A santidade consiste em «dividir o pão com o faminto, curar os doentes, os idosos, aqueles que não podem dar nada em troca: isso é não se envergonhar da carne», afirmou, vincando que o «jejum mais difícil» é o «jejum da bondade».

Depois de mencionar a narrativa do bom samaritano, que ao contrário de um sacerdote, teve compaixão de um homem caído à beira do caminho depois de ter sido atacado por assaltantes, o papa questionou: «Esta é a proposta da Igreja hoje: envergonho-me da carne do meu irmão, da minha irmã?».

«Quando dou uma esmola, olho nos olhos do meu irmão, da minha irmã? Quando sei que uma pessoa está doente, vou ao seu encontro? Saúdo-a com ternura? Há um sinal que talvez nos ajude, é uma pergunta: sei acariciar os doentes, os idosos, as crianças, ou perdi o sentido da carícia?», interrogou.

Francisco criticou o cumprimento formal dos preceitos sem coração: «Receber do Senhor o amor de um Pai, receber do Senhor a identidade de um povo e depois transformá-la numa ética é recusar esse dom de amor. Essa gente hipócrita são pessoas boas, fazem tudo o que se deve fazer. Parecem boas. São moralistas, mas moralistas sem bondade porque perderam o sentido de pertença a um povo».

Os fariseus «hipócritas», apontou Francisco, «não sabiam acariciar, tinham-se esquecido»: «Não se envergonhar da carne do nosso irmão: é a nossa carne. Como fizermos com este irmão, com esta irmã, assim seremos julgados», concluiu.


Rádio Vaticano
Trad./edição: SNPC/rjm

sexta-feira, 7 de março de 2014

O que ponho em tuas mãos



Senhor,
se da dura pedra
tiras um fio de água,
tira do chão desta mágoa
um fio de louvor.
Tira de mim
o que não possa dar-te
e só tu me dás.
O que ponho em tuas mãos.
São as tuas mãos
que o traz!

quinta-feira, 6 de março de 2014

Não te contentes



Não te contentes em receber a cinza na cabeça.
Lembra-te que és pó.
 
Não te contentes em arrepender-te.
Acredita no Evangelho.
 
Não te contentes em converter os outros.
Converte-te.
 
Não te contentes em mudar a cor das coisas.
Muda as coisas.
 
Não te contentes em ser feliz.
Faz feliz alguém.
 
Não te contentes em esperar a Terra Prometida.
Aceita o Reino que já chegou.
 
Não te contentes em ler este poema de boas intenções.

Faz o teu de realidades. 

quarta-feira, 5 de março de 2014

Tempo da nova criação



Toma em tuas mãos, Senhor,
A nossa terra ardida.
Beija-a.
Sopra nela outra vez o teu alento,
A tua aragem,
E veremos nela outra vez impressa a tua imagem.

Tu sabes bem, Senhor, que somos frágeis,
Mas que contigo por perto
Seremos fortes e ágeis,
Capazes de abrir estradas no deserto,
A céu aberto, a céu aberto.

António Couto

terça-feira, 4 de março de 2014

Cordas



Mt 6, 1-6.16-18"Cordas", é um curta espanhol e foi premiado no Goya 2014 na categoria de "melhor curta-metragem de animação". O seu criador Pedro Solís possui dois filhos que serviram de inspiração para o filme, sendo o menino portador de paralisia cerebral.

segunda-feira, 3 de março de 2014

Movidos por Deus




É bom que cada um de nós perceba o papel para o qual Deus nos chamou. Por mais simples que seja a tarefa a desempenhar, importa que seja movida por Ele e não por interesses terrenos. Não nos deixemos levar por empurrões humanos, eivados de egoísmo. Indisponhamo-nos a caminhar a reboque de impulsos sem ponta de amor. Avancemos, antes, de acordo com o incentivo recebido de Deus. Escutemos a Sua voz e recebamos com entusiasmo o que nos coloque em mãos. Não nos sintamos desprestigiados ou desconsiderados por ninguém quando nos limitámos a obedecer às Suas ordens.

Independentemente do nosso passado ou das reservas que outros tenham acerca de nós, baste-nos a convicção de que foi Deus que nos lançou o desafio e é por Ele que o levamos a cabo. Nada se deve sobrepor à certeza de que agimos por inteira rendição a Jesus. Com base nesta premissa, encorajemo-nos mutuamente a perseguir tão nobre alvo. Desejemos a todos quantos nos dirigirmos que o favor de Deus se manifeste abundantemente neles. Recordemos, sempre que for preciso, que é a Jesus que servimos e só a Ele que queremos destacar: “O qual se deu a si mesmo por nossos pecados, para nos livrar do presente século mau, segundo a vontade de Deus nosso Pai. Ao qual seja dada glória para todo o sempre.”

Selemos, pois, este propósito sendo-Lhe fieis diariamente.

cf. Gal 1, 1-5

Jónatas Figueiredo

domingo, 2 de março de 2014

Eu me abandono a Ti!



“Meu Pai,
Eu me abandono a Ti!
Faz de mim o que quiseres.

O que fizeres de mim,
Eu Te agradeço.

Estou pronto para tudo, aceito tudo.
Desde que a Tua vontade se faça em mim
e em tudo o que Tu criastes!

Nada mais quero, meu Deus.

Nas Tuas mãos
entrego a minha vida.

Eu Te a dou, meu Deus,
com todo o amor do meu coração,
porque Te amo

E é para mim uma necessidade de amor dar-me,
Entregar-me nas Tuas mãos sem medida
com uma confiança infinita

Charles de Foucauld

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...