sábado, 8 de março de 2014

O jejum mais difícil é a bondade e a ternura



O jejum mais difícil é a bondade e a ternura, diz papa Francisco

A relação entre a espiritualidade cristã, especialmente no tempo da Quaresma, e o afeto pelos pobres e excluídos que resulta em ações concretas estiveram no centro da homilia que o papa Francisco proferiu esta sexta-feira no Vaticano.

O jejum que Deus quer é aquele «que se preocupa com a vida do irmão, que não se envergonha – diz o próprio profeta Isaías – da carne do irmão», vincou Francisco na missa a que presidiu, revela a Rádio Vaticano.

«A nossa perfeição, a nossa santidade progride com o nosso povo, no qual somos escolhidos e inseridos. O nosso maior ato de santidade é precisamente na carne do irmão e na carne de Jesus Cristo», assinalou.

Por isso, prosseguiu, o gesto de santidade que se deve apresentar no altar «não é um jejum hipócrita, mas não envergonhar-se da carne de Cristo», do «mistério do [seu] Corpo e Sangue» presente na Eucaristia.

A santidade consiste em «dividir o pão com o faminto, curar os doentes, os idosos, aqueles que não podem dar nada em troca: isso é não se envergonhar da carne», afirmou, vincando que o «jejum mais difícil» é o «jejum da bondade».

Depois de mencionar a narrativa do bom samaritano, que ao contrário de um sacerdote, teve compaixão de um homem caído à beira do caminho depois de ter sido atacado por assaltantes, o papa questionou: «Esta é a proposta da Igreja hoje: envergonho-me da carne do meu irmão, da minha irmã?».

«Quando dou uma esmola, olho nos olhos do meu irmão, da minha irmã? Quando sei que uma pessoa está doente, vou ao seu encontro? Saúdo-a com ternura? Há um sinal que talvez nos ajude, é uma pergunta: sei acariciar os doentes, os idosos, as crianças, ou perdi o sentido da carícia?», interrogou.

Francisco criticou o cumprimento formal dos preceitos sem coração: «Receber do Senhor o amor de um Pai, receber do Senhor a identidade de um povo e depois transformá-la numa ética é recusar esse dom de amor. Essa gente hipócrita são pessoas boas, fazem tudo o que se deve fazer. Parecem boas. São moralistas, mas moralistas sem bondade porque perderam o sentido de pertença a um povo».

Os fariseus «hipócritas», apontou Francisco, «não sabiam acariciar, tinham-se esquecido»: «Não se envergonhar da carne do nosso irmão: é a nossa carne. Como fizermos com este irmão, com esta irmã, assim seremos julgados», concluiu.


Rádio Vaticano
Trad./edição: SNPC/rjm

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