sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Super Papa

Maupal, criador do grafito do "SuperPapa": Não vou à igreja mas gosto de Francisco; é o único a usar o poder para o bem

Na segunda-feira, com a escuridão a seu favor («em teoria é uma ação ilegal, faz-se sempre de noite»), Mauro Pallota, pintor de profissão, artista de rua por paixão, desenhou na parede de uma das ruas de Roma, a dois passos do Vaticano, o "SuperPapa".
«É um grafito ecológico e removível» que retrata o papa Francisco nas vestes de um super-herói», diz Mauro, nascido em 1972, que esta quarta-feira não teve descanso, com o telefone a tocar todo o dia.

«Disseram-me para ir à Via Plauto [onde o grafito foi desenhado] e encontrei câmaras de filmar, fotógrafos, jornalistas», recordou o artista, que esperava uma apreciação favorável mas nunca imaginou que desse a volta ao mundo.

«Os meus trabalhos de rua tiveram sempre reações positivas; pensava que este iria fazer um pouco mais de rumor, mas não que chegasse a todo o lado», disse sobre o grafito que o Pontifício Conselho das Comunicações Sociais publicou no seu perfil na rede social Twitter.
«Levei mais tempo a encontrar a parede certa sobre o qual o fixar do que a desenhá-lo», conta "Maupal", como assina. «Quanto à zona - prosseguiu - nunca tive dúvidas: em Borgo Pio, o bairro papal por excelência, onde nasci e cresci, e aqui hoje todos adoram Francisco.»

FotoMauro Pallota junto do grafito

«Precisamente pela empatia que consegue criar à sua volta, o papa é muito pop, e quis desenhá-lo pop, como numa banda desenhada. Os superpoderes de que o dotei representam o enorme poder de que dispõe, que ele usa, o único líder no mundo, para fazer o bem. É o único que faz aquilo que diz e diz aquilo que faz.»

«Os heróis das bandas desenhadas americanos descendem dos da mitologia grega, e eu quis interpretá-lo nessa chave, mas com toques de humanidade, como o cachecol da equipa argentina do San Lorenzo, por quem ele torce, os sapatos velhos e aquela mala preta de que nunca se separa.»

«A ideia chegou-me numa tarde, há algumas semanas: estava a folhear um pequeno jornal de super-heróis quando na televisão começaram a falar do papa. Na minha cabeça foi como um curto-circuito: o papa é um super-herói.

Pallota teve uma educação católica, mas hoje «não frequenta». Por isso, parece-lhe que a sua homenagem a Francisco faz ainda mais sentido: «Gosto precisamente dele como homem, não porque acredite».

Grafito

Piero Negri
In Vatican Insider
Trad./redação: rjm
30.01.14

in http://www.snpcultura.org/maupal_superpapa.html

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Puppy love



É difícil conteres-te!

No ano passado, o anúncio ‘Brotherhood’ da Budweiser para o Super Bowl, conquistou o coração de milhões de pessoas, quando um cavalo reconheceu o seu criador no fim de um desfile na cidade. Como equipa vencedora não se mexe, este ano a Budweiser voltou a usar um cavalo da raça Clydesdale só que desta vez juntou também um labrador bebé.

O resultado não podia ser melhor! Uma representação maravilhosa do que é a amizade e o amor.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

Questão de peso


"Não abandones a tua alma à tristeza,
não te atormentes a ti mesmo nos teus pensamentos.
A alegria do coração é a vida do homem,
e a alegria do homem aumenta a sua longevidade.
Anima a tua alma e consola o teu coração
e afasta a tristeza para longe de ti,
porque a tristeza faz morrer a muitos,
e nela não há nenhuma utilidade.
A inveja e a ira abreviam os dias,
e a inquietação faz chegar à velhice antes do tempo.
Um coração bondoso está num contínuo festim,
ele cuida da sua alimentação."

Sir 30, 21-25

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

Criar laços



Na Missa com as crianças, perguntei-lhes o que significava ser "pescador de homens"? E o Diogo, numa frase que me irá marcar para sempre, prontamente respondeu: "É criar laços!"

domingo, 26 de janeiro de 2014

"Pai nosso" de Deus



Filho Meu, que estás na terra,
Preocupado, tentado, solitário,
Eu conheço perfeitamente o teu nome
E pronuncio-o como que santificando-o
Porque te amo.
Não, não estás só, mas habitado por Mim,
E juntos construímos este reino,
De que irás ser o herdeiro.
Alegra-me que faças a Minha vontade,
Porque a Minha vontade é que tu sejas feliz,
Já que a glória de Deus é o homem vivo.
Conta sempre comigo
E terás o pão para hoje, não te preocupes!
Só te peço que saibas repartir com o teu irmão.
Sabes que perdoo todas as tuas ofensas,
Antes mesmo de te arrependeres;
Por isso te peço que faças o mesmo
Àqueles que te ofendem a ti.
Para que nunca caias em tentação,
Segura firme a minha mão
E eu livrar-te-ei do mal,
Meu querido filho.

sábado, 25 de janeiro de 2014

Que quereis, Senhor, de mim?



Vosso sou, para Vós nasci,
Que quereis Senhor de mim?

Vossa sou, pois me criastes,
Vossa, pois me redimistes,
Vossa, pois me sofrestes,
Vossa, pois me chamastes,
Vossa, porque me esperastes,
Vossa, pois não me perdi.
Que quereis Senhor de mim?

Eis aqui meu coração,
Eu o ponho em vossas palmas,
Meu corpo, a vida, a alma,
O meu íntimo e afeição;
Doce Esposo e redenção
Pois por vós eu me ofereci.
Que quereis Senhor de mim?


Dai-me a morte, dai-me a vida:
Dai-me saúde ou enfermidade,
Honra ou desonra me dai,
Dai-me guerra ou paz sentida,
Fraqueza ou força vivida,
Que a tudo digo que sim.
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me riqueza ou pobreza,
Dai consolo ou desconsolo,
Dai-me alegria ou tristeza,
Dai-me inferno, ou dai-me o céu,
Vida doce, sol sem véu,
Pois a tudo me rendi.
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis, dai-me oração,
Se não, dai-me estiagem,
Se abundância e devoção,
E se não esterilidade.
Soberana Majestade,
Só encontro paz aqui,
Que quereis, Senhor, de mim?

Dai-me, pois, sabedoria,
Ou, por amor, ignorância,
Dai-me anos de abundância,
Ou de fome e carestia;
Dai trevas ou claro dia
Revolvei-me aqui ou ali
Que quereis, Senhor, de mim?

Se quereis que esteja folgando,
Quero por amor folgar.
Se me mandais trabalhar,
Quero morrer trabalhando.
Dizei, onde, como e quando?
Dizei, doce Amor, e repeti.
Que quereis, Senhor, de mim?

Vossa sou, para Vós nasci,
Que quereis, Senhor, de mim?

Santa Teresa de Jesus

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Ciúme e inveja



Ciúme e inveja são venenos que matam a alegria e a Igreja, afirma papa Francisco

O papa Francisco vincou esta quinta-feira, na missa a que presidiu no Vaticano, que o ciúme, a inveja e as murmurações destroem as relações entre os cristãos e prejudicam a Igreja.

«Uma comunidade cristã, quando sofre – alguns dos seus membros – de inveja, de ciúme, acaba por se dividir: um contra o outro. Este é um veneno forte», afirmou Francisco, citado pela Rádio Vaticano.

A «morte» é o resultado do ciúme e da inveja, tendo sido por esta «que o diabo entrou no mundo», realçou o papa ao referir-se à figura de Caim, que surge nas páginas iniciais do livro do Génesis, o primeiro da Bíblia.

No coração de uma pessoa atingida pelo ciúme e pela inveja ocorrem «duas coisas claríssimas», a começar pelo azedume: «A pessoa invejosa, a pessoa ciumenta, é uma pessoa amarga: não sabe cantar, não sabe louvar, não sabe o que é a alegria, olha sempre para “o que aquele tem e eu não tenho”».

«Isto conduz ao azedume, um azedume que se espalha por toda a comunidade. São, estes, semeadores do azedume».

O segundo comportamento daninho é dizer mal dos outros: Porque este não tolera que aquele tenha algo, a solução é rebaixar o outro, para que eu seja um pouco mais alto. E o instrumento são as murmurações».

«Uma pessoa que está sob a influência da inveja e do ciúme, mata», porque, como refere o apóstolo S. João, «quem odeia o seu irmão é um homicida», e «o invejoso, o ciumento, começa a odiar o irmão», assinalou Francisco.

«Hoje, nesta missa, rezemos pelas nossas comunidades cristãs, para que esta semente do ciúme não seja cultivado entre nós, para que a inveja não tome lugar no nosso coração, no coração das nossas comunidades, e assim possamos avançar com o louvor do Senhor, louvando o Senhor com a alegria», apontou.

A terminar, Francisco sublinhou: «É uma graça grande, a graça de não cair na tristeza, no estar ressentido, no ciúme e na inveja».

Rádio Vaticano

quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

A obediência a cristo mede-se pela capacidade de perdoar



O modo como reagimos a quem nos fez mal diz muito sobre a nossa caminhada com Deus. Por muito venenosas que tenham sido as flechas disparadas, o exercício do perdão é imperativo para nós. É certo que não se pode ignorar a etapa da admoestação ou sublimar o degrau da correcção, no entanto, a conduta cristã visa a recuperar e não penalizar. 

Quando alguém nos ofende ou prejudica intencionalmente, garantamos que os passos disciplinares são dados sem que afundem o infractor. A repreensão é útil desde que não fustigue o arrependido. Prefira-se a disciplina de matriz redentora à de cariz punitivo. Não se insista no prolongamento do castigo, pois já bem basta a dor de se ter caído em falta e de se ser sujeito a uma reprimenda, seja ela individual ou comunitária. Haja discernimento para não levar ao desespero quem já sofre pelo mal que produziu.

Perdoemo-nos e consolemo-nos uns aos outros de modo que ninguém “seja devorado por demasiada tristeza.” Confirmemos, junto daqueles que tropeçaram, o amor fraternal que por eles sentimos. É quando uma pessoa está na fossa que mais precisamos de estender a mão para de lá a retirar. Evitemos cair no ardil do rancor ou da vingança.

A nossa obediência a Cristo mede-se pela capacidade de perdoar, seja de que dimensão for a afronta.

Jónatas Figueiredo

quarta-feira, 22 de janeiro de 2014

Interioridade



Vivemos num mundo que nos puxa, constantemente, para fora de nós, para substituir a vida interior pela realidade virtual. Agora, vivemos as vidas das outras pessoas – personagens de telenovelas televisivas, de histórias das séries dramáticas, das celebridades dos jogos de entretenimento, das figuras do desporto, em campo ou fora dele, dos reality shows que fazem de nós todos voyeurs. A vida interior é coisa do passado – ou, se não é completamente do passado, também não é uma coisa muito confortável.

A primeira coisa que um noviço aprende a respeito do processo de oração é a forma de se sentar imóvel, de não fazer nada, de aprender a tornar-se consciente do caos que existe dentro de nós, em vez de o preencher com o caos que existe fora de nós. O caos que está dentro de nós é o princípio do relacionamento com Deus. É aqui que espreita a matéria de que é feita a nossa inquietude, a nossa ambição, o nosso narcisismo, a nossa confusão. E, assim, é aqui que temos de começar a compreender a verdadeira corrente submersa, constante, dentro de nós. É aí que encontraremos e daremos nome aos verdadeiros medos, às esperanças mais profundas, aos mais completos sentimentos da vida.

Não, esta luta da alma não é agradável. Mas os sentimentos e a fidelidade não são a mesma coisa. O sentimento diz-nos onde não queremos estar. A fidelidade diz-nos que, para crescermos, temos de permanecer onde somos necessários. É aquilo que nos incomoda, nos silêncios mais terríveis, que deve ser domesticado, se alguma vez quisermos crescer para além do ego e nos braços de Deus.

Contudo, não podemos encontrar Deus enquanto não conseguirmos, finalmente, escutar o silêncio, permanecer nus diante de Deus, fazendo as pazes com o ego.

A fidelidade, a contínua convicção de que Deus é Aquele que espera por nós na parte mais profunda no nosso eu interior, é o que nos mantém no processo de dominar as tempestades, por muito tempo que esse processo possa demorar.

Mas, sem a fidelidade ao processo de interiorização – sem a vontade de nos retirarmos dos ruídos plásticos que nos rodeiam para aprendermos os sons do silêncio, que são o chamamento de Deus, o verdadeiro bem nunca poderá chegar. O chamamento a uma vida para além do caos interior, a formação de ideias novas, ricas e mais substanciais, a focagem da alma em Deus, a quebra das cadeias provenientes do nosso apego àquilo que é superficial, são a recompensa da vida interior.

É a vida interior que nos liberta para sermos os nossos eus reais e totais. Liberta-nos para um relacionamento com Deus.

Joan Chittister
In O sopro da vida interior, ed. Paulinas


terça-feira, 21 de janeiro de 2014

Como é que se esquece alguém que se ama?



Como é que se esquece alguém que se ama? Como é que se esquece alguém que nos faz falta e que nos custa mais lembrar que viver? Quando alguém se vai embora de repente como é que se faz para ficar? Quando alguém morre, quando alguém se separa - como é que se faz quando a pessoa de quem se precisa já lá não está?

As pessoas têm de morrer; os amores de acabar. As pessoas têm de partir, os sítios têm de ficar longe uns dos outros, os tempos têm de mudar Sim, mas como se faz? Como se esquece? Devagar. É preciso esquecer devagar. Se uma pessoa tenta esquecer-se de repente, a outra pode ficar-lhe para sempre. Podem pôr-se processos e acções de despejo a quem se tem no coração, fazer os maiores escarcéus, entrar nas maiores peixeiradas, mas não se podem despejar de repente. Elas não saem de lá. Estúpidas! É preciso aguentar. Já ninguém está para isso, mas é preciso aguentar. A primeira parte de qualquer cura é aceitar-se que se está doente. É preciso paciência. O pior é que vivemos tempos imediatos em que já ninguém aguenta nada. Ninguém aguenta a dor. De cabeça ou do coração. Ninguém aguenta estar triste. Ninguém aguenta estar sozinho. Tomam-se conselhos e comprimidos. Procuram-se escapes e alternativas. Mas a tristeza só há-de passar entristecendo-se. Não se pode esquecer alguem antes de terminar de lembrá-lo. Quem procura evitar o luto, prolonga-o no tempo e desonra-o na alma. A saudade é uma dor que pode passar depois de devidamente doída, devidamente honrada. É uma dor que é preciso aceitar, primeiro, aceitar.

É preciso aceitar esta mágoa esta moinha, que nos despedaça o coração e que nos mói mesmo e que nos dá cabo do juízo. É preciso aceitar o amor e a morte, a separação e a tristeza, a falta de lógica, a falta de justiça, a falta de solução. Quantos problemas do mundo seriam menos pesados se tivessem apenas o peso que têm em si , isto é, se os livrássemos da carga que lhes damos, aceitando que não têm solução.

Não adianta fugir com o rabo à seringa. Muitas vezes nem há seringa. Nem injecção. Nem remédio. Nem conhecimento certo da doença de que se padece. Muitas vezes só existe a agulha.

Dizem-nos, para esquecer, para ocupar a cabeça, para trabalhar mais, para distrair a vista, para nos divertirmos mais, mas quanto mais conseguimos fugir, mais temos mais tarde de enfrentar. Fica tudo à nossa espera. Acumula-se-nos tudo na alma, fica tudo desarrumado.

O esquecimento não tem arte. Os momentos de esquecimento, conseguidos com grande custo, com comprimidos e amigos e livros e copos, pagam-se depois em condoídas lembranças a dobrar. Para esquecer é preciso deixar correr o coração, de lembrança em lembrança, na esperança de ele se cansar.

Miguel Esteves Cardoso, in 'Último Volume'

segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

Assíduo na oração



«Procure ser assíduo na oração
e não a abandone no meio dos seus afazeres materiais.
Quer coma,
quer beba,
quer fale
ou se relacione com as pessoas,
quer faça qualquer outra coisa,
traga sempre um desejo de Deus
e afeiçoe-lhe o coração,
que é coisa muito importante para a solidão interior.
É preciso não deixar poisar a alma em pensamento algum
que não esteja voltado para Deus.»

S. João da Cruz | 1542 - 1591 
Quatro Avisos a um Religioso, 9

Senhor,
S. Paulo ensina-me que
“tudo o que fizeres seja em nome do Senhor Jesus”.
Sei que isto não se aplica apenas aos sacerdotes
ou consagrados,
mas a mim, a todos.
Ser cristão de facto é viver conTigo,
sob o Teu olhar e a Tua acção.
Senhor Jesus, quero viver sempre conTigo,
de forma que o tempo da oração
não seja diferente dos outros momentos do meu dia.
Posso estar conTigo quando em oração,
quando estou sozinho,
quando estou a trabalhar,
quando estou com outras pessoas.
Que tudo faça em Teu nome,
mantendo-Te como o objecto do meu amor
através de todas as coisas…
e encontrar-Te-ei,
conhecer-Te-ei
e deixar-me-ei amar sempre mais por Ti,
para que o amor que me tens esteja em mim
e o possa derramar sobre os meus irmãos,
com generosidade.

domingo, 19 de janeiro de 2014

A união contigo



«Estimo muito este pensamento
de que a vida do sacerdote (e da carmelita)
é um Advento que prepara a Incarnação nas almas;
David canta num salmo, “que o fogo andará diante do Senhor”.
O fogo não é justamente o amor?
E não será também a nossa missão
preparar as vias do Senhor
pela nossa união com Aquele
que o Apóstolo chama um “fogo consumidor”?
Pelo contacto com ele
a nossa alma há-de se tornar como uma chama de amor
espalhando-se por todos os membros
do corpo de Cristo que é a Igreja;
então havemos de consolar o Coração do nosso Mestre
e Ele poderá dizer mostrando-nos ao Pai: “Já sou glorificado neles.”»

Beata Isabel da Trindade | 1880 - 1906 
Carta 250

Senhor,
preparo os caminhos do Teu filho Jesus,
pela união conTigo.
E que união é essa?
Sacrificar-me, por amor, pelos meus irmãos:
amá-los, perdoá-los,
ajudá-los a despertar para os valores do Reino:
amor, justiça, paz, verdade, honestidade, humildade.
Senhor,
eu próprio estou tão longe da fidelidade
nestas pequenas coisas.
Só o conseguirei unindo-me a Ti,
escutando-Te, confiando em Ti.
Assim prepararei os caminhos
para vires até mim, até nós!
Assim brotarão flores nos desertos
e nos terrenos pedregosos!
Ajuda-me, Senhor!

sábado, 18 de janeiro de 2014

Oração da Alma Enamorada




Se ainda Vos recordais dos meus pecados
para não me fazeres o que Vos tenho andado a pedir,
fazei neles, meu Deus, a Vossa vontade,
pois é o que eu mais quero;
fazei sentir a Vossa bondade e misericórdia
e neles sereis conhecido.
E se estais à espera das minhas obras
para atenderdes o meu pedido,
dai-mas Vós
e realizai-as por mim,
bem como as penas que quiserdes aceitar, e faça-se.»
«Mas se pelas minhas obras não esperais,
então porque esperais, meu clementíssimo Senhor?
Porque tardais?
E já que, enfim, há-de ser graça e misericórdia
o que em vosso Filho Vos peço,
recebei o meu nada,
já que o quereis,
e concedei-me este bem,
que também é o que quereis.
Quem se poderá livrar destes modos e baixos termos
se não sois Vós, meu Deus, a erguê-lo para Vós
em pureza de amor?
Como se elevará até Vós o homem gerado
e criado em baixezas,
se não sois Vós, Senhor, a deitar-lhe a mão com que o fizestes?
Meu Deus, não me ireis roubar o que me destes um dia
no vosso único Filho, Jesus Cristo,
no qual me destes tudo quanto quero;
por isso, espero e confio em que não tardarás.

S. João da Cruz | 1542 – 1591

quinta-feira, 16 de janeiro de 2014

Dedicar a paróquia ao Coração de Maria


Uma voz interior instando-o a dedicar a sua paróquia ao Imaculado Coração de Maria

No mesmo ano em que H. Quelen, arcebispo de Paris, autorizou a cunhagem da Medalha Milagrosa (1832), o Padre Desgenettes foi nomeado Pároco de Nossa Senhora das Vitórias. Ele se sentia perturbado pela descrença do mundo dos negócios e do dinheiro a povoar a sua paróquia.

No dia 3 de dezembro, enquanto celebrava a Missa, ouviu uma voz interior, instando-o a dedicar a sua paróquia ao Imaculado Coração de Maria. Logo, construiu uma confraria de orações. As conversões se multiplicaram. A Puríssima, a Toda-Pura quis revelar-se como o Refúgio dos pecadores.

A Igreja dos Agostinianos descalços, ou Petits-Pères, foi colocada sob a invocação de Nossa Senhora das Vitórias pelo rei Luís XIII, em reconhecimento da tomada de La Rochelle (1628).

A partir de então, a Igreja evoca a vitória de Maria sobre o pecado, assim como a maternal acolhida que a Santa Mãe de Deus reserva aos pecadores.

 
Extrato da Liturgia das Horas
Próprio das Dioceses de Paris, Créteil, Nanterre e Saint- Deni

Papa Francisco às claras

domingo, 12 de janeiro de 2014

Eu sei...


Há muito que perdi a vela do meu baptismo. Contingências da vida, das várias mudanças de casa, de país, de estado civil. Mas há tão pouco tempo re-descobri o que é ser baptizada. Há 33 anos, desceu sobre mim o Teu Espírito e eu tornei-me numa filha de Deus muito amada. Mas como filha ingrata que fui, quase toda a minha vida, depressa esqueci da graça e do amor que derramaste sobre mim a 12 de Janeiro de 1980. A chama apagou-se. Deixei de acreditar. Preferi caminhar sozinha, na arrogância de quem acha que tudo sabe e de quem não precisa de ninguém. Que insensata foi a minha decisão. Que sinuoso e solitário foi o meu percurso. Contudo, quantas provas superei, por mais duras que tenham sido as lições, sem nunca compreender ao certo porquê. Que peso carreguei nos meus ombros, sem saber ao certo como. Quantas vezes segui em frente, quando só me apetecia desistir, sem saber onde tinha ido buscar forças.

Sei, hoje, que nunca estive verdadeiramente sozinha. Como deve ter sido difícil para Ti, ver um dos teus filhos amados sofrer por teimosia e orgulho. Como deves ter sofrido com a minha ingratidão e, ainda assim, nunca deixaste que nada me faltasse. Podes nem sempre me ter dado o que eu queria, mas deste-me sempre o que eu precisava. Estiveste presente em cada momento, ainda que eu não tenha sido capaz de ver ou ouvir os Teus sinais, nem sentir a Tua presença.

Sei, hoje, que o caminho que escolhi pode não ter sido o mais fácil, por estar tão longe de Ti, mas também sei que ele fez de mim a pessoa que sou, com todas as minhas qualidades e defeitos.

Sei hoje, que me deste apenas o tempo que eu precisava para reencontrar o caminho que me reconduzia a Ti. E que maravilhoso foi o nosso reencontro. Que alegria senti ao perceber que o vazio que sentia no peito era apenas ausência. Ausência de alguém que, afinal, esteve sempre presente.

Sei, hoje, que posso ter perdido a vela do meu baptismo mas o fogo do Teu amor arde permanentemente no meu coração.

Sei, hoje, o que é ser baptizada porque sei como é grande a Tua bondade, infinita a Tua misericórdia e eterno o Teu amor por mim!

Raquel Dias

sábado, 11 de janeiro de 2014

O inferno é a solidão

Foto: O INFERNO É A SOLIDÃO

Era uma vez um homem que a dada altura da sua vida se descobriu sozinho. Sem compreender, sentiu-se num lugar remoto, onde não há estradas, onde ninguém mais está... nem vai chegar... 

Ao início tomou esta angústia como algo passageiro que desapareceria da mesma forma como tinha aparecido, mas, depois, sentiu que o desespero se estava a instalar de forma decidida e definitiva, que se alimentava das raízes do que nele havia de bom... e que, se nada fosse feito, em breve, nada restaria do que era.

... até que chegou a um ponto onde a cada noite se confrontava com o abandono absoluto. Deitado na cama, sentia o corpo carente de um calor qualquer... mas nada... temia e tremia... e era assim que, de espírito quase esgotado, se entregava ao sono. 

Cada acordar era um despertar para o pesadelo... um nascer cru e cruel num mundo feito de brumas e cinzas... como se uma espécie de injustiça bruta o obrigasse a erguer-se para cima de uns carris que lhe predestinavam tempos, lugares e gestos... e se repetiam até à náusea. O corpo cedo nos trai. É o primeiro que cede aos ataques do inimigo.

Assim que o sol se punha e se confirmava que mais um dia havia passado sem que nenhuma esperança tivesse chegado perto... entristecia-se mais. Com cada noite chegava-lhe mais fome e mais frio... 

O pior de tudo era não conseguir compreender a razão de tanto absurdo. A desproporção de tanta dor. 

Chegou a pensar a própria fé como uma maldição, algo que lhe prendia o espírito a um estado de coma qualquer... e o mantinha em sofrimento. Uma esperança má que apenas serve para fazer sofrer quem nela se ilude...

Sentia-se só. Precisava de alguém... mas nunca quis ser um peso a quem lhe podia dar a mão, estragar a vida a quem podia, talvez longe dos olhares do mundo, estar também a lutar contra a angústia.

Sentia-se metade de qualquer coisa... do amor só tinha a saudade... que apenas punha a nu a tremenda carência... em que se estava a tornar... um buraco negro...

Numa noite muito fria compreendeu que, mais do que viver com os outros, o inferno é um deserto infinito onde não há nada, onde todos os medos se resumem apenas a um: ficar para sempre só. 

Mas quem tem por quem chorar, vive com sentido. Apesar de todo o sofrimento. 

Havia que travar uma luta pela vontade de acreditar no bem, uma guerra íntima, ali onde cada homem apenas se tem a si mesmo... é que a grandeza de cada um se pode avaliar também pela profundidade e paciência com que luta contra o mal.

As dores mais profundas resultam, não dos golpes feitos de súbito mas dos que, numa interminável persistência, se cravam de forma lenta e decidida na carne, uma tortura silenciosa, um trabalho persistente. Do mal no bem e do bem no mal... 

Chamava-se João. 

Quando a morte lhe chegou, apresentou-se a ela com o mesmo medo com que todas as noites enfrentou o nada... talvez com mais fome e frio que nunca... 

Acordou numa manhã quente, tranquila e familiar... sorriu, mesmo sem compreender... 

Nunca mais ia ficar sozinho.



José Luís Nunes Martins
jornal i, 
4 janeiro 2014


http://www.ionline.pt/iopiniao/inferno-solidao


Ilustração de Carlos Ribeiro

Era uma vez um homem que a dada altura da sua vida se descobriu sozinho. Sem compreender, sentiu-se num lugar remoto, onde não há estradas, onde ninguém mais está... nem vai chegar... 

Ao início tomou esta angústia como algo passageiro que desapareceria da mesma forma como tinha aparecido, mas, depois, sentiu que o desespero se estava a instalar de forma decidida e definitiva, que se alimentava das raízes do que nele havia de bom... e que, se nada fosse feito, em breve, nada restaria do que era.

... até que chegou a um ponto onde a cada noite se confrontava com o abandono absoluto. Deitado na cama, sentia o corpo carente de um calor qualquer... mas nada... temia e tremia... e era assim que, de espírito quase esgotado, se entregava ao sono.

Cada acordar era um despertar para o pesadelo... um nascer cru e cruel num mundo feito de brumas e cinzas... como se uma espécie de injustiça bruta o obrigasse a erguer-se para cima de uns carris que lhe predestinavam tempos, lugares e gestos... e se repetiam até à náusea. O corpo cedo nos trai. É o primeiro que cede aos ataques do inimigo.

Assim que o sol se punha e se confirmava que mais um dia havia passado sem que nenhuma esperança tivesse chegado perto... entristecia-se mais. Com cada noite chegava-lhe mais fome e mais frio...

O pior de tudo era não conseguir compreender a razão de tanto absurdo. A desproporção de tanta dor.

Chegou a pensar a própria fé como uma maldição, algo que lhe prendia o espírito a um estado de coma qualquer... e o mantinha em sofrimento. Uma esperança má que apenas serve para fazer sofrer quem nela se ilude...

Sentia-se só. Precisava de alguém... mas nunca quis ser um peso a quem lhe podia dar a mão, estragar a vida a quem podia, talvez longe dos olhares do mundo, estar também a lutar contra a angústia.

Sentia-se metade de qualquer coisa... do amor só tinha a saudade... que apenas punha a nu a tremenda carência... em que se estava a tornar... um buraco negro...

Numa noite muito fria compreendeu que, mais do que viver com os outros, o inferno é um deserto infinito onde não há nada, onde todos os medos se resumem apenas a um: ficar para sempre só.

Mas quem tem por quem chorar, vive com sentido. Apesar de todo o sofrimento.

Havia que travar uma luta pela vontade de acreditar no bem, uma guerra íntima, ali onde cada homem apenas se tem a si mesmo... é que a grandeza de cada um se pode avaliar também pela profundidade e paciência com que luta contra o mal.

As dores mais profundas resultam, não dos golpes feitos de súbito mas dos que, numa interminável persistência, se cravam de forma lenta e decidida na carne, uma tortura silenciosa, um trabalho persistente. Do mal no bem e do bem no mal...

Chamava-se João.

Quando a morte lhe chegou, apresentou-se a ela com o mesmo medo com que todas as noites enfrentou o nada... talvez com mais fome e frio que nunca...

Acordou numa manhã quente, tranquila e familiar... sorriu, mesmo sem compreender...

Nunca mais ia ficar sozinho.



José Luís Nunes Martins
jornal i,
4 janeiro 2014


http://www.ionline.pt/iopiniao/inferno-solidao

sexta-feira, 10 de janeiro de 2014

Horóscopos são profundamente antirreligiosos


Horóscopos são «mistificação» que é «profundamente antirreligiosa», diz psiquiatra

Os horóscopos «são a maior mistificação e não têm significado algum», além de serem «profundamente antirreligiosos e anticristãos», considera o psiquiatra e psicoterapeuta italiano Tonino Cantelmi.

Em entrevista publicada esta quarta-feira no site do Serviço de Informação Religiosa, ligado à Igreja católica na Itália, o especialista lembra que «o desejo de crer em alguma coisa e ter a possibilidade de controlar o futuro são inatos no homem».

«Cada um é um pequeno buscador de previsões, e os horóscopos vêm ao encontro deste desejo de prever o que acontece», tendência que tem «as suas raízes na grande insegurança da humanidade».

Especialmente presentes antes do início de cada ano, lançando as previsões para os doze meses seguintes, os horóscopos têm o «poder de sugestionar as pessoas, como também uma grande ambiguidade que permite lê-los de maneira diferente caso a caso».

Os horóscopos são «um grande jogo, mas também um grande negócio», sendo a secção «mais lida e mais seguida nos jornais e transmissões», atraindo, pelo caráter «lúdico», mesmo as pessoas «mais evoluídas e cultas».

Depois de mencionar os «verdadeiros charlatães», que «aproveitam a credulidade das pessoas propondo horóscopos personalizados», Cantelmi referiu-se à relação entre as adivinhações e a crença religiosa.

«Fundamentalmente o crente confia-se a si próprio a uma providência, a um Deus bom, sem ter a pretensão de controlar o futuro», pelo que «a fé madura é um grande salto na maturidade humana» ao ajudar a «estar no aqui e agora».

As «superstições, magias e horóscopos são tentativas de manipular a realidade, de fazer-se deus no lugar de Deus, de querer gerir o próprio futuro, e por isso são profundamente antirreligiosos e anticristãos».

Na maior parte dos casos, as consequências da leitura do horóscopo são «insignificantes»: «As pessoas leem-no, imaginam qualquer coisa, mas depois, na maior parte dos casos, esquecem-no no resto do dia».

«Quem é realmente sugestionável recorre a ele de maneira compulsiva, e aqui abre-se o grande capítulo das profecias que se autorealizam ou da leitura da realidade interpretada segundo o horóscopo. Na realidade é tudo um mecanismo de sugestão», explicou.

Grande parte dos horóscopos é «inócua», mas há «pessoas muito supersticiosas, com um nível de sugestão muito elevado, que entram num mecanismo de dependência com cartomantes e outras figuras».

Rui Jorge Martins

quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

Croissants para Bento XVI

Foto: Quem vive na Casa Santa Marta garante que o clima é muito cordial e
bem-disposto. Mas os homens da segurança têm agora mais dores de
cabeça, porque a rotina não encaixa no "estilo Bergoglio" e, por isso,
nunca se sabe o que pode acontecer.

Há dias, durante o pequeno-almoço, o Papa não estava na sua mesa
habitual, nem em qualquer outro lado. Começou a gerar-se uma grande
agitação, com vários homens de fato escuro e agentes de segurança
enervados a passar revista a toda a casa. Onde estava o Papa? Por onde
se teria metido? Toda a gente foi interrogada, a casa passada a pente
fino, mas nada! Depois de uns valentes minutos de angústia,
descobriram-no finalmente. Bergoglio caminhava pelo jardim, com
passada decidida e um saco de papel na mão. Quando finalmente os
homens da segurança lhe falaram do susto devido à sua ausência
inesperada, Francisco riu-se e explicou que ia ao mosteiro Mater
Ecclesia, onde vive Bento XVI, levar-lhe uns croissants mornos,
"acabadinhos de fazer, como ele gosta".

É assim este Papa: terno e atencioso com todos. E tão depressa leva
bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não hesita em pegar no
telefone e dar os parabéns aos seus amigos e, se não atendem, deixa
afectuosos recados no voicemail do telemóvel. Dedica mais horas a
saudar, abraçar e beijar pessoas de todas as idades do que a falar e a
ler discursos. Preocupa-se sobretudo com o lado humano e concreto das
pessoas com quem se cruza, ao ponto de ter pedido à mãe de um bebé
acabado de beijar que lhe pusesse um chapéu porque tinha a cabeça
muito quente, ou ainda, no caso de um outro pequenino que chorava com
fome, devolveu-o à mãe para ela amamentar o bebé, mesmo ali, na Praça
de São Pedro! E como é um Papa "todo-o-terreno", tão preocupado com o
quotidiano da vida terrena quanto o é com a vida eterna e salvação de
cada um, a misericórdia é talvez a sua palavra preferida, porque
remete para a esperança e alegria.

Se pudesse, Francisco gostaria de abraçar todos, "com amor e ternura
como fazem as mães" – tal como explicou numa entrevista, arqueando os
braços como se segurasse um bebé – porque "é assim que deve ser a
Igreja: dar carinho, cuidar e abraçar". E não é este também o melhor
retrato de Francisco?

Quem vive na Casa Santa Marta garante que o clima é muito cordial e bem-disposto. Mas os homens da segurança têm agora mais dores de cabeça, porque a rotina não encaixa no "estilo Bergoglio" e, por isso,
nunca se sabe o que pode acontecer.

Há dias, durante o pequeno-almoço, o Papa não estava na sua mesa habitual, nem em qualquer outro lado. Começou a gerar-se uma grande agitação, com vários homens de fato escuro e agentes de segurança enervados a passar revista a toda a casa. Onde estava o Papa? Por onde se teria metido? Toda a gente foi interrogada, a casa passada a pente fino, mas nada! Depois de uns valentes minutos de angústia, descobriram-no finalmente. Bergoglio caminhava pelo jardim, com passada decidida e um saco de papel na mão. Quando finalmente os homens da segurança lhe falaram do susto devido à sua ausência inesperada, Francisco riu-se e explicou que ia ao mosteiro Mater Ecclesia, onde vive Bento XVI, levar-lhe uns  croissants mornos, "acabadinhos de fazer, como ele gosta".

É assim este Papa: terno e atencioso com todos. E tão depressa leva bolos quentes ao seu vizinho Ratzinger, como não hesita em pegar no telefone e dar os parabéns aos seus amigos e, se não atendem, deixa afectuosos recados no voicemail do telemóvel. Dedica mais horas a saudar, abraçar e beijar pessoas de todas as idades do que a falar e a ler discursos. Preocupa-se sobretudo com o lado humano e concreto das
pessoas com quem se cruza, ao ponto de ter pedido à mãe de um bebé acabado de beijar que lhe pusesse um chapéu porque tinha a cabeça muito quente, ou ainda, no caso de um outro pequenino que chorava com
fome, devolveu-o à mãe para ela amamentar o bebé, mesmo ali, na Praça de São Pedro! E como é um Papa "todo-o-terreno", tão preocupado com o quotidiano da vida terrena quanto o é com a vida eterna e salvação de cada um, a misericórdia é talvez a sua palavra preferida, porque remete para a esperança e alegria.

Se pudesse, Francisco gostaria de abraçar todos, "com amor e ternura como fazem as mães" – tal como explicou numa entrevista, arqueando os braços como se segurasse um bebé – porque "é assim que deve ser a Igreja: dar carinho, cuidar e abraçar". E não é este também o melhor retrato de Francisco?

Aura Miguel

terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Cartas de Eusébio: Deus ajuda sempre


Lisboa,
Estádio da Luz, 5/8/1967.

Conversámos muito, em Dezembro de 1960, no Hospital, quando fui operado. Falei-lhe da minha Mãe e do muito que lhe devo, falei-lhe dos meus irmãos e dos meus desejos de vir a ser um homem como se deve ser.

Agora passados alguns anos confirmo tudo o que lhe disse então: lembro-me muito da minha Mãe e dos conselhos que sempre me deu; escrevo-lhe e às vezes telefono-lhe para ter o gosto de a ouvir e para que a Mãe Elisa tenha também o gosto de escutar a voz do filho, pois é muito minha amiga.

Ao que então disse a respeito da Mãe, junto agora um novo amor, Flora, a Mulher com quem casei.

A vida, a experiência destes 7 anos, ensinaram-me algumas coisas úteis. Tenho viajado muito, visitei muitos países imensas cidades, convivi com muita gente e aprendi alguma coisa.

Não sei se o futebol me deverá alguma coisa, mas o que sei é que eu devo muito ao futebol.

Na vida há sempre dificuldades a vencer e problemas que temos de resolver. Mas resolvem-se quando a nossa vontade é forte. E Deus ajuda sempre...

Eusébio da Silva Ferreira

segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

Cartas de Eusébio: "A minha formação cristã"


Lisboa,
Hospital da C. U. F.
Dezembro de 1960.

Aqui estou neste Hospital depois da operação que há dias me fizeram. Espero que hei-de ficar bom depressa. Deus há-de-me ajudar.

Desde que vim de Moçambique lembro-me muito de minha Mãe. Escrevo-lhe muitas vezes a dar notícias minhas, porque sei que ela gosta muito de as receber. Eu gosto de lhe dar alegria. No futuro, se as coisas me correrem bem, ela nunca será esquecida, Se eu triunfar no futebol e os jornais vierem a falar de mim e se eu ganhar dinheiro grande, não quero isso para vaidade minha. Quero para dar alegria à minha Mãe. Não gosto de ser vaidoso, mas quero que os meus triunfos vão dar gosto à minha Mãe. Ela merece. Fez muito pelos filhos, por mim e pelos meus irmãos. Não esqueço a formação que me deu, para ser um homem bom e honrado.

A formação cristã que minha Mãe me deu e a que recebi também dos padres missionários que estavam lá perto da minha terra hão-de ajudar-me muito na vida.

A minha Mãe Elisa é extraordinária, Também quero ajudá-la com o dinheiro que eu ganhar.

Lembra-se da conversa que tivemos aqui, há pouco, neste quarto do Hospital, com o sr. José Travassos que veio também visitar-me? Estávamos só os três. Conversámos muito. O sr. Travassos, que foi grande jogador, foi muito largo nos elogios que me dirigiu. Ouviu aquilo que ele me disse e que eu não esperava?:

«O Eusébio, se trabalhar e se tiver sempre juízo, pode ir longe no futebol. Já o vi jogar, e digo-lhe que tem qualidades para vir a ser o melhor jogador português de todos os tempos. Aproveite-as, trabalhe e nunca seja vaidoso.»

Isto foi o que disse o sr. José Travassos ao querer ser amável comigo, lembra-se? Como sou muito novo e estou a começar a minha carreira, naturalmente ele disse aquelas coisas só para me estimular. Mas vou aproveitar o estímulo e vou trabalhar a sério, para vir a ser alguém. Não quero vaidades. Quero ser um homem, e quero dar muitas alegrias à minha Mãe Elisa.

Eusébio da Silva Ferreira


in Con. António de Azevedo Pires, 
O que as almas são por dentro - 99 Testemunhos, 
Editorial Pórtico, 1967.

sábado, 4 de janeiro de 2014

Nuno Carvalhosa

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Hoje acompanhei o Nuno Carvalhosa, 21 anos, à sua última morada nesta terra. Foi o testemunho mais bonito de amor e amizade que já vi em 17 anos de sacerdócio. Uma vida que se tornou verdadeira missão de amor. Desde que nasceu até ao último segundo da sua vida, o Nuno provou a todos que a vida não se mede pela quantidade de dias, mas pelo amor de que se foi autor e herói.

O Nuno nasceu em Lisboa, e foi para Bruxelas com um ano de idade. Em Bruxelas foi-lhe diagnosticado uma doença neurológica que limitava muito fisicamente (a cabeça estava toda mais que lá). A Mãe, médica, deixou de trabalhar nessa altura para se dedicar a ele.

Vivemos em Bruxelas durante 4 anos, viemos depois para Lisboa - onde o Nuno conheceu o grupo muitas vezes chamado "dos Nunettes", ou "a corte do Nuno". Amigos que permaneceram sempre.

Fomos depois para o Luxemburgo onde ele esteve 3-4 anos, e em seguida para Bruxelas.

Ele foi acumulando amigos por todo o lado (em todos os sentidos, como o Tio Pedro descreveu). Em Bruxelas e no Luxemburgo estava em escolas europeias onde convivem nacionalidades de toda a Europa (daí no Facebook aparecerem comentários em todas as línguas).. Ele era "o rei da escola", todos o conheciam e gostavam tanto dele.

Na missa estarão presentes amigos destes três países. Houve alguns que vieram de propósito agora para a Missa. Há um que chega mais tarde da África do Sul (não conseguia avião suficientemente cedo).

O Nuno sempre teve uma vida cheia, plena. Sempre foi um "este é o meu filho/amigo muito amado".

Dia 30 de Dezembro deu entrada no Hospital de Santa Maria, onde ficou hospitalizado com uma infecção respiratória. Partiu dia 3 de Janeiro, depois de uma situação tão instável, cheia de altos e baixos.

O Pai que tinha regressado a Bruxelas entretanto (tinha vindo a Portugal só passar o Natal) veio para cá. Eu estava em Inglaterra onde trabalho e também vi. O corredor do hospital estava sempre repleto de pessoas. Os amigos dele eram por vezes 15, e revezavam-se para o irem ver (2 ou quarto no máximo, regras do hospital). Chegaram a ficar a noite toda... e na noite em que ele faleceu, assim foi. Revezando-nos uns aos outros para lhe segurarmos a mão, para o vermos, para conversar com ele, assim o acompanhámos até o Senhor nos revezar a nós. Eram mais de 10 amigos (tantos mais já tinham ido e vindo), às 2 da manhã, que se despediram dele. Chegavam continuamente, vindos de todo o lado (tinham encontrado entretanto uma forma "secreta" de aceder ao tal corredor sem passarem pelo segurança).

O Nuno, entre todos os que privaram com ele, é a evidência que há Anjos entre nós.

Tal como Jesus quando veio ao mundo, os mais próximos sabiam que vinha para sofrer e com uma esperança de vida limitada. Máximo 5 anos diziam os médicos… esteve entre nós 21!!

Nunca se rendeu à sua limitação, sofreu sim, mas viveu a vida na sua plenitude, gozou do lema "só cá estamos uma vez e isto é uma passagem, vou fazê-la o melhor que posso".

Inteligente, com humor apurado, divertido e sobretudo um AMIGO!!! É incrível ver como tocava nas pessoas e fazia amigos. Foi um AMIGO para pessoas tão diferentes, para homens, para mulheres, para miúdos, para graúdos, para optimistas, para pessimistas, para altos, para baixos, para fortes, para fracos, para gordos, para magros, para os que estão aqui, para os que estão além, para os que vêm, para os que vão, para os que têm necessidades especiais, para os que choram, para os que riem, para os que pedem, para os que oferecem, para os que ajudam, para os músicos, para os mágicos, para os jogadores, para os artistas, para os atinados, para os atrevidos, para os transparentes, para os reservados, para os que estão com rodeios, para os que não se calam, para os românticos, para os apaixonados, para os que sonham, para os radicais, para os curiosos, para as minorias, para as maiorias, para os primeiros, para os últimos, para os que desfrutam, para os que vivem, para as famílias, para nós, para todos…

O Nuno era uma força de atracção e de renascimento, um exemplo de seguir em frente e nunca desistir.

O Nuno era um hino à amizade, sabendo que um dia a maioria de nós irá separar-se, que sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhámos, saudades até dos momentos de lágrimas, da angustia, das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo vivido, o Nuno era o cimento para que as amizades continuassem para sempre.

Como escrevia Fernando Pessoa, o Nuno "poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

OBRIGADO, NUNO CARVALHOSA!

sexta-feira, 3 de janeiro de 2014

Não chores



Não chores pelo que perdeste, luta pelo que tens.
Não chores pelo que está morto, luta por aquilo que nasceu em ti.
Não chores por quem te abandonou, luta por quem está contigo.
Não chores por quem te odeia, luta por ...quem te quer.
Não chores pelo teu passado, luta pelo teu presente.
Não chores pelo teu sofrimento, luta pela tua felicidade.

Com as coisas que vão nos acontecendo
vamos aprendendo que nada é impossível de resolver,
apenas segue em frente!

Papa Francisco

quinta-feira, 2 de janeiro de 2014

Família de Nazaré



Jesus, Maria e José,
a vós, Sagrada Família de Nazaré,
hoje, dirigimos o olhar com admiração e confiança;
em vós contemplamos a beleza da comunhão no amor verdadeiro;
a vós confiamos todas as nossas famílias;
para que se renovem nessas maravilhas da graça.

Sagrada Família de Nazaré,
escola atraente do santo Evangelho:
ensina-nos a imitar as tuas virtudes com uma sábia disciplina espiritual,
doa-nos o olhar claro que sabe reconhecer a obra da providência
nas realidades cotidianas da vida.

Sagrada Família de Nazaré,
guardiã fiel do mistério da salvação:
faz renascer em nós a estima pelo silêncio,
torna as nossas famílias cenáculo de oração
e transforma-as em pequenas Igrejas domésticas,
renova o desejo de santidade, sustenta o nobre cansaço do trabalho,
da educação, da escuta, da recíproca compreensão e do perdão.

Sagrada Família de Nazaré,
desperta na nossa sociedade a consciência do caráter sagrado e inviolável da família,
bem inestimável e insubstituível.
Cada família seja morada acolhedora de bondade e de paz
para as crianças e para os idosos, para quem está doente e sozinho,
para quem é pobre e necessitado.

Jesus, Maria e José
a vós com confiança rezamos,
a vós com alegria nos confiamos.

Amen.

Papa Francisco

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...