sábado, 4 de janeiro de 2014

Nuno Carvalhosa

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Hoje acompanhei o Nuno Carvalhosa, 21 anos, à sua última morada nesta terra. Foi o testemunho mais bonito de amor e amizade que já vi em 17 anos de sacerdócio. Uma vida que se tornou verdadeira missão de amor. Desde que nasceu até ao último segundo da sua vida, o Nuno provou a todos que a vida não se mede pela quantidade de dias, mas pelo amor de que se foi autor e herói.

O Nuno nasceu em Lisboa, e foi para Bruxelas com um ano de idade. Em Bruxelas foi-lhe diagnosticado uma doença neurológica que limitava muito fisicamente (a cabeça estava toda mais que lá). A Mãe, médica, deixou de trabalhar nessa altura para se dedicar a ele.

Vivemos em Bruxelas durante 4 anos, viemos depois para Lisboa - onde o Nuno conheceu o grupo muitas vezes chamado "dos Nunettes", ou "a corte do Nuno". Amigos que permaneceram sempre.

Fomos depois para o Luxemburgo onde ele esteve 3-4 anos, e em seguida para Bruxelas.

Ele foi acumulando amigos por todo o lado (em todos os sentidos, como o Tio Pedro descreveu). Em Bruxelas e no Luxemburgo estava em escolas europeias onde convivem nacionalidades de toda a Europa (daí no Facebook aparecerem comentários em todas as línguas).. Ele era "o rei da escola", todos o conheciam e gostavam tanto dele.

Na missa estarão presentes amigos destes três países. Houve alguns que vieram de propósito agora para a Missa. Há um que chega mais tarde da África do Sul (não conseguia avião suficientemente cedo).

O Nuno sempre teve uma vida cheia, plena. Sempre foi um "este é o meu filho/amigo muito amado".

Dia 30 de Dezembro deu entrada no Hospital de Santa Maria, onde ficou hospitalizado com uma infecção respiratória. Partiu dia 3 de Janeiro, depois de uma situação tão instável, cheia de altos e baixos.

O Pai que tinha regressado a Bruxelas entretanto (tinha vindo a Portugal só passar o Natal) veio para cá. Eu estava em Inglaterra onde trabalho e também vi. O corredor do hospital estava sempre repleto de pessoas. Os amigos dele eram por vezes 15, e revezavam-se para o irem ver (2 ou quarto no máximo, regras do hospital). Chegaram a ficar a noite toda... e na noite em que ele faleceu, assim foi. Revezando-nos uns aos outros para lhe segurarmos a mão, para o vermos, para conversar com ele, assim o acompanhámos até o Senhor nos revezar a nós. Eram mais de 10 amigos (tantos mais já tinham ido e vindo), às 2 da manhã, que se despediram dele. Chegavam continuamente, vindos de todo o lado (tinham encontrado entretanto uma forma "secreta" de aceder ao tal corredor sem passarem pelo segurança).

O Nuno, entre todos os que privaram com ele, é a evidência que há Anjos entre nós.

Tal como Jesus quando veio ao mundo, os mais próximos sabiam que vinha para sofrer e com uma esperança de vida limitada. Máximo 5 anos diziam os médicos… esteve entre nós 21!!

Nunca se rendeu à sua limitação, sofreu sim, mas viveu a vida na sua plenitude, gozou do lema "só cá estamos uma vez e isto é uma passagem, vou fazê-la o melhor que posso".

Inteligente, com humor apurado, divertido e sobretudo um AMIGO!!! É incrível ver como tocava nas pessoas e fazia amigos. Foi um AMIGO para pessoas tão diferentes, para homens, para mulheres, para miúdos, para graúdos, para optimistas, para pessimistas, para altos, para baixos, para fortes, para fracos, para gordos, para magros, para os que estão aqui, para os que estão além, para os que vêm, para os que vão, para os que têm necessidades especiais, para os que choram, para os que riem, para os que pedem, para os que oferecem, para os que ajudam, para os músicos, para os mágicos, para os jogadores, para os artistas, para os atinados, para os atrevidos, para os transparentes, para os reservados, para os que estão com rodeios, para os que não se calam, para os românticos, para os apaixonados, para os que sonham, para os radicais, para os curiosos, para as minorias, para as maiorias, para os primeiros, para os últimos, para os que desfrutam, para os que vivem, para as famílias, para nós, para todos…

O Nuno era uma força de atracção e de renascimento, um exemplo de seguir em frente e nunca desistir.

O Nuno era um hino à amizade, sabendo que um dia a maioria de nós irá separar-se, que sentiremos saudades de todas as conversas atiradas fora, das descobertas que fizemos, dos sonhos que tivemos, dos tantos risos e momentos que partilhámos, saudades até dos momentos de lágrimas, da angustia, das vésperas dos fins-de-semana, dos finais de ano, enfim...do companheirismo vivido, o Nuno era o cimento para que as amizades continuassem para sempre.

Como escrevia Fernando Pessoa, o Nuno "poderia suportar, embora não sem dor, que tivessem morrido todos os meus amores, mas enlouqueceria se morressem todos os meus amigos!"

OBRIGADO, NUNO CARVALHOSA!

1 comentário:

  1. Serge Feltes
    3. Januar via Handy

    R.I.P. C'est avec grande tristesse que je viens d'apprendre le décès de Nuno Carvalhosa un de nos élèves de l'Ecole Européenne Lux1.
    J'ai souvent eu les cheveux qui se sont dressés sur ma tête quand il est passé à toute vitesse avec sa chaise roulante dans les couloirs. Un jour on a dû sortir Nuno avec le tracteur parce que sa chaise roulante était bloquée dans la boue. Nuno, j'ai les larmes au yeux; tu étais une personne remarquable et respectueuse. Même avec ta maladie tu avais toujours le sourire sur ton visage et toujours un bonjour quand tu passais près de la Loge. Le jour de ton départ vers Bruxelles tu ne voulais pas partir avant de m'avoir dit au revoir. Mes sincères condoléances à ta famille et repose en paix. Adieu mon ami, tu resteras toujours dans mon cœur.

    Serge Feltes
    Concierge Ecole Européenne Luxembourg 2
    6 rue Gaston Thorn
    L-8268 Bertrange

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