«Sou pároco em Carpi, na Emilia Romagna, uma região onde a gente é honesta, trabalhadora mas, por tradição, indiferente à Igreja, ou até mesmo manifestamente hostil. A participação na missa dominical é muito baixa e muitos funerais realizam-se na forma civil.
Aquele pouco de fé que sobrevive, dificilmente se faz notar. Procuro reconhecer nesta situação um rosto de Jesus crucificado e ver as pessoas com o Seu olhar: Ele fez seu todo o vazio, todo o pecado, e veio para nos salvar.
Tinha chegado à paróquia há poucos dias quando me avisaram que, no condomínio, havia um doente. Bati à porta. Ele próprio me responde, dizendo não ter tempo para mim. Penso: também Cristo foi rejeitado. Por isso sou semelhante a ele numa pequena parte! Uno-me a Ele e, no meu coração, nasce a alegria. Aquele doente, depois, morreu nos braços da Igreja.
Estou convencido de que ninguém está longe do amor de Deus. Quando alguém me diz que não reza, não vai à missa e talvez nem creia, sublinho: tu és honesto, amas a tua família, fazes voluntariado. Também tu vives o Evangelho! A quem se sente excluído da vida da Igreja por estar só casado civilmente e não poder receber a Eucaristia, recordo-lhe que pode entrar em comunhão com Jesus doutros modos: vivendo a sua Palavra, amando o irmão, abraçando os sofrimentos. Isto atrai-os: as pessoas descobrem que já estão “dentro” do amor de Deus e, para muitos, começa uma nova busca.
Hoje, cerca de duzentas pessoas vêm uma vez por mês à paróquia, para aprofundar em pequenos grupos o Evangelho. Escutam a Palavra de Vida e depois partilham entre si as experiências. Mais de metade não tem prática religiosa e cerca de um terço está em situações familiares não regulares. Mas captam um clima de alegria que conforta e envolve. Sabem que não queremos impor-lhes nada e, por isso, sentem-se livres para expor também as dúvidas, os fracassos pessoais ou familiares, os problemas de trabalho. E, pouco a pouco, começam a contar os primeiros gestos de amor aos outros.
Pelo menos quinze casais frequentam agora a missa diária, e três deles decidiram pelo matrimónio na Igreja, após anos de união de facto ou de casamento somente civil. Alguns tornaram-se sensíveis à comunhão de bens e oferecem tudo quanto têm de supérfluo, às vezes com regularidade. Não nos cabe a nós converter as pessoas, mas apenas amá-las. A mudança nasce do encontro com Deus, da descoberta da sua Palavra.
No âmbito da paróquia há uma associação de idosos. A maior parte deles manteve sempre uma animosidade contra a Igreja. Quando construíram a sua nova sede, propus no conselho pastoral que déssemos um contributo. Na altura, ouve uma reação: seria melhor ir falar-lhes de Deus! Explico que nos cabe a nós, que acreditamos no Evangelho, ser os primeiros a amar. Decidimos dar uma pequena oferta, com uma carta de agradecimento pelo bem que têm feito em favor dos idosos do bairro. Este gesto disse-lhes mais do que uma pregação: os idosos tinham lágrimas nos olhos. E abriram-se ao encontro com a Igreja».
Testemunho de vida, Padre Carlo, Itália
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