quinta-feira, 31 de outubro de 2013

Agradeci...



Esta noite senti-me um profundo ingrato [o sentimento, obviamente, não caiu de pára-quedas]. Adormeci com esse sentimento e, há pouco, na oração agradeci, agradeci, agradeci e agradeci. Do pormenor do cheiro a amaciador dos lençóis (ridículo, quase), ao facto de estar vivo. Agradeci a fé e o que ela faz comigo e de a vida, ou a conversão, ou sei lá, me ajudar a ser alguém em quem confiar. Agradeci o poder saborear o silêncio sem ter pesadelos. Agradeci o poder fazer uma crítica sem a ameaça da tortura e da morte. Agradeci o não ter medo, nem vergonha, de pedir abraços quando deles preciso. 

Paulo Duarte, sj

quarta-feira, 30 de outubro de 2013

Aprender de Cor quem Amamos


 

Comportamo-nos como se as pessoas de quem gostamos fossem durar para sempre. Em vida não fazemos nunca o esforço consciente de olhar para elas como quem se prepara para lembrá-las. Quando elas desaparecem, não temos delas a memória que nos chegue. Para as lembrar, que é como quem diz, prolongá-las. A memória é o sopro com que os mortos vivem através de nós. Devemos cuidar dela como da vida.

Devemos tentar aprender de cor quem amamos. Tentar fixar. Armazená-las para o dia em que nos fizerem falta. São pobres as maneiras que temos para o fazer, é tão fraca a memória, que todo o esforço é pouco. Guardá-las é tão difícil. Eu tenho um pequeno truque. Quando estou com quem amo, quando tenho a sorte de estar à frente de quem adivinho a saudade de nunca mais a ver, faço de conta que ela morreu, mas voltou mais um único dia, para me dar uma última oportunidade de a rever, olhar de cima a baixo, fazer as perguntas que faltou fazer, reparar em tudo o que não vi; uma última oportunidade de a resguardar e de a reter. Funciona.

Miguel Esteves Cardoso, 
in 'As Minhas Aventuras na República Portuguesa'

terça-feira, 29 de outubro de 2013

Deixar por acabar a letra começada




Santo Inácio diz, nas constituições da Companhia, quando trata da obediência de um jesuíta - «devemos deixar por acabar até a letra começada, ou qualquer outra coisa, e aplicar no Senhor de todos, toda a intenção e todas as forças para que a santa obediência seja em tudo perfeita».

Apesar de a expressão ser usada por Sto. Inácio aplicando-a aos jesuítas, penso que pode estender-se sem dificuldade a qualquer outra pessoa, no que se trata de obedecer à própria consciência. Por exemplo, uma das coisas que dizemos e ouvimos com frequência é «eu devia...», muitas vezes dito em tom de lamento ou de impossibilidade de fazer alguma coisa. No entanto, a verdade é que nem sempre estamos impossibilitados de fazer aquilo que «devíamos», a verdade é bem mais triste: muitas vezes somos vítimas de nós mesmos, quando nos deixamos levar pela indolência e pela procrastinação. O que é feito do velho ditado «não deixes para amanhã o que podes fazer hoje»? Quantas vezes é transformado no contrário e acabamos por arrastar indefinidamente as coisas que temos de fazer? Quem nunca estudou à última da hora? E porquê? Por falta de tempo, ou porque as bibliotecas fecham cedo, ou...? E quem fala do estudo, fala do exercício físico, ou daquele telefonema para aquela pessoa, ou... ou de aceitar fazer uma coisa que nos foi pedida e pô-la à frente das nossas prioridades.

Nem tudo se pode controlar e nem tudo pode ser atribuído à nossa responsabilidade. Mas, a verdade é aconteceu também que algumas respostas e contribuições importantes para que a mudança se efectuasse chegaram tarde. E este exemplo é como tantos outros na vida de cada um, em que tantas vezes se frustram desejos, nossos e dos outros, ou, pior, não se respondem a necessidades nossas ou de outros.

A justificação que muitas vezes se ouve de que «só trabalho bem sob pressão» é, penso, apenas uma forma de dizer que «só me motivo sob pressão», pois a pressão não nos permite rever, corrigir e aperfeiçoar o que fazemos, não nos permite ter tempo para procurar diferente possibilidades e compará-las, etc. Parece que só a emergência nos faz, de facto, deixar as nossas coisas por acabar, para pormos toda a intenção e todas as forças para que a obediência a um apelo, que passa sempre pela nossa consciência, seja perfeita!

Vejo nesta falta de disponibilidade e de prontidão um exemplo muito concreto do que pode ser pecar por omissão.

Claro que não quero apontar o dedo a ninguém senão a mim próprio, mas tendo como ocasião a concretização de uma mudança no essejota.net, proponho que façamos um exame à nossa consciência, àquilo que «devíamos fazer» e aos desafios que nos são lançados. Para uma consciência minimamente formada e na generalidade dos casos não será muito complicado perceber se o que temos diante de nós é algo para a construção do Reino do «Senhor de todos», ou não.

Só mais um pormenor: a prontidão com que damos uma resposta pode ser um gesto de amor, mesmo quando respondemos negativamente, não deixando a outra pessoa «pendurada»!

Frederico Lemos, sj 


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Liderança e Criatividade



Fui convidado para falar, na próxima semana, sobre Liderança e Criatividade. Quando preparo as minhas apresentações, penso no mínimo denominador comum - aquilo que nos une. E não aquilo que nos separa. E o primeiro insight que me vem é este - o mais criativo de nós não é o que inventa o que não existe. É o que agarra em tudo o que há - como o Grande Chef - e mistura os ingredientes de uma forma tão assustadoramente simples que, de tão básico, é brilhante. Nem os Chefs de cozinha molecular inventam nada de verdadeiramente novo - apenas lhe dão uma fórmula, um acondicionamento, um tratamento verdadeiramente revolucionário. E normalmente tão simples, que parece complexo.

Isto para dizer - não há predisposições genéticas e génios para a criatividade. Há pessoas que conseguem transformar o básico em surpreendente. Esses são os verdadeiros líderes. Não porque o queiram ser - mas porque o são por consequência de uma atitude. Corolário - cultivem a atitude. Não o resultado. Então, apenas serão líderes por consequência, e não por ambição. Esses são os verdadeiros líderes.

Frederico Fezas Vital

sábado, 26 de outubro de 2013

Cuidado com os imbecis!



Pode um fracassado dar lições de sucesso? Sem a humildade de reconhecer as próprias falhas, não

Há uma quantidade de gente que dedica boa parte das suas vidas ao que julga ser um talento divino, mas que mais não é senão gritar sentenças sobre tudo quanto lhes passa à frente. Ficam para trás. Nada criam mas tudo criticam... são os imbecis.

Esperam para olhar as obras mas avaliam sempre os autores... claro, é muito mais fácil atacar ou elogiar o poeta do que um seu poema... a preguiça e o encanto pela superficialidade são determinantes neste tipo de atitude, pese embora a postura superior e sumptuosa com que aparecem aos olhos do mundo...
Pode um fracassado dar lições de sucesso? Sem a humildade de reconhecer as próprias falhas, não.
Há quem ajude muito. São quem faz das palavras atos de generosidade, instrumentos que visam contribuir para um bem maior... assim se tornam, tantas vezes, cocriadores das obras que admiram ao ponto de as quererem ainda (e sempre) melhores...

Nada escapa a um buraco negro! Trata-se de uma região do espaço que absorve tudo o que existe à sua volta, para o reduzir a nada... de onde nem a luz escapa. A imbecilidade é um problema sério. Um atentado à integridade própria e alheia.

É porque lhe abrimos a porta quando nos elogia que depois mais nos dói quando a maledicência se revela. Os elogios são, tantas vezes, tão injustos e imerecidos como as reprovações que chegam depois.
Será importante que não nos deixemos inebriar pelos louvores, que aprendamos a distanciarmo-nos dos aplausos, para que possamos continuar o nosso trabalho sem estar perto demais dos que têm sempre mais um punhal para nos tentar atingir... dos que escolheram para si não fazer nem deixar fazer.

A realidade é composta por várias camadas, nas superficiais tudo se altera a cada instante, nas mais profundas a evolução é sólida e demorada. Talvez a sabedoria seja a capacidade de tocar a essência apesar dos enganos das aparências.

A presença e o silêncio são sempre formas excelentes de revelarmos de forma autêntica o que somos de mais belo. Assim, quando tivermos que escolher palavras para algo ou alguém que sejam as mais simples... pois que a verdade é simples e não se diz de outra forma.

Mais do que o artista, ficam as suas obras. Todo o homem é mais do que a soma de todas as suas realizações... somos a força e a vontade de ser e de criar o bem. O amor... que formos capazes de protagonizar.

Os egoísmos tendem a excluir tudo quanto não se lhes assemelha. A criação é por si só um ato de bondade e generosidade; um ato de amor... Será justo dizer-se que o que somos vai em tudo quanto produzimos. Mas, qualquer obra não revela apenas o seu autor, realiza-o.

A nossa vida e obras merecem sempre mais a nossa atenção, cuidado e reparo do que a vida e as obras do nosso próximo...

Desperdiça o seu tempo quem se põe a julgar os outros. Qualquer um de nós ganha mais, muito mais, com um gesto de amor do que com qualquer sentença... Que os julgamentos fiquem para quem consegue saber a vida toda, para quem consegue compreender os sentidos de cada gesto, para quem ama ao ponto de tudo perdoar e tem a sabedoria de ajudar a ser mais e melhor... Deus.

Devemos encontrar forma de nos mantermos sempre à distância dos imbecis, mas ainda é mais importante que consigamos estar bem longe da imbecilidade...

Quantas vezes somos nós que caímos na tentação sedutora de avaliar a superfície de tudo e de todos? Quantas vezes nos livramos do mal de criticar o que não queremos sequer conhecer? Afinal... quantas vezes os imbecis somos nós?

José Luís Nunes Martins
in Ionline

sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Aves em Lisboa



Um filme internacional que trata a adaptação de animais selvagens às grandes cidades.
A cidade escolhida foi Lisboa!

quinta-feira, 24 de outubro de 2013

Ajudai, ó Mãe, a nossa fé

Ajudai, ó Mãe, a nossa fé.
Abri o nosso ouvido à Palavra,
para reconhecermos a voz de Deus e a sua chamada.
Despertai em nós o desejo de seguir os seus passos,
saindo da nossa terra e acolhendo a sua promessa.
Ajudai-nos a deixar-nos tocar pelo seu amor,
para podermos tocá-Lo com a fé.
Ajudai-nos a confiar-nos plenamente a Ele,
a crer no seu amor,
sobretudo nos momentos de tribulação e cruz,
quando a nossa fé é chamada a amadurecer.
Semeai, na nossa fé, a alegria do Ressuscitado.
Recordai-nos que quem crê nunca está sozinho.
Ensinai-nos a ver com os olhos de Jesus,
para que Ele seja luz no nosso caminho.
E que esta luz da fé cresça sempre em nós
até chegar aquele dia sem ocaso que é o próprio Cristo,
vosso Filho, nosso Senhor. Amen.

Papa Francisco, Lumen Fidei

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

O dom de ser dom





Quando amamos damo-nos, entregamos o dom da nossa vida à vida do outro... somos instrumento da sua felicidade... esquecendo a nossa, ou, tomando-a como mera consequência da do outro.

A Filosofia congrega todos quantos procuram construir ou descobrir respostas às questões profundas da existência. Não é mais que um ponto de encontro e partilha, pois que cada homem deve decidir, de forma pessoal, o seu rumo e destino, fazer o caminho que há de depois pisar e... cumprir. Cumprir-se.

O que é a vida? O que são o bem e o mal? Que devo fazer? São questões simples a que cada um de nós tem obrigação de dar resposta, a cada dia, através da forma como decide ser no (seu) tempo.

A vida é um dom. Um presente bom e valioso que recebemos não sabemos muito bem como ou por quê... mas que, apesar de tudo, tem um propósito, que temos o dever de cumprir.

Se a morte nos revela como seres frágeis e pobres, esta humildade constitui a base de uma autenticidade que ilumina a necessidade de fazermos um caminho de engrandecimento... pois podemos, de facto, não ser grande coisa, mas não deixamos de ser alguma coisa... algo que é potencialmente muito maior e mais valioso...

Quando amamos damo-nos, entregamos o dom da nossa vida à vida do outro... somos instrumento da sua felicidade... esquecendo a nossa, ou, tomando-a como mera consequência da do outro.

Amar é dar-se.

Ser dom na vida do outro... oferecendo-lhe a própria vida em troca de nada. Sim, quem ama não tem contabilidade organizada. Não há créditos nem dívidas. Isso são marcas do que há, afinal, de mais oposto ao amor: os egoísmos.

A nossa existência passa pela nossa presença no coração dos que amamos, assim como a dos que nos amam também passa pelo nosso coração.

Amar não é um verbo que se conjugue no passado. O amor não acaba, não tem fim, pelo que não tem tempo. Sempre presente.

Podem as dores, as perdas e até mesmo a morte atentar contra um amor... mas o dom do amor não se extingue. Não cabe aqui, é maior que esta vida.

O amor é um caminho que poucos descobrem, e ainda menos são os que o percorrem.

A presença e o silêncio são a essência do amor. Partilhar a imortalidade que há num momento, como se a eternidade fosse um instante. Estar ali. Na convicção absoluta que se vive dentro de um mesmo coração. Sentir que tudo no universo se move mas que o centro é ali. Onde os olhares se cruzam e o amor se faz luz. Amar é ser presente.

Quem decide amar, aceita sofrer, tantas vezes sem sequer compreender os por quês. Dores que pesam. Lágrimas sempre amargas. Sombras das trevas que nos obscurecem os dias.

A morte aparece, por vezes, como o fim absoluto. O sem sentido. O nada que impede o sentido. Mas a morte será, talvez, a prova suprema pela qual o amor deve passar... afinal, só o amor vence a morte.

Quem ama faz o seu caminho com espinhos cravados nos pés. Nalguns casos, coroas deles.

Só um sentido profundo de existência permite encontrar nos calvários dos nossos dias a fé, a luz e a força para seguir adiante, rumo a um destino que é, afinal, a nossa casa.

Os vazios estão cheios de sentido. Eu sou quem me falta e quem sente a minha falta. Sou este vazio que me dói, mas também posso ser o amor que tudo preenche...

Ninguém chega ao céu sem feridas, mas também é verdade que ninguém lá entra sem um sorriso.

segunda-feira, 21 de outubro de 2013



"A fé é a garantia dos bens que se esperam 
e a certeza das realidades que não se vêem."

(Heb 11, 1)

Por isso, na noite escura da tua fé, ora e vigia.
Lembra-te que Deus permanece sempre junto de ti
ainda que te sintas imerso no desespero da tua solidão.
Não deixes que nada te turbe,
nem as convulsões da tua existência,
nem o mar agitado das tuas inseguranças.

Atreve-te a viver por amor
mesmo que o mundo à tua volta respire apenas indiferença.
Ainda que te percas pelo caminho
e o desânimo quiser vencer os teus passos,
Nele confia e nada temas.

E quando o fardo que carregas te parecer mais pesado do que possas suportar,
quando a dor apagar o teu sorriso
e quando se apagar em ti a chama do teu viver...
adora e confia!

domingo, 20 de outubro de 2013

Arrisca a tua vida!



Não digas: sou demasiado pobre!
Dá o que tens.
Não digas: sou demasiado fraco!
Lança-te para diante.
Não digas: sou demasiado ignorante!
Diz o que sabes.
Não digas: sou demasiado velho!
Dá as tuas forças e a tua experiência.
Não digas: isso matar-me-ia!
Se morreres, reviverás e farás viver.
Se o fardo te é pesado, pensa nos outros.
Se atrasas o passo, eles param.
Se te sentas, eles deitam-se.
Se te deitas, eles adormecem.
Se fraquejas, eles fogem.
Se duvidas, eles desesperam.
Se hesitas, eles recuam.
Mas se andas, eles correm.
Se corres, eles voam.
Se lhes estendes a mão,
Eles sustentam-te e ajudam-te.
Reza por eles e serás exaltado.
Arrisca a tua vida e viverás.

Prosper Monier

sábado, 19 de outubro de 2013

Se tu...



Se tu abrandas, eles param.
Se tu fraquejas, eles vacilam.
Se tu te sentas, eles deitam-se.
Se tu duvidas, eles desesperam.
Se tu não vais à frente deles, eles não virão....
Se tu não acreditas neles, eles não se meterão à dianteira.
Se tu caminhas atrás, eles ultrapassar-te-ão.
Se tu dás a mão, eles serão solidários.
Se tu rezas, eles serão filhos de Deus.
Eu comecei com um, com dois, com três.
Eu recomecei tantas vezes.
E eu recomeço todos os dias.


Joseph Cardijn, fundador da JOC, em 1925

quinta-feira, 17 de outubro de 2013

Oração do trabalho



A Vós, pedimos, Senhor da graça e da vida eterna:
Em nós aumentai, em nós fortalecei a esperança,
A nós concedei esta virtude dos fortes,
Esta força dos confiantes,
Esta coragem dos inabaláveis.
Assim, seremos nós sempre capazes de, com coragem
Assumir as tarefas da nossa vida.
Assim, vive em nós a alegre confiança
De que o nosso trabalho não é em vão.
Assim o nosso trabalho fazemos, e sabemos que,
Sem nós e onde falham as nossas forças,
A Vossa graça e a nossa salvação operais, segundo a Vossa vontade.
Em nós fortalecei a Vossa esperança.
Ámen.

Karl Rahner

quarta-feira, 16 de outubro de 2013

À distância vê-se melhor




Para avaliar bem um qualquer episódio da nossa vida é essencial que haja passado um período generoso de tempo que permita às superficialidades desvanecerem-se e ao essencial revelar-se.

Só a verdade perdura. Muitas coisas boas são, afinal, más... algumas más são, apesar de tudo, boas. Só o tempo revelará o verdadeiro valor de cada hora.

As paixões pequenas extinguem-se enquanto as verdadeiras se engrandecem. Aquilo que nos parece grande, quase sempre é, na verdade, pequeno... mas algumas coisas insignificantes são, na realidade, divinas.

Claro que para viver bem uma hora da vida, há que mergulhar nela sem a comparar com outra qualquer... boa ou má, entreguemo-nos à luta. Ainda que seja uma das piores horas, ainda que a vitória pareça impossível...

Importa viver na certeza que navegamos tempestades, por vezes subimos de forma magnífica, chegamos a voar, para depois, quase sempre, cair vertiginosamente... alguns aprendem a vencer estes mares, conquistando-os com a coragem de quem vive para além das dores... outros, lutam apenas para se manterem à superfície como se isso fosse uma grande vitória... outros ainda, desistem muito antes de terem molhado os pés...

Quanto ao futuro, vê-se melhor o que virá amanhã do que aquilo que poderá acontecer daqui a um ano... O depois longínquo presta-se a todas as utopias. Boas e más. Quase sempre quiméricas e nada úteis.

Difícil, mas decisivo para a felicidade, é encontrar em cada momento o lugar certo para onde dar o próximo passo... sem cuidar de entender...

As cruzes de hoje revelarão o seu sentido amanhã.

Um dia, compreenderemos tudo.

José Luís Nunes Martins


segunda-feira, 14 de outubro de 2013



«Levantando-me depois das quedas,
e multiplicando os actos de fé
e de amor,
cheguei a um estado
em que me seria tão pouco possível
não pensar em Deus,
como me foi difícil
habituar-me ao princípio.»

Frei Lourenço da Ressurreição | †1691
A Prática da Presença de Deus, II, 3

Senhor,
eu sei que a minha felicidade está nas Tuas mãos,
a minha vida só será cheia de amor,
quando me entregar a Ti.
Mas sou pobre, Senhor
e fraco!
Eu sei que
“um santo é um pecador que não desiste”
e também eu desejo
procurar sempre fazer tudo o que posso
pelos irmãos,
e encontrar-me conTigo pela oração.
Pouco a pouco a minha vida não será senão amor.
Não “respirará” senão da Tua graça
da tua Presença.
Ajuda-me, Senhor!

domingo, 13 de outubro de 2013

Mãe do Silêncio e da Humildade



Mãe do Silêncio e da Humildade,
tu vives perdida e encontrada, no mar sem fundo do Mistério do Senhor.
Tu és disponibilidade e recetividade. Tu és fecundidade e plenitude.
Tu és atenção e solicitude pelos irmãos.
Estás revestida de fortaleza.
Resplandecem em ti a maturidade humana e a elegância espiritual.
És senhora de ti mesma, antes de seres nossa Senhora.
Em ti não existe dispersão.
Num ato simples e total, a tua alma, toda imóvel,
está paralisada e identificada com o Senhor.
Estás dentro de Deus e Deus dentro de ti.
O Mistério total envolve-te, penetra-te e possui-te, ocupa todo o teu ser.
Parece que em ti tudo ficou parado, tudo se identificou contigo:
o tempo, o espaço, a palavra, a música, o silêncio, a mulher, Deus.
Tudo ficou assumido em ti e divinizado.
Jamais se viu figura humana de tamanha doçura,
nem se voltará a ver nesta terra
uma mulher tão inefavelmente evocadora.
Entretanto, o teu silêncio não é ausência, mas presença.
Estás abismada no Senhor
e ao mesmo tempo atenta aos irmãos, como em Caná.
A comunicação nunca é tão profunda como quando não se diz nada,
o silêncio nunca é tão eloquente como quando se comunica.
Faz-nos compreender que o silêncio não é desinteresse pelos irmãos,
mas fonte de energia e de irradiação;
não é encolhimento, mas projeção.
Faz-nos compreender que, para derramar, é preciso encher-se.
Afoga-se o mundo no mar da dispersão
e não é possível amar os irmãos com um coração disperso.
Faz-nos compreender que o apostolado, sem silêncio,
é alienação, e que o silêncio, sem apostolado, é comodidade.
Envolve-nos no teu manto de silêncio
comunica-nos a fortaleza da tua Fé,
a altura da tua Esperança e a profundidade do teu Amor.
Fica com os que ficam e vai com os que partem.
Ó Mãe admirável do Silêncio.

Inácio Larrañaga

O essencial é invisível aos olhos


sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Como um grão de mostarda


"Os Apóstolos disseram ao Senhor: «Aumenta a nossa fé». O Senhor respondeu: «Se tivésseis fé como um grão de mostarda, diríeis a esta amoreira: ‘Arranca-te daí e vai plantar-te no mar’, e ela obedecer-vos-ia. " (Lc 17, 5-6)
 
Às vezes, Senhor, quando duvido,
quando não sinto nada
e me vejo cético,
todavia sei parar
e colher um grão de mostarda
na palma da minha mão,
e olhá-lo e remirá-lo,
lembrando-me das tuas palavras.
E, às vezes, quando tudo corre bem,
quando a vida me sorri,
quando não tenho problemas
para acreditar em Ti,
nem para acreditar nos homens e mulheres,
nem para acreditar em mim...,
também me atrevo a colher um grão de mostarda
na palma da minha mão,
e o olho e remiro
lembrando-me das tuas palavras:
"Se tivésseis fé como um grão de mostarda..."


quinta-feira, 10 de outubro de 2013

O ostracismo do idoso no primeiro mundo



O escritor Knud Romer fala sobre a morte de seu pai e a solidão dos idosos na Dinamarca, um país várias vezes eleito o mais feliz do mundo.

quarta-feira, 9 de outubro de 2013

O regresso da Censura


Hoje, estive na Caminhada pela Vida, organizada em apoio da Iniciativa de Cidadania EuropeiaUM DE NÓS. Vi, portanto, com os meus olhos. Ninguém me contou. Vi.

Entre o Marquês de Pombal e o Rossio, em Lisboa, desfilaram mil a duas mil pessoas. Afirmaram o direito à vida e promoveram em Portugal uma petição dirigida à Comissão Europeia, que, para ser válida e eficaz, tem de reunir um milhão de subscritores nos 28 países da União Europeia até 1 de Novembro próximo. O ambiente foi de festa e alegria, com muitos, muitos jovens a participar. Houve um pequeno comício no final, no Rossio. As imagens falam por si.

E, amanhã, domingo, 6 de Outubro, decorre em todo o país o dia nacional de recolha de assinaturas na petição UM DE NÓS, como aí foi anunciado e promovido.

Estive a ver o Telejornal da RTP-1. Nem uma notícia, nem um segundo de atenção.

Fui espreitando o que se passaria no Jornal da Noite da SIC e no Jornal das 8 da TVI. Idem. Confirmei, depois, com amigos. Nem um segundo. Nada.

Silêncio. Omissão. Ocultação. Censura. Para quem se informa pela televisão, nada aconteceu.

Receio que, na imprensa, o mesmo irá acontecer. A agência Lusa fez uma notícia pelos mínimos, tendo deflaccionado os participantes para 500 pessoas, número que depois é replicado por todos os outros.  Ainda assim, obrigado, Lusa! Pois quase que aposto que nem essa notícia sairá em qualquer jornal. Apenas a RR - Rádio Renascença lá esteve e tem reportado alguma coisa. No mais, é o férreo império da Censura.

E, todavia, vi nos telejornais:
  • Longas reportagens sobre a "manifestação" e provocações do movimento Que Se Lixe a Troika, que, na Praça do Município, não juntou mais de 20 pessoas! (Também o vi com os meus olhos, pois também lá estive, de manhã, nas cerimónias do 5 de Outubro, onde isto aconteceu.)
  • reportagem de uma manifestação "com 100 pessoas" em homenagem aos bombeiros, que se desenrolou do Marquês de Pombal para a Assembleia da República. (Esta homenagem é mais do que devida e ainda bem que a manifestação foi coberta. Aliás, também apoio a indignação pela muito baixa participação nesta outra manifestação, merecidíssima, mas que pouca divulgação tivera.)
No processo de desenvolvimento da Iniciativa de Cidadania Europeia UM DE NÓS, dei também duas conferências de imprensa na Assembleia da República com os meus colegas deputados Carina Oliveira e António Proa. Numa, em 4 de Abril, só houve notícia da RR e da Lusa. Noutra, em 19 de Setembro, apenas da Lusa. Mais nada em sítio algum.

No início, em 21 de Março, os promotores da Iniciativa em Portugal haviam já feito uma apresentação à imprensa na representação da União Europeia, em Lisboa, no Edifício Jean Monet. Nem uma só notícia. Zero.

Para a censura estabelecida, a ordem é esconder do público e da opinião pública que:
  • Estão em marcha as Iniciativas de Cidadania Europeia, uma inovação do Tratado de Lisboa que obriga a Comissão Europeia a agir no sentido pedido por 1 milhão de cidadãos de toda a União Europeia.
  • Iniciativa de Cidadania Europeia UM DE NÓS, lançada em Maio de 2012, vai ser a segunda a atingir esse objectivo, difícil e exigente. (A outra que o conseguiu anteriormente foi uma sobre o direito à água.)
  • A Iniciativa de Cidadania Europeia UM DE NÓS, apesar dos boicotes e da censura, não só atingiu já a exigência de 1 milhão de assinaturas, como superou o objectivo seguinte de alcançar 1 milhão e 200 mil em toda a U.E., trabalhando agora por chegar ao milhão e meio até ao final deste mês.
  • A Iniciativa de Cidadania Europeia UM DE NÓS, apesar dos boicotes e da censura, já conseguiu recolher 17.500 subscritores em Portugal.
  • Caminhada pela Vida fez desfilar em Lisboa 1.000 a 2.000 pessoas, com uma impressionante participação de jovens.
  • Na Caminhada pela Vida participaram, pelo menos, dois deputados, que discursaram, entre outros, no comício final: eu próprio e Carina Oliveira.
  • Amanhã, domingo, 6 de Outubro, será o dia nacional de recolha de assinaturas na petição UM DE NÓS.
  • Este  dia nacional de recolha de assinaturas tem o apoio da Conferência Episcopal Portuguesa.
É tudo isto que a Censura abafa e cala. Os menos de vinte estroinas do Que Se Lixe a Troika é que são notícia - e longa notícia.

segunda-feira, 7 de outubro de 2013

Assalto



Acabei de ver a residência paroquial assaltada por 2 miúdos.

O mais pequeno (10.11 anos) conseguiu fugir, mas o maior (12-13) ficou. Tremia por todos os lados e chorou como nunca vi ninguém chorar. Depois de uma longa conversa e me ter cedido os seus dados, disse que fora ameaçado por um mais velho e estava com medo. No fim disse-lhe que ele saía de casa mas como um convidado meu e não como um ladrão. Dei-lhe um abraço de perdão.

Para meu espanto, o miúdo, antes de fechar a porta lentamente, com olhar envergonhado, ainda arranjou força para dizer, no meio de mais lágrimas: "Obrigado!"

E senti que partiu reconciliado!

sábado, 5 de outubro de 2013

Cristãos de pastelaria



“Esta é uma boa ocasião para fazer um convite à Igreja a despojar-se. Mas a Igreja somos todos nós. Todos somos Igreja. E, se nós queremos ser cristãos, não há outro caminho. Não podemos fazer um cristianismo mais humano, por assim dizer, sem a cruz, sem Jesus, sem despojamento.”

Quem não o faz arrisca-se a ser um “cristão de pastelaria”, que escolhe apenas a parte mais doce. “Aí, tornámo-nos ‘Cristãos de pastelaria’, como bonitos bolos, bonitos doces, mas não cristãos verdadeiros"

Papa Francisco

sexta-feira, 4 de outubro de 2013

Também sou Israel



Eis-me aqui, Senhor, de coração aberto,
disposta a escutar esta voz que me chama
e a entregar-me a estes braços que me querem envolver.

Envia-me como cordeiro para o meio de lobos, se assim o entenderes,
pois sei que a messe é grande mas os trabalhadores são poucos.
Saiba eu encontrar na oração
a serenidade da Tua paz,
a fortaleza da Tua fé,
a doçura da Tua misericórdia
e a plenitude do Teu amor.
E quando vierem os revezes da vida
e eu tropeçar pelo caminho, 
que as minhas feridas, 
reflexo da minha fragilidade e pequenez 
e memória das tribulações e das consequências das minhas escolhas, 
sejam, como para Jacob, 
lembrança de que também sou Israel.

Raquel Dias

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Não tenho o dom da fé



Numa das saídas que tive, aqui em Roma, por ocasião de uma Missa, aproximou-se um senhor, relativamente jovem, e disse-me:

- «Padre, prazer em conhecê-lo; mas eu não acredito em nada! Não tenho o dom da fé!»

Ele entendia que a fé era um dom. «Não tenho o dom da fé»...

- «Que me recomenda o senhor?»

- «Não desanimes! Deus ama-te. Deixa-te olhar por Ele. E basta».

O mesmo vos digo a vós: Deixai-vos olhar pelo Senhor!

 Compreendo que, para vós, não é tão simples: especialmente para quem é casado e tem filhos, é difícil encontrar um tempo longo de tranquilidade.

 Mas, graças a Deus, não é necessário que todos façam da mesma maneira; na Igreja, há variedade de vocações e variedade de formas espirituais; o importante é encontrar o modo adequado para estar com o Senhor; e isto pode acontecer, é possível em todos os estados de vida. Pensai nisto!

Papa Francisco aos catequistas

quarta-feira, 2 de outubro de 2013



«Que adianta dares a Deus uma coisa 
se Ele te pede outra? 
Pensa no que Deus poderá querer e fá-lo, 
porque assim satisfarás melhor o teu coração 
do que com aquilo que gostas.»

S. João da Cruz, | †1591
Ditos de Luz e Amor, 72

Senhor,
eu Te peço que derrames o Teu Espírito
sobre o meu coração,
para que sempre e em tudo procure fazer,
com verdade e com todas as minhas forças,
a Tua vontade.
Que eu não me deixe levar pelo costume,
pelo hábito,
pelo mais fácil,
mas sempre esteja atento à voz do teu Espírito,
aberto para discernir os mais pequenos sinais,
para fazer apenas aquilo que Te agrada
.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

Eu cumprirei o que te prometi


«Aconteceu-me 
ver-me com tão grandes tribulações 
e aflita com muitas ocasiões que havia para me inquietar, 
e dizer-me o Senhor: 
«De que temes? 
Não sabes que Sou todo-poderoso? 
Eu cumprirei o que te prometi». 

Santa Teresa de Jesus | †1582
Livro da Vida 26,2

Hoje, Senhor,
trago-Te as contrariedades da minha vida,
ponho diante de Ti os obstáculos do meu caminho,
ao procurar seguir-Te mais de perto.
Abrindo-Te o meu coração escuto que me dizes:
«Águas caudalosas não podem apagar o amor.»
Obrigada Senhor,
porque a Tua Palavra
é para mim fonte de paz e serenidade.
O meu sentir da fé,
diz-me que Tu estás sempre comigo
e que o Teu Amor é mais forte
do que as contrariedades, o pecado e a morte.
Obrigada pela paz e determinação
que me dás
de ir adiante confiado só em Ti!
Peço-Te: acompanha-me Senhor!

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...