segunda-feira, 28 de setembro de 2020

Breve introdução à arte do abraço











Diz-se que o nosso corpo tem a forma de um abraço. Talvez por isso a tarefa de abraçar seja tão simples, mesmo quando temos de percorrer um longo caminho. O abraço tem uma incrível força expressiva. Comunica a disponibilidade de entrar em relação com os outros, superando o dualismo, fazendo cair armaduras e motivos, cedendo, nem que seja por instantes, na defesa do espaço individual. Há uma tipologia vastíssima de abraços, e cada uma delas ensina alguma coisa sobre aquilo que um abraço pode ser: acolhimento e despedida, congratulação e luto, reconciliação e embalo, afeto ou paixão. Os abraços são a arquitetura íntima da vida, o seu desenho invisível, mas absolutamente presente; são plenitude consentida ao desejo e memória que revitaliza. Todos nos reconhecemos aí: em abraços quotidianos e extraordinários, abraços dramáticos ou transparentes, abraços alagados de lágrimas ou em puro júbilo, abraços de próximos ou de distantes, abraços fraternos ou enamorados, abraços repetidos ou, porventura, naquele único e idealizado abraço que nunca chegou a acontecer mas a que voltamos interiormente vezes sem conta.

No princípio era o abraço, se pensarmos no colo que nos nutriu na primeira infância. Essa foi, para a maioria de nós, a primeira e reconfortante forma de comunicação. Mas a necessidade de um abraço acompanha a nossa existência até ao fim. O abraço é uma longa conversa que acontece sem palavras. Tudo o que tem de ser dito soletra-se no silêncio, e ocorre isto que é tão precioso e afinal tão raro: sem defesas, um coração coloca-se à escuta de outro coração.

José Tolentino Mendonça

segunda-feira, 21 de setembro de 2020

Trazemos até ti, Maria!


Trazemos hoje até ti, Maria, as coisas simples que são no fundo as mais importantes: os laços de amor que nos unem e nos alargam como se a vida fosse uma roda que se torna sempre maior; a beleza do dom que cada um traz consigo e, aos poucos, se revela; o entusiasmo e a entrega; a capacidade que descobrimos em nós de multiplicar a alegria; a esperança que nos recorda que há sempre caminho; a graça que representa cada recomeço; a gratidão pelo presente que Deus nos dá.

Trazemos até ti, Maria, as nossas vidas e queremos aprender contigo a agradecer tudo: a agradecer os dias límpidos e os dias foscos; a agradecer o sol e a chuva; a planície e a serra; a mansidão da brisa e o ímpeto do vento. A agradecer a força e a fragilidade; aquilo que finalizámos e o que percebemos inacabado, pois cada coisa a seu modo nos ensina a maravilhosa dança de Deus.

Que a tua vida, Maria, seja para nós inspiração: que a tua fé nos reforce na ousadia de acreditar; que o teu exemplo nos ofereça o mapa da viagem; que o teu sorriso ensine ao nosso coração a mansidão e a doçura. E que o teu olhar torne o nosso olhar sempre mais confiante e sonhador.

Card. José Tolentino Mendonça

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...