Já não nos maravilhamos quando estamos diante de algo maravilhoso.
Uma música calma e envolvente, uma paisagem imponente e quieta, um poema profundo e simples, o silêncio iluminado de um minuto de paz e descanso... já pouco deixamos que nos toque.
O sublime é luz, o que, neste mundo de aparências cinzentas, faz com que haja quem considere inquietante, porque foge por completo à moda. Chegando até a existirem pessoas que o tomam por falso, porque se recusa a pensar que a sua vida e entendimento são, afinal, estreitos e que, em virtude disso, deviam abrir-se a fim de abarcar tudo o que os ultrapassa.
Hoje também se pensa que cada um de nós é e deve ser o centro do mundo. Ora, não o somos, nem, ainda que o fossemos, seria bom assumi-lo como princípio de vida. Neste quadro, tudo o que é grandioso esmaga os preconceitos que centram o sentido da vida no eu.
A indiferença parece ser a resposta que damos a tudo o que nos ultrapassa. Uma defesa que garante que não temos de assumir a nossa pequenez, mas que nos impede de nos elevarmos e engrandecermos, porque, afinal, somos dignos de partilhar a existência com o que é superior a nós, assim saibamos ser humildes.
Temos medo do mistério e, por isso, defendemo-nos com a frieza face a tudo o que não controlamos, até porque tantas vezes nos convida a entregarmo-nos. E tememos. Sem consciência de que o medo é o maior inimigo da liberdade e o que há de mais oposto à felicidade.
O sublime é sempre grande, nas coisas pequenas tanto como nas coisas grandes. E sente-se com verdade, mesmo quando não se consegue compreender.
Na alegria e no sofrimento, o amor mais autêntico manifesta-se nos gestos e pormenores mais simples.
O sublime está, vezes sem conta, mesmo à nossa frente.
Como é possível que Deus possa estar diante dos meus olhos e eu não o veja?
José Luís Nunes Martins |
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