Senhor Jesus, dirigimos o nosso olhar para ti, cheio de vergonha, de arrependimento e de esperança.
Diante do teu amor supremo, que a vergonha nos invada por te ter deixado sozinho a sofrer pelos nossos pecados:
- a vergonha por ter escapado diante da provação, não obstante te tenhamos dito milhares de vezes: “Ainda que todos te deixem, eu nunca te deixarei”;
- a vergonha por ter escolhido Barrabás e não a Ti, o poder e não a Ti, a aparência e não a Ti, o deus dinheiro e não a Ti, a mundanidade e não a eternidade;
- a vergonha por te ter tentado com a boca e com o coração, todas as vezes que nos encontrámos perante uma provação, dizendo-te: “Se Tu és o Messias, salva-te a ti mesmo e nós acreditaremos!”;
- a vergonha porque tantas pessoas, e até alguns dos teus ministros, se deixaram enganar pela ambição e pela vanglória, perdendo a sua dignidade e o seu primeiro amor;
- a vergonha porque as nossas gerações estão a deixar aos jovens um mundo dilacerado pelas divisões e pelas guerras; um mundo devorado pelo egoísmo, onde os jovens, os pequeninos, os doentes e os idosos são marginalizados;
- a vergonha por ter perdido a vergonha;
Senhor Jesus, concede-nos sempre a graça da santa vergonha!
O nosso olhar está repleto também de um arrependimento que, face ao teu silêncio eloquente, suplica a tua misericórdia:
- o arrependimento que germina da certeza de que somente Tu podes salvar-nos do mal, só Tu podes curar-nos da nossa lepra de ódio, de egoísmo, de soberba, de avidez, de vingança, de cobiça, de idolatria, somente Tu podes voltar a abraçar-nos, restituindo-nos a dignidade filial e alegrar-te pelo nosso regresso a casa, à vida;
- o arrependimento que brota do sentir a nossa pequenez, o nosso nada, a nossa vaidade, e que se deixa acariciar pelo teu convite suave e poderoso à conversão;
- o arrependimento de David que, do abismo da sua miséria, reencontra em ti a sua única força;
- o arrependimento que nasce da nossa vergonha, que brota da certeza de que o nosso coração estará sempre inquieto, enquanto não te encontrar, e em ti, a sua única fonte de plenitude e de tranquilidade;
- o arrependimento de Pedro que, encontrando o teu olhar, chorou amargamente por te ter negado diante dos homens.
Perante a tua suprema majestade acende, nas trevas do nosso desespero, a centelha da esperança, porque sabemos que a tua única medida de nos amares é a de nos amares sem medida;
- a esperança porque a tua mensagem continua a inspirar, ainda hoje, muitas pessoas e povos, pois só o bem pode derrotar o mal e a ruindade, só o perdão pode abater o rancor e a vingança, somente o abraço fraternal pode dispersar a hostilidade e o medo do outro;
- a esperança porque o teu sacrifício continua, ainda hoje, a emanar o perfume do amor divino que acaricia os corações de tantos jovens que continuam a consagrar-te as suas vidas, tornando-se exemplos vivos de caridade e de gratuidade neste nosso mundo devorado pela lógica do lucro e do ganho fácil;
- a esperança porque muitos missionários e missionárias continuam, ainda hoje, a desafiar a consciência adormecida da humanidade, arriscando a vida para te servir nos pobres, nos descartados, nos imigrantes, nos invisíveis, nos explorados, nos famintos e nos encarcerados;
- a esperança porque a tua Igreja, santa e feita de pecadores, continua, ainda hoje, não obstante todas as tentativas de a desacreditar, a ser uma luz que ilumina, encoraja, eleva e testemunha o teu amor ilimitado pela humanidade, um modelo de altruísmo, uma arca de salvação e uma fonte de certeza e de verdade;
- a esperança porque da tua cruz, fruto da avidez e da cobardia de muitos doutores da Lei e hipócritas, surgiu a Ressurreição, transformando as trevas do sepulcro no fulgor da alvorada do Domingo sem ocaso, ensinando-nos que o teu amor é a nossa esperança.
Senhor Jesus, concede-nos sempre a graça da santa esperança!
Ajuda-nos, Filho do homem, a despojar-nos da arrogância do ladrão posto à tua esquerda e dos míopes e dos corruptos, que viram em ti uma oportunidade a explorar, um condenado a criticar, um derrotado a escarnecer, outra ocasião para descarregar sobre os outros, e até sobre Deus, as próprias culpas.
Ao contrário, pedimos-te, Filho de Deus, que nos identifiquemos com o bom ladrão, que te fitou com olhos cheios de vergonha, de arrependimento e de esperança; que, com o olhar da fé, viu na tua aparente derrota, a vitória divina e, assim, ajoelhou-se diante da tua misericórdia e, com honestidade, roubou o paraíso! Amen!
Papa Francisco
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