Todos temos um recanto no mundo em que, protegidos e distantes do barulho e da pressa, descansamos e usufruímos da paz pela qual passamos a vida a lutar.
Aí, não há festas nem alegrias efusivas, apenas uma paz pura. Ali, sós, estamos em boa companhia.
É um erro enorme julgar que nos realizamos apenas fora de nós, ou que isso é uma condição essencial para uma realização plena.
Quem se deixa guiar pela fome da aprovação dos outros, não tem consciência de que essa avidez conduz a uma tal exposição que impede o recato e a intimidade onde as nossas forças se equilibram e fortalecem. Quem vive para a aparência, cedo troca a paz interior por uma ilusão de fama, tão instantânea que morre logo depois de nascer.
Quem não tem onde viver em paz é miserável. No sentido mais profundo e absoluto da miséria.
Só neste lugar, que não é um sonho, posso adormecer e acordar com um sorriso.
Por que razão não estou sempre lá? Talvez porque tenho de passar pelo pior para continuar a merecer o melhor.
Na vida temos sempre de fazer sacrifícios grandes para continuarmos a existir nesse lugar onde aprendemos a ver o mundo como ele é, onde os nossos planos se começam a fazer realidade, onde recarregamos as nossas forças, onde somos e nos sentimos amados.
Amar implica sair deste conforto e fazer muita coisa desagradável que é imprescindível à defesa da minha felicidade.
Caminhando sempre, como se o espírito só avançasse quando as pernas o agitam, procurando sem cessar a paz do outro, sem a qual não posso ter a minha.
E é assim que, enquanto na terra os meus pés se debatem com a lama e os buracos do mundo, o meu coração experimenta já a paz de um céu ao qual não cheguei ainda.
José Luís Nunes Martins
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