Estimada, valente e mui nobre cavaleira,
Julgo ser tempo de lhe fazer chegar algumas palavras a respeito do que aprendi com a minha vida e que pode ser útil à sua. Não porque se esteja a acabar a minha, assim o espero, mas porque a sua, que começou em força, promete já ultrapassar-me em tudo.
Não deseje ter mais do que aquilo que o mundo lhe der. Sonhe e lute por ser mais. O ter é passageiro, o ser constrói-se e permanece. Aceite com grande alegria o pouco que alguém queira partilhar consigo. O amor é a maior riqueza... e dura para sempre.
As suas armas – sejam a espada ou a pena – devem ser usadas com coragem, inteligência e o cuidado de jamais magoar o inocente. É demasiado fácil fazermos o mal quando nos julgamos senhores do bem.
A virtude encontra-se sempre num ponto de equilíbrio entre dois desequilíbrios.
Os males tendem a parecer-se todos uns com os outros. O bem é sempre novo. Os heróis são sempre únicos. Tão imensa é a riqueza do bem que se renova por completo de cada vez que alguém se faz bom.
Cuidado com a felicidade. Ela atrai mais inveja do que o ouro. A verdadeira alegria transparece nos olhos. Não perca demasiado tempo a olhar para quem quer mesmo estar perdido. Centre-se em quem procura ajuda para se encontrar. E ajude-o. Sem cuidar de buscar outra recompensa senão saber que está ao serviço do amor.
Por mais que tenha ou seja, saiba que a obediência é o sinal mais forte de uma vontade livre. Somos livres quando subjugamos os nossos apetites ao maior bem.
Eis o que a fará digna de tudo o que de bom a vida lhe confiar: moderação e humildade, sobriedade e fé, mesmo que tenha um reino a seus pés.
Seja senhora de si e das suas ideias, do seu coração e da sua vontade. Se o alcançar, será feliz a dobrar, porque se venceu a si mesma e ao mundo!
Com a verdadeira admiração e gratidão da sua rainha.
Obrigada,
José Luís Nunes Martins,
(ilustração de Carlos Ribeiro)
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