
Desertos dentro de palácios
Há pessoas que brilham muito, mas não iluminam nada... são apenas estrelas (de)cadentes.
Há quem julgue que a aparência é essencial. Tanta preocupação têm com o seu exterior, que descuidam o interior. O tempo vai soprando e descobre tudo, revelando o que há por detrás dos disfarces com que tanta gente finge ser o que não é… muitos desertos se escondem por trás de imponentes fachadas.
A aparência é sempre vazia. Mas enquanto alguns tentam parecer e aparecer esquecendo o seu interior, outros optam por a manter transparente, não permitindo que seja um muro que esconde o coração… uma aparência límpida protege o interior e nunca se sobrepõe a ele.
Quem julga que o seu valor reside no que os outros veem, condena o castelo do seu coração à tristeza da degradação, sem luz nem ar nem vida… sem réstia de amor. São uma enorme ruína egoísta que se destrói a si mesma de forma lenta.
Importa abrir portas e janelas, convidar os outros, o vento e o sol a dançarem nos salões e descansarem nos quartos dos palácios que trazemos dentro…
É certo que cada um de nós deve cuidar da sua aparência a fim de que, ao dar-se ao outro, lhe entregue algo tão valioso quanto possível. Mas tratar do essencial é diferente de passar todo o tempo de volta do acessório. Se é verdade que no exterior pode haver algo de valor, também o é que dentro de nós há muita coisa sem qualquer interesse!
É melhor ser um espaço limpo onde haja paz e possa brilhar a luz do que ser um monte de tralha suja e sem valor nenhum. O que importa é ser, não é ter.
Não somos o que temos, somos o que amamos.
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José Luís Nunes Martins
30 de janeiro de 2016
Ilustração de Carlos Ribeiro