segunda-feira, 28 de setembro de 2015

Todos



E às vezes julgamos que as crianças não entendem o ambiente onde vivem. A Tiana tem 6 anos, mora com a sua mãe solteira e da última vez que o pai a visitou, houve um conflito entre eles. Cansada, ela resolveu ter uma conversa séria com a mãe. Ora vejam...


Adorable girl tell her parents not to fight
‘Mom, are you ready to be his friend?’ Tiana starts.
Her mom answers 'yes'.
Tiana continues: Try not to be that high up [she gestures with her hands] to be friends, I want everything to be low. Just try your best.
'I don't want you and my dad to be replaced and meanies again. I want you and my dad to be placed and settled and be friends.
'I'm not trying to be mean. I just want everyone to be friends.
'And if I can be nice, I think all of us can be nice too.
'I'm not trying to be mean - I'm trying to do my best in my heart. Nothing else than that.
'I want my mom, my dad, everyone, to be friends. I want everyone to be smiling.
She later tells her mom: 'I think you can do it. I think you can settle your mean heights down to short heights ... I just want everything to be settled down, nothing else. For everything to be as good as possible. Nothing else.'
At the end of her lecture, her mom tells her, 'Thank you, Tiana,' and they have a hug and kiss.

Se...



E disse Deus:
Se ninguém te ama, a minha alegria é amar-te.
Se choras, Eu desejo consolar-te.
Se és fraco, Eu dar-te-ei a minha força e energia.
Se ninguém precisa de ti, Eu preciso.
Se te julgam inútil, Eu não posso prescindir de ti.
Se estás vazio, a minha plenitude te encherá.
Se tens medo, Eu levo-te aos ombros.
Se queres caminhar, Eu irei contigo.
Se me chamas, Eu venho ao teu encontro.
Se te perdes, Eu não descanso até te encontrar.
Se estás cansado, Eu sou o teu descanso.
Se pecas, Eu sou o teu perdão.
Se precisas de Mim, Eu digo-te: estou aqui dentro de ti.
Se andas nas trevas, Eu sou a luz para os teus passos.
Se tens fome, Eu sou para ti o pão da vida.
Se queres falar comigo, Eu escuto-te sempre.
Se estás preso, Eu vou libertar-te.
Se queres ver o meu rosto, olha para uma flor,
para uma fonte, para uma criança.
Se és marginalizado, Eu estou a teu lado.
Se se esquecem de ti, Eu nunca te esqueço.
Se nada tens, tens-me a Mim.
Se meditas no silêncio, a minha palavra habitará
no teu coração.

J. Fernandez Moratiel, O. P.

sábado, 26 de setembro de 2015

Quem sãos verdadeiros inimigos

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Os amigos combatem o pior de nós, os inimigos o melhor. Os amigos criticam quase sempre, os inimigos poucas vezes. Chegam até a aplaudir. Essa é a sua forma de chegar mais perto, de ganhar a confiança de um peito aberto. Anima-os o ódio, um desejo de destruição que arruína mais quem o tem do que aquele a quem é apontado.
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Os amigos corrigem-nos porque nos dão valor, do mesmo modo como reparamos um objeto importante, mas deitamos para o lixo um outro que julgamos não merecer a o esforço de tentarmos arranjá-lo. Os inimigos corrigem-nos porque não nos dão valor e querem dessa forma justificar o seu desprezo. Aos amigos dói-lhes corrigir, como aos pais castigar os filhos, enquanto os inimigos sentem um perverso prazer em castigar, porque julgam que assim fica legitimado o seu desamor...
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Há quem seja capaz de muito mal. As suas maiores armas são: a calma com que analisam os detalhes, a racionalidade com que dominam os instintos e a frieza com que aplicam os seus golpes. Sem piedade nem culpa. Apenas uma vontade infernal que cumprem. Sim, que os infernos não são senão partes destruídas do paraíso.
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O maior inimigo de qualquer um de nós é a má vontade. A vontade de não criar. O desejo do mal. A ideia de que tudo à nossa volta é adverso e hostil, contrário e aborrecido, indisposto e detestável. A maior parte dos que se fazem inimigos são pessoas que cobiçam, que se orgulham de algo que não tem grande valor, gente que tem medo. E eis que o ódio lhes dá uma ilusão de poder, valor e ousadia.
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Há pessoas que, não sendo capazes de analisar e avaliar os erros próprios, os danos e as faltas dos outros, tentam de forma desproporcional destruir tudo apenas porque se deram conta de um pequeno erro. Como se uma porta encravada justificasse a destruição de um palácio.
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A raiva estende os seus ramos nos espaços vazios, no aborrecimento das vidas que se contentam com pouco sentido. Ninguém nasceu para ser apenas normal. Cinzento. Alguns que assim se encontram dão-se conta de que há outros que têm nas suas vidas cores, alegrias e vida, muita vida... Por esta altura, uns assumem ousar seguir-lhes o exemplo; outros, pretendem ultrapassar a sua desgraça através da destruição dos dons de quem lhes torna evidente o seu fracasso. Um dos grandes sucessos dos inimigos é fazer-nos acreditar que dizem a verdade quando falam a nosso respeito.
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Os momentos mais decisivos dos nossos dias são aqueles em que, não tendo nada planeado e concreto para fazer, decidimos o que fazer ou... desfazer. Há quem prefira passar o tempo a destruir os castelos que outros erguem na areia da praia... em vez de sentirem o carinho do sol na pele, o aroma único que se liberta no quebrar das ondas, a alegria tão profunda, simples e infantil de agarrar a praia inteira numa mão cheia de areia... e ser feliz por poder construir castelos que, mesmo resistindo pouco tempo, são sempre sinal de uma vontade de construir um bem que dure.
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A traição resulta quase sempre da incapacidade de compreender o bem onde ele está. Julgando que o diferente é melhor, só porque é diferente. Mas faz-se pior quem assim se engana a si mesmo, nessa preguiça absoluta de sentir, pensar e ser melhor. Uma aparência de felicidade pode não ser mais que uma máscara que esconde uma grande podridão.
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O rancor muitas vezes aguarda durante anos até poder manifestar a sua sede de vingança, não por um mal que foi feito, mas por um bem que se detestou. Por isso, uma das maiores dores que sente alguém que é mau é ser perdoado do seu mal.
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O inimigo alberga um ódio que é uma esperança de vingança de um suposto mal exterior a si. Sente-se triste e acusa o outro disso. Uma espécie de vingança de medroso.
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Nenhum de nós tem forma de não ser alvo de ódio, pois tanto o bem como o mal que fazemos o podem despertar da mesma maneira.
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Há pessoas más cujo ódio nos louva. Somos diferentes delas, e ainda bem. Mas importa que nunca as levemos ao desespero… aceitando com paciência a sua existência.
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Os nossos maiores inimigos são os nossos erros, vícios e paixões. Devemos aprender com eles, agradecer-lhes os espinhos que cravam, pois reforçam a nossa capacidade de andarmos despertos e de nos aperfeiçoarmos.
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O número dos inimigos aumenta na proporção do nosso valor. Mas são esses mesmos adversários que impossibilitam que nos tornemos vítimas da nossa importância.
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Os amigos tendem a gostar muito do que nos custa a alcançar e a desvalorizar o que nos é fácil…. Já os inimigos preferem que nada façamos e odeiam o que fazemos de mais difícil e elevado. Uns querem o melhor de nós, outros, o pior.
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sábado, 19 de setembro de 2015

Até ao fim das tormentas



DEDICO ESTE TEXTO AO RICARDO JÚLIO PINHO,
QUE PARTIU ESTA MANHÃ PARA JUNTO DE DEUS

Hoje, como sempre, são necessários homens e mulheres capazes de lutar até ao fim pelo bem em que acreditam. O mundo está cheio de conselhos, teorias e promessas, mas quase vazio de obras de valor. Obras completas. Não primeiras pedras.
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A maldade nunca é falta de doutrina ou moral, pelo contrário, encontra sempre razões que apresenta como muito justas e boas. Muitos são os que desistem de se fazerem bons. Ora porque julgam já sê-lo, ora por se reconhecerem maus… e não estão para mais trabalhos. Outros ainda, desistem porque não são capazes de viver com a incompreensão de agir bem e, depois, serem acusados de o ter feito por outros motivos… a verdade é que é preciso mesmo estar disposto a sofrer bastante para ser nobre.

A vida é uma dura e intensa guerra. São muitas batalhas que envolvem inúmeros combates que têm de se travar com mil e um adversários… alguns mais brutos, outros mais subtis. Alguns vivem longe, outros habitam-nos dentro.

Por vezes, valorizam-se os que, apesar de terem ideias erradas, lutam por elas até ao fim… mas, na realidade o que lhes pode sobrar em coragem (que neste caso será uma grande teimosia) lhes faltará em discernimento (que neste caso será pouco mais do que senso comum).

Um coração nobre supõe não só uma inteligência para compreender o que deve fazer, mas também, e essencial, a capacidade de o concretizar até ao fim.

A obra só é perfeita se for até ao fim... e se o fim for bom.

Pode-se errar, parar e até descansar um pouco. Mas cuidando sempre de manter atentas as defesas, pois que é no cinzento dos dias com nuvens e frio que mais vezes a tentação de desistirmos do melhor de nós aparece disfarçada de sol radioso e amigo. Nunca é tempo de dormir de forma absoluta e tranquila. O ardor das feridas dos combates antigos deve mantermo-nos vivos e despertos às investidas do inimigo que a todo o momento podem surgir.

A mais importante coragem de um guerreiro não é a tenacidade com que ataca, mas a fortaleza com que resiste a tudo o que se lhe opõe, a tudo quanto o tenta afastar da construção do seu caminho, destino e missão. Só a inteireza combate a cobiça, o orgulho e o egoísmo.

Resistir, firmes, mas não inflexíveis, pois que as adversidades moldam os espíritos assim como as mãos amassam o pão… até ficarem maleáveis para que possam melhor construir o seu caminho, sem quebrar nem desistir. Porque o mal pode bater, mas não pode abater.

Na guerra da nossa vida, importa sempre continuar para diante, mas nunca por hábito; insistir, mas nunca por teima; persistir, mas nunca por apego... Perseverar, mas sempre pelo bem e até ao fim.

Uma pessoa valorosa nunca luta só. Tem consigo a herança que lhe deixaram os que lutaram antes de si com os mesmos inimigos; legado este que deve enriquecer com a sua vida, a fim de que deixe mais do que lhe foi entregue. Que dê mais do que recebeu.

Que o fogo que nos mantém vivos aqueça o nosso coração e nos ensine, sempre, a distinguir as luzes da verdade dos brilhos da falsidade.

Pode o mundo estalar e ruir, por todos os lados, que não poderá nunca manchar a nobreza de um homem bom. Cada um de nós luta contra adversidades durante toda a vida, e, no fim dela, ainda terá de lutar contra a morte... mas a verdade é que quem luta inteiro... vence!

Porque não se pode ser maior do que aquilo que é inteiro.

José Luís Nunes Martins

segunda-feira, 14 de setembro de 2015

Deus que se fez Palavra



Às vezes pensamos que o que é Sublime
tem de ser Enigmático.
Quando queremos solenizar o profundo,
arranjamos maneira de o tornar incompreensível.
Sim, achamos que a incompreensão
é uma boa homenagem ao Mistério
e, então, deixamo-nos ficar assim,
consolados num não-querer-saber
ao qual chamamos, convictamente, "fé"!

Mas quando despertamos para a inquietação
latente nas palavras e nas fórmulas da nossa Fé,
quando nos deixamos cutucar
pelas insinuações novas que vêm de dentro das afirmações de sempre,
percebemos que vamos ser levados pela mão
por caminhos inesperados
a ver belezas, descobrir sabores, purificar imagens,
curar feridas, refazer esperanças, partilhar significados...

Todas as palavras que se aguentam
com o passar longo do tempo,
é porque têm as entranhas habitadas.
As palavras impregnadas na história
são palavras empenhadas de histórias.

Assim é com as tantas da nossa Escritura,
empenhadas da Inscritura sempre nova e surpreendente
do Deus que se fez Palavra para conversar conosco".

Pe. Rui Santiago, in Estou em Crer

sábado, 12 de setembro de 2015

A chama da vida e o fogo das paixões


Nem sempre estar apaixonado é bom. A maior parte das paixões tomam conta da vontade e assumem o controlo do sentir e do pensar. Prometem a maior das libertações, mas escravizam quem desiste de si mesmo e a elas se submete.

A paixão é sofrimento, um furor que é o oposto da paz e do contentamento. Um vazio fulminante capaz das maiores acrobacias para se satisfazer. Mas que, como nunca se sacia, acaba por se consumir, por se destruir a si mesmo. Para ter paz precisamos de fazer esta guerra, na conquista do mais exigente de todos os equilíbrios: entre a monotonia de nada arriscar e a imprudência de entregar tudo sem uma vontade própria profunda. É essencial que saibamos desafiarmo-nos, por vezes, a um profundo desequilíbrio momentâneo. Afinal, quem nunca ousa está perdido, para sempre.

Há boas paixões. São as que trabalham como um fermento. De forma pacata, pacífica e paciente. Animam, mas não dominam. Orientam, mas não decidem. Iluminam, mas não cegam.

Quase ninguém faz ideia da capacidade que cada um de nós tem para suportar e vencer grandes sofrimentos…

Por paixões comuns, há quem perca a cabeça, o coração e a alma. Uma paixão forte que se consente pode fazer com que a mais digna das pessoas se destrua... se consuma, não ficando senão as cinzas em que ardeu. É preciso que saibamos cuidar do que queremos ser, mais do que do prazer que julgamos merecer. O nosso caminho deve ser decidido por nós, não por um qualquer impulso estranho à nossa vontade. Ser feliz passa por ser firme face às tentações do fácil e do imediato.

A verdadeira chama, aquela que nos ilumina, aquece e orienta, não é a das paixões, é a chama da vida. A vida ela própria, assim, simples e pobre na aparência. Aquela vida que tem consciência de que é, em si mesma, um dom. Uma luz. Um presente do divino. Uma presença divina. Não se trata de uma alegria de cumprir fantasias, antes sim da virtude suprema de saber apreciar os momentos da vida sem necessidade de ser sob a séria ameaça de a perder. Este é o único fogo que não consome.

O frio que por vezes sentimos na alma não é sinal de estarmos no caminho errado, apenas de que é hora de por à prova a nossa determinação.

A paixão aumenta a sua força à medida que crescem os obstáculos que se lhe opõem. Combate-se com a luz da razão e o calor do coração. Sem excessos nem violências. Apenas firmeza, sofrimento e paz.

Posso sofrer, mas não quero desistir de mim mesmo… assim eu me saiba fazer maior do que as minhas dores. Mais forte do que as minhas paixões...

José Luís Nunes Martins

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Ego



"A minha mão direita escreveu muitos poemas que eu compus, enquanto minha mão esquerda não escreveu nenhum poema. Mesmo assim, minha mão direita não pensa da mão esquerda: ‘Você não presta para nada!’.

Minha mão direita não tem nenhum complexo de superioridade, e por isso ela é muito feliz. E minha mão esquerda não tem nenhum complexo de inferioridade. Portanto, nas minhas duas mãos existe uma sabedoria, uma sabedoria chamada de ‘não-discriminação’.

Eu me lembro que um dia eu estava com um martelo batendo em um prego. Minha mão direita não estava muito firme e, ao invés de acertar o prego, acertou o dedão da mão esquerda. Imediatamente, a mão direita largou o martelo no chão e começou a cuidar do dedão da mão esquerda de uma forma muito terna e carinhosa, como se estivesse cuidando dela mesma.

E a mão direita não disse: ‘Você, mão esquerda, você está vendo que eu, a mão direita, estou cuidando bem de você agora, você deve se lembrar disso, e você deve me pagar por isso de volta de alguma forma no futuro.’ Não há este tipo de pensamento. E minha mão esquerda não diz assim: ‘Você, mão direita, você me machucou muito, me dê este martelo, eu quero vingança!’

Não há este tipo de pensamento, porque as duas mãos sabem que elas estão juntas, elas estão uma na outra.”

Thich Nhat Hanh

segunda-feira, 7 de setembro de 2015

Nascemos e não mais morreremos




Morrer aos 28 anos? Que absurdo! Morrer aos 28 anos não faz sentido. Morrer quando se tem um bebé pequeno para criar ainda mais drama acrescenta. Quando se vem a saber que preferiu evitar tratamentos prejudiciais à vida do bebé durante a gestação e que isso lhe custou a vida, começa a perceber-se que não há apenas uma tragédia: há também escolha; uma escolha impressionante. Depois, recuando ainda mais para trás, vem-se a saber que já tivera um outro filho: nascera com malformações e vivera meia hora após o parto. Um pouco mais para trás e, de novo, uma filha existira antes dos outros: crescera com uma anencefalia e vivera apenas meia hora depois do parto. E assim se percebe nas entrelinhas que estes pais levaram três gravidezes até ao fim: por três vezes, e as três vezes em condições adversas.

Ou seja: toda a história é uma tragédia difícil de digerir, do princípio ao fim. A dor, a doença, a impotência, são todas promessa de um futuro truncado, arrancado, mutilado. E ninguém gosta de entrar nestas realidades. Mas, em todo este tempo, e apesar de todos os altos e baixos, Chiara e Enrico sentiram-se nas mãos de Deus e a viver tudo com uma paz de fundo que os deixava perplexos – a eles, a todos aqueles que os acompanhavam; e, agora, aos que os vão conhecendo. A verdade é que, contra todas as expectativas, desprende-se da história deste casal um perfume inconfundível a eternidade.

Foi esse contraste que me convenceu que algum dia teria de a conhecer melhor. Já em tempos a encontrara numa revista italiana; depois, em Lisboa, não perdi a oportunidade de ir à apresentação do livro “Nascemos e Jamais Morreremos”, onde se relata a história de Chiara: por coincidência, naquela noite, cheguei ao mesmo tempo que os principais protagonistas desta história e pude dar pessoalmente o ‘benvenuto’ ao Enrico (pai), ao Francesco (filho), ao Simone e à Cristiana (amigos do casal e redatores do livro). Durante a sessão sentiu-se mais uma vez a vibração daquele silêncio perfumado, misto de admiração e comoção - típico de ambientes cheios de Deus. E, mais uma vez, aquela tragédia se converteu em luz para todos os que ouviam o seu relato.

Finalmente peguei no livro e passei uma tarde inteira de mãos dadas com a Chiara. Naquele italiano musical, contou-me como foram aqueles anos de namoro; as peregrinações e a procura da vontade de Deus; a decisão de casar; a primeira gravidez, tão súbita e, depois, tão peculiar: meia hora de vida com frutos tão inesperados; a segunda gravidez e, de novo, a morte [aos nossos olhos] prematura; finalmente, o filho [aos nossos olhos] saudável e, em simultâneo, a surpresa do carcinoma nela própria, a exigir tratamento imediato. E a decisão natural de deixar a vida em gestação crescer e desenvolver-se em detrimento do combate ao ‘dragão’ do cancro - que sorrateiramente lhe ia invadindo o corpo. Curiosamente, grande parte destes acontecimentos, a passarem-se ao mesmo tempo em que eu vivia uns quarteirões ao lado, no centro de Roma.

A naturalidade com que me falava de Deus era a de quem já nesta terra vivia a vida eterna. Confirmou em mim a certeza de que a vida eterna não é algo que venha lá longe, a qual devamos esperar, mas algo que podemos viver já, aqui e agora. E, nesse sentido, é mais compreensível que as provas que a vida lhe trouxe as tomou não como castigo ou carga insuportável: tornaram-se a oportunidade de testemunhar, manifestar, evidenciar o maior tesouro que alguém pode ambicionar: a fé, a confiança inabalável, a intimidade com Deus.

A mim, fez-me perceber melhor como é possível viver em simultâneo dor e bênção, sofrimento e alegria - não como antítese uma da outra mas como síntese uma com a outra. Fez-me perceber melhor a Paixão de Cristo. Agradeço-lhe ter-me ajudado a entrar na Semana Santa com outra preparação - tempo a ser vivido com esse mesmo silêncio perfumado, misto de admiração e comoção, a que a história de Chiara inspira - e ter-me ajudado a preparar os inevitáveis tempos de 'Paixão' que a minha vida me há de trazer. Se tivesse de resumir a aprendizagem recebida com Chiara diria: "Não tenhas medo. A vida há de trazer dores e dificuldades mas nenhuma é superior a Deus. Prepara-te nEle, no Seu amor, e Ele tornar-te-á capaz de qualquer travessia".

Morreu no dia 13 Junho 2012, aos 28 anos. E, de facto, pode ter sido um absurdo - se quisermos ler a história apenas à luz da razão - à luz dos nossos planos, desejos e ambições ainda demasiado terra-a-terra. Mas quem disse que a vida se confina a isso? Quem disse que a morte biológica é o fim de tudo? A história de Chiara é uma prova viva de que quando se morre, não se morre: nasce-se de novo; desta vez para o Céu. Atrás de si, Chiara deixou um rasto de luz, daquela luz que não se vê com os olhos mas com o coração. E não será essa a melhor luz? 

domingo, 6 de setembro de 2015

Descobrir uma presença



Seria belo se, pelo menos neste dia festivo,
o cristão entrasse na igreja

não para pedir alguma coisa,
mas apenas para escutar Deus,

não para esperar uma graça,
mas apenas para louvar a graça divina que se infunde nele e na humanidade,

não para encontrar uma solução para os seus problemas,
mas apenas para descobrir uma presença.

Karl Barth

sábado, 5 de setembro de 2015

Buraco de luz para Deus



Ligo o braço longe a uma estrela
A lua límpida sobe no céu
Um anel passa através de outro anel

Procuro o tempo e encontro a passagem
Procuro a morada e encontro o relento

Às vezes mesmo sem voz
Às vezes até sem palavras
Silêncio que Deus me deu
És uma forma de luz
Tornas sagrado o que existe, centelhas da verdade
Somos o barro, somos poeira
O teu vento errante nos leva

Eu sei existe em mim, mesmo no fundo de um poço
Um buraco de luz para Deus
Um nome escrito no céu

E não sei o que fazer e rezo
Rezo sem saber dizer o quê e a quem
Mas rezo
Rezo o chão e a flor, o pão e a fome,
Rezo o branco e a dor
Nas letras do teu nome
Há um buraco de luz

José Tolentino Mendonça
Composição da oratória “Credo”

sexta-feira, 4 de setembro de 2015

A Vela


A vela acolhe. A vela transforma um espaço vazio numa casa, num lar.
A vela aquece. Quando nos sentimos mais sozinhos, mesmo que estejamos rodeados de muitas pessoas. Quando parece que tudo e todos estão contra nós, a vela aquece-nos por dentro.
A vela embeleza. Com a sua cor, com o seu brilho, com a luz a tremeluzir, a vela dá um toque especial ao sítio onde está.
Com a vela rezamos. A vela lembra-nos o espaço de oração. Com a vela é como se fizéssemos Deus presente na nossa sala. Com uma vela podemos sentir-nos em oração.
A vela ilumina. Quando os dias parecem mais sombrios, quando nos sentimos mais perdidos, a vela é um ponto de luz constante.
A vela dá-se… por inteiro. A vela serve para ser queimada, para se consumir, para se gastar para acolher, para aquecer, para embelezar, para rezarmos, para iluminar. Se a vela não arder, se a vela não se der, não serve de nada ter uma vela e ela não cumpre a sua missão.
Que durante este ano, cada um de nós consiga dar-se por inteiro!... Como uma vela!

João Pedro Santos

Vê que interessante a quantidade dos nossos antepassados: Pais: 2 Avós: 4 Bisavós: 8 Trisavós: 16 Tetravós: 32 Pentavós: 64 Hexavós: 128 Hep...