sábado, 23 de maio de 2015

O amor não acontece. Decide-se!

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Há quem julgue que o amor é alheio à vontade humana, algo superior que elege, embala e conduz… e que quase nada se pode fazer perante tamanha força. Isso é uma mera paixão no seu sentido menos nobre. E, nesse caso, sim, o amor acontece... Ao contrário, amar é estar acima das paixões e dos apetites. Mesmo quando o amor nasce de uma espontaneidade, resulta de um claro discernimento.
O amor decorre de uma decisão. De um compromisso. Constrói-se de forma consciente. Através do heroísmo de alguém livre que decide ser o que poucos ousam. Escolhe para fim de si mesmo ser o meio para a felicidade daquele a quem ama. Sim, decide-se amar e, sim, decide-se a quem amar.

O amor autêntico é raro e extraordinário, embora o seu nome sirva para quase tudo... a maior parte das vezes designa egoísmos entrelaçados, cada vez mais comuns. São poucos os que se aventuram, os que arriscam tudo, os que se dispõem a amar mesmo quando sabem que poucos sequer perceberão o que fazem, o seu porquê e o para quê.

O amor não supõe reciprocidade. Amar é dar-se por completo e aceitar tudo... não se contabilizam ganhos e perdas, porque o seu maior ganho é esse mesmo: perder-se. Entregar o corpo e o espírito, o passado e o futuro, a razão e o coração... não é ser metade de qualquer coisa, é dar-se inteiro em troca de nada.

Quem ama nunca se funde nem confunde com o amado. Os egoísmos buscam modificar o outro para o fazer à sua imagem e semelhança. O amor aceita e promove o ser do outro, enquanto verdade livre e autónoma, com o seu significado, rumo e valor próprios.

O amor envolve alegrias puras e tristezas fundas, sorrisos sinceros e dores profundas. Amar não é ser feliz. Mas será muito mais importante amar do que ser feliz, porque só é feliz quem ama, seja neste momento ou na eternidade.

Nunca se está tão perto da solidão absoluta como quando se é capaz de amar. O risco de tudo ser absurdo... é grande. Enorme. Mas o amor é uma perfeição, não uma perdição. É uma virtude porque resulta de uma escolha responsável, um compromisso íntimo de alguém com outra pessoa a quem se dá o melhor de si… face a face com a possibilidade do pior dos fracassos: uma vida em vão.
É mais forte do que a morte. Quando se ama alguém, a sua perda apenas aprofunda e eleva,
engrandece e alarga o coração de quem, apesar de todos os sofrimentos, medos e angústias, aqui decide não ser daqui. A verdade é que se todos os caminhos nos levam ao amanhã, só o do amor nos entrega à eternidade.

Amar é renunciar a muito, a quase tudo, sentir, pensar e dizer não… a todas as outras possibilidades, às superficialidades e aos prazeres, ao próprio egoísmo que tenta impor-se, tantas vezes, como se fosse uma questão de sobrevivência.

Amar é criar. Do nada faz tudo. A sua essência escapa por completo à compreensão humana. A sua lógica é outra... O amor é divino. Quem ama faz-se a si mesmo imagem de Deus.

É preciso muita coragem e uma nobreza suprema para sentir, pensar e dizer a cada dia e a cada noite: sim, quero! sim, aceito! sim, amo!


José Luís Nunes Martins
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