do Lat. ciboriu; s. m., a parte mais alta que exteriormente remata ou cobre a cúpula das grandes igrejas ou dos edifícios monumentais. Este blog é, na sua grande maioria, partilha de videos e textos de diversos autores que recebo diariamente. Com a visão dos outros podemos ver mais alto, mais longe...
terça-feira, 17 de fevereiro de 2015
Grande é o mistério do amor
«Quem ama a sua mulher, ama-se a si mesmo. De facto, ninguém jamais odiou o seu próprio corpo; pelo contrário, alimenta-o e cuida dele, como Cristo faz à Igreja; porque nós somos membros do seu Corpo. Por isso, o homem deixará o pai e a mãe, unir-se-á à sua mulher e serão os dois uma só carne.» (Efésios 5, 28b-32)
O amor dos maridos pelas esposas e vice-versa encontra a sua grandeza quando é referido a Cristo e à Igreja. É claro que a criatura humana já fora criada para se unir como casal (Adão e Eva), mas o modo como o casal se realiza em Cristo revela, ampliando-o, o horizonte da primeira criatura de Deus. Um horizonte que se perde em zonas misteriosas, nas quais dois podem fundir-se num só. Nas quais dois podem comunicar, conviver, serem uma comunhão.
Grande desafio, o de sair do individualismo, da avareza, do medo. É a derrota da solidão. Dar o salto para fora da velha casa paterna para morrer na carne de outra pessoa. Tomar a decisão. Extirpar os guetos de todo o tipo, superar a lógica das guerras religiosas para «ser uma só carne». Para lá das leis e das regras moralistas. É o ímpeto irresistível para a caridade e para as suas obras que faz dos dois um só corpo. Levando assim, em si próprios, o anúncio da paz e do fim do ódio, o anúncio dos perseguidos por causa da justiça. Dos puros de coração que «veem» a Deus. Por serem sua carne.
Maravilha do mistério de Cristo e da Igreja: a sua visibilidade é desconcerto e milagre. Deixemo-nos desconcertar e façamo-nos milagre!
Cristo cuida e nutre a sua carne, a Igreja. Do mesmo modo amem os maridos as suas esposas e as esposas os seus maridos: cuidem um do outro.
Sejam capazes de se surpreenderem com a delicadeza de gestos de respeito e com a gratuidade de atos de amor, para lá dos atos expetáveis no âmbito do que for hábito vazio e cínico.
Protejam-se reciprocamente, considerando que o outro é carne sua e que o destino de um está ligado ao do outro.
Saibam captar as respetivas necessidades no momento certo e encontrar as palavras e os gestos que lhes possam responder; sejam sensíveis aos sofrimentos e lutem por resgatar, nesses momentos, a liberdade e a paz recíprocas.
Defendam a comunhão como caminho de fecundidade, sem esmagarem ou desprezarem os carismas e as diferenças; façam desses carismas instrumento e tesouro para o casal crescer como família, onde cada qual tem a sua voz e a sua insubstituível riqueza.
Alimentem-se um ao outro com a consagração da própria vida, consagração essa que transcende todos os esquemas adolescentes de um compromisso tantas vezes meramente boémio.
Não é possível o casal sustentar-se se renunciar a viver em cheio e a amadurecer, isto é, sem a exigência adulta de se darem.
A nossa vida não é a vida de quem se poupa. Precisamos de nos gastarmos numa caridade feita diariamente de suor, cansaço e sacrifício. Não passar o tempo à espera de prémios, ou a lamentar as omissões do outro; há que cumprir o mandamento do amor que pede amor incondicional.
Precisamos de ter bondade, e também liberdade e distância em relação ao nosso ou à nossa consorte; alimentá-lo, portanto, de caridade e de profecia. Sem nos contentarmos com sermos uns tontos guardiães de muralhas ou de meras tradições.
«Grande é este mistério...», «... por isso o homem se unirá á sua mulher... grande é este mistério; mas eu interpreto-o em relação a Cristo e à Igreja.»
O matrimónio não é indispensável para se vivenciar o amor de Deus. Paulo dirá: «Desejaria que todos fossem como eu», que me fiz tudo para todos (cf. 1 Coríntios 7, 7). É indispensável fazer a experiência do amor. O cristianismo é uma religião eminentemente espiritual: teremos maridos, esposas, filhos e filhas no Espírito, pois a fecundidade do amor é um milagre sem fim.
Rosanna Virgili
In "Os aposentos do amor", ed. Paulinas
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