Erguendo o olhar para o alto, descobriremos que Deus não impõe a sua presença, mas oferece-a como possibilidade de relação. Pertence a nós, aos nossos ouvidos, à nossa boca, ao nosso coração, dizer o sim que nos abre à sua presença.
Só então saberemos que o seu Reino não contempla cetros ou ordens, não possui exércitos e não declara guerras. A omnipotência que o sustenta é aquela fragilíssima do amor que acolhe.
Não será esta, talvez, a ausência que devasta o nosso tempo? Pensámos que se poderia viver bem sem o espírito de maternidade, esse espírito que aceita e acompanha, que protege e defende, que segue tudo o que é pequeno e incerto e faz os possíveis para que se torne grande e forte. Não será esta a missão de cada mãe: dar a vida e protegê-la, vigiar constantemente para que nada viole a sua sacralidade?
Deus, por isso, não é um rei mas um ninho. É nele que nos podemos refugiar quando estamos oprimidos, quando estamos exaustos, quando estamos em viagem há demasiado tempo e deixámos de saber onde repousar.
Só então, só no ninho, descobriremos que a sua forma não é um evanescente e impenetrável mistério, mas é o rosto do Outro que encontramos cada dia no nosso caminho.
Susanna Tamaro
In "Avvenire"
Trad. / edição: Rui Jorge Martins
Publicado em 31.12.2014
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