A nossa paz interior é essencial, pelo que devemos defendê-la de qualquer ataque exterior. Muitos julgam que a opinião alheia, a fama e a fortuna são contributos fundamentais para a felicidade, quando, na verdade, não são senão de enganos.
Para que os outros pensem bem de nós, passamos muito tempo a comportarmo-nos de acordo com expectativas que não são nem nossas, nem boas. Tememos até que uma simples escolha errada possa manchar a nossa tão importante (suposta) reputação… passamos a vida inquietos e ao sabor das esmolas do julgamento alheio… Devemos aprender dos outros as muitas lições que nos podem dar, mas sem nunca deixarmos de ser quem somos, nem hipotecar as nossas potencialidades, sem a quais perdemos a nossa identidade e, de certo modo, a nossa razão de ser, o sentido da nossa existência.
Não devemos agir bem para agradar a ninguém, devemos fazê-lo por respeito a nós mesmos, cumprindo o nosso dever de sermos tão bons quanto possível.
Mesmo quando se alcança o que é alvo da admiração alheia, logo aparecem a inveja e a desconfiança. Pior, a partir de um determinado ponto deixará de ser claro se quem está connosco… estará por aquilo que somos ou, tão-só, por aquilo que temos…
Mas a ideia de viver longe dos outros, para evitar os males da sua convivência, também não é nada boa. Só chegamos a ser quem somos através das nossas relações com outros, nelas nos construímos e realizamos.
Aqueles que escolhemos, aqueles a quem amamos, esses serão a fonte dos maiores presentes que a vida nos pode oferecer, embora sejam, também, tantas vezes, a causa das nossas maiores amarguras.
A minha obrigação é a de ser artífice do meu destino, e assim, de forma cuidada e discreta, ir conquistando a paz interior, amando, dando-me, sem contabilizar custos ou destinatários. As árvores não contam os frutos que dão, muito menos a quem.
O dever não é o oposto da felicidade. A felicidade é o nosso dever.
Sem egoísmos, sem nos afastarmos dos outros. Haverá sempre gente ingrata, insolente, desleal, com má vontade e com egoísmos de todos os tamanhos e formas, mas o perigo maior é o de nos tornarmos como essas pessoas… sendo que, eles, também têm um papel útil, porque nos mostram, pelos seus vícios, o que devemos evitar. São um exemplo do que não devemos fazer.
É nossa obrigação, também para connosco mesmos, cuidar de todos aqueles que, por alguma razão, a vida coloca perto de nós.
As relações constroem-se. Mesmo o amor pelo nosso melhor amigo não é fácil e envolve um trabalho árduo e persistente. Não é nada natural… É divino!
Por mais difícil que possa parecer, a verdade é que podemos amar quem escolhemos e, mais importante ainda, podemos escolher quem amamos!
Nunca é o agradecimento ou a admiração dos outros que nos dá paz. Mas sempre que cumprimos o nosso dever experimentamos um estado de harmonia connosco próprios e com o mundo que nos rodeia. Neste ponto tudo é perfeito.
Ajudarmos os outros é a melhor forma de alcançarmos a nossa paz interior.
Nunca nenhum de nós deixa de ser aquela criança que, à janela de casa, admira a chuva... enquanto, por entre o seu próprio reflexo, sonha com um mundo perfeito… e descobre que, afinal, a água que vem do céu… só lá volta depois de ter cumprido aqui a sua missão!
É essencial para a nossa paz interior que saibamos escolher o que sentir, o que pensar, o que dizer e o que calar... o que fazer e como o fazer. E é assim, sempre com firmeza e delicadeza, tal como a gota que escava a pedra, que devemos lutar pelo silêncio do céu que há nós…
José Luís Nunes Martins
jornal i
1 de novembro de 2014
http://www.ionline.pt/
Ilustração de Carlos Ribeiro
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