Faz hoje uma semana que o Carlos (nome fictício) me falou a dizer que tinha encontrado a mãe, que procurava há 26 anos, depois desta o ter abandonado quando tinha 4 anos. Foi nessa tarde para Vila Franca de Xira e nessa noite mandou-me uma mensagem a dizer:
- “Gosto muito de estar com a mãe”.
Mais tarde, quando lhe falei e lhe perguntei se a mãe o tinha recebido bem e se tinha gostado de o ver, disse-me com simplicidade e despreocupação:
- “Bem, acho que eu gostei mais do que ela”.
Fiquei a pensar se não iria haver um desajuste entre eles - uma mãe que abandona e um filho que não pensa em mais ninguém e em mais nada senão nela e em a encontrar... No dia seguinte, terça-feira, veio ao Porto e despediu-se do emprego, fez contas com amigos, despediu-se também de mim. E na própria terça-feira voltou para Vila Franca ao fim da tarde.
Quando tentei que ele reconsiderasse tanta precipitação, disse-me com uns olhos molhados:
- “Não pode perceber, ninguém pode perceber. Eu adoro muito a minha mãe, não me quero separar mais dela”.
Não insisti. Que direito tinha de fazer as coisas à minha maneira? O que sei disto? À noite falou a dizer que tinha chegado bem, e nunca mais deu noticias. Ontem, Domingo, falei-lhe e perguntei como se estavam a passar as coisas, ele respondeu que estava tudo bem:
- “Eu estou com a minha mãe e estou feliz, agora só preciso de arranjar um emprego. Para a ajudar. Vou tomar conta dela”.
Fiquei muda. Este rapaz está a viver uma página do Evangelho. O “permanecer” uma vida inteira na procura da mãe. O encontro sem nenhuma queixa, e uma necessidade de ajudar a mãe e de tomar conta dela. Um rapaz que guardou o seu segredo fechado no coração ferido e triste mas cheio de esperança,e de amor. Uma Missa (a do Natal do ano passado) que mexeu com ele ao ponto de o fazer finalmente chorar. O Carlos está a escrever uma página de um 5º. Evangelho. Louvado seja Deus.
«Amarás ao Senhor, teu Deus, com todo o teu coração, com toda a tua alma e com toda a tua mente. Este é o maior e o primeiro mandamento. O segundo é semelhante: Amarás ao teu próximo como a ti mesmo.» (Mt. 22, 36-40)
Tereza Olazabal