sábado, 12 de julho de 2014

Vencer as tentações



O nosso coração deve ser um castelo. De onde expulsamos, sem demoras, tudo quanto atenta contra o nosso bem. Sem excessos nem cobardias. Em paz.

As tentações não são ferozes, nem vencem pela força… a sua arma essencial é a astúcia. As tentações conhecem-nos a partir de dentro, pelo que não se combatem com mentiras, mas com a vontade e a verdade. Ninguém está isento do momento em que, de súbito, a paz se acaba, mas, se formos rápidos na resposta, evitaremos que o inimigo ganhe o poder de nos dominar, dividir e anular.

Muitos são escravos das suas perdições, assumem-se como vítimas, fracos por opção, e não lutam. Acolhem o mal no seu íntimo, fazendo-o hóspede, dão-lhe as chaves do coração, acreditando nas promessas de realização dos sonhos que as tentações lhes apresentam. Quando passa o tempo e se dão conta de que estão agora mais longe do seu objetivo… perdem-se mais, tornando-se presas ainda mais expostas.

São os limites que marcamos para nós mesmos que nos definem. A minha identidade é uma unidade onde tem de haver uma distinção entre o que quero e o que não quero. Entre o que aceito e o que não aceito. Entre o que erguerei e o que destruirei em favor do maior bem.

As tentações encantam e fazem acreditar que os desejos mais íntimos são justos e serão por elas satisfeitos. Ora, é talvez por aí que deve começar a nossa cruzada contra tudo o que nos destrói: analisar e avaliar bem os desejos, anulando todos quantos são apenas faces inocentes de perversidades profundas…

Lutamos porque somos homens e para sermos homens.

Estas seduções do mal giram em torno de três eixos: o prazer, o poder e o ter. Apontando-nos como futuro centro do mundo se a elas nos submetermos. Mas, nunca nenhum de nós é ou será o centro do mundo e é muito bom que assim seja. A verdade e a beleza da vida passam pelo contraste entre a insignificância do que começamos por representar e o valor do que somos chamados a construir em nós e no mundo… com e para os outros. Ninguém se basta a si mesmo.

A arma de quem vive na eterna guerra das tentações é a vigilância. Quanto mais cedo e de forma mais resoluta se reconhecerem e enfrentarem, melhor será o resultado.

Importa ter a consciência mais atenta à realidade do que à imaginação.

Devemos manter o coração em paz apesar das feridas abertas, das chagas pelos golpes incessantes, umas vezes em cima das antigas cicatrizes, outras em pontos que nunca haviam sido tocados… golpes sempre subtis, firmes e certeiros.

A vida é uma luta áspera contra a morte, contra o mal que nos quer desunir, contra a ausência de um sentido profundo. Viver é atacar o que atenta contra a vida. Viver é defender a nossa vida com… a vida.

Importa vigiar sempre, ponderar e concentrarmo-nos nos objetivos que vamos traçando, na história que construímos, ano a ano, dia a dia, a cada momento. Numa lógica de prudência a longo prazo… de longuíssimo prazo. Afinal, um homem não é um momento mas uma história que se estende no infinito diante de si.

O nosso coração deve ser um castelo. De onde expulsamos, sem demoras, tudo quanto atenta contra o nosso bem. Sem excessos nem cobardias. Em paz.

O que sofremos tem sentido. A cruz pode sempre ser a espada com que nos defendemos do que ataca o brilho do nosso olhar!

Ser feliz passa por ser humilde e sereno. Por guardar a paz, atender a quem precisa, dando o que somos e temos, moderando sempre o que em nós quer ir além do simples… amando, sempre.

Por José Luís Nunes Martins
http://www.ionline.pt/iopiniao/atacar-tentacoes/pag/2

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