
Na rota do sofrimento, escutamos histórias de vida que nos fazem perceber que Deus não está fora da cidade. Uma idosa da idade de minha mãe conta a sua aventura e resume a sua vida numa simples frase:
- "Nunca tive nada por meu; tudo o que tive partilhei com filhos que adotei, com os pobres que sentava à nossa mesa".
Noutro lugar, há uma filha que deixa o emprego, para cuidar da mãe, que não a conhece nem reconhece, por causa da doença de Alzheimer. E diz-me, resoluta:
- "No larnão a ponho, nem pensar. Se não der para o bife no prato, dá para uma sopa na tigela".
Noutro lugar, aprecio a coragem de um homem, a quem coseram a mão a sangue frio, e que se orgulha das "medalhas" que tem na mão. Mas há uma velhinha, que me faz soltar uma risada, que acordou a vizinhança. Já depois de alguns minutos, como se nos conhecêssemos há anos, ela debita esta sabedoria evangélica:
- "Sabe, Sr. Padre, não me tenho confessado e sempre que vou à Igreja o Padre está apressado. Chega a hora da comunhão e eu digo a Nosso Senhor: «Óh Senhor, eu queria receber-Te, depois da confissão. Mas como o Padre não está e eu estou cheia de vontade, não Te importas e eu vou comungar?!».E - diz a velhinha com humor cristão - "e eu lá vou à comunhão convencida que Nosso Senhor vai cá na conversa fiada da velhota".
Depois conta-me a sua história do seu amor a Cristo e eu sinto-me ainda mais pequeno do que ela. Quer-se confessar e eu lá me volto para ela e, com brilho nos olhos, depois da absolvição, no fim, diz isto que arrepia o mais incrédulo:
- "Hoje o céu entrou pelas telhas da minha casa dentro. Obrigado, meu Jesus".
E eu lá vou dizendo baixinho.
- "Oh meu Deus, ó Padre Gonçalo, tinhas aqui um tesouro escondido no meio do betão e só hoje o descobriste. Talvez te tenhas de confessar pela demora".
Pe. Amaro Gonçalo
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