SEMANA DE ORAÇÃO PELA UNIDADE DOS CRISTÃOS
DIA 2 | Caminhando com o corpo ferido de Cristo |
Leituras | |
Ezequiel 37,1-14 | “Essas ossadas podem reviver?” |
Salmo 22,1-8 | O servo de Deus, insultado e ridicularizado, clama a Deus |
Hebresu 13, 12-16 | O chamado para ir a Jesus “fora do acampamento” |
Lucas 22, 14-23 | Jesus parte o pão, dando-se como oferta antes de seu sofrimento |
Comentário
Caminhar humildemente com Deus significa ouvir o chamado para
ir além dos lugares de nosso próprio conforto, acompanhando o outro,
especialmente o outro que sofre.
“Nossos ossos estão ressequidos, nossa esperança desapareceu,
estamos esfacelados”. Essas palavras de Ezequiel expressam a experiência de
muitos povos no mundo inteiro hoje. Na Índia, isso acontece com o povo ferido
das comunidades dos dalits, cujas vidas falam eloqüentemente desse tipo de
sofrimento, um sofrimento que Cristo, o Crucificado, partilha. Com pessoas
feridas de todos os tempos e lugares, Jesus grita ao Pai: “Meu Deus, meu Deus,
por que me abandonaste?”
Os cristãos são chamados a entrar nesse caminho da cruz. A
epístola aos Hebreus deixa claras não apenas a realidade salvífica de Jesus,
vivida nas margens da vida, mas também a necessidade de seus discípulos irem
para “fora do acampamento” para lá o encontrarem. Quando encontramos aqueles que
foram excluídos e reconhecemos o crucificado em seus sofrimentos, fica clara a
direção em que devemos ir: estar com Cristo significa estar em solidariedade com
os que se situam nas margens, cujas feridas ele partilha.
O corpo de Cristo, ferido na cruz, é “ferido por você”. A
história do sofrimento e da morte de Cristo tem seu prefácio na história da
última ceia: então é celebrada como vitória sobre a morte em toda eucaristia.
Nessa celebração cristã, o corpo ferido de Cristo é seu corpo ressuscitado e
glorioso; seu corpo é ferido para que possamos partilhar sua vida e nele ser um
só corpo.
Como cristãos no caminho da unidade podemos freqüentemente ver
a eucaristia como um lugar em que o escândalo de nossa desunião é dolorosamente
real, sabendo que, por enquanto, não podemos plenamente partilhar esse
sacramento como deveríamos. Essa situação nos chama a renovados esforços na
direção de uma comunhão mais profunda de uns com os outros.
As leituras de hoje podem nos abrir outra linha de reflexão. Caminhar com o corpo ferido de Cristo aponta um caminho para estarmos eucaristicamente juntos: partilhar nosso pão com os famintos, derrubar as barreiras de pobreza e desigualdade – esses são também “atos eucarísticos”, nos quais os cristãos são chamados a trabalharem juntos. O papa Bento XVI organiza suas reflexões sobre a eucaristia para a Igreja justamente desse modo: é um sacramento não somente para ser motivo de crença e celebração, mas também para ser vivido (Sacramentum caritatis). Combinando com a compreensão dos ortodoxos da “liturgia após a liturgia”, aqui se reconhece que não há “nada autenticamente humano” que não encontre sua forma e vida na eucaristia. (SC 71)
Oração
Deus de compaixão, teu Filho morreu na cruz para que em seu
corpo ferido nossas divisões possam ser destruídas. Ainda assim, o crucificamos
sempre de novo com nossa desunião, e com sistemas e práticas que põem obstáculos
ao teu cuidado amoroso e à tua justiça em relação àqueles que tem sido excluídos
dos dons de tua criação. Envia-nos teu Espírito para infundir vida e cura em
nossa fragilidade para que possamos testemunhar juntos a justiça e o amor de
Cristo. Caminha conosco em direção ao dia em que possamos partilhar um mesmo pão
e um mesmo cálice na mesa comum. Deus da vida, guia-nos para a justiça e a paz.
Amem.
Questões
§ À luz da tradição profética em que Deus deseja a
justiça mais do que um ritual sem retidão, precisamos nos perguntar: Como a
eucaristia, o mistério da fragilidade de Cristo e de sua nova vida, é celebrado
em todos os lugares por onde caminhamos?
§ Que podemos fazer, como cristãos, juntos, para
testemunhar melhor nossa unidade em Cristo em lugares onde há feridas e
marginalização?
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