sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Saudades de abraços




Eu acho que as pessoas deveriam se abraçar mais. Só isso

Estou na Noruega e, aqui, as pessoas não se abraçam. Tipo, elas apertam as mãos ao se conhecer. Abraços, só amigos íntimos. Sabe como se dá tchau? Acena "tchau, tchau, a gente se vê depois". Você passa a noite na casa de uma pessoa ajudando a fazer alguma coisa e... tchau, boa sorte. Depois de um jantar, sorrisos, todo mundo legal e tchau, até depois. Como se levantasse para ir ao banheiro, só que levando a bolsa. Dividi uma casa com três universitários e, quando fui embora, não falei nada. Ninguém falou nada. Deixei um bilhetinho para cada um e uma amiga russa achou exagero.

E eu sempre fui daquelas que acham que brasileiro é invasivo, sabe? Dessas que acham que um abraço é demais, que as pessoas se encosta demais, ai que saco. Conheci o amigo da cunhada do colega de não-sei-quem e já ela já saiu me dando beijo na bochecha. E aqueles free hugs então? Era só o que me faltava. Todo mundo já ganha free hugs o tempo inteiro, que frescura! E quando via um monte de meninas que, ao se encontrar, se juntava e se abraçava? Milhares de fotos grudadas? Mais frescura ainda.

E foi só ao chegar na Noruega e notar que não posso abraçar ninguém que percebi: eu amo abraços. Tem um quê de esquisito neles. Uma química, uma mística. A Noruega pode ter todo esse Índice de Desenvolvimento Humano, segurança e garotos lindos para tudo quando é lado, mas não tem abraços.

E faz falta. Ah, vocês não sabem quanto. Mesmo o abraço daquela prima insuportável. Mesmo o abraço que você só dá só para dizer um "oi".

Descobri que odeio apertos de mão. Não acredito que conheço uma pessoa em uma festa e vou apertar a mão dela. Aperto de mão é um meio psicológico, até. Revela a personalidade, eu li num desses livros de linguagem corporal. Tipo, se a mão fica para cima, quer dizer alguma coisa; se a mão fica para baixo, quer dizer outra; se é muito rápido; se é muito lento; tudo cheio de significados obscuros. Sabe o que um abraço significa? Que eu posso sentir o perfume das pessoas. O calor humano. Dá pra saber se elas tomaram banho, ficar bem próxima. Significa que eu aceito a pessoa como ela é a ponto de ficar supercolada nela. E dois minutos atrás eu reclamava de abraçar e dar três beijinhos (ou seria um? Ou dois? Ai, depende do estado...).

Eu até comecei achar esse negócio de estado (e variações de beijinhos na bochecha) a coisa mais fofa. Dois minutos atrás, ficava furiosa quando viajava porque eu sempre acabava ou beijando o ar ou me desgrudando da pessoa antes de acabar. Mas xinguem o Brasil, falem o que quiser. Eu nem ligo mais para errar os beijinhos. Eu posso abraçar todo mundo nesta terra maravilhosa. Esqueçam essa conversa de "quero ir morar em Londres". Se as pessoas não se abraçam em Londres, então é um saco. Faz uma falta que a gente acha que não faz. Até daqueles abraços de uma tia aleatória (que demoram duas horas e daí você começa a pensar em mil coisas no meio do abraço), a gente sente falta. Eu sei, eu sei, eu falei do abraço da prima antes, mas, sinto falta do da tia também.

Abraço aqui é um negócio tão tenso que uma amiga minha norueguesa achou que estivesse namorando com um cara porque ele a abraçou em público. É. Simples assim. Eram amigos íntimos, ele a abraçou na frente da turma dele e minha amiga teve uma crise. Veio falar comigo, toda sem jeito, "Ai, será que ele quer me namorar?". Juro que demorei uns dez segundos para entender qual era o drama (inclusive achei que tinha perdido uma parte da história).

Claro que eu tenho que voltar. Eu quero abraçar a aeromoça. A zeladora. Minha mãe. Meus melhores amigos. E eu quero poder dizer que todos são meus amigos e só amigos. Eu agora tenho um plano pra sair na rua com um cartaz de "Distribuem-se abraços aqui" e uma seta apontando para mim. Esse cartaz, todo santo dia. Numa camiseta, quem sabe. Free hugs até não poder mais.

Abrace.


(Luisa Geister quer um abraço.)
Revista Capricho, ed. Nº 1143 - 26 de fev de 2012

3 comentários:

  1. Perfeitíssimo..!

    O abraço é o afecto que por excelência muitas vezes, muitas mesmo, não necessita de quaisquer palavras, porque só por si, é absolutamente maravilhoso, de grande plenitude e que eleva sempre a nossa Vida a um sentir ímpar de aconhego, de perfeição.

    Belíssimo "post", Pe. Nuno.
    Recebi e darei hoje mesmo a alguém este mesmo abraço, obrigada!:-)
    Um beijinho.

    dulce

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  2. sendo assim,

    dou um abraço à Dulce e outro ao Padre Nuno!

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  3. Queridos amigos,
    Manuela e Padre Nuno..!

    E porque hoje também é um dia de e para abraços
    também eu lhe deixo por aqui um para si e outro para o Padre Nuno!
    E muitas saudades suas..!:)

    dulce

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