sábado, 30 de junho de 2012























"Leigo"? - que é isso?
E qual é a vossa vocação, responsabilidade e missão de leigos?
Vós bem o sabeis: o leigo está integrado no Povo de Deus, que caminha neste mundo rumo à Pátria celeste.  (...) E fostes chamados à santidade, tendo por modelo o próprio Cristo, na sua doação integral ao Pai e aos irmãos: “como Aquele que vos chamou à santidade, sede também vós santos em todas as vossas acções”.
Mas olhai que a santidade, mais que uma conquista, é dom que vos é concedido: o amor de Deus foi derramado em vossos corações pelo Espírito Santo que vos foi dado.
Assim, ser cristão não é, primariamente, assumir uma infinidade de compromissos e obrigações, mas é deixar-se amar por Deus


Que faz um leigo?
Perguntareis: o que é que nos compete fazer, na qualidade de leigos?
O cristão nunca pode limitar-se a uma atitude meramente passiva, de puro receber. A vossa missão de leigos, portanto, fundamentalmente é a santificação do mundo, pela vossa santificação pessoal, ao serviço da restauração do mundo.
O Concílio Vaticano II, que tanto se debruçou sobre os leigos e o seu papel na Igreja, acentuou bem a sua índole secular. É o cristão que vive no mundo, responsável pela edificação cristã da ordem temporal, nos seus diversos campos: na política, na cultura, nas artes, na indústria, no comércio, na agricultura...
A Igreja há-de estar presente em todos os sectores da actividade humana e nada do que é humano lhe pode permanecer alheio. E sois vós, principalmente, prezados leigos, que a deveis tornar presente.
Quando se acusasse a Igreja de estar ausente de algum sector, ou de despreocupar-se de algum problema humano, equivaleria lastimar a ausência de leigos esclarecidos ou a não actuação de cristãos naquele determinado sector da vida humana.
Por isso dirijo-vos um apelo caloroso: não deixeis a Igreja ficar ausente de nenhum ambiente da vida da vossa querida Nação.
Tudo deve ser permeado pelo fermento do Evangelho de Cristo e  iluminado pela sua luz. É vossa tarefa fazê-lo.
Este é o caminho: cristãos no aconchego da intimidade pessoal; cristãos no interior do lar – como esposos, pais e mães e filhos de família, em “igreja doméstica”; cristãos na rua, como homens e mulheres situados; cristãos na vida em comunidade, no trabalho, nos encontros profissionais e empresariais, no grupo, no sindicato, no divertimento, no lazer, etc.; cristãos na sociedade, ocupando cargos elevados ou prestando serviços humildes; cristãos na partilha da sorte de irmãos menos favorecidos; cristãos na participação social e política; enfim, cristãos sempre, na presença e glorificação de Deus, Senhor da vida e da história.


Que "preparação" deve ter um leigo?
A vivência generosa e testemunho corajoso da vossa identidade, sabemo-lo, transcende meras qualificacões sociológicas; exige algo profundamente pessoal, que insere na comunidade “ontológica” dos discípulos de Cristo
Já se deixam entrever, como imperativos indeclináveis: o cultivo da fé e da vida divina, a frequência dos sacramentos e o dever da oração constante; a necessidade, mais do que a simples vantagem, da fidelidade à Cátedra de Pedro, da comunhão profunda com a Hierarquia bem inseridos nas perspectivas da Igreja local, em aderência aos vossos Bispos e em sintonia com as Comissões episcopais nacionais, em união com o clero e com os religiosos; a exigência de associações realisticamente organizadas e informadas pelo amor: “Nisto reconhecerão todos que sois meus discípulos, se vos amardes uns aos outros, como eu vos amei”.

João Paulo II - Discurso aos leigos em Lisboa, 12 de Maio de 1982

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