do Lat. ciboriu; s. m., a parte mais alta que exteriormente remata ou cobre a cúpula das grandes igrejas ou dos edifícios monumentais. Este blog é, na sua grande maioria, partilha de videos e textos de diversos autores que recebo diariamente. Com a visão dos outros podemos ver mais alto, mais longe...
sábado, 27 de junho de 2015
O pobre e o próximo
Onde e quando um homem sofre, aí mesmo surge a necessidade de um próximo. O sofrimento maior é o da dor que se sente não havendo com quem a partilhar. A solidão é uma deficiência no ser, não há eu sem nós. Não há individualidade sem comunidade. O fim de cada ser humano é o amor, um compromisso em que se realiza o eu em nós.
O outro não deve nunca ser um instrumento que eu utilizo com vista a alcançar um qualquer outro fim. Ninguém é uma coisa. O outro nunca é meu. É um eu. Um outro eu. Faz parte do mundo em que eu só sou se ele for.
Só a partilha combate a pobreza.
São os gestos que nos definem… mas também o silêncio entre eles.
A nossa sociedade tem-se construído em torno do egoísmo. Consome-se no sentido de comprar, usar e deitar fora. Para longe. A maior miséria do nosso mundo é que algumas pessoas são, para nós, insignificantes. Estão fora do nosso mundo. Descartados. Excluídos. Estranho mundo este, onde ser explorado é, ainda assim, algo de bom, pois significa que ainda se faz parte dos visíveis.
Se, em alguns casos, a riqueza é justa e a pobreza é fruto de desleixo, é também verdade que onde abundam a riqueza e a pobreza, aí falhou a comunidade. Há uma razão simples para que os pobres sejam pobres. E não é sobre-humana. A miséria de uns é um sinal concreto de que a riqueza de outros pode ser uma violência. Porque têm o que não usam. Porque possuem como supérfluo o que para outros seria essencial.
Isolam-se, excluem o outro. Atiram-no para longe, onde não o possam ver nem ouvir. Chegam a temer um contágio qualquer. Desconhecem que onde os ricos têm a ansiedade, têm os pobres a esperança. Não sabem que há na pobreza uma alegria autêntica, que deriva de uma liberdade imensa. Mas este é um mistério absoluto para quem nunca esteve privado de quase tudo. Hoje, onde escasseiam o dinheiro, a tecnologia e as armas, abundam a humanidade, a entreajuda e a espiritualidade. Muitas vezes o ter encobre o ser.
A grandeza de cada um de nós só se descobre quando somos capazes de dar o que temos ao que somos.
Ser pobre é, ainda assim, ter alguma coisa, mas ter falta do que é essencial. A pobreza só atinge o espírito no caso daqueles que julgam que os bens materiais são o que mais importa.
É da maior importância que consigamos trazer os que estão à margem para perto do centro. Para junto de todos. Onde sejamos capazes de ser quem somos, todos. O meu próximo é o meu vizinho, que pode ter sido forasteiro, mas que agora já não o pode ser mais. No espaço e no tempo. Está ali, comigo e connosco… meu irmão. Sou eu, ali. Nós.
Quantas vezes foi o outro que se aproximou de mim quando eu estava abandonado ao sofrimento? Quantas vezes, depois, partiu quando fiquei bem sem nunca cobrar nada? Quantas vezes fui eu capaz de fazer o mesmo?
Quantas vezes esqueço o bem que me fizeram porque prefiro guardar o mal que me causaram?
Amar o outro como a mim mesmo é colocar no centro o amor que me atrai a mim e ao outro. Amar é criar algo maior do que eu. Um nós. Amar não é andar atrás de Deus. É tê-lO atrás de nós, contente comigo, contente com outro, feliz connosco.
José Luís Nunes Martins
sexta-feira, 19 de junho de 2015
Creio no olhar de Deus
Creio no olhar de Deus,
olhar que inunda meu coração de amor,
que me enche de entusiasmo e esperança.
Creio no olhar de Deus,
esse que me motiva a sair de mim mesmo,
a crescer, a dar o melhor de mim.
Um olhar que me convida a doar-me aos outros,
sem mesquinhez e de todo coração.
Creio no olhar de Deus,
que me enche de alegria e me faz sorrir,
que me dá paz e me convida a levantar-me,
sacudir a poeira e continuar caminhando.
Creio no olhar de Deus,
que atravessa minha humanidade,
que vê minha alma
e conhece cada canto
da minha vulnerabilidade.
Creio no olhar de Deus,
esse transparente,
que me deixa sereno
e me faz reconhecer-me
como filho...
Um filho nos braços do Pai.
quarta-feira, 17 de junho de 2015
Navega comigo
Jesus eu creio, mas aumenta a minha fé.
Jesus eu confio, mas fortalece a minha confiança.
Jesus eu amo, mas dilata o meu amor.
Acalma a tempestade dos meus medos,
que me impedem de ir contigo "para a outra margem",
com a bonança do teu amor.
Conduz-me com a brisa da tua fortaleza
a essa margem a que chamamos futuro,
que tanto temor e espanto nos causa,
pois não podemos conhecer o seu desfecho
sem a coragem de nela atracar.
Navega comigo nesta embarcação
frágil e imperfeita que é a minha vida
para que, ainda que perca o rumo nas intempéries do orgulho,
reencontre sempre em Ti a rota da salvação
com a bússola da tua misericórdia.
Com a fé de quem confia e com a esperança de quem ama,
saiba eu aventurar-me nas ondas infinitas de possibilidade
para adormecer tranquila no mar sereno da tua paz.
Raquel Dias
segunda-feira, 15 de junho de 2015
Uma semente pequenina
Deita com ternura a semente na terra
É o seu berço natural
E adormece suavemente
Tu e a semente
A semente não erra
A semente não mente
Adormece na terra
Aparece depois um fiozinho de erva
Nasce e cresce
Uma flor floresce
Um fruto amadurece
Um pássaro desce
E reza e canta e dança e prova e agradece
Ao Senhor da messe.
Senhor Jesus,
Dá-me um coração puro e transparente
Como uma nascente,
Como uma semente,
E ensina-me a ser simples e leve
Como aquele pássaro que do céu desce,
Reza, canta, come e agradece.
António Couto
sexta-feira, 12 de junho de 2015
Heather Dorniden
Heather Dorniden foi protagonista de uma recuperação inspiradora, não permitindo que um contratempo a impedisse de alcançar o seu objetivo. O feito,aconteceu quando a atleta participava da final de atletismo dos 600 metros.
Dorniden, que liderava a corrida, caiu quando faltavam cerca de 200 metros para o fim da prova. Em vez de aceitar a derrota, a norte-americana levantou-se e foi à luta, conseguindo ainda chegar em primeiro lugar. "Nos últimos 50 metros, corri como não sabia que era capaz", afirmou Heather Dorniden, após o resultado.
quarta-feira, 10 de junho de 2015
O Verbo de Deus é amar
O Verbo de Deus é amar conjugado no perfeito incondicional.
Tendo amado, o seu particípio é passado
mas o seu amor é sempre presente.
Embora para todos irradie os seus atributos,
na nossa finitude nada lhe retiramos ao predicado.
Amo de modo imperfeito no conjuntivo ou indicativo.
Activa quando amo mas passiva quando sou amada.
Alegro-me ao saber que aquele que me ama,
amar-me-á no futuro
e que o seu amor por mim será sempre mais-que-perfeito.
Bendito sejas, Senhor, pela paciência e misericórdia
com que me ensinas a conjugar o único Verbo que me pode salvar.
Raquel Dias
terça-feira, 9 de junho de 2015
Mãe desnecessária
A boa mãe é aquela que vai se tornando desnecessária com o passar do tempo.Várias vezes ouvi de um amigo psicanalista essa frase, e ela sempre me soou estranha. Chegou a hora de reprimir de vez o impulso natural materno de querer colocar a cria embaixo da asa, protegida de todos os erros, tristezas e perigos. Uma batalha hercúlea, confesso. Quando começo a esmorecer na luta para controlar a super mãe que todas temos dentro de nós, lembro logo da frase, hoje absolutamente clara.
Se eu fiz o meu trabalho direito, tenho que me tornar desnecessária.
Antes que alguma mãe apressada me acuse de desamor, explico o que significa isso. Ser "desnecessária" é não deixar que o amor incondicional de mãe, que sempre existirá, provoque vício e dependência nos filhos, como uma droga, a ponto de eles não conseguirem ser autônomos, confiantes e independentes. Prontos para traçar seu rumo, fazer suas escolhas, superar suas frustrações e cometer os próprios erros também. A cada fase da vida, vamos cortando e refazendo o cordão umbilical. A cada nova fase, uma nova perda é um novo ganho, para os dois lados, mãe e filho.
Porque o amor é um processo de libertação permanente e esse vínculo não pára de se transformar ao longo da vida. Até o dia em que os filhos se tornam adultos, constituem a própria família e recomeçam o ciclo. O que eles precisam é ter certeza de que estamos lá, firmes, na concordância ou na divergência, no sucesso ou no fracasso, com o peito aberto para o aconchego, o abraço apertado, o conforto nas horas difíceis. Pai e mãe - solidários - criam filhos para serem livres. Esse é o maior desafio e a principal missão.
Ao aprendermos a ser "desnecessários", nos transformamos em porto seguro para quando eles decidirem atracar.
Dê a quem ama:
- Asas para voar
- Raízes para voltar
- Motivos para ficar
Dalai Lama
segunda-feira, 8 de junho de 2015
Dá-nos um coração novo
Dá-nos, Senhor, um coração novo,
capaz de conjugar em cada dia
os verbos fundamentais da Eucaristia:
RECEBER, BENDIZER e AGRADECER,
PARTILHAR e DAR,
COMEMORAR, ANUNCIAR e ESPERAR.
Dá-nos, Senhor, um coração sensível e fraterno,
capaz de escutar
e de recomeçar.
Mantém-nos reunidos, Senhor,
à volta do pão e da palavra.
E ajuda-nos a discernir
os rumos a seguir
nos caminhos sinuosos deste tempo,
por Ti semeado e por Ti redimido.
Ensina-nos, Senhor,
a saber colher
o Teu amor
semeado e redentor,
única fonte de sentido
que temos para oferecer
a este mundo
de que és o único Salvador
António Couto
sábado, 6 de junho de 2015
As razões da sinceridade
Há quem não oculte as suas falhas. Há quem prefira ser pouco, mas inteiro, do que ter de se misturar com impurezas para parecer maior. Há quem nunca se molde às situações ao ponto de se tornar outro, perdendo-se de si mesmo. A sinceridade é a qualidade essencial do que, não sendo perfeito, é ainda assim valioso, porque real e autêntico.
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Ser sincero é mais do que ter um gesto exemplar ou uma palavra verdadeira. É ser inteiro em cada decisão, em cada palavra… Ser sincero é uma escolha que se renova a cada hora.
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Todos falhamos. O erro é um sinal evidente de que somos limitados, mas é também o ponto a partir do qual cada um revela o que é. Uns ignoram, outros preferem desculpar-se, culpando quem não tem culpa. Outros ainda, poucos, reconhecem os seus erros e procuram emendar-se, não através de disfarces ou pinturas da superfície, mas de uma mudança mais profunda.
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Só quem decide ser forte consegue chegar a ser sincero. É duro e supõe uma elevada capacidade de sofrimento. Por isso, não é algo que se deva esperar de pessoas fracas e pobres de vontade.
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O sincero consegue resistir à maldade e seguir a direito, mesmo quando só parece haver caminhos tortos. Escolhe ser puro e inocente, pela força e coragem com que resiste a tudo o que o seduz e ameaça, mas que, na verdade, apenas o quer diminuir através da culpa.
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Há pessoas que não procuram artifícios na sua relação com os outros, revelam-se tal como são.
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Nunca é uma boa opção ocultar os nossos defeitos. Quem se delicia com as belas aparências raras vezes se importa com o que tem valor profundo. Assim como quem se preocupa com o valor real sabe que não há gente sem defeitos, fendas e fraquezas, e que a verdadeira integridade é a de nos reconhecermos como somos, não porque sejamos melhores, mas porque não queremos ser piores, criando ilusões.
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Uma pessoa sincera é igual a si mesma. Cresce, mas mantém-se fiel à sua pureza original. Não cria equívocos, embora prefira reservar para depois o que tem de melhor.
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Outros são os que se viram e reviram, dão voltas e mais voltas sobre si mesmos, a fim de, rastejando sempre, tentarem chegar ao que não é seu, ao que não são... apenas porque não têm força nem coragem para o ser. Escolhem o mais fácil: preferem parecer do que ser. Não se dão conta de que, por esse caminho a descer, não há senão vazios mascarados de coisas grandes.
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Quando a uma verdade se acrescentam umas quantas meias verdades, com intenção de que a mistura passe depois por pura e valiosa, o que se obtém é apenas uma mentira requintada. E, por mais apurada que seja, não deixará jamais de ser uma impureza.
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Não é fácil dobrar alguém sincero e honesto. Porque, apesar do sofrimento que isso lhe custa, saberá que a verdade é sempre maior do que a malícia dos que tentam o que for preciso para que ninguém seja senão como eles.
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A hipocrisia é mais comum do que a sinceridade. É preciso crescer muito, ao ponto de nos tornarmos capazes da verdade mesmo depois das mentiras. Afinal, são as mesmas máscaras que nos escondem o que nos impede de ver o mundo e os outros tal como são...
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A sinceridade jamais pode ser a razão para magoar alguém. Ser sincero é também saber escolher o que dizer e o que calar. Não devemos dizer tudo quanto pensamos, mais ainda se não o tivermos pensado com honestidade e inteligência. O silêncio é parte essencial da verdade e da sinceridade.
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Se há palavras que são gestos dignos de louvor, também há palavras que só chegam a ser boas se forem cumpridas pelas mãos dos que ousam dizê-las.
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Uma boa ação, ou uma palavra verdadeira, não perdem o seu valor só por ninguém o reconhecer... Parte da dureza da sinceridade é o abandono a que remete os sinceros… aqueles que se decidem a seguir pelo caminho que ruma ao céu. A direito.
José Luís Nunes Martins
terça-feira, 2 de junho de 2015
Buscar-te-ás em Mim
Alma, busca-te em Mim
E a Mim busca-Me em ti.
Tão fielmente pôde o Amor
Alma, em Mim, te retratar
Como nenhum sábio pintor
Tua imagem figurar.
Foste, por amor, criada
Formosa, bela e assim
Dentro do meu ser pintada.
Se te perderes, minha amada,
Alma, procura-te em Mim.
Porque Eu sei que te acharás
Em meu peito retratada,
Tão ao vivo figurada
Que ao ver-te folgarás
Por te veres tão bem pintada.
E se acaso não souberes
Em que lugar Me perdi,
Não andes dali para aqui
Porque se encontrar Me quiseres
A Mim Me acharás em ti!
Em ti, que és meu aposento
És minha casa e morada,
Aí busco a cada momento
Em que do teu pensamento
Encontro a porta fechada.
Só em ti há que buscar-Me,
Que de ti nunca fugi;
Nada mais do que chamar-Me
E logo irei, sem tardar-Me,
E a Mim Me acharás em ti!
Santa Teresa de Ávila (1515-1582), carmelita descalça, doutora da Igreja
Poesias, nº 8: «Alma, buscar-te-ás em Mim»
«De quem é esta imagem?»
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