
Uma velha e ingénua mas sugestiva comparação do céu com o inferno é a dos condenados que andam sempre às voltas de um imenso caldeirão de comida, cheios de fome, porque as colheres de que dispõem são tão compridas que entornam o manjar e não conseguem provar nem um bocado. Espécie de suplício de Tântalo.
De igual caldeirão e mesmas colheres dispõem os escolhidos no céu, mas alimentam-se bem, pois cada um dá de comer ao que tem defronte.
Vale a pena a lição sobretudo em tempo de crise. O desemprego ou a falta de encomendas podem tornar «infernal» a nossa vida, mas também podem torná-la «celestial», não só no sentido de unirmos essa nossa cruz à Cruz de Cristo, mas também resistindo a pensar só em nós, no nosso problema, e estando atentos às necessidades e preocupações alheias. Vivendo a caridade.
Além disso, se procuro sozinho resolver a minha situação – da minha família – é mais difícil descobrir soluções do que em companhia de outros em idênticas circunstâncias. A ideia de que só os poderei ajudar quando resolver a minha vida é falsa: se tenho em mente os outros, aquele emprego que não me serve pode servir a outrém; a encomenda que não sou capaz de despachar pode ser útil a outra empresa. Por que não avisá-los?
A solidariedade não se limita a ajudar o mais fraco; o fraco também pode ajudar o mais forte. A rivalidade não serve a ninguém.
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